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Constante alta da inflação, a continuação da guerra no leste europeu, lockdown na China e um colapso no mundo cripto são alguns dos fatos que impactaram o mercado em maio. Entenda, abaixo, o impacto desses e outros eventos na economia mundial. Mercado de ações em ondas Maio foi movimentado no mercado acionário brasileiro. O Ibovespa, principal indicador de desempenho das ações listadas na B3, encerrou o mês aos 111.350 pontos, acumulando alta de 3,22%. Apesar do saldo positivo, ao longo do período, o índice sofreu pressões negativas de diversas frentes. Em resumo, no início de maio, o Ibovespa seguiu a trajetória de queda iniciada em abril, acumulando a perda de 3,3% até o dia 10. O índice foi impactado negativamente, principalmente, pelas restrições de circulação ligadas ao coronavírus na China e pela elevação nas taxas básicas de juros no Brasil e nos EUA. Isso em razão, respectivamente, das consequentes expectativas de redução da demanda chinesa por matérias-primas fabris importadas do Brasil, em meio ao funcionamento interrompido das fábricas, e de retirada de capital investido na bolsa para aplicações em títulos de renda fixa, com rendimentos ampliados no cenário de juros altos. Pela segunda metade do mês, porém, o índice passou a subir, com os estímulos positivos superando os negativos. Os anúncios de afrouxamento do lockdown em Xangai, a capital econômica da China, a partir de 1º de junho, e de medidas de apoio do governo chinês à revitalização econômica do país implicaram na alta dos papéis de companhias ligadas a commodities metálicas, em peso no Ibovespa, contribuindo significativamente para a alta do índice. As ações dos grandes bancos também impulsionaram a subida. Diante da divulgação de resultados do primeiro trimestre de 2022 positivos, sobretudo em razão dos spreads dilatados com o aumento dos juros sobre empréstimos e financiamentos, os investidores enxergaram oportunidades no setor, corrigindo distorções. A alta do fim do mês, porém, foi contida pela demissão de José Mauro Coelho da presidência da Petrobras, na terceira destituição do cargo desde o início do governo do presidente Jair Bolsonaro. O movimento trouxe novas incertezas ao mercado, freando a subida das ações da companhia, com grande participação na composição do Ibovespa, mesmo diante da escalada dos preços do petróleo, advinda da ameaça à oferta com a intensificação das tensões no leste europeu. Por fim, as ações de companhias ligadas ao setor de saúde também pressionaram o índice para baixo, diante da divulgação de resultados trimestrais decepcionantes. Isso como fruto do cenário de perda na renda e inflação elevada no país, que levou a uma onda de cancelamentos de planos de saúde, e da disseminação da Ômicron, que causou a redução no número de procedimentos médicos realizados, resultando no recuo da rentabilidade das empresas do segmento. Sim, continua caro… Em maio, no plano externo, as restrições sanitárias ligadas à pandemia na China e a continuidade da guerra no leste europeu, que comprometem fortemente o fluxo das cadeias de suprimentos, seguiram levando ao aumento nos preços de combustíveis, alimentos e frete. Já no plano interno, a queda na taxa de desemprego e o crescimento da atividade econômica implicaram na geração de mais renda, resultando na maior demanda por bens e consequente aumento de preços. Com isso, a pressão inflacionária seguiu elevada. No mês, o IBGE divulgou o IPCA de abril, que subiu 1,06% em relação a março, acima da mediana de 1% das estimativas do mercado, apuradas pela Refinitiv, e no maior valor para o mês desde 1996. No período, oito dos nove grupos contemplados pelo índice subiram, com destaque para alimentação e bebidas (+2,06%) e transportes (+1,91%), refletindo o cenário exterior desfavorável mencionado. A alta só não foi maior diante da deflação de 1,14% do grupo habitação, frente do recuo nos preços da energia elétrica com a entrada em vigor da bandeira tarifária verde. Quanto ao IPCA-15, “prévia” do IPCA que abrange 9 regiões metropolitanas, relativo ao período de 15 de abril a 16 de maio, o avanço foi de 0,59%, 1,14 ponto percentual abaixo da taxa registrada em abril. A desaceleração veio, justamente, dos grupos de transportes (+1,80%) e alimentação e bebidas (+1,52%). O resultado, de todo modo, superou as expectativas de 0,45% do mercado. E os juros? No dia 4 de maio, o Copom anunciou a elevação da taxa Selic de 11,75% ao ano para 12,75% ao ano. Apesar de o anúncio ter levado a taxa de juros ao seu maior patamar em cinco anos, o ajuste dessa magnitude era amplamente esperado pelo mercado. Isso porque, antes da divulgação do IPCA de abril, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, já havia adiantado a possibilidade da elevação de juros na magnitude dada na reunião de maio, indicando, também, que esse poderia ser o último aumento do ciclo. No entanto, depois da divulgação do índice inflacionário, a autoridade afirmou ter sido pega de surpresa e indicou que poderiam ocorrer novas altas. Essa possibilidade foi reforçada na ata dessa reunião do Copom, em que se tornou mais clara a inclinação para a alta da Selic na reunião de junho, mas em patamar inferior a 100 pontos base. Apesar da desaceleração antevista, na ata também ficou exposto que os membros do comitê consideram adequado que o “ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista”. A perspectiva foi reforçada pela fala de Bruno Serra Fernandes, diretor de política monetária do Banco Central, em evento promovido pelo banco Goldman Sachs no dia 17 de maio. Na ocasião, expôs sua preferência por uma taxa de juros mais branda por um período mais prolongado em relação à elevação mais intensa visando a redução no curto prazo. Dólar em queda Em maio, o dólar desvalorizou sobre as principais divisas. O índice DXY, que o compara com uma cesta de seis moedas fortes, apresentou queda de 1,18%. Já em relação ao real, o recuo foi de 3,82%, o mais drástico para o mês desde 2009, tendo a moeda brasileira apresentando o terceiro melhor desempenho entre as pares. Até o dia 9 maio, impactado pela elevação da taxa básica de juros nos EUA e pela continuidade das restrições ligadas à pandemia na China, o dólar teve alta de 4,3%. Isso porque a alta dos juros favoreceu a tendência global de realocação dos investimentos em títulos do Tesouro norte-americano, aumentando o fluxo da moeda para o país, e as incertezas criadas pela paralisação da economia chinesa aumentaram a demanda dos investidores pela moeda para proteger o portfólio, já que é considerado um “investimento seguro” — pouco volátil em relação a ativos de risco. A partir da segunda metade do mês, porém, a divisa iniciou uma trajetória de queda, tendo como pontapé inicial a fala de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (banco central dos EUA), no sentido de que o ritmo da elevação da taxa básica de juros deve se manter em 0,5 ponto percentual por reunião. A fala foi avaliada como "dovish" — ou seja, mais branda em termos de política monetária. Ao final do mês, contribuíram para a continuidade da desvalorização da moeda os indícios de recuperação econômica global vindos dos dados econômicos da zona do euro e do recuo nas restrições ligadas à pandemia na China. Isso porque, com as expectativas de melhora no cenário macroeconômico, os investidores tendem a realocar parte do capital em ativos com mais potencial de valorização (e de maior risco) em detrimento daqueles mais estáveis, como o dólar. Além disso, a moeda recuou com Christine Lagarde afirmando que o Banco Central Europeu, do qual é presidente, provavelmente tirará sua taxa de depósito do território negativo atual até o final de setembro, na medida que demonstrou que o Federal Reserve não será único na continuidade da política de elevação dos juros. Ainda, a divisa se desvalorizou diante do fato de o PCE, principal índice de inflação dos EUA, ter registrado crescimento de 0,2% na base mensal em abril, desacelerando em relação aos 0,9% de março e aumentando a expectativa de que a alta dos preços tenha alcançado um topo, indicando a menor necessidade de elevação dos juros para contê-la. Junho já iniciou, porém, com dados relacionados ao emprego no país sugerindo o contrário. Perto do Bear Market Maio iniciou com Wall Street em queda livre, repercutindo os resultados trimestrais negativos da Amazon e a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI) de abril, que teve alta de 8,3% sobre o mesmo mês de 2021, superando a expectativa do mercado, apurada pelo Refinitiv. A partir da segunda metade do mês, porém, iniciou-se um movimento de correção, diante da percepção entre os investidores de que o S&P 500, índice que acompanha o desempenho de ações das 500 maiores companhias listadas nas bolsas de NYSE e Nasdaq, estava adentrando em território de Bear Market — ou seja, queda de mais de 20% em relação às altas mais recentes. O Bear Market é uma barreira psicológica para os investidores e, quando se aproxima, muitas vezes resulta na recuperação acentuada e temporária nos preços das ações em meio ao declínio. O movimento parece ter ocorrido em maio. Além disso, a divulgação da prévia do PIB e do índice de preços de gastos com consumo (PCE) dos EUA abaixo da expectativa do mercado favoreceu a expectativa de desaceleração da inflação. Sendo assim, contribuiu para a alta O rali foi contido, entre outros motivos, por falas “hawkish” — que demonstram o interesse na elevação ou manutenção da taxa de juros em patamares altos — de Jerome Powell e pela divulgação dos resultados trimestrais negativos, especialmente das varejistas Target e Walmart, que revelaram os efeitos da inflação no aumento de custos e na redução das vendas. Colapso no mundo cripto A confusão começou quando a TerraUSD, que era um dos maiores ativos digitais da categoria stablecoin, perdeu a paridade com o dólar, sendo negociada significativamente abaixo do nível crítico de US$ 1,00. As stablecoins, supostamente, são controladas por algoritmos que as mantém alinhadas ao valor de algum ativo considerado estável, como o dólar. No momento que essa premissa central deixou de funcionar para a TerraUSD, um clima intenso de insegurança invadiu o mercado de criptomoedas, que perdeu cerca de US$ 260 bilhões em dois dias. Pouco depois, Do Kwon, o fundador do criptoativo, anunciou uma proposta de “resgate”. O plano se resumia à criação de versões novas dos ativos digitais afetados, a partir do código existente, e à distribuição de 1 bilhão dos novos tokens aos detentores de TerraUSD e Luna (do mesmo ecossistema), mas não houve êxito. A ocorrência instaurou um clima de insegurança intenso no mercado, resultando em fortes quedas entre as criptomoedas mais relevantes. No acumulado de maio, o Bitcoin, o Ethereum e a Cardano desvalorizaram, respectivamente, cerca de 20%, 39% e 28%. Houve, de todo modo, quem visse oportunidade em meio ao caos. Foi o caso de Robert Kiyosaki, autor do best-seller “Pai Rico, Pai Pobre”, que gerou um rebuliço ao comemorar a queda do Bitcoin em seu Twitter. Na publicação, Kiyosaki afirmou que quedas são os melhores momentos para ficar rico. Perspectivas Futuras A curto prazo, espera-se que a pressão inflacionária global recue, com os últimos indicadores econômicos divulgados, como o PIB brasileiro do primeiro trimestre abaixo das expectativas, sugerindo que as políticas monetárias rígidas dos últimos meses têm surtido efeito. Além disso, considerando pronunciamentos de dirigentes dos bancos centrais do Brasil e dos EUA, a perspectiva é de desaceleração da elevação das taxas básicas de juros, apesar da continuidade do ciclo de alta. Sendo assim, espera-se um cenário mais favorável para ativos de risco em relação a abril e maio — não em detrimento da renda fixa, que segue atrativa em meio à inflação ainda elevada e às incertezas fiscais. Continue a leitura: Veja como performaram os fundos da Warren Asset em maio Por que as criptomoedas enfrentam alta volatilidade? Entenda Recebi uma herança, o que fazer? O planejador financeiro Jurandir Sell explicaInvestindo em ano de eleição: uma reflexão com base nos pleitos anteriores

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