Para além do Ibovespa: conheça outros indicadores que ajudam a acompanhar a bolsa brasileira  

Você provavelmente já ouviu falar do Ibovespa, não é mesmo? 

Apesar de ser o mais famoso e mais representativo índice da bolsa brasileira, o Ibovespa tem algumas particularidades que você deve levar em consideração para analisar o mercado de ações brasileiro de forma agregada.

O principal ponto é que, apesar do rebalanceamento do índice, que ocorre a cada quatro meses, sua composição histórica é majoritariamente formada por dois grandes setores: financeiro e commodities (energia e materiais básicos).

Setores que compõem o Ibovespa

Dessa forma, a rentabilidade do índice Ibovespa é muito dependente do desempenho de grandes empresas pertencentes a estes setores, tais como: Vale, Petrobras, Itaú, Bradesco, entre outras.

Por conta disso, muitas vezes existe uma falsa percepção de que a bolsa brasileira está barata ou cara, quando na verdade não é possível chegar a essa conclusão analisando o índice Ibovespa isoladamente.

Um indicador muito utilizado para medir a atratividade da bolsa é a relação preço/lucro (P/L), que mede a quantidade de tempo necessário para reaver o capital investido em determinada empresa, setor ou índice.

Quando utilizamos o Ibovespa como referência, estamos sujeitos ao viés mencionado acima.

Repare na diferença entre os dois gráficos de P/L: o primeiro representa o índice Ibovespa, enquanto o segundo repondera o índice excluindo commodities e bancos.

Em resumo, a sensação de que a bolsa está barata ou cara baseada somente na observação do índice Ibovespa pode trazer resultados pouco confiáveis.

É justamente por isso que existem diversos outros índices representativos para o mercado de ações brasileiro. 

Neste artigo, vamos explorar outros índices de mercado e explicar de que forma podemos utilizá-los para compreender melhor os movimentos das empresas listadas na bolsa e investir com consciência.

Como é formado um índice de mercado?

O leitor mais experiente talvez já saiba que um índice de mercado é um instrumento financeiro que agrupa a variação na cotação de diversos ativos de uma determinada classe.

Por exemplo: no caso específico dos índices representativos do mercado de ações, os ativos que compõem a carteira são empresas listadas na bolsa.

No entanto, também existem índices que representam outras classes de ativos, como moedas, commodities e fundos imobiliários (FIIs).

Neste artigo, vamos analisar apenas os índices representativos do mercado de ações e compará-los com o Ibovespa, que é o principal deles, apesar das ressalvas mencionadas anteriormente.

Dito isso, é possível classificar os principais índices do mercado de ações em dois grandes grupos: índices agregados e setoriais.

Nesse contexto, o Ibovespa seria um índice agregado e o Índice de Energia Elétrica (IEE), por exemplo, se enquadraria na classificação setorial.

A composição e peso das ações pertencentes aos índices dependem muito do objetivo e da metodologia de rebalanceamento do indicador.

Não existe regra comum a todos: cada caso é um caso.

LEIA TAMBÉM | Buy and hold: o passo a passo da melhor estratégia para investir em ações

Quais são os principais índices agregados da bolsa brasileira?

Além do Ibovespa, outros índices agregados importantes são IBRX, IDIV e SMLL. Abaixo, você pode encontrar uma breve descrição de cada um deles:

  • IBrX 100: é o resultado de uma carteira teórica de ativos, cujo objetivo é ser o indicador do desempenho médio das cotações dos 100 ativos de maior negociabilidade e representatividade do mercado de ações brasileiro.
  • IBrX 50: é a versão do IBrX que considera os 50 ativos de maior negociabilidade e representatividade do mercado de ações brasileiro.
  • IDIV: o objetivo do IDIV é ser o indicador do desempenho médio das cotações dos ativos que se destacaram em termos de remuneração dos investidores, sob a forma de dividendos e juros sobre o capital próprio.
  • Índice Small Cap (SMLL): é o indicador do desempenho médio das cotações dos ativos de uma carteira composta pelas empresas de menor capitalização da bolsa. 

Em resumo, o IBRX é um índice agregado com menor concentração setorial do que o Ibovespa. Já o IDIV pode ser usado como benchmark para empresas boas pagadoras de dividendos e o SMLL, para empresas de menor capitalização.

A performance destes índices pode variar consideravelmente ao longo do tempo, de acordo com as condições de mercado.

Em momentos de bull market (tendência de alta), por exemplo, o Índice de Small Caps tende a performar melhor, enquanto nos períodos de bear market (tendência de baixa), indicadores mais defensivos, como o IDIV, costumam superar os demais.

Quais são os principais índices setoriais da bolsa brasileira?

Dentre os índices setoriais, os mais famosos são o Índice de Energia Elétrica (IEE), Índice Financeiro (INFC), Índice de Materiais Básicos (IMAT) e Índice Imobiliário (IMOB).

Vamos a uma breve descrição de cada um deles:

  • Índice de Energia Elétrica (IEE): é o indicador do desempenho médio das cotações dos ativos de maior negociabilidade e representatividade do setor de energia elétrica.
  • Índice Financeiro (IFNC): o objetivo do IFNC é ser o indicador do desempenho médio das cotações dos ativos de maior negociabilidade e representatividade dos setores de intermediários financeiros, serviços financeiros diversos, previdência e seguros.
  • Índice de Materiais Básicos (IMAT): o objetivo do IMAT é ser o indicador do desempenho médio das cotações dos ativos de maior negociabilidade e representatividade do setor de materiais básicos.
  • Índice Imobiliário (IMOB): o objetivo do IMOB é ser o indicador do desempenho médio das cotações dos ativos de maior negociabilidade e representatividade dos setores da atividade imobiliária compreendidos por exploração de imóveis e construção civil.

Conforme mencionado anteriormente, a natureza desses índices permite exposição por parte do investidor a setores específicos, que tendem a apresentar performance menos correlacionada com os indicadores agregados, uma vez que dependem exclusivamente de um determinado perfil de empresas.

Empresas do setor imobiliário, por exemplo, são mais suscetíveis a alterações nas taxas de juros e atividade econômica, enquanto o setor elétrico é mais dependente do regime de chuvas e as empresas de materiais básicos acompanham o ciclo econômico e o preço de venda das commodities.

Outros índices de mercado temáticos

Além dos benchmarks agregados e setoriais, uma nova modalidade de indicadores vem sendo cada vez mais utilizada pelo mercado: os índices temáticos.

Nesse caso, o parâmetro utilizado para agrupamento de empresas está relacionado a um tema específico, como governança corporativa ou sustentabilidade, por exemplo.

Na bolsa brasileira, os índices temáticos mais famosos são o IGC, ITAG e ISE:

  • Índice de ações Governança Corporativa diferenciada (IGC): o objetivo do IGC é ser o indicador do desempenho médio das cotações dos ativos de empresas listadas no Novo Mercado ou nos Níveis 1 ou 2 da B3. 
  • Índice de ações com Tag Along diferenciado (ITAG): o ITAG busca ser o indicador do desempenho médio das cotações dos ativos de emissão de empresas que ofereçam melhores condições aos acionistas minoritários, no caso de alienação do controle.
  • Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE): o objetivo do ISE é ser o indicador do desempenho médio das cotações dos ativos de empresas selecionadas pelo seu reconhecido comprometimento com a sustentabilidade empresarial, apoiando os investidores na tomada de decisão de investimento e induzindo as empresas a adotarem as melhores práticas de sustentabilidade.

Índices temáticos são ferramentas que permitem maior diversificação para o investidor e que também funcionam como instrumentos para filtrar determinadas empresas, de acordo com os parâmetros pré-estabelecidos.

Índices internacionais que representam o mercado brasileiro

Todos estes índices que mencionamos anteriormente fazem parte da B3, a Bolsa de Valores brasileira, e podem ser negociados aqui no Brasil no formato de ETFs.

ETFs (Exchange Traded Funds), ou fundos de índice, são instrumentos financeiros comercializados no ambiente de bolsa como se fossem ações. Eles visam a acompanhar um índice de referência. 

Nos últimos anos, a demanda pelo produto aumentou consideravelmente, e tivemos a listagem de dezenas de novos ETFs na bolsa brasileira

Acontece que a B3 não é a única bolsa de valores que permite que o investidor acesse ETFs que representam índices de mercado com exposição a empresas brasileiras.

Inclusive, comparativamente ao mercado norte americano, ainda estamos engatinhando quando o assunto é ETFs e instrumentos financeiros que representam índices de mercado.

Nos EUA, são mais de 2.000 ETFs diferentes, que buscam replicar desde índices específicos até setores e subsetores fora do radar, além do desempenho agregado de empresas de outros países. 

Dentre esses milhares de ETFs, existem dois em particular que são bastante representativos para o mercado brasileiro de ações: o EWZ e o MSCI Emerging Markets.

O EWZ representa a cotação do índice Ibovespa em dólares norte-americanos. Ele é o principal ETF listado na NYSE, a bolsa de Nova Iorque, que representa ações brasileiras e funciona como um indicador importantíssimo para o investidor estrangeiro avaliar se faz sentido ou não alocar recursos no Brasil.

Já o MSCI Emerging Markets (MSCI EM) representa grandes e médias empresas de 26 países de Mercados Emergentes. Com 1.385 constituintes, o índice cobre aproximadamente 85% da capitalização de mercado ajustada ao free float em cada país.

O MSCI EM, por sua vez, não representa apenas as ações brasileiras, mas um agregado de empresas de 26 países diferentes, funcionando como parâmetro comparativo entre indicadores agregados de um determinado país e o conjunto de emergentes.

Ambos servem como balizadores de alocação para o investidor estrangeiro institucional.

Qual a diferença entre investir em índices e investir diretamente em empresas?

O investimento em índices de mercado, por meio de ETFs, é uma forma de gestão passiva. Em outras palavras, o investidor segue a média de um determinado mercado.

Também existem diversos fundos de ações que seguem estratégias passivas e alocam seu patrimônio em índices. No entanto, em geral, costuma ser mais barato para o investidor executar a alocação diretamente através de ETFs. 

Por conta disso, costumo recomendar essa classe de ativos para aqueles que desejam seguir uma estratégia passiva de investimento em renda variável com menores riscos e monitoramento menos frequente.

Por outro lado, ao investir em empresas diretamente, o investidor assume uma estratégia de gestão ativa, que parte do pressuposto que existe uma oportunidade de superar essas médias de mercado ao longo do tempo.

Bater o mercado constantemente não é uma tarefa fácil, e até mesmo os gestores mais experientes já passaram por períodos nebulosos de baixa performance.

Entretanto, a gestão ativa no mercado de ações, ainda que mais arriscada, quando realizada de forma eficiente e com rebalanceamentos periódicos, permite que o investidor consiga obter retornos expressivos no longo prazo.

Bom, para finalizar, espero que você tenha gostado do artigo, e aproveito para avisar que estou totalmente aberto a dúvidas e sugestões. Costumo responder perguntas todos os dias no meu perfil pessoal do Instagram (@fredpnobre).

E se você quiser acessar as minhas recomendações individuais de empresas e as carteiras de ações e FIIs da área de análise da Warren, basta se cadastrar clicando aqui.

Gostou da leitura? Confira outros artigos que separamos para você: