Quando surge o desejo de fazer uma comprinha, a busca por argumentos para justificar o pretendido gasto para a própria consciência se inicia.
Não importa quanto dinheiro já foi gasto no mês ou se existe saldo na conta para bancar o mimo. É só aparecer uma propaganda da loja favorita ou um vídeo de uma comida gostosa que a vontade de gastar já começa a sondar o juízo, tentando convencê-lo de que não há problema em gastar mais um pouco.
Sabendo que não se trata de um gasto essencial e muito menos de um investimento, e que não há espaço no orçamento para o mimo, o juízo alerta que seguir com a compra não é uma boa ideia, mas a vontade insiste.
Firme no propósito de ceder ao consumo sem pensar nas consequências, a vontade apela para o argumento que sempre sensibiliza o juízo: o merecimento.
É justo que alguém que trabalha tanto tenha que se privar de um desejo?
Quem se esforça no trabalho e passa por tantos desgastes, estresses e privações na rotina profissional merece ser recompensado com prazeres em seu tempo livre, diz a vontade ao juízo, que acaba cedendo e autorizando a compra.
Esse enredo não costuma terminar bem. A alegria no momento da compra por impulso é intensa, mas geralmente dura bem pouco e logo é substituída pelo arrependimento e a preocupação com a fatura do cartão de crédito, que não para de crescer.
Caso essa vitória da vontade sobre o juízo se torne um hábito, o endividamento tende a aumentar, potencializando os danos emocionais que um orçamento apertado por dívidas pode causar.
Começa então um terrível círculo vicioso.
Para dar conta de todos os boletos e faturas que não param de chegar, é preciso trabalhar cada vez mais, seja fazendo horas extras ou encarando duplas jornadas.
Mais trabalho gera mais desgaste físico, mental e emocional. Em busca de alívio para esse cansaço, recorre-se ao prazer intenso, imediato e previsível do consumo.
Novas dívidas são contraídas nessa tentativa de escape da dor e o sofrimento provocado pela preocupante situação financeira potencializa o mal estar e a vontade de gastar dinheiro.
Sem uma mudança de hábitos e uma boa dose de planejamento financeiro, o problema que inicialmente repercutia apenas no orçamento passa a prejudicar a saúde mental, o desempenho no trabalho e até as relações pessoais.
A dura realidade é que, na lógica do nosso sistema, só merece gastar quem tem o dinheiro para gastar.
Não importa quantas horas você trabalha, o quão desgastante é a sua rotina ou o quanto você se esforça. Se essa dedicação não for convertida em dinheiro na conta, o prazer do consumo no presente acaba se transformando em dor no futuro.
Para zelar pelo seu bem-estar financeiro e evitar essa bola de neve de problemas, três medidas são fundamentais.
Primeiro, faça o seu planejamento financeiro e inclua nele uma verba para lazer e mimos. Ter uma quantia pré-definida para gastar sem culpa e dentro das suas possibilidades é o casamento perfeito entre juízo e vontade.
Depois, faça uma lista de prazeres gratuitos ou baratos aos quais você pode recorrer sempre que a rotina estiver estressante.
Fazer uma atividade física, ler, preparar a sua comida favorita, dormir boas horas de sono, encontrar pessoas queridas e assistir séries pode trazer o conforto de que você precisa sem comprometer o orçamento.
No meu caso, eu gosto de caminhar na praia, conversar com a minha amada e visitar os meus pais quando preciso aliviar a mente.
Por último, avalie a sua relação com o seu trabalho atual. Se o desgaste é constante, vale a pena refletir se a sua remuneração está compatível com o seu esforço e se existem opções mais saudáveis para a sua carreira.
Todo mundo merece ser feliz e, por isso, é preciso ter cuidado para não condicionar essa felicidade ao consumo, senão o saldo na conta será a única variável determinante para o seu bem estar.
Que os seus gastos sejam sempre com verba e sem culpa. Até o próximo texto!
Lei outros artigos de Fred Marques na Magazine: