O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) está presente em praticamente todas as movimentações de dinheiro, empréstimos, câmbio, seguros, compras no exterior e até alguns investimentos. Ele aparece de forma discreta na fatura do cartão, no contrato de crédito ou no extrato bancário, mas tem um papel essencial na economia brasileira.
Criado em 1966 e regulamentado pelo Decreto nº 6.306/2007, o IOF é um imposto federal cobrado sobre determinadas transações financeiras. Ele tem duas funções principais: arrecadar recursos para o governo e regular a economia, ajudando o Banco Central a equilibrar o crédito e o fluxo de capital no país.
Em outras palavras, o IOF é um imposto que o governo usa para “estimular” e “desestimular” determinados tipos de operações financeiras. Por isso, suas alíquotas podem mudar rapidamente conforme o cenário econômico.
Mesmo que pareça um detalhe técnico, entender o IOF faz diferença — especialmente para quem busca planejar melhor as finanças, investir com mais consciência e entender de onde vêm os custos embutidos nas operações financeiras.
Indice
A sigla IOF significa Imposto sobre Operações Financeiras. Ele incide sobre quatro grandes grupos de transações: crédito, câmbio, seguros e investimentos.
Em termos práticos, toda vez que há circulação de dinheiro em uma operação financeira — seja entre pessoas, empresas ou instituições — há potencial de cobrança desse imposto.
Por ser um tributo federal, o IOF é recolhido diretamente pelo governo da União. As instituições financeiras apenas fazem a intermediação: elas calculam o valor devido e o repassam automaticamente para o Tesouro Nacional.
O IOF também tem uma função de política monetária. Em momentos de alta inflação, por exemplo, o governo pode elevar a alíquota para desestimular o crédito e reduzir o consumo. Já em períodos de recessão, o imposto pode ser temporariamente reduzido para incentivar a movimentação econômica. Essa flexibilidade torna o IOF uma ferramenta útil de curto prazo para equilibrar a economia.
O IOF tem duas finalidades principais: arrecadar e regular a economia. A primeira é a mais conhecida — só em 2024, o Brasil arrecadou mais de R$ 70 bilhões com o imposto, segundo dados da Receita Federal. Esses recursos ajudam a financiar políticas públicas e programas sociais.
A função regulatória é menos perceptível, mas talvez a mais relevante. O IOF atua como um mecanismo de controle econômico: ao aumentar ou reduzir as alíquotas, o governo ajusta rapidamente a oferta de crédito, o custo das operações e o volume de consumo. É, em essência, uma ferramenta de equilíbrio para o sistema financeiro.
Por ter caráter flexível, o IOF pode ser alterado por decreto presidencial, sem necessidade de aprovação no Congresso. Essa característica o diferencia de outros tributos mais estáveis, como o Imposto de Renda.
LEIA TAMBÉM | Entenda como funcionam os impostos e planejamento tributário em wealth management
O IOF está presente em diversas situações do dia a dia, e o valor cobrado muda conforme o tipo de operação. A seguir, entenda onde ele aparece e como é calculado em cada caso.
Sempre que você contrata um empréstimo pessoal, consignado ou financiamento, o IOF incide sobre o valor total da operação.
A alíquota padrão é de 0,0082% ao dia (limitada a 365 dias) mais 0,38% fixos sobre o montante emprestado. Na prática, o imposto é aplicado tanto na liberação quanto ao longo do contrato, conforme o prazo do financiamento.
Em um exemplo simples: se alguém contrata um empréstimo de R$ 10 mil por um ano, o IOF total pode chegar a aproximadamente R$ 395. É um custo que se soma aos juros e às tarifas, e que precisa ser considerado no planejamento da dívida.
Empresas e microempreendedores também pagam IOF, mas com alíquotas diferentes.
Desde 2025:
Essas variações buscam equilibrar a carga tributária entre diferentes perfis de negócio e evitar distorções no custo do crédito.
O IOF no cartão de crédito é uma das formas mais perceptíveis do imposto, principalmente em compras internacionais. Sempre que você faz uma transação em moeda estrangeira — seja em viagens ou em sites do exterior —, o valor é cobrado automaticamente.
Desde maio de 2025, a alíquota do IOF foi unificada em 3,5% para cartões de crédito, débito e pré-pagos internacionais. Na prática, uma compra de R$ 1.000 em moeda estrangeira gera R$ 35 de IOF, além do custo de conversão cambial.
O mesmo vale para saques em moeda estrangeira e para o pagamento de faturas em atraso. Essa cobrança ajuda o governo a controlar a saída de divisas e a equilibrar a conta cambial brasileira.
O IOF também incide em transações envolvendo moedas estrangeiras, como na compra e venda de dólar, euro ou qualquer outra moeda conversível.
As principais situações em que ele é cobrado:
Essas diferenças de alíquotas buscam equilibrar o impacto econômico de cada operação. O governo procura desestimular o uso do cartão internacional — que gera mais custos e volatilidade cambial — e incentivar transferências planejadas e rastreáveis. Em resumo: quanto mais previsível a operação, menor tende a ser a alíquota.
Nos investimentos, o IOF é um imposto de curtíssimo prazo: ele incide apenas se o investidor fizer o resgate antes de 30 dias da aplicação. Nesses casos, é cobrado sobre o rendimento não sobre o valor investido.
A cobrança segue uma tabela regressiva: nos primeiros dias, o desconto pode chegar a 96% do rendimento, diminuindo gradualmente até zerar no 30º dia. Depois desse prazo, o IOF deixa de ser cobrado, e o investidor passa a pagar apenas o Imposto de Renda, conforme as regras de cada produto (CDB, Tesouro, fundos etc.).
Esse modelo foi criado para incentivar o investimento de longo prazo. Na prática, o IOF funciona como um lembrete: quanto mais tempo o dinheiro permanecer aplicado, menor o impacto tributário. Resgates muito rápidos, especialmente em produtos de liquidez diária, podem reduzir significativamente o retorno do investidor.
O IOF também incide em contratos de seguro e planos de previdência, com regras próprias. Desde maio de 2025, o Decreto nº 12.466 determinou que aportes mensais acima de R$ 50 mil em planos de VGBL e VRGP passem a pagar 5% de IOF.
Antes, essas operações eram isentas. A mudança faz parte de um esforço do governo para equilibrar a tributação entre diferentes tipos de investimento e corrigir distorções no sistema. A medida afeta apenas investidores com aportes mais elevados e não altera a dinâmica dos planos tradicionais, mas sinaliza uma nova postura em relação ao uso desses produtos como instrumentos financeiros.
O cálculo do IOF varia conforme o tipo de operação, mas segue um princípio comum. Para entender como calcular o IOF, é preciso saber que ele incide sobre o valor movimentado e leva em conta o prazo ou a finalidade da transação.
Em linhas gerais, a base de incidência é o valor da operação, seja o total emprestado, o montante enviado ao exterior, o rendimento de um investimento ou o prêmio de um seguro. A alíquota, por sua vez, muda conforme a natureza da operação e o perfil do contribuinte.
IOF sobre empréstimos: a cobrança combina duas parcelas:
Em operações de câmbio e no uso de cartões internacionais, o IOF é aplicado diretamente sobre o valor total da compra, saque ou remessa. As alíquotas variam conforme o tipo de transação e o destino do dinheiro.
Nos investimentos, o cálculo segue a tabela regressiva de 30 dias, incidindo apenas sobre o rendimento e diminuindo até zerar quando o prazo mínimo é respeitado. Já em seguros e previdência, o imposto recai sobre o valor do prêmio ou do aporte, podendo variar conforme o tipo de plano.
Em todos os casos, o recolhimento é automático: o IOF já vem embutido no valor final da operação, e a instituição financeira é quem repassa o imposto à Receita Federal. Por isso, o contribuinte não precisa se preocupar em emitir guias ou fazer declarações específicas.
Essa cobrança silenciosa, mas constante, explica por que o IOF passa despercebido no dia a dia, mesmo estando presente em quase todas as movimentações financeiras que fazemos.
O ano de 2025 marcou uma das maiores revisões nas regras do IOF desde a criação do imposto. As mudanças oficializadas pelo Decreto nº 12.466 e pela Portaria Normativa MF nº 1.215, trouxeram ajustes significativos tanto para pessoas físicas quanto para empresas.
O objetivo dessas atualizações foi tornar as regras do IOF mais transparentes, previsíveis e alinhadas à política fiscal e monetária do país. Em outras palavras, o governo buscou equilibrar a arrecadação com a regulação do crédito, adaptando o imposto às novas dinâmicas do mercado financeiro e às transformações nas formas de investimento.
Entre as principais novidades, estão:
Essas mudanças fazem parte de um esforço maior de modernização da estrutura tributária sobre o crédito e o câmbio. O IOF continua sendo uma ferramenta estratégica de política econômica, mas agora com regras mais ajustadas à realidade do mercado e à digitalização das operações financeiras.
De acordo com dados da Receita Federal, as novas regras devem gerar arrecadação adicional de cerca de R$ 20 bilhões ainda em 2025, sem impacto direto sobre consumidores de baixa renda. O foco principal está nas operações de maior valor e nas transações corporativas de curto prazo.
SAIBA MAIS | O que muda no IOF: entenda as novas regras e como elas impactam seu bolso
Para quem investe, o IOF em investimentos merece atenção especial, principalmente nas aplicações de curto prazo, aquelas que permitem resgates antes de 30 dias. Ele não incide sobre o valor total investido, mas apenas sobre o rendimento obtido nesse período. Mesmo assim, o impacto pode ser relevante quando o dinheiro é retirado rapidamente.
Na prática, o IOF segue uma tabela regressiva de 30 dias. Nos primeiros dias após a aplicação, a alíquota é mais alta e vai diminuindo gradualmente até zerar no trigésimo dia. Essa estrutura foi criada para desestimular resgates imediatos e incentivar o hábito de investir com mais planejamento e horizonte de tempo.
Um exemplo ajuda a entender como calcular o IOF em investimentos: quem aplica R$ 5.000 em um CDB de liquidez diária e decide resgatar no décimo dia perde cerca de 66% do rendimento em imposto. Se esperar até o vigésimo quinto dia, o desconto cai para 16%, e a partir do trigésimo dia, o IOF deixa de ser cobrado completamente. Isso mostra que, nas aplicações de curto prazo, o imposto pode reduzir boa parte do retorno.
Deixar o dinheiro investido por pelo menos 30 dias é a forma mais simples de preservar o ganho líquido. Além disso, é importante lembrar que o Imposto de Renda também incide sobre os rendimentos, mas somente depois da aplicação do IOF. Respeitar o prazo mínimo evita a sobreposição de tributos e melhora o resultado final do investimento.
Mais do que um custo, o IOF pode ser visto como uma ferramenta de planejamento financeiro. Ele ajuda o investidor a refletir sobre o propósito de cada aplicação e a escolher produtos compatíveis com o próprio perfil e objetivo.
Para reservas de emergência, por exemplo, é natural optar por aplicações de liquidez diária, mesmo com o pequeno impacto do IOF em investimentos de curto prazo. Já para metas de médio e longo prazo, vale manter o dinheiro aplicado por mais tempo e aproveitar a isenção total após 30 dias.
No fim das contas, o IOF funciona como um lembrete para alinhar o tempo de cada investimento ao seu propósito financeiro. Entender como e quando ele incide ajuda a tomar decisões mais conscientes, evitar perdas desnecessárias e fazer o dinheiro render de forma mais eficiente.
Entender a incidência do IOF em investimentos é essencial para planejar prazos, reduzir custos tributários e otimizar o resultado das aplicações. Foto: Getty Images
Além de arrecadar bilhões todos os anos, o IOF funciona como um freio de emergência para o sistema financeiro. Quando o crédito cresce rápido demais, ou quando o dólar sobe de forma abrupta, o governo pode ajustar as alíquotas para conter o ritmo da economia.
É uma ferramenta simples, mas eficaz, para regular fluxos de capital, crédito e consumo.
O IOF também é um imposto versátil e imediato. Por poder ser alterado via decreto, ele permite respostas rápidas a crises — algo que outros tributos não conseguem fazer. Em períodos de instabilidade, como durante a pandemia, o governo chegou a reduzir o IOF temporariamente para incentivar o consumo e ajudar na retomada econômica.
Mesmo com tantas informações disponíveis, o IOF ainda gera dúvidas. A seguir, reunimos as perguntas mais comuns para ajudar você a entender como esse imposto funciona no dia a dia e quando ele realmente aparece nas suas operações financeiras.
Não. Algumas operações, como financiamentos habitacionais, programas educacionais e transações com fins sociais, têm alíquota zero ou isenção.
Não necessariamente. Ele é ajustado conforme as políticas fiscais e monetárias do governo, podendo mudar várias vezes em um mesmo ano — ou permanecer estável por longos períodos.
Não. O IOF incide sobre a operação; o Imposto de Renda, sobre o rendimento obtido. Ambos são tributos federais, mas com finalidades distintas.
Mantendo a aplicação por mais de 30 dias ou escolhendo produtos que não sofrem incidência do imposto, como Tesouro Direto e fundos de previdência tradicionais.
Não. O imposto é retido automaticamente e não há previsão legal de devolução, mesmo se a operação for cancelada.
O IOF está presente em quase todas as movimentações financeiras, mesmo quando passa despercebido. Ele não é apenas um imposto, mas um mecanismo que o governo usa para equilibrar crédito, câmbio e consumo. Entender como ele funciona é entender parte importante do sistema financeiro que afeta o nosso dia a dia.
Para quem investe, conhecer o IOF é um passo essencial. Saber quando ele aparece e como é calculado ajuda a planejar melhor o custo de cada operação, escolher o prazo certo para as aplicações e evitar surpresas no rendimento final.
O IOF não precisa ser um obstáculo. Quando você entende suas regras, ele se torna mais um elemento a favor do seu planejamento financeiro.
Acompanhe a Warren Magazine e descubra, de forma simples e atualizada, como cada imposto e taxa influencia o seu dinheiro. Saiba como decidir o que realmente faz sentido para os seus objetivos.