Factor investing: entenda como funciona o investimento em fatores na prática

Publicado por
Redação Warren

Factor investing é uma estratégia de investimento baseada em fatores. Ou seja, o investidor não analisa os ativos em si, mas sim algumas de suas características.

Para quem investe na bolsa de valores, o factor investing serve como um filtro aplicado sobre as empresas listadas: entre as ações disponíveis, quais vão me trazer o maior retorno?

Alguns dos tais fatores podem envolver múltiplos já conhecidos de quem pratica a análise fundamentalista de ações, como o Preço sobre Lucro (P/L) ou Preço sobre Valor Patrimonial (P/VPA).

Apesar disso, o factor investing opera sob uma lógica distinta da análise fundamentalista.

Isso ficará mais claro ao longo do artigo. Falaremos sobre:

  • O que é factor investing?
  • Como funciona o factor investing?
  • Quais são esses fatores de investimento?
    • Fatores macroeconômicos
    • Fatores de estilo
  • Como investir em fatores?

Siga em frente e descubra se essa estratégia tem a ver com o seu perfil de investidor

Boa leitura!

O que é factor investing?

Factor investing é uma estratégia na qual a carteira de investimentos é montada com base em fatores que, em tese, ajudam a reconhecer os ativos com maior retorno. Esses fatores servem como um filtro, uma regra, um critério que determina quais ações têm maior potencial na relação entre risco e retorno.

Entusiastas do factor investing argumentam que a estratégia é capaz de garantir uma rentabilidade maior que a média do mercado sem que o investidor seja exposto a um risco desnecessário, contrariando, de certa forma, a máxima de que o risco elevado é recompensado com maior retorno.

É um método que utiliza modelos quantitativos, e nesse ponto se opõe a métodos de análise qualitativa, em que são analisadas empresas em toda sua complexidade e o investidor incorpora a mentalidade de sócio.

Então, em vez de opinião e especulação, a decisão é tomada com base em dados — relacionados ao preço da ação, informações financeiras da empresa e outros aspectos que explicaremos melhor em seguida.

O factor investing busca identificar fatores associados a retornos acima do mercado, independentemente do setor em que a companhia está inserida e quais produtos ou serviços comercializa.

A estratégia permite a diversificação entre áreas de atuação e entre os próprios fatores de investimento, o que reduz significativamente os riscos.

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Como funciona o factor investing?

Para entender melhor como funciona o factor investig, vale a pena diferenciá-lo dos métodos de stock picking, isto é, de outros critérios usados para selecionar as ações que vão compor a carteira do investidor.

Os mais conhecidos são a análise fundamentalista e a análise técnica.

Na primeira, o investidor observa os fundamentos da empresa para descobrir se, no longo prazo, suas ações tendem a se valorizar. Fatores como lucro, patrimônio, geração de caixa, endividamento e concorrência são levados em conta.

Já a análise técnica considera somente um fator: a variação do preço da ação no passado. A ideia é que, observando os gráficos das cotações, seja possível identificar padrões e antecipar tendências.

A análise técnica costuma ser usada pelos traders, aqueles que investem no curto prazo.

E o factor investing? Como essa estratégia se diferencia dos métodos que acabamos de explicar?

A grande diferença é que, no factor investing, o investidor decide sobre um modelo, um conjunto de fatores que vão motivar sua decisão de compra ou venda de um ativo.

Na análise fundamentalista, os dados coletados são comparados com os números históricos da companhia ou com os fundamentos de outras empresas do mesmo setor.

A partir daí, o investidor toma uma decisão que, embora embasada em critérios de certa forma objetivos, ainda é carregada de alguma subjetividade e de intuição.

Afinal, é um investimento em que, como falamos antes, o investidor deve pensar com a mentalidade de sócio, ou seja, deve acreditar no futuro da companhia.

No factor investing, a estratégia está na escolha dos fatores, não das empresas. Um processo que não envolve muita intuição, porque o método não leva em conta o viés comportamental e tampouco busca descobrir o valor intrínseco de uma ação.

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Quais são os fatores de investimento?

Como acabamos de ressaltar, o factor investing não deve levar em conta aspectos subjetivos.

A ideia da estratégia é selecionar fatores que historicamente estão relacionados a maiores retornos, aumentando a probabilidade de obter uma boa rentabilidade.

Encontrando a correlação entre os fatores e os retornos dos ativos, a chance de o investidor perder dinheiro no longo prazo é menor.

Os tão falados fatores se dividem em dois grupos: os fatores macroeconômicos e os fatores de estilo.

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Fatores macroeconômicos

A macroeconomia é o ramo que estuda fenômenos econômicos de grande escala.

Entre os fatores macroeconômicos, portanto, estão aspectos que impactam o Brasil e/ou o mundo como um todo, e não apenas certas empresas e determinados setores da economia.

Alguns desses fatores são:

  • Taxa de inflação: o percentual de desvalorização da moeda.
  • Taxa de juros: percentual que impacta na rentabilidade de títulos de renda fixa.
  • Crédito: condições e risco de inadimplência nas modalidades de crédito para as empresas.
  • Crescimento econômico (evolução do PIB): indica o ritmo e a saúde financeira do país.
  • Taxa de desemprego: a evolução histórica da taxa dá uma ideia sobre a situação atual do mercado produtivo.
  • Câmbio: a relação entre a nossa moeda e o dólar e euro, o que impacta na atividade especulativa e também na balança comercial da economia produtiva.

Os fatores macroeconômicos impactam todas as classes de ativos, logo, são úteis para diferenciar classes de ativos, mas não para comparar ações de diferentes empresas.

A inflação e a taxa básica de juros, por exemplo, ajudam a entender o risco associado a títulos como Tesouro IPCA e Tesouro Selic na comparação com outros ativos.

Fatores de estilo

Os chamados fatores de estilo são os aspectos mais específicos, que ajudam a diferenciar ações.

Para montar uma estratégia de investimento na bolsa de valores, esses são os fatores que devem ser levados em conta.

Os principais fatores de estilo relevantes para o mercado de ações, descobertos e difundidos por Eugene Fama e Kenneth French desde 1993, são:

Valor

Nessa categoria, entram indicadores de análise fundamentalista que relacionam o preço de uma ação com informações do balanço patrimonial da empresa. Os já citados P/L e P/VPA são exemplos, além do EV/Ebitda.

A ideia desses múltiplos é ajudar a identificar ações sub ou sobrevalorizadas. Os indicadores demonstram se o valor está alto ou baixo em relação aos resultados e patrimônio da companhia.

Esse fator mostra que empresas baratas e sub precificadas tendem a performar melhor no longo prazo.

Qualidade

Os fatores de qualidade buscam analisar se a empresa é bem administrada financeiramente. Sua dívida está controlada? Ela gera caixa com a consistência esperada?

Nesta categoria, entram indicadores como o Retorno sobre Patrimônio Líquido (ROE) e Dívida sobre Patrimônio Líquido.

Esse fator indica que empresas de qualidade indiscutível também tendem a gerar um retorno superior à média do mercado no longo prazo.

Volatilidade

No factor investing, pode haver uma preferência para ações com volatilidade menor, pois a intenção é criar uma carteira de investimento com risco controlado.

Volatilidade menor pode indicar que a empresa é defensiva: ou seja, que ela se beneficia mesmo em crises e recessões, quando a economia vai mal. Um exemplo é o McDonalds, que percebe um aumento da receita quando os consumidores buscam lanches mais baratos.

Momento

O momento é um fator que envolve tendência, na qual o investidor privilegia ações cujo preço, nos últimos meses, tem se movimentado para cima.

Nesse caso, existe o risco de reversão de tendência, por isso é importante ajustar periodicamente a composição da carteira e o modelo de investimento.

Quando o mercado está com uma tendência geral de alta, por exemplo, o portfólio pode conter mais ações escolhidas segundo este fator.

Tamanho

Por fim, temos o fator tamanho. Como o factor investing é uma estratégia de longo prazo, podem ser privilegiadas as ações de empresas menores (as small caps e as microcaps), pois elas têm maior potencial de crescimento na comparação com companhias já bem desenvolvidas e conhecidas.

Fatores de estilo para renda fixa

Os fatores que listamos acima fazem mais sentido para quem está montando uma estratégia de investimento em ações.

Mas há também fatores usados para escolher ativos de renda fixa, como a duração (o prazo de vencimento dos títulos do governo, por exemplo) e riscos políticos, de catástrofes, de calotes, etc.

LEIA MAIS: Qual a diferença entre renda fixa e renda variável? Entenda

Como investir em fatores?

No factor investing, portanto, o investidor monta sua carteira pensando em fatores, não em empresas.

São definidos filtros com base em indicadores fundamentalistas e a diversificação fica por conta dos fatores mais relevantes dentro da estratégia, e não dos setores de atuação das companhias.

Esse tipo de investimento fica no meio do caminho entre a gestão ativa e passiva da carteira.

É ativa na hora de escolher os fatores, mas passiva porque, uma vez definida a estratégia, as operações de compra e venda de ações específicas apenas segue os critérios já definidos.

Para investidores que buscam otimização nos custos e na diversificação, ou não têm tanto tempo ou conhecimento para montar e remontar essa estratégia por conta própria, existe uma alternativa totalmente passiva para investir com o factor investing.

São os ETFs em que a carteira é selecionada seguindo os preceitos de que falamos neste artigo.

Geralmente, é utilizado um índice — como o IBrX100, que lista as 100 ações mais negociadas na bolsa brasileira — e aplica-se um filtro de fatores para determinar os critérios que devem motivar a compra ou a venda dos ativos dessa lista.

O objetivo é que o fundo tenha resultados que superem a rentabilidade do índice no qual se baseou.

Conclusão

Quem investe na bolsa com uma estratégia de factor investing não costuma fazer análises individuais e subjetivas de cada empresa.

Em vez disso, seleciona indicadores e outros fatores que, em tese, vão se converter em maiores retornos no futuro.

O investimento em fatores também pode funcionar como um filtro para quem tem uma estratégia diversificada, embora ele faça mais sentido quando aplicado a um conjunto de empresas. 

Você escolhe o fator, e não tenta selecionar as campeãs dentro de cada fator.

Recentemente, a B3 liberou para negociação, no Brasil, alguns BDRs de ETFs de fatores no exterior. Por meio deles, você consegue investir apenas em empresas pequenas (fator tamanho) e com múltiplos baixos (fator valor), por exemplo.

De qualquer forma, é importante entender os fatores de investimento porque eles são uma estratégia moderna e atualizada de alocação do portfólio.

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