Como abraçar o futuro com saúde e equilíbrio? Uma reflexão de Jurandir Sell   

A médica Ana Claudia Quintana Arantes dedicou sua carreira à medicina paliativa e, além de ser uma grande profissional, é uma excelente escritora. Em seu último livro, “Pra vida toda valer a pena viver: Pequeno manual para envelhecer com alegria”, ela traz uma metáfora fantástica sobre a preparação para a velhice, que reproduzirei de forma livre para iniciar este artigo que pretendo falar sobre como planejar o futuro.

Imagine que, por algum motivo, você tenha aceitado que, caso vivesse por muitos anos, iria se mudar para o deserto do Saara. Você chega ao seu destino logo após o nascer do sol, no dia do seu aniversário de 70 anos, encantado com a paisagem, com o clima agradável e feliz por ter vivido tanto tempo. No entanto, logo começa a esquentar muito. Como você deve saber, as temperaturas podem chegar a 50ºC durante o dia, e você se lamenta por não ter trazido um bom protetor solar e óculos escuros. Felizmente, a noite chega, e o calor extremo dá lugar a um frio intenso, com temperaturas de até -10ºC, o que o faz se lamentar por não ter trazido agasalho suficiente.

É provável que você, assim como eu, deseje viver muito. 

E, assim como viver no deserto, viver por muitos anos também traz desafios para os quais, quanto mais cedo você começar a se preparar, melhor estará para enfrentá-los.

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A primeira coisa que você deve levar consigo para a velhice é uma boa saúde.

Quando somos jovens, o impacto de não cuidarmos bem da saúde é quase imperceptível. Podemos abusar da comida, da bebida, permanecer sedentários ou suportar longas e estressantes jornadas de trabalho, e nosso corpo jovem e forte dará conta. Contudo, quando a velhice chega, o preço desses abusos será imenso.

O segundo ponto para uma boa velhice é amar e ser amado

Precisamos ter boas relações familiares e amigos. Para isso, é essencial cultivar antigos relacionamentos e ter a capacidade de fazer novos, pois é importante lembrar que nem todos terão a sorte de envelhecer; muitos ficarão pelo caminho. Eu não me canso de repetir: ter família custa muito caro, ter amigos custa muito caro. Não caro em dinheiro, mas sim caro em tempo. 

Se você não reservar tempo na sua vida para cultivar boas relações familiares e bons amigos, não os terá.

O terceiro ponto é a capacidade de se manter atualizado e adaptado ao mundo. 

Vivemos em um mundo em constante mudança, seja na área tecnológica ou social. Existe uma frase, de autor desconhecido, que diz que os homens são como vinhos: a idade apura os bons e azeda os maus. No passado, era comum pensar que as pessoas seriam tolerantes com os velhos azedos. Não mais. Em uma sociedade onde teremos muitos idosos, aqueles que “azedarem” ficarão sozinhos. 

Duas pistas são importantes: pessoas azedam quando dizem coisas como “no meu tempo que era bom…”. Se você está vivo, este é o seu tempo. A segunda pista é que pessoas azedas são preconceituosas. Preconceito é preguiça mental e não tem mais lugar no mundo contemporâneo. 

Finalmente, é importante ter recursos financeiros para uma boa velhice

Se existe um momento em que o dinheiro é essencial, é quando ficamos velhos. Muitos dizem que não sabem se estarão vivos amanhã e, por isso, não faz sentido abrir mão do presente em favor de um futuro incerto.

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É verdade, nem todos envelhecerão, mas, assim como na metáfora do deserto, a velhice é uma possibilidade. Então, como proceder? 

Durante muito tempo, pregou-se a ideia de que, para cuidar do nosso “eu do futuro”, era preciso maltratar nosso “eu” presente. Diziam que, para guardar dinheiro, era necessário sacrificar o presente, tirando dele todos os supérfluos.

Tirar da vida os supérfluos é um erro grave, pois são eles que dão sabor à nossa vida. O que devemos tirar do nosso fluxo de caixa são os desperdícios. 

Existem muitos desperdícios fáceis de identificar, como uma roupa que compramos e não usamos, a assinatura de um serviço que pagamos sem usar, os juros e multas que pagamos por falta de organização financeira, uma torneira pingando e por aí vai. Mesmo sendo fáceis de identificar, nem sempre são simples de eliminar.

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Porém, existe um tipo de desperdício que é mais sutil e muito mais danoso para nossa vida financeira: os gastos para obter status social. 

São os gastos que fazemos para parecermos alguém diferente de quem realmente somos. Se nos dedicarmos a eliminar os desperdícios da nossa vida, teremos dinheiro para alguns supérfluos e recursos para criar uma boa reserva de imprevistos e para investir em um bom planejamento para enfrentar e aproveitar nossa longevidade.

Com saúde, amigos, capacidade de ser uma pessoa agradável e adaptada ao seu tempo, e com recursos financeiros, será muito mais fácil viver bem nos anos a mais que a revolução da longevidade nos presenteou.

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