A jornada da Warren #3: A busca pelo primeiro sócio  

Confira o capítulo anterior sobre a Jornada da Warren.

Chegamos no terceiro capítulo desta jornada e confesso para vocês que estou ficando um pouco nostálgico. Nostálgico e feliz, claro, pois tem sido muito bom dividir a nossa história aqui com vocês. Espero que estejam gostando!

Bom, vamos lá. No capítulo anterior, falei sobre a validação da minha ideia. 

Eu ainda estava na tal empresa que eu não aguentava mais, meu primeiro filho estava pra nascer, eu morava em outro país, tinha um salário e bônus que me traziam segurança, tinha sociedade na empresa, então o desejo de construir a Warren estava um pouco conflitado com dúvidas sobre o futuro.

E por já ter empreendido diversas outras vezes, sabia que nada seria fácil. Deixe-me, inclusive, fazer um parênteses grande para falar sobre empreender, antes de entrar no tópico deste capítulo.

Parênteses: a tendência do empreendedorismo

Atualmente, há um certo boom em cima do empreendedorismo. 

Na minha época de adolescente, o sonho era ser um astro de rock. Hoje é ser o fundador de uma startup. E eu acho isso fantástico. Pois muito melhor uma legião de empreendedores tentando construir soluções de problemas do que uma legião de bateristas tentando fazer o solo de Moby Dick

Mas o que essa empolgação toda sobre empreendedorismo esconde é que empreender é ainda mais difícil do que fazer o solo de um dos melhores bateristas do mundo.

Aliás, nada contra bateristas. Para quem não sabe, eu toco bateria desde os meus 12 anos, mas talvez por nunca ter conseguido fazer bem esse solo, eu gosto mais de empreender.

O meu primeiro contato com empreendedorismo foi observando uma colega que vendia doces na escola, quando eu tinha uns 12 anos. Ela trazia os brigadeiros em um potinho e quase sempre vendia tudo. O produto era bom e ela era uma excelente vendedora. Eu admirava demais a coragem dela.

Lembro que, um dia, a escola começou a proibir que ela trouxesse os brigadeiros para vender e então ela fez parceria com a cantina da escola e acabou vendendo ainda mais. Eu não sei onde e como essa menina está hoje, mas aposto que é uma empresária bem sucedida. 

A análise que eu fiz do business dessa colega foi quantos brigadeiros ela vendia por dia, menos quanto eu achava que custava cada brigadeiro, vezes 21 dias úteis no mês. Foi a primeira vez que eu fiz isso e continuo fazendo até hoje. 

Se estou em um restaurante, normalmente eu aprecio a comida por alguns minutos e depois começo a contar quantas mesas são, quantas pessoas tem, o preço médio dos pratos e qual deve ser o giro das mesas por noite. É automático. Não tenho certeza se é bom ou ruim, provavelmente um psicólogo diria que eu preciso desligar e aproveitar o vinho. Fazer o que… Eu gosto. 

Mas eu citei a história dela pra reforçar que empreender não é tão romântico quanto parece. Você não vai montar um site no fim de semana e começar a faturar milhões na segunda-feira. 

Empreender exige infinitas doses extras de paciência, otimismo, persistência, criatividade, dedicação, trabalho, trabalho e trabalho. 

Você acorda cedo para preparar com carinho seus brigadeiros, vende incansavelmente de pessoa em pessoa e quando os problemas surgirem (e sempre surgem) você precisará encarar sem medo, encontrar soluções e seguir ainda mais forte.

Terminado o parênteses, vamos ao assunto deste capítulo: a busca pelos sócios certos.

Sabendo que empreender não seria fácil, decidi seguir a Warren em paralelo com o meu trabalho da época por mais um tempo. Quanto mais cedo você se dedicar de corpo e alma ao seu projeto, sem dúvida é melhor. E, se você é jovem, sem filhos e sem custo fixo alto, a melhor sugestão que posso dar é: VAI AGORA!

O meu caso não era exatamente esse (não que eu seja velho, hoje estou com 40, mas isso já é longe dos 20) e, por isso, fui mais cauteloso. Eu deixaria a Warren ser um projeto de fim de semana até chegar a hora certa de ficar 100% dedicado. 

Até porque, antes de mais nada, eu precisaria achar os sócios certos para entrar na Warren e começar a desenhar os primeiros passos. E este era um caminho inicial que poderia ser facilmente realizado part-time. 

Minha missão era achar pessoas que complementariam meus pontos fracos e acreditariam tanto quanto eu no sonho. 

E, principalmente, eu precisava saber se conseguiria convencer outros malucos que minha ideia fazia sentido, pois talvez essa seja a verdadeira primeira validação da sua ideia (ou a pré-validação). Se conseguir convencer alguém a entrar a bordo (não vale ser a mãe ou o pai) é porque talvez a sua ideia faça sentido.  

E aí, ou você é um Elon Musk, que consegue discutir com engenheiros as linhas de código do software de um foguete ao mesmo tempo que planeja o design de um carro elétrico, ou você precisa se cercar de pessoas que são resolvedoras dos problemas que você não tem habilidade para resolver.

Acredito, com convicção, que todo negócio que tem forte presença digital precisa ter sócios que preencham três áreas: produto, desenvolvimento e usabilidade (UX/Design). 

Reforçando, SÓCIOS! Não acredito em empresa online que terceiriza usabilidade ou tecnologia. E acredito que é muito difícil, na verdade praticamente impossível, construir um negócio sem um sócio que tenha experiência no produto.

Na Warren eu vinha com uma bagagem de muito tempo de mercado financeiro e por isso eu era o cara do produto. Então precisava encontrar o sócio desenvolvedor e o sócio UX/Designer.

Como já comentei, para empreender você precisa de otimismo, persistência, criatividade e etc. Mas, às vezes, um pouquinho de sorte não faz nenhum mal e confesso que tenho alguma! 

Quando era pequeno, minha avó sempre dizia que eu tinha nascido com a bunda virada pra lua. Para quem não conhece a expressão, ela remete ao parto onde a bunda do bebê sai antes da cabeça. Neste caso, a probabilidade de morrer é gigante e, por isso, quem sobrevive a este tipo de parto já nasce sortudo. Meu parto não foi assim, mas tendo a concordar com a frase da minha avó. 

Eu precisava de um desenvolvedor experiente, que acreditasse nas mesmas coisas que eu, de convívio produtivo (pois sociedade é um casamento elevado ao quadrado) e que tivesse uma boa base em mercado financeiro. 

Sorte número 1: eu conhecia esse cara. Um dos desenvolvedores com maior experiência no mercado financeiro no Brasil, responsável por grandes plataformas de algoritmos e execução em bolsa. Sorte número 2: esse cara é meu irmão. Só faltava convencer ele a entrar no Warren.

A sorte que tive é gigante, eu sei. Mas não se desespere se você não tem um irmão desenvolvedor. Já recebi diversas vezes a pergunta “Como encontrar um bom desenvolvedor para empreender comigo?”. E minha resposta sempre é a mesma: “Tenha um bom projeto, vá bater de porta em porta e você vai encontrar”. Talvez demore. Talvez você passe por alguns “casamentos” mal sucedidos, mas uma hora você chega lá. 

Um bom projeto é a coisa mais importante. É isso que fará uma pessoa foda engajar com você. Eu não tinha um outro irmão UX/Designer e tive que garimpar muito para encontrar um. Recebendo vários “nãos” ou errando em algumas tentativas. Esta será a batalha que contarei no próximo capítulo.

É preciso circular onde circulam os desenvolvedores e vender o seu projeto pra eles. Inscreva-se em meetups, participe de hackatons (vá de penetra mesmo, mesmo sem saber escrever uma linha de código). 

Mas um aviso: não se apaixone no primeiro encontro. Reforço, aqui, que sociedade é um casamento elevado ao quadrado, então vá com calma e preste mais atenção na personalidade e na compatibilidade com você do que em um lindo currículo.

Mas voltando ao meu irmão: eu ainda precisava convencer ele a entrar no Warren. 

Comprei uma passagem para o Brasil e lá fui vender o projeto para ele. Aqui vai uma dica: o papo de “dominar o mundo” flui mais facilmente com um pouco de álcool, para quem gosta, claro. Por isso, convidei ele para falarmos em um bar.

Meu irmão era sócio e trabalhava na matriz em São Paulo da mesma corretora que eu em Nova York. Sim, a tal empresa que eu não aguentava mais. Por sorte minha e da Warren, descobri que ele também não aguentava mais.

Algumas cervejas depois e eu tinha um dos maiores desenvolvedores do mercado financeiro do Brasil na Warren e ele já tinha desenhado no guardanapo todo o roadmap de produção do primeiro protótipo, qual linguagem usar para cada camada, que estrutura seria necessária, prazos de entrega e tudo o mais. 

Por isso lá vou eu ser repetitivo novamente… gente foda! Traga gente foda para o seu lado! Isso vai economizar um tempo que você não tem ideia.  

Combinamos que, da mesma forma que eu, ele seguiria o trabalho normal dele e a Warren seria um projeto part-time. Dessa primeira reunião já surgiu nosso primeiro board no Trello. E, se você não sabe do que estou falando, fique tranquilo que vou contar em outro capítulo como organizamos todo nosso fluxo de construção de produto. 

Ele ficou com a missão de começar a criar uma estrutura inicial e encontrar alguns desenvolvedores freelancers para a parte de web, e eu com a incumbência de achar nosso sócio UX/Designer. 

E esse será o próximo capítulo. Até lá!

Continue a leitura e confira o capítulo #4 da Jornada da Warren.