Como o novo lockdown chinês afeta o mercado financeiro

Publicado por
Frederico Nobre

Você já deve ter visto que a China está andando na contramão do mundo ocidental em relação às suas políticas de enfrentamento à Covid-19.

Enquanto o ocidente vem flexibilizando as medidas de contenção do vírus, a situação na China é totalmente diferente, com restrições severas adotadas recentemente — o chamado lockdown.

Na coluna de hoje, vamos entender rapidamente como o lockdown na China afeta a economia real e quais são as consequências imediatas para os mercados.

Situação atual da pandemia na China

Aqui no Brasil, há quem arrisque dizer que a pandemia está perto do fim, porque os dados de casos e mortes vêm caindo há várias semanas. 

Mas, do outro lado do mundo, a história é outra. 

Em Xangai, diversas áreas entraram recentemente no que as autoridades chamam de “modo de gerenciamento silencioso“, o que normalmente significa cercas em torno de edifícios, entregas proibidas e moradores presos em ambientes fechados.

Xangai busca vencer seu surto de mais de 2.000 novos casos de Covid-19 nesta semana (16 a 22 de maio).

Depois disso, o lockdown da cidade será diluído em etapas, com reabertura de lojas e restrições de tráfego amenizadas.

Em paralelo, o número diário de casos de Covid de Pequim é uma fração do de Xangai, mas há sinais de que o pior ainda pode estar por vir. 

Autoridades da capital proibiram serviços de refeições em restaurantes, fecharam alguns shoppings, locais de entretenimento e espaços turísticos. 

Também suspenderam seções dos sistemas de ônibus, metrô e táxi e impuseram bloqueios em alguns edifícios residenciais.

Em meio a um crescente senso de cautela, Pequim negou os rumores de um lockdown iminente, pedindo às pessoas que não entrem em pânico, mas que fiquem em casa.

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Como o lockdown afeta a economia real?

A China é o maior importador global de commodities e o maior exportador de tecnologia.

O impacto do lockdown na China para combater a Covid-19, especialmente no mega-porto de Xangai, impactará por meses o setor de transporte marítimo de cargas em contêineres.

Em Xangai, a situação é considerada dramática, com 500 navios esperando para atracar, por falta de mão de obra e de berços para atracação.

Normalmente, as empresas fazem quatro viagens por ano até a Ásia, mas estão conseguindo fazer uma média de até 2,5 ciclos anuais.

Com a baixa disponibilidade de navios e profundos gargalos logísticos, o preço do frete disparou, o que em última análise pode gerar inflação de custos.

Ao mesmo tempo, surgem temores relacionados à desaceleração da economia chinesa, que tem um peso significativo no crescimento global.

O lockdown da China é mais um driver negativo que contribui para a tendência global de estagflação, um dos piores momentos do ciclo econômico.

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Como o lockdown impacta o preço dos ativos?

Em primeiro plano, o lockdown contribuiu para um arrefecimento nos preços das commodities, que ainda assim permanecem em patamares muito elevados comparativamente aos preços históricos.

Além disso, empresas chinesas sofreram bastante com as restrições domésticas e o mercado de ações caiu significativamente desde o anúncio das primeiras medidas mais severas.

As empresas brasileiras cujos negócios dependem de interações comerciais com a China também são diretamente afetadas.

Os gargalos logísticos afetam os custos de produção e volume de vendas, diminuindo as margens das companhias.

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Quais foram as medidas econômicas de contenção adotadas pela China?

Por enquanto, as intenções de estímulos econômicos vêm sendo renovadas por parte do governo central, mas há pouco progresso prático.

O Politburo, principal órgão de decisão do Partido Comunista, disse que a China adotará um pacote de políticas para ajudar as indústrias atingidas pela pandemia, intensificando a construção de infraestrutura e apoiando o desenvolvimento saudável do mercado imobiliário.

No entanto, o aperto monetário do Federal Reserve e o enfraquecimento rápido do yuan alimentam preocupações sobre saídas de capital  se a China adotar medidas de estímulo mais fortes, limitando a margem de manobra da política monetária. 

A queda recente do yuan pode ser uma preocupação por trás da hesitação das autoridades chinesas em lançar mais flexibilização monetária, o que poderia elevar a pressão negativa sobre a moeda. 

Ainda não sabemos quanto tempo pode durar o lockdown na China, de modo que o balanço de riscos segue elevado, com gargalos logísticos que podem durar mais alguns meses e impactos negativos nas cadeias produtivas.

São enormes as incertezas, mas seguimos atentos aos próximos episódios dessa novela, por acreditarmos que o lockdown na China é um dos grandes fatores de risco para serem monitorados atualmente.

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