O bear market representa um dos ciclos mais desafiadores do mercado financeiro. Ele é o momento em que o pessimismo se instala, os preços dos ativos caem de forma prolongada e a confiança dos investidores diminui.
Mas, ao contrário do que muitos pensam, o bear market não é sinônimo de desastre — é uma fase natural e recorrente da economia. Compreender como ele funciona é essencial para atravessar períodos de queda com estratégia, preservar o patrimônio e até encontrar oportunidades de crescimento no longo prazo.
A seguir, entenda o que é um bear market, como identificá-lo, quanto tempo ele costuma durar e quais estratégias podem ajudar você a investir com tranquilidade mesmo quando o mercado está em baixa.
Indice
O termo bear market — ou “mercado do urso” — descreve períodos em que os preços dos ativos, especialmente as ações, caem mais de 20% em relação ao pico anterior, por um tempo prolongado. Essa definição serve para diferenciar uma queda passageira de um movimento estrutural do mercado.
Durante um bear market, o sentimento predominante é de aversão ao risco. Investidores vendem suas posições, empresas adiam planos de expansão e a confiança na economia diminui. É o oposto do bull market, em que reina o otimismo e os preços sobem impulsionados por expectativas positivas.
Os mercados financeiros são cíclicos: períodos de alta e baixa se alternam, refletindo o próprio comportamento da economia. Por isso, entender que o bear market é uma etapa inevitável — e muitas vezes necessária — ajuda o investidor a manter a calma e a construir uma estratégia sólida de longo prazo.
Nem toda queda na Bolsa é um bear market. O mercado de ações é naturalmente volátil e passa por períodos de correção — movimentos de queda de até 10% nos preços, geralmente curtos e localizados em setores ou ativos específicos. Essas correções fazem parte do processo de ajuste de expectativas e não representam, por si só, uma mudança estrutural no ciclo econômico.
O bear market, por outro lado, é um movimento mais profundo e persistente, no qual a retração supera 20% em relação ao topo anterior e ocorre de maneira generalizada. Nesse ponto, há mudança no sentimento do mercado: o otimismo dá lugar ao medo, e a confiança nas empresas e na economia começa a se deteriorar.
Entre os sinais mais comuns que indicam a entrada em um bear market, estão:
Esses fatores criam uma combinação que alimenta a desconfiança e acelera o movimento de venda de ativos.
Um exemplo recente foi o bear market de 2020, causado pela pandemia de Covid-19: em apenas cinco semanas, o índice S&P 500 caiu mais de 30%, refletindo o pânico global. Outro caso ocorreu entre 2007 e 2009, durante a crise do subprime, quando o mesmo índice acumulou queda de cerca de 50% até encontrar o ponto de estabilização.
Reconhecer esses sinais não é uma tarefa simples — e tampouco significa prever o futuro. O objetivo é entender em que parte do ciclo o mercado se encontra. Investidores que desenvolvem essa percepção conseguem reagir com racionalidade e ajustar suas carteiras de acordo com o contexto, evitando decisões precipitadas.
O funcionamento de um bear market está intimamente ligado à psicologia coletiva dos investidores. Quando a confiança na economia diminui, a tendência natural é reduzir a exposição a risco — e isso se traduz em uma onda de vendas.
Esse comportamento cria uma espiral descendente: quanto mais investidores vendem, mais os preços caem; quanto mais os preços caem, mais investidores se assustam e seguem vendendo. O resultado é um ciclo de pessimismo que pode se prolongar até que os fundamentos econômicos voltem a inspirar confiança.
Diversos fatores podem acionar esse gatilho:
Vale reforçar: um bear market não significa automaticamente uma recessão. Segundo dados da Fidelity, cerca de 25% dos bear markets ocorreram sem uma contração formal da economia. Nesses casos, o mercado simplesmente antecipou riscos que não se concretizaram.
Isso mostra como o comportamento emocional — medo, euforia e reação em massa — pode amplificar movimentos de curto prazo, mesmo quando os fundamentos ainda são sólidos.
Por outro lado, períodos de bear market também cumprem um papel importante: corrigir excessos e reajustar preços. Quando o valor de mercado das empresas se distancia muito dos seus resultados reais, a queda funciona como um ponto de equilíbrio. É nesse processo de ajuste que o mercado encontra espaço para se reestruturar e, posteriormente, iniciar um novo ciclo de alta.
Em resumo, o bear market é menos sobre “queda” e mais sobre reajuste de expectativas. Entendê-lo como parte natural do ciclo econômico é o primeiro passo para agir de forma estratégica — e não emocional — quando o mercado entra em terreno negativo.
Historicamente, os bear markets duram entre 9 e 18 meses, com uma queda média de 30% a 35% em relação ao pico. Os mais curtos, como o de 1987, duraram apenas três meses. Já os mais longos, como o que acompanhou o estouro da bolha da internet em 2000, se estenderam por mais de dois anos.
Desde 1929, os Estados Unidos já enfrentaram cerca de 33 bear markets, com frequência média de um a cada seis anos. O que eles têm em comum é que todos foram seguidos por períodos de recuperação.
No Brasil, a lógica é semelhante: crises são cíclicas e, após cada queda, a Bolsa volta a se valorizar, refletindo o crescimento das empresas e da economia ao longo do tempo.
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Todo bear market segue quatro fases principais, marcadas por mudanças no comportamento dos investidores e nos preços dos ativos.
O mercado começa a dar sinais de esgotamento. Lucros desaceleram, indicadores de confiança enfraquecem e alguns investidores passam a reduzir posições. Ainda há incerteza sobre o que virá — e muitos acreditam que se trata apenas de uma correção temporária.
É o ponto de virada. As quedas se intensificam, a aversão ao risco domina e há uma corrida para vender. Investidores institucionais e pessoas físicas se desfazem de posições rapidamente.
Essa é a fase mais intensa e emocional do ciclo, marcada por grandes volumes de negociação e manchetes negativas.
Após o pânico, os preços se acomodam em níveis mais baixos. O mercado passa a operar com volatilidade reduzida, e os investidores, ainda receosos, esperam novas informações antes de agir.
É o momento em que os fundamentos voltam a ganhar peso e o mercado começa a “respirar”.
Alguns investidores voltam a assumir posições, aproveitando preços baixos em empresas sólidas. As expectativas começam a melhorar, impulsionadas por notícias positivas e indicadores de recuperação. Essa é a transição para o bull market, quando o otimismo retorna gradualmente.
Compreender essas fases ajuda o investidor a interpretar o cenário e a evitar decisões precipitadas em momentos de alta volatilidade.
| Aspecto | Bear Market | Bull Market |
| Tendência | Queda prolongada (≥ 20%) | Alta prolongada (≥ 20%) |
| Sentimento | Pessimismo, medo e cautela | Otimismo e confiança |
| Volume de negociação | Reduzido | Elevado |
| Lucros corporativos | Em queda | Em expansão |
| Política monetária | Restritiva (juros altos) | Estimulativa (juros baixos) |
| Demanda por ações | Baixa | Alta |
| IPOs e captações | Escassos | Frequentes |
| Estratégia | Proteção e paciência | Crescimento e expansão |
Esses ciclos não existem isoladamente: um bull market surge a partir da correção natural de um período de baixa. Para quem investe com visão de longo prazo, compreender essa alternância é fundamental para não confundir oscilações temporárias com perda permanente de valor.

O bear market representa o ciclo de queda e cautela; o bull market, o período de alta e otimismo. Como o urso ataca de cima e o touro investe de baixo, eles simbolizam os dois movimentos naturais do mercado. Foto: Freepik
A economia brasileira também viveu momentos marcantes de queda prolongada no mercado acionário:
A lição que se repete em todos esses episódios é clara: os ciclos de baixa são passageiros, mas o crescimento no longo prazo se mantém.
Assistir aos preços caindo pode ser angustiante, especialmente para quem está começando a investir. No entanto, é justamente nesses momentos que o comportamento racional e a disciplina fazem mais diferença.
O bear market não é o fim de um ciclo, mas a transição para outro — e entender isso ajuda a transformar o medo em estratégia. As orientações a seguir ajudam a proteger o patrimônio e identificar oportunidades reais em meio à instabilidade.
A diversificação continua sendo o principal escudo contra a volatilidade. Distribuir o capital entre renda fixa, ações, fundos imobiliários e investimentos internacionais reduz o impacto das quedas de um único mercado ou ativo. Além disso, incluir classes de ativos com comportamentos opostos — como títulos pós-fixados e fundos de ações — ajuda a equilibrar o risco e suavizar as oscilações da carteira.
As quedas fazem parte da jornada de quem investe. Mais dinheiro costuma ser perdido tentando prever uma crise do que quando ela, de fato, acontece. Tentar fazer market timing é difícil, especialmente sem experiência e conhecimento profundo do mercado.
O estudo abaixo mostra porque: ao perder apenas os cinco melhores dias de alta da Bolsa brasileira entre 2004 e 2025, a rentabilidade do investidor cai cerca de 45%.
Prever o “fundo do poço” é inviável, mas manter aportes regulares e o foco em objetivos de longo prazo aumenta as chances de ganhos consistentes quando o mercado se recupera.
Tentar prever crises pode custar caro. No estudo acima, quem perdeu apenas os cinco melhores dias da Bolsa brasileira entre 2004 e 2025 teve a rentabilidade reduzida quase pela metade. Manter-se investido costuma ser a estratégia mais eficiente no longo prazo. Imagem: Warren Investimentos
Ter liquidez é essencial em tempos de incerteza. Uma reserva bem estruturada permite que o investidor mantenha seus planos sem precisar vender ativos em desvalorização. A recomendação da Fidelity é manter de 3 a 6 meses de despesas essenciais em aplicações de baixo risco e resgate rápido, como Tesouro Selic ou fundos DI.
Nem todos os setores se comportam da mesma forma em um bear market. Empresas de energia, saúde e consumo básico tendem a apresentar resultados mais estáveis, já que atendem demandas que persistem mesmo em crises. Além disso, fundos multimercados e títulos indexados à inflação podem atuar como proteção, ajudando a compensar a volatilidade das ações.
O bear market também abre portas para quem pensa com calma. Boas empresas podem ser negociadas abaixo do seu valor justo, e isso cria oportunidades de entrada para o investidor que analisa fundamentos, lucros e potencial de longo prazo. A chave está em diferenciar preço e valor: uma ação barata nem sempre é uma boa oportunidade, mas empresas sólidas com desconto podem render bem quando o mercado se recuperar.
Durante um bear market, a prioridade é preservar o capital, sem abrir mão das chances de crescimento futuro. Com planejamento, é possível manter o equilíbrio entre segurança e retorno, aproveitando o ciclo de baixa como parte natural da construção de patrimônio.
Essas estratégias ajudam a reduzir a exposição ao risco e proteger a carteira:
Essas escolhas não visam grandes ganhos, mas preservação de valor — o que, em períodos de queda, já representa um resultado positivo.
Enquanto o mercado oscila, a consistência faz diferença. A experiência mostra que o resultado de uma carteira no longo prazo depende menos de prever movimentos de curto prazo e mais de manter um plano bem estruturado.
Investir de forma contínua reduz o impacto das variações diárias de preço e suaviza o custo médio dos ativos. Esse ritmo constante ajuda a evitar decisões impulsivas e mantém o investidor alinhado aos seus objetivos.
Rever periodicamente a proporção entre renda fixa e variável permite ajustar o risco da carteira de acordo com o momento e com as metas do investidor. Esse processo ajuda a manter a estratégia coerente ao longo dos ciclos de mercado.
Aplicar fora do Brasil dilui riscos locais e abre portas para mercados mais diversificados e consolidados. A combinação entre diferentes geografias tende a criar uma carteira mais resistente a crises.
Essas medidas reforçam o controle da carteira e diminuem a dependência de momentos específicos do mercado.
A Vanguard publicou um estudo amplamente reconhecido mostrando que uma parte significativa da performance de longo prazo de um investidor que conta com consultoria vem justamente do comportamento — não de tentativas de prever o mercado. Evitar movimentos impulsivos, manter disciplina e seguir uma estratégia consistente têm impacto direto no resultado final.
Por isso, contar com acompanhamento especializado faz diferença. Clientes que investem com apoio profissional, seja na construção da carteira, no rebalanceamento ou na postura diante da volatilidade, tendem a sustentar decisões mais racionais e manter o foco no longo prazo, mesmo em períodos de queda.
O erro mais comum em períodos de baixa é agir pelo medo. Vender ativos no pior momento transforma uma perda temporária em prejuízo permanente. Mantendo o plano original e a consistência dos aportes, o investidor atravessa a fase negativa e está melhor posicionado para aproveitar o próximo ciclo de alta.
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O bear market afeta a percepção de valor dos ativos e coloca à prova a confiança dos investidores, mas não muda os fundamentos de uma boa estratégia. Ele costuma reduzir temporariamente o valor de mercado das carteiras, o que pode gerar desconforto — porém, para quem investe com horizonte de longo prazo, essa fase é transitória.
O período de queda também pode abrir espaço para novas oportunidades. Enquanto muitos saem do mercado, quem mantém disciplina pode aumentar posições em boas empresas a preços mais baixos, o que tende a gerar retornos superiores na retomada.
Em termos práticos, o bear market é um teste de paciência. Com o tempo, a recuperação do mercado recompensa quem continua investindo, e não quem tenta prever os movimentos de curto prazo. A história mostra que os investidores que permanecem aplicados durante as crises são os que mais se beneficiam quando o bull market retorna.
Investir em um cenário de incerteza exige estratégia, equilíbrio e visão de longo prazo. Mais do que buscar retornos imediatos, o foco deve estar em construir uma carteira sólida, capaz de atravessar diferentes fases do mercado — das quedas mais acentuadas às retomadas de crescimento.
Fundos de ações com gestão ativa, alocação diversificada e foco em resultados sustentáveis são boas alternativas para quem quer participar do mercado sem precisar acompanhar cada oscilação. Eles reúnem empresas de setores distintos e utilizam análises criteriosas para equilibrar risco e oportunidade, reduzindo o impacto das variações de curto prazo.
Em períodos em que o mercado alterna entre ursos e touros, manter a consistência dos aportes e o olhar no longo prazo continua sendo a melhor forma de crescer com segurança. O segredo está em escolher produtos adequados ao seu perfil e objetivos — e manter a disciplina, independentemente do ciclo econômico.