A jornada da Warren #2: Quando as ideias não saem da cabeça, é preciso construir  

Confira o capítulo anterior sobre a Jornada da Warren.

Os motivos para começar a empreender são vários: uma oportunidade que surgiu, o emprego que desapareceu, a necessidade de complementar a renda, não querer ter mais um chefe ou, então, uma força misteriosa, que você nem sabe de onde vem, mas que parece obrigar você a construir algo.

Quer dizer, é claro que você sabe que isso vem da sua cabeça frenética, que não desliga nem mesmo dormindo. Mas, às vezes, parece que essa força surge, também, do estômago.

É uma sensação de incômodo. Você sente que em um mundo com tanto problema para ser resolvido e com tanta gente já construindo soluções legais, você não pode ficar pra trás. Você precisa construir também.

A Warren nasceu em Nova York, o lugar que potencializa essa espécie de “dor de estômago”. Eu discordo do título de “cidade que nunca dorme” – passou da meia-noite, você não encontra mais nada aberto. São Paulo é, de fato, a cidade que nunca dorme.

Mas, facilmente, NY seria a campeã do título de “cidade que não te deixa parar”. Você está no centro do mundo e, por isso, essa sensação de que tem muita coisa acontecendo e que você não pode ficar para trás é constante.

O corredor de prédios gigantes, gente de tudo o que é tipo (nacionalidade, raça, cor, sexo, religião), a sirene dos bombeiros que não para, carros, bicicletas, pessoas apressadas nas calçadas. Aliás, tente parar em uma calçada movimentada para fazer algo e você é rapidamente atropelado.

As pessoas estão correndo para todos os lados e não estou falando de uma forma negativa. É justamente essa sensação que quero enaltecer. A sensação de que algo está acontecendo e está acontecendo ali do seu lado. E isso dá energia, traz inspiração, te faz sair da zona de conforto. 

Se você está precisando de um empurrão. Vá pra Nova York. Quer, por exemplo, escrever um livro. Não me venha com esse papo de se mudar para uma casinha de campo isolada, plantar seus vegetais e ver eles crescendo em câmera lenta.

Vá para Nova York! Se meta em uma Starbucks, discuta preços com um chinês em Chinatown, pegue o trem para o Brooklyn no meio das figuras mais bizarras, almoce um cachorro quente de rua no meio dos engravatados de Wall Street, vá ver uma banda de rock no Bowery ou blues no Smalls.    

Eu fui para lá através da corretora em que eu trabalhava no Brasil. A decisão foi minha e baseada na minha necessidade de fugir e de empreender. Sim. Eu já estava há vários anos nesta empresa e muito cansado de toda a politicagem que tinha surgido nos últimos anos. A empresa tinha perdido a sua cultura, talvez pelo crescimento rápido demais. Alguns estavam mais motivadas por dinheiro outros por poder e, como eu não era motivado por nenhuma dessas coisas, senti que precisava me afastar. 

Aliás, o tópico cultura é um dos mais importantes pra mim e, em outro capítulo, vou falar mais sobre isso. Vou contar o que vi de errado acontecendo no mercado e como cuidamos disso e fazemos diferente na Warren.

Mas, voltando. Como o escritório dessa corretora em NY era minúsculo e havia muita coisa a fazer, em parte, eu acreditava que teria alguma possibilidade de empreender dentro daquela empresa. Começando um time do zero, com novos ares e uma cultura positiva. Porém, lá no fundinho, eu sabia que só estava empurrando o meu problema com a barriga.

Eu já não acreditava mais na empresa.

Já não vestiria a camisa nem para uma partida de canastra e, para completar, aquela tal “dor no estômago” de empreender aumentava, estava me chamando. Eu precisava construir. Precisava me dedicar a algo que eu amasse. A maior parte da nossa vida gira ao redor do trabalho e, se você se sente mal quando chega o domingo, é porque algo está errado.

Eu vi isso em um vídeo de YouTube, devia ser algo de auto-ajuda ou coisa parecida. A especialista dizia: “se você assiste ao Fantástico e se sente mal, pode ser que o trabalho que você está seja um problema”. 

Eu lembro disso como se fosse hoje, pois mesmo morando nos EUA eu assistia todo santo dia na Globo internacional o Jornal Nacional e, aos domingos, o Fantástico. Era minha forma de me conectar ao Brasil, mas, realmente, assistir o Fantástico era realmente um sofrimento. Eu precisava mudar. Precisava sair da empresa em que eu estava. Precisava construir a minha e, então, montei meu plano, que tinha duas partes: validar e executar.

Parte 1 — Validar

Eu já tinha uma ideia do que queria fazer, pois via muita ineficiência e conflito no processo da empresa de investimentos que eu estava, mas precisava me aprofundar mais. Então, a missão número um seria conhecer o que estava surgindo, se tinha algo parecido com o que eu estava imaginando e se minha ideia tinha algum sentido.

Nesse quesito, dei uma sorte tremenda, pois morava na “Meca” do mundo financeiro (na verdade, no bairro da “Meca”, sendo mais específico), esbarrando pela calçada em pessoas que estavam construindo Fintechs (palavra que ouvi pela primeira vez lá) fantásticas. E tirar proveito disso era uma obrigação, portanto, me inscrevi em todas as palestras, eventos e meetups possíveis. 

Validar a sua ideia, não só vendo o que outras pessoas estão fazendo, mas também falando sua ideia pra elas, é muito importante. Ajuda a saber se você está no caminho certo, se está meio perdido ou se está totalmente na contramão e precisa repensar o plano.

Também por sorte, o americano é muito mais sincero que o brasileiro. Se a sua ideia é horrível ou se você ainda está perdido, ele vai dizer isso em  segundos. Nós, brasileiros, gostamos de ser amigo de todos, então achar um feedback sincero é ouro. Tenho um conselho: quando você ouvir uma avaliação dura, agradeça a quem deu a porrada. Pois será muito mais útil do que o “bem legal” que você receberia da maioria.

E lá fui fui eu falar minha ideia, ver e ouvir.

A indústria de investimentos tem dois problemas terríveis. Primeiro, é difícil demais investir. São muitos produtos, um emaranhado de siglas e possibilidades e plataformas com uma experiência digital terrível. Dado que é tão difícil investir as pessoas acabam delegando a decisão para um terceiro e daí surge o segundo problema, o conflito de interesses.

Bancos e corretoras ganham comissão sobre produtos que indicam, então os clientes podem acabar investindo em produtos que são ótimos para as instituições, não necessariamente para eles. Inclusive, recentemente, falei sobre este tema em um vídeo no canal no Youtube da Warren

Bom, a minha ideia era eliminar este conflito por completo, com uma plataforma que não recebesse comissão na venda de produtos e sim um fee sobre a gestão dos investimentos. Isso a deixaria 100% transparente e alinhada com o cliente.

Além disso, para atrair as pessoas a cuidar dos investimentos, a plataforma teria uma comunicação fugindo totalmente do padrão cinza, dourado e chato das instituições tradicionais. Seria focada em ter uma usabilidade leve e agradável. Com uma jornada guiada descomplicada onde a tomada de decisão não seria qual produto investir e sim para que investir, quais objetivos.

A grande maioria das pessoas não sabe se tem que investir no CDB do Banco ABC, em ações da Petrobras ou no Fundo Ultra High Plus Ninja Turtle. Mas a grande maioria das pessoas tem objetivos, como aposentadoria, uma reserva de emergência ou mandar os filhos para a faculdade.  

Eu não tinha nome nem protótipo, só um discurso contando o problema e como achava que poderia ser a solução. Depois de tantas palestras e de conversar com tanta gente, eu tinha levado porrada, mudado um pouco (na verdade muito) o caminho, validado minha ideia e ela parecia, de fato, promissora.

Parte 2 — Executar

Pensar não dá trabalho, executar dá. Por isso, muitas boas ideias não chegam a dar este passo e isso quase aconteceu com a Warren, mas isso fica para o próximo capítulo.

No próximo capítulo, vou contar para vocês quais foram os primeiros passos da execução da Warren, quando busquei as pessoas certas para entrar nesta jornada comigo.

Continue a leitura e confira o capítulo #3 da Jornada da Warren.