Free float: entenda a importância desse indicador para o investidor minoritário

Publicado por
Redação Warren

Free float é o percentual das ações de uma empresa que está em circulação na Bolsa de Valores, livre para qualquer investidor interessado.

O percentual restante, que não é considerado em circulação, pertence aos controladores e administradores da companhia, aqueles que detêm uma enorme quantia de ações e possuem motivos para não se livrar delas.

O free float é um indicador importante para a tomada de decisão dos investidores minoritários, especialmente aqueles que miram em resultados no longo prazo.

Siga a leitura para entender por que é útil saber qual o percentual de ações de uma organização que está em circulação.

Neste artigo, explicaremos:

  • O que é free float?
  • Para que serve o free float?
  • Como calcular o free float de uma empresa
  • Qual o free float ideal?
  • Fechamento de capital: um dos riscos de ações com baixo free float

Boa leitura!

O que é free float?

Free float é um indicador que informa o percentual de ações de determinada companhia que está livre para negociação no mercado. É uma ferramenta importante para a análise fundamentalista, um conjunto de práticas que ajudam a investir com mais critério.

O termo pode ser traduzido como “livre circulação”. A ideia é que as ações que estão de posse dos controladores da empresa não são livres — afinal, vender os ativos poderia implicar em perder parte do controle.

De acordo com os regulamentos da B3, a bolsa brasileira, ações em circulação são todas as ações emitidas pela companhia, excetuando aquelas que:

  • Pertencem ao acionista controlador e pessoas a ele vinculadas
  • Pertencem aos administradores da companhia
  • Estão em tesouraria
  • São do tipo preferencial de classe especial

Este último caso trata das ações chamadas de golden shares, aquelas que estão sob o controle do poder público e são intransferíveis.

Free float mínimo

As empresas que negociam ações na B3 precisam ter um free float mínimo de 25%.

Para empresas listadas no Novo Mercado (segmento que reúne empresas com os maiores níveis de governança corporativa do mercado) e com ADTV (volume médio de negociações diárias) superior a R$ 25 milhões, o mínimo é de 15%.

Segundo a própria B3, o objetivo da regra é proporcionar aos acionistas não controladores condições mínimas para o exercício de prerrogativas e direitos previstos na legislação societária e regulamentação em vigor.

Para o investidor, o indicador free float ajuda a entender quão concentrado está o capital da companhia em que ele considera investir.

Para que serve o free float?

Na análise fundamentalista de ações, o investidor deve consultar vários indicadores e informações referentes às atividades e à gestão da empresa: seu lucro, patrimônio e mercado em que está inserida, por exemplo.

No caso do free float, é uma ferramenta que tem pouco a ver com a qualidade da administração, mas sim com os riscos associados à volatilidade e à liquidez dos ativos.

Em um primeiro olhar, o indicador apenas mostra se o percentual de ações à disposição do mercado é alto ou baixo (quanto menor o free float, menos ações disponíveis).

Mas o que esse número nos diz? Qual o seu impacto na decisão de investimento?

Em tese, ações com um free float alto apresentam duas vantagens para o investidor:

Maior liquidez

Quando um grande percentual das ações de determinada companhia está disponível para negociação, a liquidez do ativo — a facilidade que o investidor tem para convertê-lo em dinheiro — tende a ser maior.

Mas não é uma regra, pois existem várias ações com free float alto e liquidez nem tanto, e vice-versa.

Menos volatilidade

Investir em renda variável e não gostar de ativos voláteis pode parecer contraditório, mas no mercado de ações existem níveis diferentes de volatilidade. Quando ela é extrema, o investidor corre um risco excessivo.

A relação disso com o free float é simples: quanto maior a concentração de ações na mão de poucas pessoas e organizações, maior a volatilidade.

Isso porque operações de venda de um número pequeno de acionistas são capazes de causar um impacto grande no preço da ação.

Quando as ações estão mais diluídas entre muitos acionistas minoritários, a tendência é haver uma maior estabilidade na cotação, portanto o risco tende a ser menor.

Além da menor liquidez e maior volatilidade, nas empresas com o free float mais baixo o risco de elas fecharem capital é mais alto. Mas falaremos especificamente sobre esse caso mais adiante.

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Como calcular o free float de uma empresa

Calcular o free float de uma empresa é muito fácil. Basta dividir o número de ações em circulação pelo total de ações da companhia e multiplicar o resultado por 100 para ter o percentual.

A fórmula é esta:

Free float = (ações em livre circulação / total de ações da empresa) x 100

Para mostrar na prática como é feita o cáculo, imagine uma companhia que possui um total de 6.800.000 ações. Sendo que:

  • 2.500.000 ações pertencem aos controladores e administradores
  • 800.000 ações estão em tesouraria

Se subtrairmos essas ações do total, chegaremos ao número de ações em circulação:

Ações em circulação = total de ações – ações de posse de controladores, administradores e tesouraria
Ações em circulação = 6.800.000 – 3.300.000
Ações em circulação = 3.500.000

Agora é só aplicar a fórmula:

Free float = (ações em livre circulação / total de ações da empresa) x 100
Free float = (3.500.000 / 6.800.000) x 100
Free float = (0,515) x 100
Free float = 51,5%

Não existe uma maneira mais fácil?

Sim. Há portais de análise fundamentalista em que você consegue obter o percentual do free float já calculado.

Outra opção é conferir a informação diretamente no site da B3.

Lá, você encontra a relação de empresas listadas na bolsa e as principais informações sobre elas.

Digite o nome da empresa na busca, confira a lista de empresas completa ou filtre a relação por letra inicial.

Ao selecionar a empresa, role a página para baixo até encontrar a tabela “Ações em Circulação no Mercado”.

Na linha “Total de Ações”, o free float estará na última coluna, “Percentual”

No exemplo da imagem abaixo, observamos que o free float da Iguatemi Empresa de Shopping Centers (IGTA3) é de 48,79%. Ou seja, quase metade de suas ações estão em negociação.

Fonte: B3

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Qual é o free float ideal?

Como na maioria dos indicadores da análise fundamentalista, é mais fácil utilizar o free float na tomada de decisão quando existe uma referência para comparar.

Lembre-se que o percentual mínimo é de 25%, então as empresas com free float próximo disso são as que têm o capital mais concentrado.

A seguir, preparamos uma tabela com exemplos do valor do indicador em várias empresas, selecionadas aleatoriamente.

EmpresaCódigoFree Float
AmbevABEV327,68%
Porto SeguroPSSA328,96%
EngieEGIE331,23%
WEGWEGE335,32%
B2WBTOW336,06%
EDP BrasilENBR343,32%
ArezzoARZZ349,58%
MarfrigMRFG351,85%
NaturaNTCO352,35%
Itaú UnibancoITUB352,45%
BradescoBBDC362,17%
ItaúsaITSA366,31%
LocalizaRENT378,39%
FleuryFLRY395,73%
RennerLREN398,71%

Fonte: B3

A maneira mais simples de utilizar essas informações é dar preferência a ações com o free float mais alto, para se proteger de riscos relacionados à menor liquidez e maior volatilidade.

Para quem pretende investir com a mentalidade de um sócio, pensando na evolução a longo prazo da empresa e do preço de suas ações, a maior distribuição da participação é importante.

Por isso, alguns analistas e especialistas no mercado financeiro argumentam o que o free float ideal é o free float total, 100%, quando todas as ações estão em circulação no mercado e não há uma controlador central retendo as ações.

Nunca utilize o free float como único critério

Mas é claro que o free float não deve ser o único critério na escolha de seus investimentos e não garante mais liquidez e menos volatilidade. É apenas uma ferramenta auxiliar.

Se você estiver em dúvida entre empresas de perfis parecidos, do mesmo segmento, mas uma tiver um percentual consideravelmente maior de ações em circulação, aí sim o indicador pode fazer a diferença.

Mas cuidado! Como dissemos, essa é apenas a forma mais simples de utilizar os dados referentes ao free float

O problema é quando de simples a análise passa a ser simplista, ou seja, deixa de lado detalhes importantes como os que esclarecemos abaixo.

Para o pequeno investidor minoritário que investe de forma diversificada, diluindo seus riscos, dificilmente o free float será um empecilho para a tomada de decisão. 

Aqui, a reflexão é muito mais na qualidade de governança da empresa e na estrutura societária — afinal, a empresa deseja mesmo ter sócios minoritários e ficar com o capital aberto? — do que qualquer outra coisa. 

Ações ordinárias ou preferenciais?

No fim, o free float ajuda a identificar companhias com o capital mais aberto e menos concentrado, o que é positivo para os investidores menores.

Só que existem dois tipos de ações:

O que acontece é que algumas empresas têm uma grande parte de suas ações preferenciais em circulação, enquanto o free float específico das ações ordinárias é baixo, pois elas garantem aos principais acionistas um maior controle sobre a companhia.

Veja o exemplo da metalúrgica Gerdau, (GGBR3 e GGBR4). Repare na enorme diferença de disponibilidade entre as ações ordinárias e preferenciais.

Fonte: B3

Isso não quer dizer que comprar ações da Gerdau é um mau investimento, apenas que, como todos os indicadores, o free float exige um pouco mais de investigação para se transformar em um insight realmente útil.

Uma conclusão possível, neste caso, é de que os controladores desejam mais acionistas, mas não querem correr o risco de perder o controle da empresa. Assim, a negociação dos papéis fica concentrada nas ações PN, o que elimina esse risco para a empresa.

Essa mentalidade já não é permitida no segmento do Novo Mercado, o mais alto nível de governança: empresas que emitem suas ações neste segmento só podem ter ações do tipo ON. 

Assim, quando o investidor minoritário compra uma ação, ele terá o mesmo papel do controlador. É um sinal de que controlador e minoritários estão alinhados com os mesmos objetivos.

LEIA MAIS | Stock picking na Bolsa de Valores: o que é e como fazer 

Fechamento de capital: um dos riscos de ações com baixo free float

Falamos antes que uma das desvantagens das ações com baixo free float é que o risco de ela fechar capital é maior.

Uma empresa fecha capital por meio da oferta pública de aquisição de ações (OPA), em que os papéis de acionistas minoritários são comprados.

Quando o free float é baixo, isso quer dizer que os recursos necessários para fazer essa aquisição são menores.

Já no cenário contrário — se o indicador marcar 80%, por exemplo —, a grande maioria das ações estão na mão de investidores minoritários, portanto a chance de alguém adquirir todos esses ativos é bem menor.

Mas não leve essa ideia tão a sério, pois uma empresa não fecha capital apenas porque tem a possibilidade de fazê-lo.

Alguns dos possíveis motivos:

  • Os controladores percebem que as ações estão desvalorizadas e enxergam a oportunidade de comprá-las por um preço baixo
  • O desempenho na bolsa é abaixo do esperado e os custos para manter a empresa com capital aberto não compensam
  • Existe um projeto grande de expansão e os controladores querem usufruir da totalidade dos resultados
  • A companhia passará por um processo de fusão

O que você precisa saber é que, caso as circunstâncias sejam favoráveis à OPA, é mais fácil realizá-la quando o free float é baixo.

Como o fechamento de capital afeta o pequeno investidor

Ainda assim, o processo para fechar capital é complexo e envolve uma série de regras.

Se isso acontecer, existe o risco de o valor definido para a aquisição ficar abaixo da cotação atual da ação, mas também pode acontecer de ficar acima.

O grande problema, no entanto, é que a OPA atrapalha a estratégia de longo prazo do investidor.

Ele até pode optar por ficar de fora do leilão e permanecer com os ativos. Mas, como a companhia terá capital fechado, suas ações perdem liquidez e não há garantia que, no futuro, ele conseguirá vendê-las pelo preço que valem.

Vale acrescentar que, quando a companhia é adquirida por outra, existe uma regra que dá aos acionistas minoritários a opção de venderem suas ações por um valor próximo ou idêntico ao que é pago para os majoritários. Leia nosso artigo sobre o tag along para entender melhor.

Conclusão

Para quem pensa em uma estratégia de investimento a longo prazo, o free float é um importante indicador para a avaliação de ações.

Mas, como os demais indicadores, ele deve ser usado com inteligência, pois não dá respostas definitivas, apenas pistas.

Para qualificar de verdade sua tomada de decisão, você deve se engajar em uma análise fundamentalista completa, conferindo outros índices e fatores, como:

  • Preço/Lucro (P/L)
  • Preço/Valor Patrimonial (P/VPA)
  • EBITDA
  • Dividend Yield (DY)
  • Return on Equity (ROE)
  • Return on Assets (ROA)
  • Margem bruta
  • Margem líquida
  • Endividamento
  • Tamanho e faturamento
  • Capacidade instalada
  • Taxa de juros
  • Taxa de câmbio

Então aproveite nossas dicas e extraia do free float as informações que forem relevantes para seu caso, mas não deixe de buscar conhecimento.

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Continue acompanhando nosso blog para entender cada vez mais sobre ações e outros tipos de investimento de renda variável e fixa: 

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