Luis Felipe Vital é Doutor em Economia e CFA Charterholder, foi Coordenador da Dívida Pública no Tesouro Nacional e atualmente é Chefe de Estratégia Macro e Dívida Pública na Warren
Nem sempre finanças foram levadas a sério dentro da economia.
Harry Markowitz, criador da Teoria Moderna dos Portfólios – aquela que colocou risco e retorno no centro do mundo dos investimentos – contou que, ao apresentar sua tese, ouviu de Milton Friedman (sim, o famoso economista de Chicago, ganhador do Nobel) que aquilo não era economia.
A Academia Real de Ciências da Suécia discordou. Em 1990, Markowitz subiu ao palco para receber o Nobel de Economia justamente por aquele trabalho. Friedman, ironicamente, estava na plateia. A vida tem lá seu senso de humor.
Mas o que isso tem a ver com você, investidor? A teoria de Markowitz nos ensina duas máximas que todo mundo já ouviu, mas poucos realmente entendem: não coloque todos os ovos na mesma cesta e não existe almoço grátis.
Vamos por partes.
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A ideia dos ovos na mesma cesta fala sobre diversificação. Ao distribuir seus investimentos entre diferentes ativos – empresas, setores, moedas, países – você reduz o risco de perder dinheiro caso algo saia do controle em uma dessas frentes.
E aqui vai um ponto importante: diversificar é essencial mesmo quando você acredita estar investindo no que há de mais seguro.
Um exemplo claro está acontecendo agora, em 2025. O que durante décadas foi considerado o porto mais seguro do mundo – dólar e títulos do Tesouro americano (os famosos Treasuries) – começou a ser questionado. O rebaixamento da nota de crédito dos EUA, o desarranjo fiscal, o risco de recessão… tudo isso acendeu o sinal amarelo. O resultado? Muitos investidores passaram a olhar com mais carinho para a Europa: o Euro, os Bunds alemães, uma dívida mais disciplinada, crescimento mais previsível.
Quando Warren Buffett diz que “você pode colocar todos os ovos na mesma cesta, desde que cuide muito bem dela”, ele não está falando da cesta do dia a dia. Ele só faz isso quando compra empresas que entende profundamente, participa da gestão e está disposto a manter por muitos anos. Para a maioria de nós, diversificar continua sendo a jogada mais inteligente – não importa se você está investindo seus primeiros R$ 5 mil ou já tem R$ 5 milhões.
A segunda máxima é tão direta quanto poderosa: não existe almoço grátis.
Em finanças, isso significa que risco e retorno caminham juntos. Se alguém promete retorno alto sem risco, desconfie. O risco pode estar disfarçado: numa liquidez apertada, num contrato mal explicado, num produto complicado ou, pior, num conflito de interesses que ninguém mencionou.
Dois casos ajudam a entender isso melhor.
O primeiro é o da GameStop, em 2021. Um youtuber de finanças incentivou milhares de investidores a comprar ações da GameStop, uma empresa americana de videogames em crise. A ideia era bater de frente com grandes fundos que apostavam contra a empresa.
Funcionou – por um tempo. As ações dispararam. Teve gente que multiplicou o capital em poucos dias. Mas quem entrou tarde, ou acreditou demais na força da “comunidade”, viu o preço cair na mesma velocidade. E o dinheiro… foi junto. Um exemplo clássico de risco disfarçado de oportunidade. E também uma aula sobre manada, euforia e influência digital – temas que rendem pano pra manga, mas ficam para outra hora.
O segundo caso é mais técnico: o colapso do LTCM, um fundo que reunia alguns dos maiores cérebros de Wall Street – incluindo dois ganhadores do Nobel, Myron Scholes e Robert Merton. A estratégia parecia sofisticada: lucrar com pequenas diferenças de preço entre títulos públicos americanos recém-emitidos e antigos. Simples, elegante, rentável.
Até que veio a crise da Rússia, em 1998. Os mercados congelaram, a liquidez evaporou… e tudo desmoronou. O fundo estava tão alavancado que quase levou o sistema financeiro junto. No fim, o que parecia seguro virou pesadelo.
Essas histórias, por mais distantes que pareçam, tocam decisões que qualquer investidor precisa tomar no dia a dia:
– onde investir,
– quanto concentrar,
– o que esperar de retorno,
– e, principalmente, quanto risco aceitar.
No fim das contas, investir não é sobre adivinhar o futuro — é sobre se preparar para ele. É entender que todo retorno tem um preço, e que o verdadeiro risco não está no mercado, mas em não saber onde está pisando.
Escolher bem é menos sobre encontrar certezas, e mais sobre tomar decisões conscientes em um mundo que não para de mudar.
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