Como é possível que com a economia enfrentando recessão, empresas fechando as portas e a renda das famílias caindo, os bancos consigam manter sua trajetória ascendente de lucros?
Lucro de banco, no Brasil, nunca decepciona os acionistas. E nada mais saudável para uma economia, para a busca da eficiência e para a inovação, do que a perspectiva de lucro. Mas é bastante sintomático que mesmo em momentos de crise o lucro dos bancos cresça. Como é possível que com a economia enfrentando recessão, empresas fechando as portas e a renda das famílias caindo, os bancos consigam manter sua trajetória ascendente de lucros?
Além do contraste entre o PIB negativo do auge da crise brasileira e o lucro crescente das instituições financeiras, há um outro contraste importante: a baixa satisfação dos clientes. Segundo pesquisa feita pelo Google em 2018, apenas 42% dos clientes estão satisfeitos com seus bancos.
Quando um negócio consegue remar contra a maré da crise e manter-se lucrativo mesmo sem agradar seus clientes, algo está errado. No Brasil, o problema é a concorrência – ou, melhor dizendo, a falta dela.
Indice
Spread é a diferença entre o valor que o banco paga para captar dinheiro e o valor que o banco cobra para emprestar este mesmo dinheiro.
Todos os dias, clientes dos bancos usam crédito para pagar contas pessoais ou de suas empresas. O famoso, e temido!, cheque especial é só uma das inúmeras modalidades de crédito que os bancos oferecem. O dinheiro que o banco empresta a estes clientes é o dinheiro que outros clientes têm sobrando ou de investidores que compraram CDBs.
[Leia mais] O que é CDB e quanto ele rende?
O lucro das operações de crédito é o resultado da diferença entre o que o banco paga e o que o banco cobra ao fazer a intermediação do dinheiro. E a diferença de preço em cada uma das pontas, como você já sabe, é gritante.
O banco também precisa calcular o risco de acabar não recebendo parte do dinheiro que empresta. Este risco é adicionado aos custos da operação. Afinal, se um dos seus clientes não pagar o empréstimo, o banco precisará pagar, mesmo assim, lá na outra ponta, os poupadores que confiaram ao banco aquele dinheiro.
Quando ocorre uma crise, como a dos anos 2015 e 2016, o desemprego aumenta, empresas vendem menos e precisam de mais recursos para manter as contas em dia, muitas famílias se endividam, e a demanda por crédito aumenta bastante.
Para se ter uma ideia, em plena crise de 2015, os maiores bancos privados brasileiros aumentaram seus lucros:
Itaú Unibanco: 15,4% (R$ 23,3 bilhões)
Bradesco: 13,9% (R$ 17,2 bilhões)
Santander: 13,2% (R$ 6,6 bilhões)
Momentos de crise são uma oportunidade e tanto para os bancos em um país onde não há concorrência no setor. Enquanto outros setores da economia precisam encarar um ambiente de maior risco e menores lucros para se manter em atividade, os cinco grandes bancos, que concentram a maioria das operações de crédito no país, conseguem manter suas margens repassando todo risco extra ao preço final do crédito. Afinal, a demanda aumenta e não há muitas opções de onde conseguir dinheiro.
[Leia mais] Conflito de interesses: uma regra no investimento via bancos
A perspectiva de lucro é fundamental para uma economia saudável e para o estímulo aos investimentos. Mas quando o ambiente está distorcido e o lucro, para alguns, se torna muito fácil, a lucratividade deixa de ser a recompensa por um bom serviço. Assim, empresas mal avaliadas, com clientes insatisfeitos e que atuam sem transparência continuam ganhando dinheiro.