Em reunião finalizada nesta quarta-feira (16), o Banco Central do Brasil elevou a taxa Selic em 1 ponto percentual, a 11,75%.
Este é o nono aumento consecutivo da taxa básica de juros da economia brasileira, em um ciclo de alta que se iniciou em março do ano passado, com a Selic ainda em 2%, o seu menor patamar histórico.
A mudança coloca a Selic no seu maior valor desde fevereiro de 2017, quando a taxa de juros era de 12,25%.
Indice
Responsável pela decisão, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central avalia uma escalada de aperto monetário nas próximas reuniões, à medida que a alta dos preços globais de commodities sustentam a inflação doméstica.
Considerando a piora no balanço de risco global com a guerra entre Rússia e Ucrânia e a deterioração nos núcleos de inflação, bem como as revisões nas projeções para o IPCA de 2023, a postura do Copom seguiu um tom levemente dovish, sinalizando um cenário base de juros terminal em 12,75%.
Os riscos negativos para a atividade econômica brasileira permanecem em segundo plano, mesmo com a desaceleração na atividade industrial e expectativas de baixo crescimento.
Nesse contexto, é cada vez mais provável um cenário de estagflação, um dos piores momentos do ciclo econômico, que consiste na combinação de baixo crescimento e inflação elevada.
A seguir, vamos entender os principais fatores que levaram a essa decisão do Copom:
Apesar das recentes elevações na taxa Selic, os núcleos de inflação continuam piorando pelo quarto mês consecutivo.
A guerra na Ucrânia e a consequente elevação nos preços de commodities trazem enormes efeitos colaterais sobre a atividade econômica e os preços de bens e serviços devem continuar subindo por mais tempo do que se esperava.
O índice de difusão, que mede o percentual de itens que subiram de preço, atingiu 74,8%, maior valor desde fevereiro de 2016
Considerando a última leitura do IPCA para o mês de fevereiro, tivemos alta nos 9 grupos componentes do indicador (alimentação, artigos de residência, comunicação, despesas pessoais, educação, habitação, saúde, transporte e vestuário).
Sobretudo, os preços da cesta básica nas principais capitais brasileiras continuam subindo consideravelmente e a inflação é apontada em pesquisas como a principal causa de rejeição ao governo atual.
Esse contexto nebuloso aumenta a probabilidade de elevação de gastos públicos por parte do governo, de olho nas eleições.
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Apesar do alívio nos preços de combustíveis em fevereiro, os derivados de petróleo deverão pesar sobre a inflação nos próximos meses.
O preço da gasolina recuou 0,47% no mês de fevereiro, mas acumula em 12 meses avanço de 32,62%.
Por outro lado, o óleo diesel subiu 1,65% no último mês, chegando a uma alta de 40,54% em 12 meses.
Na semana passada, a Petrobras anunciou aumento dos preços do diesel em cerca de 25% em suas refinarias, enquanto os valores da gasolina deverão subir quase 19%, na esteira dos ganhos nas cotações do petróleo no mercado internacional em função da guerra na Ucrânia.
Para tentar conter a alta, o Senado aprovou projeto que cria uma conta de estabilização para os preços dos combustíveis. Já a Câmara aprovou proposta que altera as normas de cobrança do ICMS sobre os combustíveis.
A deterioração das expectativas inflacionárias puxadas pelo choque de preços das commodities com a guerra na Ucrânia alterou o cenário base do mercado para a inflação e taxas de juros, que deverão subir mais e por mais tempo, com impactos colaterais sobre a atividade econômica.
As consequências dos reajustes dos combustíveis serão sentidas apenas no IPCA de março, com magnitude próxima a +0,8%.
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As projeções do mercado para o IPCA de 2023 mostram sinais de desancoragem e as evidências são convincentes de que os preços das commodities energéticas devem permanecer elevados, mesmo com uma eventual resolução no conflito entre Rússia e Ucrânia.
É complicado tentar acertar precisamente o ritmo de aperto de juros nas próximas reuniões, sobretudo em um ambiente de grandes incertezas.
No entanto, a estabilidade de preços é um fator determinante para o Banco Central e esperamos uma postura agressiva no combate à inflação por parte da autoridade monetária.
Consideramos que existe, portanto, uma alta probabilidade de continuidade do ciclo de elevação da taxa Selic nas próximas reuniões, com valor terminal acima de 12,75%.
O próprio comunicado emitido à imprensa pelo Copom vai nessa direção. “O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista“, diz o comunicado.
“Para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária”, salienta o comitê.
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