Balanço patrimonial é um importante documento que as empresas listadas na Bolsa de Valores precisam divulgar regularmente.
No balanço patrimonial, o investidor encontra as principais informações para entender qual a posição financeira da companhia em determinado período — o que permite comparar com outros períodos ou com dados de outras empresas.
Ele é um dos principais elementos usados na análise fundamentalista, um conjunto de técnicas e abordagens usadas para investigar uma empresa e decidir se vale a pena investir.
Mesmo sendo um documento relativamente simples, alguns fundamentos do balanço patrimonial ainda confundem muita gente.
Preparamos este artigo para descomplicar o balanço patrimonial por completo. Você vai ver que não tem nada de tão complicado nesse documento.
Ao fim da leitura, você terá conhecimento suficiente para começar a utilizar o balanço patrimonial nas suas análises de ações.
Vamos juntos? Boa leitura!
Indice
Balanço patrimonial é um documento no qual as empresas divulgam números referentes a seus ativos, passivos e patrimônio líquido. Companhias de capital aberto, isto é, com ações negociadas na Bolsa de Valores, são obrigadas a divulgar o balanço patrimonial trimestralmente no Formulário de Informações Trimestrais (ITR) e anualmente no formulário de Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFP).
Desse modo, qualquer pessoa pode conferir qual a situação da empresa em que investe ou considera investir em um trimestre específico, ou então no consolidado do ano.
Como o nome já entrega, as DFPs são padronizadas, o que significa que todas as empresas estruturam e classificam as informações da mesma maneira — inclusive os dados referentes ao balanço patrimonial.
Isso torna a experiência de quem analisa múltiplas empresas muito mais fácil, pois é possível encontrar rapidamente as informações desejadas e comparar os dados de diferentes companhias.
Os ITRs e DFPs dividem em dois grupos os números do balanço patrimonial:
Um ativo é um bem ou direito da empresa. Um recurso que, em tese, é útil ou necessário para ajudá-la a obter benefícios econômicos futuros.
O dinheiro em caixa, por exemplo, é um ativo necessário para pagar os funcionários que executam as rotinas administrativas, financeiras e operacionais do negócio.
Mas há diversos tipos de ativos, e o balanço patrimonial os divide entre ativo circulante — os bens e direitos que têm maior liquidez, ou seja, podem ser convertidos em dinheiro com mais facilidade e rapidez — e ativo não circulante — com menor liquidez.
O passivo, por outro lado, é uma obrigação, como dívidas e contas a pagar. Enquanto o ativo é um recurso disponível para uso, o passivo é um elemento que representará uma saída de recursos e consequente diminuição do ativo.
Assim como no caso anterior, o balanço patrimonial passivo divide as obrigações entre passivo circulante — cujo vencimento ocorre em até 12 meses — e não circulante — que pode ser pago em um prazo maior de 12 meses.
Os ativos e passivos circulantes e não circulantes são divididos em outras subcategorias, que apresentaremos mais adiante.
É muito importante acrescentar que as empresas listadas na bolsa acrescentam ao balanço patrimonial passivo o patrimônio líquido, que é o que sobra ao diminuir o passivo do ativo da empresa.
Isso pode parecer confuso agora, mas depois explicaremos o motivo.
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Nas demonstrações financeiras (DFs) onde encontramos o balanço patrimonial, você vai notar que há duas seções: as DFs individuais e DFs consolidadas.
Dentro de cada uma, há diferentes balanços patrimoniais.
A diferença é que o balanço consolidado traz informações referentes à empresa principal e também às subsidiárias (controladas pela empresa principal).
Já os números do balanço individual se referem somente à “empresa mãe”.
Entre os investidores, o mais comum é utilizar as informações consolidadas na análise. Afinal, é a que dá a visão mais realista da posição financeira da companhia.
O balanço patrimonial individual pode ser considerado em casos em que as subsidiárias atuam em segmentos totalmente diferentes da empresa principal e não sofrem grandes intervenções de sua controladora.
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O balanço patrimonial serve para que o investidor possa entender qual a situação financeira da empresa em determinado período de tempo. Essa informação pode ajudá-lo na sua decisão de investimento, especialmente se ele comparar o balanço do último trimestre com os números apresentados nos trimestres anteriores.
As companhias não divulgam somente o ativo total e o passivo total, mas um detalhamento maior das partes que compõem cada um, o que permite ao investidor entender quais os principais bens, direitos e obrigações que a empresa possui.
Ele pode ver, por exemplo, qual percentual do ativo é realizado a curto prazo, quanto dinheiro há em caixa, em estoque, em contas a receber…
Quanto ao passivo, há diversos tipos de obrigações que uma organização pode ter, e o balanço patrimonial destrincha essas categorias.
Relacionando o perfil do passivo com o perfil do ativo, entende-se melhor o endividamento e saúde financeira da empresa naquele momento.
Em alguns casos, o investidor pode conferir o balanço patrimonial para avaliar se é mais provável que a empresa distribua bons dividendos ou utilize os lucros para equilibrar sua situação financeira.
Claro que todas essas análises exigem do investidor algum conhecimento em gestão financeira e administração em geral.
Sem referências e compreensão sobre como grandes empresas controlam seus recursos e compromissos, os números presentes no balanço patrimonial pouco dizem.
Vale dizer que explicamos aqui para que serve o balanço patrimonial sob a ótica dos investidores.
No caso das empresas, é um importante documento de organização financeira e transparência, mas, antes disso, uma obrigação.
Companhias de capital aberto precisam enviar os formulários trimestrais (ITRs) e anuais (DFPs) à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e divulgá-las ao público em geral.
Isso significa que você consegue encontrar o balanço patrimonial de qualquer empresa listada na Bolsa, uma vez que a transparência é uma premissa muito importante para as companhias de capital aberto.
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De nada adiantaria simplesmente divulgar o balanço patrimonial se o documento não ficar facilmente acessível ao público, não é?
Você pode acessar as informações sem dificuldades em duas fontes, que apresentamos a seguir.
Uma das maneiras de encontrar o balanço patrimonial de uma empresa é acessando o site da B3, a Bolsa de Valores brasileira.
Lá, existe uma seção chamada Empresas listadas, que você pode acessar por este link ou pela página inicial do site, nas opções de “Acesso rápido”.
Selecione a inicial da empresa que deseja analisar e encontre seu nome na lista, ou então digite o nome na caixa de busca.
Ao acessar a página da companhia, basta clicar em “Relatórios Estruturados”. Nesta seção, encontrará tanto as ITRs, formulários divulgados trimestralmente, quanto as DFPs, divulgadas no fim de cada exercício (ano).
Ao selecionar o formulário, o site abrirá uma nova janela. Você verá duas caixas de seleção. Na da esquerda, escolha entre DFs Consolidadas e Individuais (volte no texto e leia o tópico “Diferença entre balanço patrimonial consolidado e individual” se ficar na dúvida).
Na da direita, escolha entre Balanço Patrimonial Ativo ou Balanço Patrimonial Passivo.
No canto superior direito da tela, há um botão que permite salvar o formulário em PDF, caso você prefira este formato ou queira guardar ou imprimir o documento.
O princípio da transparência, que deve ser seguido por todas as empresas listadas na bolsa, motiva a divulgação não apenas do balanço patrimonial, mas também de várias outras informações.
Por isso, companhias de capital aberto mantêm sites de relações com investidores (RI). Digite no Google “[nome da empresa] + RI” para encontrá-lo. Alguns exemplos:
No site, acesse a seção chamada “Central de Resultados” e selecione o período (trimestre ou ano) que você deseja analisar. O documento será baixado em PDF.
Atenção: as empresas podem divulgar as mesmas informações em diversos formatos, como PDFs com apresentações, imagens e gráficos. Mas se você baixar uma ITR ou DFP, elas devem estar em um formato padronizado, e desse jeito é mais fácil encontrar o que se procura.
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Aqui, vamos explicar quais elementos você encontra no balanço patrimonial da empresa que deseja analisar.
Como explicamos no início do texto, as informações são divididas entre Balanço Patrimonial Ativo e Balanço Patrimonial Passivo.
O ativo é composto pelos bens e direitos da companhia. São os recursos que, de forma direta ou indireta, ajudam a empresa a produzir seus produtos ou serviços e obter receitas a partir disso.
O balanço exibirá uma lista de itens com os respectivos valores. O primeiro item é o “Ativo Total”, uma soma de todos os recursos.
O Ativo Total é composto, como já explicamos neste artigo, por Ativo Circulante e Ativo Não Circulante. O balanço patrimonial detalha cada um deles.
Relembrando: ativo circulante é aquele que pode ser transformado em dinheiro no curto prazo.
Você encontra o valor total referente ao ativo circulante, mas também o detalhamento em categorias como:
Essa categorização obedece a um padrão, mas nem todas as empresas possuem os mesmos tipos de recursos.
Algumas optam por detalhar algumas dessas informações em subitens, como “Clientes” e “Outras Contas a Receber” dentro de “Contas a Receber”.
Ativo não circulante é aquele que não pode ser convertido em dinheiro de forma rápida e fácil, ou seja, tem menor liquidez.
O balanço patrimonial mostra o valor total referente ao ativo não circulante e o detalha nas seguintes categorias:
Assim como no caso anterior, estes itens podem ser subdivididos, oferecendo ao investidor um detalhamento maior sobre o que compõe o ativo não circulante da companhia.
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Já o Balanço Patrimonial Passivo é composto pelas obrigações da empresa, aquilo que representará uma saída de recursos e, portanto, redução no ativo.
Assim como no Balanço Patrimonial Ativo, aqui o primeiro item é “Passivo Total”, cujo valor deve ser rigorosamente igual ao do Ativo total (explicaremos por que no tópico “Por que o Ativo Total e o Passivo Total são iguais?”).
Na sequência, os valores são detalhados, classificados como Passivo Circulante, Passivo Não Circulante e Patrimônio Líquido.
O passivo circulante é composto por obrigações que devem ser cumpridas no curto prazo — em até 12 meses.
O balanço patrimonial exibe o valor total referente ao passivo circulante e depois detalha o montante nas seguintes categorias:
Assim como nos demais casos, essas categorias obedecem a um padrão e podem ser divididas em subitens.
O passivo não circulante é composto por obrigações que podem ser pagas em um prazo maior que 12 meses. Essa categoria é dividida em:
O patrimônio líquido é o resultado do total de ativos menos o total de passivos de uma empresa. Aqui, no entanto, ele é detalhado com uma classificação diferente da que vimos nos balanços patrimoniais ativo e passivo.
Além do Patrimônio Líquido Consolidado (o resultado da conta), são detalhados os valores nas seguintes categorias:
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Como destacamos antes, ao analisar o balanço patrimonial de uma empresa, você verá que o Ativo Total sempre será igual ao Passivo Total.
Isso acontece simplesmente porque o patrimônio líquido é incluído na relação de valores do Balanço Patrimonial Passivo.
Afinal, se Patrimônio Líquido = Ativo – Passivo, se colocamos de novo nessa equação o passivo, teremos o valor do ativo.
Ainda está tudo muito confuso? Então simplesmente entenda que o “Passivo Total” que aparece no balanço patrimonial na verdade corresponde ao passivo + patrimônio líquido, e não somente ao passivo.
A nomenclatura confusa é uma particularidade nossa, pois os balanços patrimoniais de empresas americanas (balance sheet) geralmente apresentam o valor como Liabilities and Equity, ou passivos e patrimônio líquido, e não apenas como Passivo Total.
A regra de ouro, que vale para a análise de qualquer outro aspecto de uma empresa, é nunca tomar uma decisão de investimento baseado em um fator isolado.
Entenda que o balanço patrimonial representa a situação da companhia naquele momento. Você só vai saber se ela vai bem, mal ou dentro do esperado se tiver uma referência.
A primeira referência deve ser os dados históricos da mesma empresa. Então procure os balanços passados e veja a evolução dos números.
Você pode acompanhar como se transformam os números do estoque, por exemplo, e a relação entre contas a receber dos clientes e a pagar para os fornecedores. É importante destacar aqui que esse tipo de análise requer algum conhecimento sobre negócios.
Um estoque robusto, por exemplo, pode parecer positivo, pois se trata de um ativo circulante, realizável no curto prazo.
No entanto, ele também representa mercadoria parada, custos e risco de vencimento, o que pode indicar má gestão nessa área, a depender do setor da empresa.
Assim como um número alto de contas a receber de clientes e baixo número de contas a pagar pode indicar lentidão na geração de receitas incapacidade de negociar prazos e condições de pagamento com os fornecedores.
Outra maneira de ter uma referência é comparando com os números de outras empresas do mesmo setor. Evite comparar com companhias de outros segmentos.
Mesmo a comparação com concorrentes deve ser cuidadosa, pois cada organização tem processos e modelos de gestão particulares, o que leva a padrões distintos.
Na média de várias empresas, porém, é possível notar uma referência útil para o entendimento — você pode pegar os dados e produzir gráficos para visualizar melhor a informação.
Outra dica é não ficar tão apegado à frieza dos números. Leia também as notas explicativas e apresentações divulgadas pela companhia, além de projeções e opiniões de especialistas.
Por fim, lembre-se que o balanço patrimonial não é tudo. Para uma análise fundamentalista completa, avalie também outros fundamentos, indicadores, aspectos macroeconômicos e perspectivas do mercado.
O balanço patrimonial é um documento muito importante, cuja divulgação é obrigatória para empresas de capital aberto, que negociam ações na Bolsa de Valores.
Ele mostra em detalhes os ativos e passivos e dá ao investidor uma boa noção sobre a situação financeira da companhia em determinado período.
Essas informações são encontradas no Formulário de Informações Trimestrais (ITR) e no formulário de Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFP).
O primeiro é divulgado trimestralmente e o segundo anualmente.
Então procure os balanços das empresas em que pretende investir e qualifique sua análise fundamentalista, sem esquecer de comparar com os dados históricos e conferir outros fundamentos e indicadores.
Que tal aproveitar essas dicas sobre balanço patrimonial e começar a investir na bolsa agora mesmo? Abra sua conta e dê os primeiros passos.
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