Se você está de olho nos movimentos da Bolsa de Valores e das empresas listadas na Bolsa, provavelmente topou com um assunto que dominou as rodas de discussão nas últimas semanas.
Após uma alta vertiginosa, o preço do minério de ferro desabou. Uma das principais commodities brasileiras, o minério tem impacto profundo sobre a Vale, uma das maiores empresas da Bolsa brasileira e um dos grandes players desse segmento a nível mundial.
Para descomplicar esse tema — e essa relação —, Iago Souza e Frederico Nobre, do time de Análise da Warren, reuniram tudo que você precisa saber sobre o assunto neste artigo.
Boa leitura!
Indice
O minério de ferro atingiu uma alta recorde em maio, ultrapassando a marca de US$ 230 por tonelada na bolsa de Dalian, na China, e desde então segue em recuo acelerado para níveis mais normais de preço, abaixo de US$ 100 por tonelada no mercado à vista.
Apesar da forte alta desde o início de 2020 e do declínio após maio de 2021 estarem apoiados em fundamentos sólidos, os movimentos de preços têm sido excessivos, o que sugere um possível aumento de interesse dos especuladores em um mercado que era tradicionalmente reservado a grandes empresas mineradoras e siderúrgicas.
Separamos um gráfico para que você possa visualizar o comportamento dos preços de minério de ferro desde 2009, negociado no mercado chinês.
LEIA TAMBÉM | Bolsas de valores asiáticas: conheça as 7 maiores e veja como investir
A movimentação da China para cortar a produção de aço no segundo semestre de 2021 é o principal fator para o declínio nos preços.
O minério de ferro é a principal matéria-prima para a fabricação do aço e a China é responsável por cerca de dois terços da demanda global por minério de ferro.
Além de um importante produtor, o país asiático é também um grande consumidor da commodity.
O infográfico abaixo permite que você visualize os 20 maiores produtores de aço em 2020.
Chamamos atenção para a disparidade entre o primeiro país que mais produziu, a China, e o segundo, a Índia.
A China está se preparando para cumprir as metas de transição energética e reduzir emissões de gases de efeito estufa.
Para atingir o pico de emissões antes de 2030 e a neutralidade de carbono antes de 2060, as autoridades chinesas estão atuando fortemente no controle da produção de aço e no uso de energia, de maneira que a produção anual não ultrapasse o recorde de 1,065 bilhão de toneladas de 2020.
Vale destacar que essa é uma medida agressiva, já que o crescimento acumulado na produção de aço chinesa era de 16% até meados deste ano.
No entanto, ao menos até agora, a volatilidade no movimento nos fluxos de minério de ferro ao redor do mundo está longe de ser tão dramática quanto os movimentos de preços da commodity no mercado spot.
Botando ainda mais lenha na fogueira, a Evergrande, segunda maior incorporadora da China, admitiu recentemente que teria dificuldades em honrar suas dívidas, preocupando a comunidade internacional com a possibilidade de efeito contágio.
Vale lembrar que o setor de construção civil é responsável por quase 30% do PIB da China e o aço é um material essencial para o segmento.
Apesar da queda forte e rápida no preço do minério que vimos recentemente, no geral, o mercado físico parece estar mais equilibrado do que no início do ano, quando o fornecimento foi interrompido e a produção de aço da China estava batendo recordes todos os meses.
Isso significa dizer que o preço correto para o minério de ferro seria algo ao redor de US$ 100 por tonelada?
Não podemos afirmar categoricamente, mas considerando uma perspectiva histórica, o preço do minério de ferro permaneceu por mais tempo abaixo de US$ 100 do que acima desse patamar.
Considerando que as interrupções no fornecimento sejam mínimas e que a China mantenha seu objetivo de limitar a produção de aço não mais do que os níveis de 2020, nosso cenário base é um minério de ferro variando entre US$ 80/ton e US$ 100/ton.
A Vale S.A. (VALE3) é uma das maiores empresas de mineração do mundo.
A companhia tem grande participação na produção de minério de ferro (de alta qualidade), além de ser responsável também pela fabricação de níquel, pelotas, manganês, ferroligas, carvão, cobre, metais do grupo da platina, ouro, prata e cobalto.
Por ter um grande espectro de atuação, a Vale divide sua produção em três grandes áreas: minerais ferrosos, metais básicos e carvão.
Abrindo a composição de receitas da Vale para o primeiro semestre de 2020, verificamos que, de longe, o segmento de minerais ferrosos é o que mais contribui para o balanço da mineradora.
Por outro lado, a pequena presença da área de carvão é outro ponto que merece destaque.
Desde janeiro deste ano, a mineradora começou a caminhada para o desinvestimento no mercado de carvão, segmento que tem gerado prejuízo para a mineradora.
As ações da Vale atingiram máximas de fechamento no dia 28 de julho, a R$ 117,30. Desde então, os papéis se movimentaram em queda livre, atingindo R$ 83,31 no pregão do dia 20 de setembro.
Com isso, a mineradora voltou a negociar no mesmo patamar de fevereiro de 2021.
Antes de adentrarmos no assunto de fato, você saberia responder o que é o Break Even Point (BEP)?
Traduzido como Ponto de Equilíbrio da empresa, este é um termo contábil utilizado para mensurar o limite entre o lucro e o prejuízo de uma companhia dentro de um período contábil específico.
Resumindo, o BEP é justamente o ponto onde as receitas totais e as despesas de uma empresa se igualam em um determinado período de apuração.
Por exemplo, a empresa XYZ gastou R$ 100 mil em custos de fabricação e também obteve receitas no valor de R$ 100 mil.
Nesse caso, a empresa apenas atingiu o seu ponto de equilíbrio, o que significa que não perdeu nada, mas também não ganhou nada.
Atualmente, o preço de equilíbrio do minério de ferro para a Vale está próximo de US$ 45 por tonelada.
No entanto, historicamente esse custo de produção sempre foi mais baixo.
Depois da pandemia da COVID-19, algumas medidas extras e alterações de planejamento prejudicaram a operação, bem como o valor mais alto dos fretes marítimos.
A administração da empresa acredita que com a normalização da produção e maior previsibilidade nos mercados internacionais, exista espaço para a Vale voltar aos níveis de custo de produção pré-pandemia, reduzindo cerca de US$ 10 de custo por tonelada de minério.
Isso significa que mesmo com a queda acelerada dos preços da commodity, a Vale continuará gerando caixa nos próximos trimestres e provavelmente irá pagar dividendos gordos para os seus acionistas.
LEIA TAMBÉM | Viver de Dividendos — Descubra quanto você precisa
Em 16 de setembro, a Vale anunciou que irá distribuir o maior dividendo de sua história, no valor de R$ 8,10 por ação (ou US$ 1,54 por ADR).
A remuneração extraordinária é uma antecipação do resultado do exercício de 2021, referente ao forte balanço do primeiro semestre.
A data de corte é o dia 22 de setembro e as ações serão negociadas ex-dividendos a partir do dia 23, ou seja, o valor da cotação será descontado pelo valor do dividendo a partir desta quinta-feira.
A remuneração na conta dos acionistas só acontecerá no dia 30 deste mês.
Seguimos confiantes em nossa tese de longo prazo para a mineradora e manteremos a Vale na nossa carteira recomendada de ações, independentemente da retração dos preços do minério de ferro.
Entendemos que esses movimentos de curto prazo são fruto da própria dinâmica e volatilidade que observamos desde 2020 nos mercados de commodities e que a Vale é uma empresa resiliente capaz de gerar retorno para os acionistas mesmo em um cenário de preços de minério de ferro mais baixos.
Nos últimos meses, a mineradora tem sinalizado ao mercado a sua robusta geração de caixa, que, somada ao baixo endividamento, pode culminar em períodos de grande remuneração para os acionistas.
Portanto, é provável que nos próximos anos a Vale continue pagando bons dividendos.
No último forte ciclo de commodities, que durou de 2002 a 2011, a empresa conseguiu gerir seus recursos financeiros de forma eficiente, o que permitiu manter a distribuição de proventos constante ao longo dos 4 anos seguintes, durando até meados de 2015.
Por outro lado, em 2015 e 2016, o ambiente de negócios foi extremamente desafiador para a Vale, por conta do cenário geopolítico desfavorável e a diminuição da produção da mineradora após o rompimento das barragens de Minas Gerais.
Abaixo, trazemos os “dividend yields” anualizados dos últimos 12 anos da Vale.
O “dividend yield”, expresso como variação percentual, é um indicador financeiro (dividendo por ação / preço por ação) que mostra o quanto uma empresa paga em dividendos a cada ano em relação ao preço de suas ações.
A Vale especificamente é uma empresa que possui uma política clara de pagamento de dividendos e por conta disso ressaltamos que a queda na cotação das ações oferece uma boa oportunidade para o investidor de longo prazo interessado em adquirir empresas boas pagadoras de dividendos: preços mais baixos significam yields mais altos.
No entanto, no curto prazo é provável que a volatilidade continue presente.
É importante que você entenda o seu perfil de investidor e o tipo de empresa que você pretende investir antes de tomar uma decisão.
LEIA TAMBÉM | Ações que pagam dividendos mensais: descubra quais são
No gráfico abaixo, podemos observar o posicionamento das principais mineradoras do mundo em relação a dois indicadores importantíssimos, que costumam funcionar como múltiplos de avaliação de valor justo para os ativos do setor numa base comparativa.
Preço/FCLivre é uma métrica de avaliação patrimonial utilizada para comparar o valor de mercado de uma empresa com seu fluxo de caixa livre (FCL).
O fluxo de caixa livre é um indicador que mede a capacidade de uma companhia em gerar receitas adicionais a todas as suas despesas.
Valores mais baixos para este indicador mostram que a empresa pode estar subvalorizada e valores mais altos indicam que a empresa pode estar sobrevalorizada.
O EV (Enterprise Value) é uma medida do valor total de uma empresa, muitas vezes utilizado como alternativa mais abrangente em comparação ao valor de negociação.
EV inclui em seu cálculo não apenas a capitalização de mercado de uma empresa, mas também dívidas de curto e longo prazo, bem como qualquer caixa presente no balanço patrimonial.
O EBITDA por sua vez, ou lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (LAJIDA), é uma medida do desempenho financeiro geral e é utilizado como alternativa ao lucro líquido em algumas circunstâncias.
Uma vantagem da relação EV/EBITDA é que esse múltiplo elimina os custos da dívida, impostos, receitas e despesas financeiras relacionadas à variação cambial, bem como depreciação e amortização, fornecendo assim uma imagem mais clara do desempenho financeiro de empresas de determinados setores.
Para efeitos comparativos, considerando o setor de mineração, preferimos utilizar o EBITDA em relação a outras métricas de retorno, porque ele elimina diferenças na tributação, estrutura de capital (dívida) e variações cambiais
Como podemos observar no gráfico, a Vale é negociada atualmente em patamares de preço inferiores aos seus competidores.
Levando em consideração seu custo caixa e o prêmio da alta qualidade do seu minério de ferro, acreditamos na vantagem competitiva que a Vale oferece entre os demais players e seguimos confiantes na nossa tese de médio/longo prazo.
Gostou deste artigo? Talvez você também se interesse por:
Na Warren, você investe em ações, FIIs, ETFs e BDRs sem pagar taxa de corretagem. Quer começar? Abra sua conta e invista agora mesmo.