ROE: o que é e como analisar o Return On Equity ao investir

Publicado por
Redação Warren

ROE é a sigla para Return on Equity, um indicador que relaciona o lucro de uma empresa com seu patrimônio líquido.

É um dos principais indicadores da chamada análise fundamentalista, aquela em que o investidor avalia a saúde financeira de uma companhia para decidir se investe em suas ações.

Mas por quê? Como o resultado do ROE contribui para a análise do investidor que investe na Bolsa de Valores?

A resposta curta é que empresas com um ROE alto tendem a ter uma gestão mais eficiente: geram lucro com uma estrutura mais enxuta e menos necessidade de investimento.

A resposta completa, com mais detalhes, você descobrirá ao longo deste texto. Aqui, vamos responder:

  • O que é ROE?
  • Para que serve o ROE?
  • Como calcular o ROE?
  • Como analisar o ROE?
  • Comparando os ROEs de diferentes empresas

Pronto para saber mais e turbinar sua análise fundamentalista de ações? Siga a leitura!

O que é ROE?

ROE é um indicador calculado a partir da divisão do lucro líquido de uma companhia pelo patrimônio líquido registrado em seu período contábil anterior. O termo vem de Return on Equity, que significa retorno sobre o patrimônio líquido.

Fica mais fácil compreender o que o indicador significa conhecendo as variáveis usadas para fazer o cálculo.

Lucro líquido

Lucro, você já sabe: é o que sobra quando subtraímos da receita de uma empresa todos os custos que ela teve para oferecer seus produtos ou serviços para os clientes.

Quando são subtraídas apenas as despesas variáveis, diretamente relacionadas à produção do item em si (a matéria-prima, por exemplo), chega-se ao lucro bruto.

Já o lucro líquido leva em consideração todos os custos e despesas: impostos, salários, aluguel de escritório, energia elétrica, matéria-prima, etc.

Patrimônio líquido

Resumindo bastante, o patrimônio líquido corresponde à diferença entre os ativos (dinheiro em caixa, aplicações financeiras, duplicatas a receber e bens, como máquinas e imóveis) e passivos (obrigações, como dívidas a pagar e parcelas a vencer de empréstimos) de uma empresa.

Convertendo tudo isso em reais, o resultado da conta é o patrimônio líquido (PL), divulgado pela companhia em seu balanço patrimonial.

A seguir, vamos entender por que o ROE costuma ser utilizado pelos investidores como um indicador que mostra quão eficiente e rentável é uma empresa.

Para que serve o ROE?

Você reparou que, apesar de o indicador ser calculado com a divisão do lucro sobre o patrimônio, o seu nome fala em “retorno” e não em lucro?

Isso demonstra um conceito óbvio, mas que às vezes a gente esquece: o patrimônio de uma empresa serve para dar lucro, direta ou indiretamente.

Não faz sentido ela ter um imóvel que não é utilizado como escritório ou fábrica e não rende receitas de aluguel. Este seria um bem que consome recursos, em vez de gerar.

No exemplo acima, o imóvel aumenta o valor do patrimônio líquido sem impactar no lucro líquido, o que resulta em um ROE mais baixo.

É por isso que, na abertura do texto, afirmamos que empresas com um ROE alto tendem a ter uma gestão mais eficiente.

O imóvel parado é um caso de má gestão: ele poderia ser vendido para aumentar o capital de giro, melhorar a infraestrutura da empresa ou contratar novos talentos, mas em vez disso demanda manutenção e pagamento de impostos.

E qual a preocupação do investidor com isso? 

Para ele, má gestão é um sinal negativo, pois, a longo prazo, ações de empresas com gestão mais eficiente tendem a se valorizar. Isso acontece porque a rentabilidade impulsiona o lucro, e as cotações acompanham a geração de lucro no longo prazo.

LEIA MAIS: Os três pilares básicos para investir em renda variável

Devo fugir de ações de empresa com ROE baixo?

Atenção! Não podemos resumir o que falamos acima em frases simplistas como “ROE alto é bom e ROE baixo é ruim” ou “não invista em empresas com ROE baixo”.

Por dois motivos:

  1. O que é um ROE alto e o que é um ROE baixo? Não existem números absolutos, é preciso comparar — e comparar com qualquer outra empresa, sem critérios, é um grande erro (depois falaremos mais sobre isso).
  2. O ROE é apenas uma das ferramentas que o investidor deve levar em consideração antes de aplicar seu dinheiro. Existem outros fatores e indicadores usados na análise fundamentalista que ajudam a tomar a melhor decisão.

Jamais esqueça de comparar e nunca tire conclusões definitivas apenas com base no ROE.

E tenha em mente que trouxemos o exemplo do imóvel parado apenas para ajudar na compreensão, pois nem sempre uma empresa com ROE baixo tem necessariamente uma gestão ruim.

Como calcular o ROE?

Calcular o ROE, ou retorno sobre o patrimônio líquido, é muito fácil. A fórmula não tem mistério:

ROE = lucro líquido / patrimônio líquido do período contábil anterior

Vamos pegar um exemplo de uma empresa real, a Marfrig Global Foods SA (MRFG3). Segundo seu balanço patrimonial, ela fechou 2019 com um lucro líquido de R$ 218 milhões e um patrimônio líquido de R$ 618 milhões (arredondamos o número para facilitar o cálculo).

A fórmula fica assim:

ROE = R$ 218.000.000 / R$ 618.000.000
ROE = 0,35
ROE = 35%

O mais comum é usar o ROE como percentual, então basta multiplicar o resultado da divisão por 100. Aí chegaremos à conclusão que, considerando os números que fecharam 2019, a Marfrig teve um retorno sobre patrimônio líquido de 35%.

Lembrando que essa não é uma sugestão de investimento, apenas um exemplo que utilizamos para ensinar a fazer o cálculo com números reais.

Onde eu encontro essas informações?

Você acabou de ver que é bem fácil calcular o retorno sobre o patrimônio líquido. É só ter em mãos as variáveis, equivaler as casas decimais e depois multiplicar por 100.

Para encontrar as informações que você vai inserir na fórmula, também não há mistério, porque nenhum desses números é segredo — pelo contrário. 

As empresas listadas na Bolsa precisam deixar essas e muitas outras informações disponíveis para qualquer um, seguindo o princípio da transparência.

Nos sites das empresas e da B3, a bolsa brasileira, você encontra as Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFP), documentos que informam o lucro, patrimônio e outros dados importantes para o investidor.

Outra opção, bem mais fácil, é acessar portais que mostram dados atualizados sobre a cotação das ações e também indicadores diversos de cada empresa, entre eles o ROE.

Nesses canais, geralmente o indicador é calculado a partir do último patrimônio líquido registrado e do lucro líquido acumulado nos últimos quatro trimestres. Assim, você não precisa se dar ao trabalho de procurar os resultados nas DFPs e fazer o cálculo.

Para quem quer se aprofundar na análise fundamentalista, porém, esses documentos ajudam a conhecer melhor os detalhes escondidos por trás do percentual do ROE.

Como analisar o ROE?

A suposição mais comum é que a empresa precisa de um ROE alto. No entanto, como alertamos antes, essa ideia não deve ser tomada como definitiva por si só.

Pode acontecer, sim, de o indicador estar em um bom percentual porque a companhia é sólida, tem uma gestão eficiente e ágil e consegue “fazer mais com menos”.

Afinal, a tecnologia avança rapidamente e o comportamento do consumidor é bastante volátil, o que torna as características que acabamos de citar fundamentais para uma empresa se adaptar aos diferentes cenários e obter destaque no mercado.

O problema é que nem sempre um ROE alto indica isso tudo. Então o que ele indica? Alguns cenários possíveis:

  • A empresa tem um ativo baixo (e, consequentemente, um patrimônio líquido baixo), o que representa um risco em uma situação de crise ou emergência.
  • A empresa tem um passivo grande, o que também deixa o patrimônio líquido baixo e ainda compromete o fluxo de caixa.
  • O ROE calculado em determinado período é alto, mas o histórico mostra uma variação considerável, o que indica que os resultados da empresa são sazonais ou instáveis, tornando difícil prever os cenários futuros.

Ao mesmo tempo, há várias explicações potenciais para um ROE baixo. Pode ser que a empresa seja lucrativa e estável, mas em vez de os lucros serem distribuídos como dividendos, são acumulados e aumentam o patrimônio líquido, puxando o indicador para baixo.

Então o ROE não quer dizer nada?

Ao trazer cenários hipotéticos, nosso objetivo é apenas um: mostrar que nenhum indicador é definitivo por si só.

O ROE chama a atenção para uma tendência, que deve ser verificada com a análise dos demonstrativos da empresa, de seu nível de maturação, histórico, contexto socioeconômico do país, etc.

Dessa forma, o ROE é uma importante ferramenta para identificar problemas ou apenas se certificar de que não há nenhum desequilíbrio entre o lucro e o patrimônio.

Só que, mesmo entendendo as razões que justificam o percentual do ROE, há outras informações a serem consideradas antes de investir em uma ação.

Qual o seu preço? Quanto ela paga de dividendos? Qual o percentual de lucro que a empresa tem em cada venda realizada? Enfim, há muitas variáveis que formam os diversos indicadores da análise fundamentalista.

A conclusão a ser tirada depois de analisar o ROE também varia de acordo com o perfil do investidor. Alguns acreditam que, se ele for menos de 5%, o risco é elevado e nem vale a pena perder tempo investigando os motivos de o indicador estar baixo.

Outros acreditam que ainda assim o investimento pode ser promissor, pensando que, no futuro, os resultados melhoram e as ações se valorizam.

SAIBA MAIS: Small caps: como selecionar as empresas mais promissoras da Bolsa

E se o ROE for negativo?

Quando uma empresa apresenta um resultado negativo de lucro (ou seja, teve prejuízo) em determinado período, o cálculo do ROE será negativo.

Imagine que determinada companhia teve R$ 12 milhões de prejuízo e possui um patrimônio de R$ 300 milhões. O cálculo seria:

ROE = lucro líquido / patrimônio líquido
ROE = -12 / 300
ROE = -4%

Nessa situação, o melhor é buscar entender quais as causas do prejuízo. Existe uma boa justificativa, como uma estratégia de investimentos da companhia mirando melhores resultados no futuro? Não havendo, o ROE negativo é um péssimo sinal.

Atenção também para outros casos. Se tanto o lucro quanto o patrimônio estiverem no negativo, o cálculo do ROE será positivo, embora a situação da empresa seja possivelmente desesperadora.

Se apenas o patrimônio estiver negativo e o lucro positivo, o ROE será negativo. Nesse caso, a empresa provavelmente tem muitas dívidas, mas elas podem ser administráveis, ou não.

Ou seja, mais uma vez: não tire nenhuma conclusão definitiva apenas com o percentual do ROE.

Comparando os ROEs de diferentes empresas

Falamos antes que o ROE “chama a atenção para uma tendência”. Para que ele desperte essa atenção, porém, é preciso ter uma referência.

Se não, como saber se o ROE de 35% que a Marfrig registrou em 2019 é um número alto ou baixo? O segredo é comparar com o indicador apresentado por empresas similares, do mesmo setor e dar preferência para análises históricas, sem olhar apenas um ano.

No site da B3, você pode filtrar a relação de empresas listadas por setor de atuação.

Abaixo, montamos uma tabela com um comparativo dos ROEs das empresas do setor de carnes e derivados.

Desta vez, consideramos o ROE atualizado, ou seja, calculado com o lucro líquido acumulado nos últimos quatro semestres e o último balanço patrimonial divulgado pelas empresas.

EmpresaCódigo da açãoROE
MarfrigMRFG3122,91%
MinervaBEEF381,78%
BRF SABRFS317,79%
ExcelsiorBAUH413,6%
MinuparMNPR34,94%
JBSJBSS31,08%

Note que Marfrig e Minerva se destacam, com retornos elevados sobre o patrimônio líquido.

Esse tipo de comparação ajuda porque você elimina uma variável. O contexto é o mesmo (o mercado de carnes), então não é a bonança ou crise no setor de atuação de uma dessas empresas que vai explicar o ROE alto ou baixo em relação às demais.

Por outro lado, há diversos fatores que diferenciam, estes sim, a situação de cada uma das companhias da tabela.

Mas comparar o ROE de empresas do mesmo setor apenas ajuda a dar um norte. Você descobre quais perguntas fazer e que tipo de informação procurar para se aprofundar mais na análise das ações.

Conclusão: continue analisando

Esperamos que você não tenha desanimado depois de ler este texto. Afinal, repetimos várias vezes que o ROE não qualifica sua decisão de investimento isoladamente — é preciso ir atrás de mais informações.

Queremos que você entenda que esse é o caminho natural para quem quer escolher a dedo as ações em que investe em vez de aplicar em um fundo de renda variável.

Você se tornaria sócio de uma empresa antes de se informar muito bem sobre ela? Pois ser acionista, mesmo com um número baixo de ações, não é tão diferente.

É importante monitorar o ROE, assim como outros indicadores, que podem funcionar como sinais de alerta — não para indicar a hora de comprar ou vender determinado ativo, mas sim para mostrar que tem algo para ser investigado.

Além disso, alguns investidores utilizam o ROE como um critério para iniciar suas análises. Neste caso, ele funciona como um filtro a partir do qual os investidores vão diversificar a sua carteira.

Então não pare aqui. Conheça outros indicadores da análise fundamentalista e acostume-se a consultar os demonstrativos das empresas. 

Você vai ver que, no longo prazo, o tempo investido nesse tipo de conhecimento será recompensado.

Agora, veja um resumo dos principais pontos que abordamos neste texto:

  • ROE significa retorno sobre o patrimônio líquido
  • É um indicador usado na análise fundamentalista de ações
  • Para calcular o ROE, divide-se o lucro líquido pelo patrimônio líquido
  • O indicador pode ajudar a identificar empresas com gestão mais sólida e eficiente
  • Não é recomendável fazer esse tipo de conclusão apenas com a análise do percentual do ROE isoladamente
  • Comparações de ROE devem ser feitas preferencialmente entre empresas do mesmo setor e dentro de um horizonte de tempo

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