No terceiro episódio do Warren Política, Felipe Salto conversa com Gilberto Kassab sobre o cenário eleitoral de 2026, o papel do centro e os desafios institucionais que devem marcar o próximo ciclo de governo.

No segundo episódio do Warren Política, o economista-chefe da Warren, Felipe Salto, recebe o cientista político Fernando Abrucio — professor da FGV, comentarista da GloboNews e colunista do Valor Econômico — para uma conversa sobre o cenário eleitoral, o papel das instituições e o ciclo político que deve marcar o país entre 2026 e 2030.
Gravado na sede da Warren, em São Paulo, o diálogo oferece um panorama claro das forças que estruturam a disputa eleitoral, das tensões no Congresso e dos desafios que o próximo governo terá de enfrentar para estabilizar o país e preparar uma agenda de médio prazo.
Indice
Abrucio inicia destacando que, apesar das mudanças dos últimos anos, a política brasileira permanece organizada pela polarização entre lulismo e bolsonarismo. Segundo ele, os dois blocos continuam concentrando a maior parte do eleitorado e seguem como referência do sistema partidário.
“Quando você coloca o nome Lula, aparece entre 32% e 38%. Quando coloca o nome Bolsonaro, ele vai de 20% a 30%. Eles continuam produzindo, juntos, algo entre 70% e 80% dos votos”, afirma.
Mesmo com Jair Bolsonaro inelegível, Abrucio considera improvável que a direita abra mão do capital simbólico da família:
“É muito difícil que não tenha um nome Bolsonaro numa cabeça de chapa em 2026. O ativo deles é o nome, não a pessoa.”
Esse cenário pressiona candidaturas alternativas — como as de Tarcísio, Eduardo Leite ou Ratinho Jr. — e restringe o espaço para o centro no curto prazo. Ainda assim, Abrucio aponta que a real janela de renovação deve surgir apenas em 2030, quando Lula não estará mais na disputa e o bolsonarismo poderá enfrentar um enfraquecimento caso não vença em 2026.
Um dos pontos centrais da conversa é o peso das instituições no próximo ciclo eleitoral.
Abrucio prevê que a Polícia Federal terá um protagonismo inédito na campanha, impulsionada por dezenas de investigações envolvendo emendas e irregularidades:
“Há mais de 80 processos sob sigilo relativos a emendas. Isso vai aparecer muito na eleição”, observa.
O cientista político distingue dois grandes blocos que disputam o centro:
Ele também destaca que o atual modelo de emendas parlamentares criou tensões profundas:
“Tem deputado que tem 100 milhões por ano. É impossível sustentar isso sem desgaste. A opinião pública não vai tolerar.”
Para Abrucio, esse arranjo oligárquico que se formou na Câmara está próximo do limite — pressionado pela sociedade, pela cobertura da imprensa, pelas investigações e pela incapacidade de entregar resultados consistentes.
Na frente da segurança pública, tema que ganha força no debate nacional, ele vê vantagem para Flávio Bolsonaro, que tenta se posicionar como voz crítica “de fora”:
“É mais fácil defender um discurso duro estando fora do governo.”
Independentemente do resultado das urnas, Abrucio afirma que o próximo governo terá de enfrentar uma agenda dura e inevitável de reformas entre 2027 e 2028.
“Qualquer presidente vai ter que entrar nessa agenda. A realidade se impõe”, diz, lembrando que momentos semelhantes já ocorreram nos governos FHC, Lula e até no início do período Bolsonaro.
Entre os pontos estruturantes, ele destaca:
Para Abrucio, esse pacote de reformas é o que realmente definirá o ambiente de 2030, criando o espaço — ou não — para novas lideranças e um sistema político menos aprisionado à polarização atual.
Ele lembra que experiências internacionais mostram a força de candidaturas antissistema, que podem surgir como expressão do cansaço social, ainda que não necessariamente competitivas para vencer uma eleição nacional.
“A qualidade do debate público terá papel central”, afirma. “Democracia não é só votar. É permitir conversas que mudem opiniões e que fortaleçam as instituições.”
O episódio com Fernando Abrucio oferece uma leitura lúcida e abrangente do Brasil às vésperas da eleição de 2026.
Entre a persistência da polarização, o peso das instituições e a necessidade de reformas profundas, o país entra em um ciclo decisivo — capaz de definir o tom político e econômico da próxima década.
Para Abrucio, os anos de 2027 e 2028 serão determinantes para pavimentar o Brasil que poderá emergir em 2030: mais previsível, mais moderno e menos refém das amarras que marcaram o passado recente.
Assista ao episódio completo no canal da Warren no YouTube e acompanhe os próximos convidados do Warren Política.