Nos últimos anos, o investidor brasileiro deixou de olhar apenas para o CDI e passou a buscar alternativas que entreguem mais do que segurança: retorno real. Nesse cenário, um termo tem aparecido cada vez mais em relatórios, carteiras e conversas sobre renda fixa: High Yield.
A tradução literal é simples: alto rendimento. Mas, no mercado, o significado vai além. High Yield são investimentos que oferecem retornos acima da média justamente porque carregam mais risco. São títulos emitidos por empresas menores, negócios em expansão ou instituições com maior endividamento, que precisam pagar juros mais altos para atrair investidores.
Esse tipo de ativo vem ganhando espaço nas carteiras de quem busca diversificar e aumentar o potencial de rentabilidade, sem abrir mão de uma estratégia estruturada. Ao mesmo tempo, exige uma dose extra de entendimento e disciplina, já que não se trata apenas de buscar o rendimento mais alto, mas de saber onde e por que ele existe.
Neste artigo, você vai entender:
Vamos começar pelo básico: o que faz um investimento ser chamado de High Yield e por que ele atrai cada vez mais investidores no Brasil e no mundo?
Indice
O termo High Yield vem do inglês e significa “alto rendimento”. No mercado financeiro, ele designa títulos de crédito que pagam juros acima da média, compensando o investidor por assumir maior risco de inadimplência.
Esses papéis são geralmente emitidos por empresas com rating de crédito mais baixo, governos emergentes ou instituições com maior endividamento, que precisam oferecer taxas mais altas para atrair capital.
Em outras palavras, High yield é sinônimo de alto retorno com alto risco, um equilíbrio que faz sentido para quem busca diversificação e tolera oscilações no curto prazo.
De acordo com a classificação das principais agências de risco (Moody’s, S&P e Fitch), são considerados High Yield os títulos abaixo de BBB- ou Baa3, também chamados de grau especulativo. Já os High Grade (ou grau de investimento) são aqueles com rating BBB- ou superior, emitidos por empresas mais sólidas e previsíveis.
Os investimentos High Yield podem aparecer em diferentes tipos de ativos, como debêntures, FIDCs, CRIs ou fundos de crédito privado, mas todos compartilham um mesmo princípio: oferecer retornos acima da média em troca de um risco de crédito mais alto.
Veja as principais características:
O grande atrativo do High Yield é o potencial de ganho acima da renda fixa tradicional. Esses títulos costumam pagar juros significativamente maiores do que títulos públicos ou debêntures de empresas com melhor classificação de crédito. O retorno adicional, chamado de spread de crédito (diferença de juros entre um título de maior e menor risco), é o prêmio que o investidor recebe por assumir maior risco.
O risco de o emissor não conseguir honrar seus pagamentos é elevado. Empresas com finanças frágeis, endividamento alto ou histórico limitado de operação estão mais sujeitas à inadimplência (default — quando o emissor deixa de pagar o que prometeu ao investidor). Por isso, agências de rating como S&P, Moody’s e Fitch classificam esses papéis como “grau especulativo”.
A negociação no mercado secundário tende a ser mais restrita. Isso significa que o investidor pode ter dificuldade em vender o título antes do vencimento sem aceitar um desconto. Fundos High Yield ajudam a contornar essa limitação ao reunir diversos papéis em uma mesma carteira.
Por reagirem mais fortemente às mudanças no cenário econômico, os títulos High Yield são mais voláteis. Em períodos de alta de juros, crises fiscais ou aumento da aversão ao risco, seus preços podem cair rapidamente. Já em momentos de estabilidade, tendem a se valorizar com força.
São empresas em expansão, de menor porte ou com estruturas financeiras mais alavancadas. Também podem incluir países emergentes com risco fiscal elevado. Esses emissores precisam oferecer taxas mais altas para atrair investidores e financiar suas operações.
Em geral, os títulos High Yield recebem notas abaixo de BBB- (S&P/Fitch) ou Baa3 (Moody’s). Isso os diferencia dos papéis High Grade, considerados de grau de investimento. Quanto menor a nota, maior o prêmio de risco exigido pelo mercado.
A maturidade costuma variar entre 2 e 7 anos, dependendo do tipo de emissor e do objetivo da captação. Prazo mais longo tende a implicar rentabilidade maior, mas também maior exposição à volatilidade e aos ciclos de crédito.
Muitos títulos High Yield são quirografários, ou seja, não possuem garantias reais como imóveis ou recebíveis específicos. Outros podem oferecer colaterais, mas em proporções limitadas. Entender as garantias é parte essencial da análise de risco.
No Brasil, segue as regras da renda fixa tradicional, com alíquota regressiva de Imposto de Renda que começa em 22,5% e cai até 15% para aplicações acima de 720 dias. Nos fundos, a tributação é feita por “come-cotas” semestrais.
Como a correlação com títulos públicos e CDBs é baixa, o High Yield funciona como componente de diversificação de risco. Gestores profissionais usam essa característica para equilibrar retorno e estabilidade em portfólios mais sofisticados.
Além desses pontos, vale destacar que o High Yield tem papel importante em estratégias de crédito privado balanceado, que combinam títulos High Grade (segurança e previsibilidade) com High Yield (retorno e oportunidade).
Essa combinação busca equilibrar proteção em tempos de incerteza e oportunidades de ganho adicional quando o mercado de crédito se valoriza. Por isso, muitos gestores utilizam o High Yield como ferramenta de equilíbrio entre risco e retorno, especialmente em ciclos de juros baixos ou em momentos de maior apetite por crédito corporativo.
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Ao investir em um título High Yield — seja ele uma debênture, um bond internacional ou uma quota de fundo de crédito — o investidor está emprestando dinheiro a uma empresa ou instituição com risco maior que o das companhias mais sólidas.
Para compensar o risco de calote, essas emissões pagam spreads de crédito maiores: uma taxa adicional sobre o rendimento base, como o CDI ou os títulos do Tesouro.
Por exemplo:
Em períodos de estabilidade econômica, esses prêmios podem diminuir; em tempos de incerteza, tendem a subir. Por isso, o mercado High Yield é sensível à percepção de risco e à política monetária.
O universo High Yield é amplo e vai muito além das debêntures. Veja os principais formatos disponíveis no mercado:
Títulos emitidos por empresas que precisam captar recursos para projetos ou reestruturação. No caso High Yield, o emissor costuma ter baixo rating ou estar em fase de crescimento acelerado.
Exemplo: companhias de energia renovável, construção civil e infraestrutura.
Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio podem ser classificados como High Yield quando o risco de crédito do originador é alto, como, por exemplo, incorporadoras pequenas ou produtores rurais com histórico curto de operação.
Os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios compram carteiras de recebíveis. Alguns se enquadram como High Yield por conterem créditos de empresas menores, com garantias limitadas.
Essa combinação busca equilibrar proteção em tempos de incerteza e oportunidades de ganho adicional
Reúnem diversos títulos especulativos, diluindo o risco por meio da diversificação. Podem investir em crédito privado local ou global, em renda fixa estruturada e até em dívidas de países emergentes.
FIIs que investem em CRIs de maior risco. É o caso de fundos como HCTR11, DEVA11 e TORD11, que ficaram conhecidos por pagarem dividendos altos, mas também por sofrerem oscilações em ciclos de juros.
Ambos os tipos fazem parte do universo da renda fixa, mas com propósitos distintos:
Aspecto | High Grade | High Yield |
Rating | Grau de investimento (BBB- ou superior) | Grau especulativo (BB+ ou inferior) |
Risco de crédito | Baixo a moderado | Médio a alto |
Rentabilidade esperada | Mais previsível e estável | Superior à média |
Liquidez | Alta | Menor |
Volatilidade | Baixa | Alta |
Emissores | Grandes corporações e governos sólidos | Empresas emergentes ou alavancadas |
Investidor ideal | Conservador a moderado | Moderado a arrojado |
Na prática, gestores e investidores costumam combinar ambos:
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Os emissores típicos são empresas que:
Essas companhias optam pelo mercado de capitais para financiar projetos, oferecendo retornos mais atrativos aos investidores em troca do risco adicional.
No caso dos governos emergentes, as emissões High Yield costumam ocorrer em moeda estrangeira (geralmente em dólar), o que também adiciona risco cambial.
Mesmo com mais riscos, há boas razões para incluir esse tipo de ativo na carteira, especialmente quando bem analisado e equilibrado com outros investimentos.
O grande atrativo é o retorno potencial acima da média da renda fixa tradicional. Em um cenário de Selic em queda, os spreads de crédito High Yield podem proporcionar ganhos acima da média, dependendo do cenário econômico e do risco assumido
Como têm baixa correlação com outros ativos, os títulos High Yield ajudam a reduzir a volatilidade total da carteira quando bem distribuídos.
Fundos ou ETFs High Yield permitem diversificação geográfica, diluindo riscos locais e aproveitando oportunidades em economias desenvolvidas.
Esses títulos dão acesso a segmentos menos representados na bolsa ou no Tesouro, como infraestrutura, energia, logística e agronegócio.
Se o emissor melhora sua situação financeira, seu rating pode subir e o preço do título se valoriza no mercado secundário.
Empresas em expansão e mercados emergentes recorrem ao High Yield para financiar projetos, oferecendo rendimentos maiores em troca de risco adicional para o investidor. Foto: Pexels
O potencial de retorno vem acompanhado de riscos que precisam ser avaliados com cuidado.
O risco de crédito é o principal fator. O emissor pode atrasar ou deixar de pagar juros e principal. Fundos especializados mitigam esse risco com diversificação e monitoramento de crédito.
Esses papéis não são negociados em grande volume. Vender rapidamente pode exigir desconto sobre o valor de face.
Oscilações nas taxas de juros e na percepção de risco podem causar quedas nos preços dos títulos.
No caso de bonds internacionais, a variação do dólar impacta diretamente o retorno.
Mudanças fiscais ou políticas em países emergentes podem afetar emissões e tributação.
Fundos ou carteiras pouco diversificadas podem concentrar risco em poucos emissores ou setores.
Uma forma de acessar esse mercado é por meio de fundos geridos profissionalmente, como fundos de crédito privado, multimercados ou ETFs High Yield globais.
O mercado High Yield internacional é consolidado e volumoso, especialmente nos Estados Unidos e Europa, com trilhões de dólares em circulação.
No Brasil, esse segmento ainda está em crescimento, impulsionado por:
Gestoras de investimentos vêm desenvolvendo soluções que combinam rendimento e gestão ativa de risco, aproximando o investidor pessoa física de estratégias antes restritas a grandes fundos institucionais.
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A resposta depende do seu perfil, horizonte e tolerância a risco. Mas, em geral, o High Yield faz sentido como complemento de carteira, não como base dela.
Use-o para:
Evite se:
O High Yield é uma categoria que equilibra oportunidade e cautela. Ele oferece rendimento potencialmente maior, mas exige gestão criteriosa, diversificação e visão de longo prazo.
Na Warren, a filosofia é simples: rentabilidade só vale se vier com propósito, clareza e equilíbrio de risco. Por isso, antes de incluir High Yield na sua estratégia, avalie seus objetivos, horizonte e perfil.
E lembre-se: retorno alto não existe sem risco proporcional. O segredo está em saber dosar.