Se 2022 tem trazido uma série de incertezas, abril com certeza não fugiu à regra, mostrando que o mercado tem ainda muito a nos surpreender. Acompanhe os principais destaques de abril e confira o que vem por aí em maio.
Indice
As bolsas americanas despencaram em abril. Entre os principais índices, S&P 500, Dow Jones e Nasdaq fecharam com quedas de 8,8%, 4,9% e 13,3%, respectivamente.
O fator responsável por puxá-los foi a expectativa entre os investidores de que os consumidores, que têm a maior participação na atividade econômica dos EUA, iriam reduzir os gastos em breve.
Apesar de os últimos dados do consumo não demonstrarem contração, o Índice de Confiança do Consumidor, que busca quantificar a satisfação da classe, sendo correlato a chances de novos gastos, recuou 0,3 pontos entre março e abril, para 107,3.
O resultado frustrou as expectativas dos analistas consultados pelo The Wall Street Journal, que estimavam alta para 108,5. A perspetiva vem da alta dos preços associada aos elevados custos de empréstimos.
Os EUA vivem a maior alta inflacionária em 40 anos, especialmente com os avanços da pandemia na China e com a guerra no leste europeu, que em conjunto criaram fortes empecilhos ao fluxo de mercadorias. Como resultado, tem-se o desabastecimento e consequente elevação de preços, com o recuo da oferta.
Como remédio à alta da inflação, o Federal Reserve optou por elevar a taxa básica de juros. O que, a princípio, pode ser benéfico para a atividade econômica, ao conter a escalada dos preços, caso demasiadamente agressivo, pode ter o efeito oposto, diante da elevação das taxas de hipoteca e de empréstimos, que podem abocanhar o orçamento dos consumidores.
Nesse contexto, prevendo o cenário de estagflação, ou seja, inflação elevada e baixo crescimento econômico, os investidores reduziram a exposição ao mercado de capitais, que historicamente perde nas condições que se apresentem.
Agora, é preciso se atentar a como a economia responderá à última elevação da taxa de juros pelo Federal Reserve, de 0,5 ponto percentual, para o intervalo entre 0,75% e 1%, que correspondeu às expectativas do mercado.
Será que vem reversão por aí?
Ao longo de abril, as medidas sanitárias para a contenção da disseminação da variante Ômicron do coronavírus e suas subvariantes se intensificaram na China.
O governo já impôs restrições de circulação, totais ou parciais, a 27 cidades chinesas, afetando cerca de 165 milhões de pessoas.
Em Xangai, centro econômico do país, onde a maioria dos casos foi identificada, a população está em lockdown há quase um mês. Em Pequim, a capital, em maio já passaram a valer restrições como a obrigatoriedade de testagem negativa registrada há no máximo uma semana para a circulação em locais e transportes públicos.
O panorama já se reflete na atividade fabril e do setor de serviços do país, que recuou para os patamares mais baixos desde a eclosão da pandemia, com os bloqueios logísticos e o fechamento de fábricas decorrentes.
Essa contração é sentida em âmbito global, com a grande participação do país na cadeia de suprimentos. Especialmente, por países que exportam commodities, como o Brasil, que é fortemente dependente da demanda da China por insumos como o minério de ferro.
Diante dos temores dos investidores, as autoridades da China se pronunciaram afirmando que estão comprometidas em garantir a recuperação econômica, com a ampliação dos gastos em infraestrutura e a resolução de questões regulatórias envolvendo o segmento de tecnologia.
Em abril, o dólar se valorizou sobre as principais moedas. O índice DXY, que o relaciona a seis moedas de países desenvolvidos, apresentou alta de 5%.
Já em relação ao real, a alta foi de 3,85% no mês. A moeda se valoriza, em âmbito global, em meio a declarações de dirigentes do Federal Reserve de elevação da taxa básica de juros.
Com o movimento, os títulos do Tesouro norte-americano atraem investimento. O fluxo fortalece o dólar, especialmente em relação a moedas de países emergentes, com a tendência de desinvestimento nos ativos locais para aproveitar a oportunidade nos EUA.
Maio chegou, porém, mudando as expectativas. Buscando conter a maior alta inflacionária em 40 anos, o Federal Reserve anunciou a alta de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros, para o intervalo entre 0,75% e 1%.
Após o comunicado, Jerome Powell, presidente da instituição, pronunciou-se afirmando que não está sendo “ativamente” cogitada uma alta acima de 0,75 ponto percentual nas reuniões seguintes.
A fala surpreendeu o mercado, que contava com um aperto monetário maior nos próximos encontros do Fomc, trazendo alívio às bolsas.
Com a alta acompanhada de um discurso “dovish” — ou seja, que demonstra o interesse em manter os juros próximos ao patamar atual — o comportamento futuro da bolsa brasileira torna-se incerto.
Afinal, a alta favorece a tendência de realocação dos investimentos em títulos de dívida pública americana, que têm os rendimentos aumentados, mas o anúncio da sua possível descontinuidade caminha no sentido contrário.
Espera-se que a partir da divulgação da ata da reunião em que se definiu o ajuste da taxa se tornem mais claras as diretrizes futuras de política monetária do Federal Reserve e o impacto no dólar.
Mas os fatores que implicaram na alta global da moeda não pararam por aí.
Portanto, o discurso “dovish” não é suficiente para adotar uma posição de venda. Com a continuidade da guerra e as restrições ligadas à pandemia na China, crescem as incertezas e a aversão ao risco entre os investidores, que buscam a proteção do patrimônio em ativos mais estáveis.
Com isso, aumenta a demanda pelo dólar e, consequentemente, a moeda se valoriza. Ainda, com as inseguranças eleitorais e fiscais no plano interno, a perspectiva de alta é reforçada.
A bolsa brasileira teve um primeiro trimestre em festa, com o Ibovespa, o principal indicador de desempenho das ações da B3, somando alta de 14,48% entre o início de janeiro e o final de março.
A disparada se deu, essencialmente, com a atração de capital do exterior para o país. Isso diante da busca do investidor estrangeiro por se beneficiar do aumento dos preços das commodities, com a retirada da Rússia da cadeia de suprimentos global, e dos resultados excepcionais de companhias do setor financeiro, favorecidas pela elevação dos spreads bancários, acompanhando o ritmo da Selic.
Em abril, no entanto, o jogo virou e os fundos internacionais, que haviam alocado R$ 68,36 bilhões no mercado brasileiro no primeiro trimestre do ano, iniciaram um movimento de redução das posições no país.
O resultado foi o saldo negativo de fluxo de capital externo de R$ 5,936 bilhões até o dia 28 de abril. A fuga de capital da B3, principalmente vinda do exterior, implicou na desvalorização de 10,1% do Ibovespa.
Entre os principais fatores que levaram ao movimento está a expectativa de alta da taxa básica de juros dos EUA, reforçada pelas falas de diversos dirigentes do Federal Reserve, o banco central do país, ao longo de abril.
Isso porque os investidores tendem a retirar o capital investido no Brasil e realocá-lo nos Treasuries, os títulos de dívida pública americana, buscando aproveitar a eventual elevação dos rendimentos.
Outro fator foi a queda no preço das commodities, já que um grande fator de atração de capital para o Brasil é o perfil exportador do país.
Com as notícias da eclosão da guerra, o preço do barril do petróleo Brent chegou a atingir US$ 139, mas está atualmente estagnado abaixo US$ 110, principalmente diante da política de tolerância zero ao coronavírus na China, que culminou na redução na demanda por commodities metálicas, com o fechamento de fábricas, e por combustíveis, com as restrições de circulação no país, por exemplo.
Por fim, a política sanitária na China, que já impôs o isolamento social a cerca de 165 milhões residentes do país, instaurou um clima de aversão ao risco entre os investidores, que temem a contração econômica e a alta da inflação global diante dos gargalos na cadeia de produção.
Isso em razão da redução da atividade industrial e do escoamento de produtos e insumos pelos portos do país. O mesmo ocorreu em relação à Rússia, que continua a receber sanções comerciais severas dos países do Ocidente diante da continuidade dos ataques à Ucrânia. Esses fatores implicaram na retirada de aplicações em renda variável, com o temor da volatilidade advinda das incertezas externas.
Em abril, o mau desempenho não se restringiu ao mercado acionário. Muitos investidores de renda fixa também acumularam perdas. No mês, entre os 11 títulos do Tesouro Direto, apenas dois, aqueles indexados à Selic, tiveram resultados positivos, com os ganhos de 0,64% e 0,77% nas taxas dos títulos com vencimentos em 2025 e 2027, nessa ordem.
Os demais, pré-fixados ou pós-fixados que acompanham a inflação, apresentaram quedas intensas. Especialmente, aqueles de prazos mais longos, com destaque ao Tesouro IPCA+ 2045, que teve recuo de 5,96% em sua rentabilidade.
Segundo Fernando Rocha, chefe de estatísticas do Bacen, avaliando a primeira saída líquida dos títulos desde maio de 2020, em fevereiro deste ano, pode estar ocorrendo a retirada de recursos de renda fixa diante do movimento de migração para o mercado de ações, por razões não necessariamente macroeconômicas, mas possivelmente setoriais.
Isso considerando, inclusive, que os investidores podem ter a definição de exposição máxima no país, sendo muitas vezes necessário reduzir a posição em um ativo para aproveitar uma oportunidade vinda de outro.
O IPCA subiu 1,62% em março, na maior variação para o mês desde 1994, bem acima da mediana das estimativas apuradas pelo Refinitiv, de 1,30%. Diante disso, a inflação em 12 meses somou 11,30%. No mês, entre os nove grupos de produtos e serviços que compõem o índice, oito viram os seus preços aumentarem.
Entre eles, a maior variação, de 3,02%, veio dos Transportes, impactando o índice em 0,65 p.p., com a elevação dos preços dos combustíveis pela Petrobras, posterior à divulgação do IPCA de fevereiro.
Na sequência, veio o grupo de Alimentação e Bebidas, que teve alta de 2,42%, com o,51 p.p. de impacto, com a guerra na Ucrânia, que, segundo a ONU, gerou o aumento de 17,1% nos preços dos grãos.
Já o IPCA-15, prévia do IPCA que abrange 9 regiões metropolitanas, relativo ao período de 15 de março a 16 de abril, disparou 1,73%. A elevação foi a maior para abril desde 1995 e a maior mensal desde fevereiro de 2003, mas abaixo da alta de 1,85% projetada pelo consenso Refinitiv.
No período, houve aumento dos preços de 78,7% dos produtos pesquisados. Novamente, o que mais pressionou os índices foi o grupo de Transportes, com alta de 3,43%, seguido de Alimentos e Bebidas, que variou 2,25%.
Por outro lado, o IGP-M, outro indicador inflacionário, apurado pela FGV, muito utilizado no reajuste de aluguéis, desacelerou para 1,41% em abril, 0,33 pontos percentuais abaixo da alta registrada no mês anterior.
Segundo André Braz, coordenador do indicador, o arrefecimento é atribuído à queda nos preços de commodities agrícolas e só não foi mais acentuado diante do aumento nos preços de combustíveis e fertilizantes.
Maio se inicia com a continuidade das incertezas no plano internacional, ligadas à guerra, aos lockdowns na China e à política de elevação de juros nos EUA, e, no plano interno, ligadas às eleições e à perspectiva de elevação de gastos públicos.
Com isso, é recomendável que se mantenha a cautela nos investimentos.
De todo modo, há luz no fim do túnel, com as companhias demonstrando recuperação da recessão da pandemia nos balanços trimestrais, com o Ibovespa ainda descontado e a esperança do fim da guerra e dos surtos de Covid-19 na China.
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