O excesso de confiança é um viés cognitivo que leva uma pessoa — ou um investidor — a valorizar e superestimar as próprias capacidades, sejam elas de julgamento ou de tomada de decisão.
Para explicar em detalhes esse viés cognitivo, nada melhor do que utilizar exemplos.
Imagine, caro leitor, que você faça parte de um grupo de Homo sapiens primitivos que está em uma pequena caverna nas savanas africanas.
Ali vocês estão seguros contra predadores, porém não existe alimento disponível.
É preciso, então, sair da segurança propiciada pela caverna e se aventurar em campo aberto.
Devido à fragilidade da sua espécie, você pode facilmente virar presa de animais muito maiores e mais preparados do que você para a luta.
Se você não tiver confiança em sua capacidade de vencer os perigos do meio ambiente para conseguir alimentos, pode morrer de fome. Se tiver confiança em excesso, vai virar caça.
Modular esse sentimento sempre foi fator fundamental para nossa espécie, mas provavelmente aqueles que tinham mais confiança para sair das cavernas e lutar pela sobrevivência tiveram mais sucesso do que aqueles que ficavam paralisados diante dos perigos do ambiente.
Os mais otimistas e confiantes devem ter legado seus genes aos humanos atuais.
Assim, não é nada surpreendente o viés cognitivo de que vamos tratar neste artigo: o excesso de confiança.
Indice
O excesso de confiança, também conhecido no inglês como Overconfidence Effect é o nome dado a um viés cognitivo que leva o ser humano a superestimar a própria capacidade de julgamento e de tomada de decisão.
Como vimos, esse viés cognitivo é um dos mais antigos de que se tem registro, além de ser muito comum na sociedade atual.
Mesmo sendo algo natural, Daniel Kahneman considera que esse é o mais “potencialmente catastrófico” de todos os vieses cognitivos de que os seres humanos são vítimas.
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Em suma, existem três maneiras distintas de manifestação do excesso de confiança:
1. Superestimação do desempenho real de alguém;
2. Substituição do desempenho de alguém em relação a outros;
3. Precisão excessiva em suas crenças.
Uma das manifestações mais interessantes do excesso de confiança foi dada por um artigo de 1981 do professor Ola Svenson, do Departamento de Psicologia da Universidade de Estocolmo.
No estudo, ele verificou que 93% dos motoristas norte-americanos se julgavam melhores do que a média, o que é impossível.
Podemos facilmente detectar esse fenômeno junto às pessoas que nos cercam.
Pergunte a elas se são mais honestas que a média. Você vai encontrar um resultado muito semelhante ao do professor Ola.
Para exemplificar a precisão excessiva, basta por exemplo perguntarmos a alguém qual o percentual de países africanos na ONU.
Depois que a pessoa responder, pedimos que estime qual a probabilidade de sua resposta ter uma margem de erro menor que 10%.
Provavelmente a estimativa seja elevada em relação à realidade.
A propósito, do total de 193 Estados membros das Nações Unidas, 54 são africanos, portanto a resposta correta é pouco menos de 28%.
Esses exemplos podem parecer inocentes e inofensivos, porém o excesso de otimismo pode ser um problema real em muitos aspectos da nossa vida.
E o mercado financeiro é um dos campos em que esse viés cognitivo pode ser devastador.
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Quando um investidor afirma que um ativo está caro ou barato, ele está julgando que sua capacidade de prever o valor justo supera a da média dos outros investidores que atuam naquele mercado.
No primeiro semestre de 2021, foram feitos diariamente 98 mil negócios com as ações ordinárias da Petrobras, representando um volume médio diário de mais de R$ 2 bilhões.
Quando alguém afirma que a ação está cara ou barata, está considerando que tem mais conhecimentos que os milhares de investidores profissionais que negociam com essa ação.
No início de outubro de 1929, o New York Times perguntou a um dos maiores economistas americanos, professor da Universidade Yale, o conceituado Irving Fisher, se o preço das ações americanas continuaria subindo como nos oito anos anteriores.
Ele afirmou que não subiria tanto, porém não iria cair, pois devido às novas tecnologias o preço das ações estaria em um patamar permanentemente elevado.
Em 3 de setembro de 1929, o Dow Jones Industrial Average atingiu seu recorde aos 381,17 pontos.
Logo depois, entrou em uma vertiginosa queda até chegar aos 41 pontos em julho de 1932, devolvendo todos os ganhos da década de 1920.
Mesmo assim, todos os dias encontramos pessoas dispostas a fazer previsões sobre o futuro dos mercados.
E quando perguntamos qual a probabilidade de estarem certas, vemos uma superestimativa dos seus palpites.
O excesso de confiança leva muitos empresários a subestimarem os riscos de seus negócios e, assim, se arriscarem muito mais do que seria recomendável.
Muitos empresários extremamente confiantes acreditam que podem, com suas habilidades, resolver qualquer crise ou situação difícil por que passem suas empresas.
A confiança excessiva leva médicos e pacientes a assumirem riscos maiores do que os recomendáveis e litigantes a recusarem acordos judiciais por superestimarem suas chances de sucesso nos tribunais.
E leva investidores a assumirem, mesmo sem precisar, riscos maiores do que o indicado.
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O excesso de confiança foi fundamental para a sobrevivência dos humanos e pode ser benéfico para a autoestima individual.
É o otimismo que nos faz levantar da cama dispostos a lutar para alcançar nossos objetivos.
Aqueles que acreditam em si mesmos têm mais disposição para levar seus esforços mais longe do que aqueles que não acreditam.
Porém, assim como ocorria nas cavernas africanas, é fundamental calibrar muito bem nossas chances de sucesso ou fracasso.
Existe uma frase conhecida que diz que os maiores desastres financeiros foram protagonizados por aqueles que ganhariam mais ficando parados vendo o tempo passar.
Esse é um ponto importante para se analisar, se precisamos ou não correr riscos.
Será que você precisa correr riscos nos seus investimentos?
Ou será que uma carteira de investimentos de baixo risco consegue dar conta do que você deseja?
Recomendo que você faça boas reflexões sobre o excesso de confiança e os riscos que vem correndo em relação ao seu perfil de investidor.
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