O que esperar da Bolsa quando houver o corte da Selic?

Publicado por
Frederico Nobre

Durante os últimos meses, assistimos a uma verdadeira montanha-russa de emoções no universo dos investimentos, particularmente no cenário brasileiro. 

O time de Análise Macroeconômica da Warren estava correto em suas previsões: a melhora significativa do risco Brasil, diante da aprovação do arcabouço fiscal e da desaceleração da inflação mais rápida do que o previsto, mantêm em vista o início de um ciclo de queda da Selic a partir de agosto.

Ações, fundos imobiliários e até mesmo o real em relação ao dólar se fortaleceram, e o Ibovespa vem flertando com o nosso target de 119 mil pontos para junho de 2023.

Neste contexto, poucos eventos têm sido tão aguardados quanto a queda na taxa básica de juros. 

Para entender a importância deste momento, vale a pena analisar o histórico de períodos de queda da Selic e sua relação com a Bolsa de Valores. 

O histórico mostra que, em média, o Ibovespa subiu 12,4%, 14,3% e 12,7% nos 12 meses, 6 meses e 3 meses antes dos ciclos de flexibilização monetária começarem.

Recentemente, em maio, junho e julho, a bolsa brasileira mostrou sinais claros de recuperação. Dessa forma, decidimos antecipar nossa revisão de valuation da bolsa, que ocorre, normalmente, no final de cada semestre. 

Aqui estão nossos novos targets para o Ibovespa:

Dezembro de 2023 – 129K 

Junho de 2024 – 134K 

Dezembro de 2024 – 138K

Mas o que causa esse movimento? Vamos nos aprofundar nos principais fatores.

Primeiramente, as altas taxas de juros costumam prejudicar as ações

Isso acontece porque as empresas gastam mais com os juros de seus empréstimos, o que reduz o lucro líquido.

Muitas companhias deixam de investir, por conta dos custos de financiamento mais elevados. 

Os investidores, por sua vez, trocam suas ações por títulos de renda fixa, que se tornam mais atrativos. 

Fundos de ações começam a receber pedidos de resgate e o investidor pessoa física migra para o CDI, gerando um fluxo vendedor na bolsa. Ademais, o valor presente das empresas cai, pois as taxas de desconto passam a ser maiores. 

Em meio a essas considerações, um ponto importante a ser discutido é a eficácia das empresas em gerar lucro em um ambiente de juros altos

O Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) é uma métrica que avalia essa capacidade. Calculado pela divisão do lucro líquido pelo patrimônio líquido dos acionistas, o ROE oferece uma visão clara da eficácia com que uma empresa gera retornos para os acionistas

No entanto, ao contrário do Retorno sobre Ativos (ROA), o ROE não considera a dívida da empresa. Isso significa que quanto mais alavancagem e dívida uma empresa assumir, maior será o ROE em relação ao ROA. 

É aí que entra a identidade DuPont, que nos diz que o ROE é afetado por três fatores:

  • A eficiência operacional, medida pela margem líquida
  • A eficiência no uso dos ativos, medida pelo giro do ativo total
  • A alavancagem financeira, medida pelo multiplicador do patrimônio líquido.

Se os juros sobem, a margem líquida das empresas pode cair, e a alavancagem pode aumentar. Ambos os movimentos pressionam o ROE para baixo.

O gráfico abaixo faz uma análise DuPont da rentabilidade do índice de ações IBES Brasil, que contém 216 empresas listadas na bolsa.

A linha terracota no painel superior do gráfico mostra que desde o início do ciclo de alta de juros no Brasil, em meados de 2021, a margem líquida das empresas (EPS Margin) começou a cair vertiginosamente, o que levou a uma queda nos níveis de rentabilidade (ROE), ilustrada no painel inferior.

Por outro lado, os níveis de alavancagem subiram e o custo de capital das empresas também, tornando menos atrativo investir em ações.

Contudo, quando a Selic cai, os custos dos empréstimos também diminuem. A redução desses custos pode aumentar a margem líquida das empresas e melhorar o ROE

Dessa forma, a queda na taxa de juros torna as ações mais atrativas para os investidores.

É importante dizer que isso não acontece de uma hora para outra.

As empresas ainda terão alguns resultados desafiadores pela frente e não existe nenhuma garantia de que a bolsa vai disparar porque os juros vão começar a cair. 

Por exemplo: se a queda ocorrer numa intensidade mais lenta do que o esperado, isso pode ser um gatilho negativo.

De todo modo, o mercado de ações tende a reagir de forma positiva a um cenário de corte de juros, mesmo que, inicialmente, possa haver alguma volatilidade.

Essa reação positiva não é imediata, mas começa a ser sentida ao longo dos meses após o corte na Selic. 

E nesse contexto, acreditamos que o cenário de queda de juros pode trazer oportunidades interessantes para os investidores que estão dispostos a assumir um pouco mais de risco em troca de um maior retorno potencial.

Mas vale lembrar: é importante sempre diversificar a carteira de investimentos e buscar um equilíbrio entre diferentes tipos de ativos, para se proteger contra possíveis cenários adversos. 

E, é claro, não se esqueça de adequar suas escolhas ao seu perfil de investidor e aos seus objetivos financeiros.

Nós, da Warren, estamos sempre analisando o cenário macroeconômico e o comportamento das empresas para oferecer as melhores sugestões de investimento.

Cada movimentação de mercado traz consigo uma gama de oportunidades que estamos prontos para ajudá-lo a explorar.

Quaisquer dúvidas ou sugestões são bem-vindas. Respondo perguntas diariamente no meu Instagram (@fredpnobre), e as nossas recomendações individuais de empresas, bem como as carteiras de ações e FIIs da área de análise da Warren, estão sempre disponíveis para os nossos clientes.

Estamos aqui para auxiliar você a acompanhar estas mudanças e fazer escolhas de investimento informadas.

Até o próximo artigo!


Continue a leitura:

Publicado por
Frederico Nobre