A heurística de disponibilidade é um viés cognitivo que nos leva a definir a probabilidade de um evento acontecer com base na facilidade em que lembramos de um evento similar no passado.
Também chamado de viés da disponibilidade, esse atalho mental pode afetar a nossa tomada de decisão em diversos momentos da vida — incluindo os investimentos.
Quer ver?
Então pense na palavra banco.
Qual é a primeira imagem que lhe veio à mente neste momento?
Como você está lendo este artigo no site de uma corretora, é provável que você tenha pensado em algo relacionado ao mercado financeiro.
Mas, se você estivesse caminhando em um parque, talvez você associasse a palavra “banco” a um local para sentar à sombra de uma árvore.
Ou, quem sabe, você esteja precisando descansar um pouco. Então também é provável que o banco do parque seja a primeira imagem que vem à cabeça.
Agora, se você estivesse em uma fábrica de móveis, talvez pensasse em um banco de carpinteiro.
Afinal, um banco pode ser várias coisas diferentes, inclusive um banco de areia em um rio.
Indice
Nosso cérebro faz o possível para não trabalhar muito e, para isso, ele utiliza regras heurísticas, que são como atalhos mentais ou uma meta de aproximação para resolver um problema, como dar significado à palavra “banco”.
O cérebro é um grande consumidor de energia: em média, representa menos de 2% do peso total do homo sapiens, porém consome sozinho mais de 20% da energia necessária para a nossa sobrevivência, sendo que o mais voraz consumidor dessa energia é o córtex pré-frontal.
Dado que ao longo da história tivemos enorme dificuldade para satisfazer nossas necessidades nutricionais diárias, nosso cérebro precisou aprender a fazer economia e as heurísticas são uma forma de evitar o consumo precioso de nutrientes.
Então, quando você leu “banco”, em vez de seu córtex trazer à tona todos os significados possíveis para essa palavra, rapidamente ele a associou ao significado que estava mais disponível dentro do seu contexto.
Neste caso, uma matéria no site de uma corretora.
Esse fenômeno, chamado de heurística de disponibilidade ou viés de disponibilidade, é um atalho mental que busca associar exemplos que rapidamente vêm à mente de uma pessoa ao avaliar um tópico, conceito, método ou decisão.
Essa heurística se baseia na noção de significância, ou seja, se algo é lembrado prontamente é porque ele é importante ou, pelo menos, mais importante do que outras soluções alternativas.
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Em um de seus mais importantes trabalhos, “Judgement under uncertainty: Heuristics and biases”, publicado na revista Science em 1974, Tversky e Kahneman mostraram que o viés da disponibilidade decorre da facilidade em lembrar conceitos e ideias para realizar julgamentos e estimativas caracterizando-se pela primeira ideia que vem à mente.
Assim, se perguntássemos o que representa maior risco para o extermínio da vida na Terra, um choque de um asteroide ou uma pandemia mundial, provavelmente, a segunda opção seria a escolhida.
Porém, não devemos esquecer que nós somos apenas uma das milhares de espécies de seres vivos do planeta.
Portanto, seria mais provável que um asteroide, em vez de um vírus, eliminasse a vida na Terra. Afinal de contas, um vírus também é uma forma de vida.
No mercado financeiro, a heurística da disponibilidade faz com que investidores afetados por ela encarem o passado recente como um bom indicador de comportamento futuro.
Assim, tendem a supor que um ativo que vem subindo de preço continuará subindo eternamente.
Da mesma forma, quando um gestor teve sucesso na gestão dos fundos de investimento, é comum que uma multidão de investidores tente investir nos fundos geridos por ele.
Assim, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro – Anbima, em seu “Guia para Publicidade e Divulgação de Material Técnico de Fundos de Investimento”, para a utilização de seu selo de qualidade, exige que seja adicionado um aviso que você provavelmente já leu:
“Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura”.
Mas a heurística da disponibilidade é muito mais forte do que qualquer aviso, por mais contundente que ele seja.
Por isso, muitos investidores continuam se guiando por eventos que estão mais salientes em suas memórias.
Não caia nessa armadilha, porque é bem comum constatar investidores comprando ativos depois de os preços terem subido muito e abandonando os mesmos ativos na baixa dos preços.
É indispensável analisar os dados para tomar decisões.
No passado, era muito importante economizar energia e, como vimos, pensar consome energia. A energia continua sendo preciosa, mas hoje não é mais escassa.
Hoje, também, uma parte significativa da população mundial anda às voltas com o excesso de calorias consumidas, que se transformam em gordura.
Portanto, podemos e devemos gastar mais tempo analisando os fatos antes de tomarmos uma decisão, seja ela para melhorar nossa performance como investidor ou para diminuir gorduras.
Infelizmente, o consumo calórico no processo de análise é mínimo, então, além de gastar um tempo maior tomando suas decisões de investimentos, vale a pena continuar fazendo exercícios.
Fica a dica!
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