Talvez você já tenha ouvido falar que uma empresa está passando por um turnaround. Mas você sabe o que isso significa?
No contexto corporativo, o turnaround — algo como “reviravolta”, em português — é um processo de reformulação de uma empresa que está vivenciando dificuldades.
Isso não indica, necessariamente, que a companhia está destinada à falência.
Grandes empresas brasileiras já viveram períodos de crise e se recuperaram após um turnaround.
Alguns investidores procuram empresas em situação de turnaround para investir, porque veem um grande potencial de valorização de suas ações.
Mas será que faz sentido?
Fato é que existem riscos e vantagens de investir em empresas em processo de turnaround.
Neste artigo, vamos explicar como isso funciona e descomplicar o investimento em empresas de turnaround.
Confira!
Indice
O processo de turnaround é iniciado quando uma empresa começa a apresentar sinais graves de crise, como prejuízos recorrentes ou escândalos envolvendo sua administração. Isto pode acontecer, por exemplo, quando o negócio cresce mais rápido que o esperado e começa a ter dificuldades para gerir as operações e manter a qualidade dos serviços.
Outro exemplo ocorre quando a empresa percebe uma queda recorrente de receita por algum motivo, como redução das vendas, e acaba não conseguindo diminuir os custos e despesas.
Neste caso, são registrados prejuízos constantes, que vão castigando a capacidade financeira da companhia.
A partir daí, o conselho executivo da companhia traça um plano de reestruturação interna e externa para reduzir os danos, corrigir as falhas e voltar a crescer.
Apesar de ser um forte sinal de alerta para os investidores, o turnaround também indica que os gestores estão cientes dos problemas e comprometidos em evitar um desastre total.
Quando a situação da empresa chega ao ponto em que um turnaround é necessário, é comum que os executivos contratem uma consultoria especializada.
Estes consultores, então, farão um levantamento de todo o quadro da empresa, incluindo os balanços financeiros, folha de pagamento, clientes, processos de gestão e outros fatores.
Daí, juntamente com o conselho executivo, os consultores irão identificar as áreas mais problemáticas e desenhar um planejamento para reformular e reerguer a empresa.
As medidas adotadas podem incluir:
Em casos mais extremos, é possível até mesmo que a empresa decida extinguir alguns setores que dão prejuízo para focar em atividades que gerem mais retorno.
Outro resultado possível do turnaround é a renovação dos gestores da companhia, caso seja comprovado que a fonte dos problemas é a má administração dos negócios.
Assim, os objetivos primários do processo de turnaround são restabelecer a competitividade da empresa no mercado e equilibrar as contas para voltar a ter lucro.
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Implementar medidas de turnaround não representa garantia total de que a empresa vá se recuperar.
Às vezes, uma companhia sofre por tanto tempo com decisões ruins de investimento, choques de mercado ou especulação que a sua salvação torna-se inviável.
Como a reformulação precisa ser feita de forma transparente, quanto mais ela demora para funcionar, mais cresce a desconfiança dos investidores e a desvalorização das ações.
Em última instância, quando o plano de reestruturação falha e a empresa não tem caixa para pagar suas dívidas, é possível entrar com um pedido de recuperação judicial.
Neste caso, a Justiça age como mediadora para evitar a falência, obrigando a empresa a assumir compromissos a longo prazo com os credores e se desfazer de ativos e participações.
Ainda assim, se a recuperação judicial falhar, o resultado é uma catástrofe para a empresa e seus funcionários.
Geralmente, a companhia realiza demissões em massa, vende seus ativos por valores abaixo do mercado e acaba deixando de existir.
Dependendo do tamanho da empresa e sua parcela de mercado, a desvalorização e falência podem pressionar os índices da bolsa e prejudicar outras companhias do setor.
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Por outro lado, é possível que o plano de turnaround cumpra seus objetivos e a empresa consiga sair da crise e se restabelecer no mercado.
Neste cenário, a reestruturação gera um efeito positivo no mercado, aumentando a confiança dos investidores na solidez e boas práticas de governança da empresa.
Se a empresa voltar a dar lucro significativo e implementar canais de transparência, o resultado pode até mesmo ser a valorização das ações na bolsa.
Ainda assim, o processo de reformulação quase sempre gera efeitos colaterais negativos, como a demissão em massa de funcionários e a extinção de alguns produtos ou serviços.
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Agora que você já sabe o que é um turnaround e como ele funciona, vamos mencionar algumas empresas que fizeram turnaround recentemente na Bolsa de Valores.
A recuperação judicial da Oi é um caso emblemático e ainda em desenvolvimento. O processo teve início em 2016 e pode se estender até o final de 2021.
Desde a formação da Oi em 1998, com a privatização de parte da Telebrás, o objetivo era a construção de um enorme grupo de telecomunicações com atuação nacional.
A Oi já nasceu tendo o BNDES e fundos de pensão como credores e manteve a prática de adquirir companhias menores, muitas endividadas, para “abocanhar” o mercado.
Pelos anos seguintes, os controladores da Oi seguiram assumindo dívidas bilionárias e buscando fusões para construir uma “supertele” nacional e internacional.
Em alguns casos, a Oi adquiriu empresas endividadas por valores acima do mercado e chegou a se fundir, em 2013, com uma telecom portuguesa cuja participação estava investida em títulos sem valor de um banco que acabou falindo.
Além disso, a Oi descumpriu uma série de regulações da Anatel e acumulou dívidas com o governo, agravando o quadro de desequilíbrio financeiro da empresa.
O resultado dessa longa sequência de investimentos a fundo perdido foi a profunda deterioração das contas da Oi, levando à total incapacidade de pagar seus credores.
Apesar dos empréstimos, venda de ativos e participações a concorrentes e esforços para enxugar as despesas, a Oi segue incapaz de gerar lucro e disputa dívidas na Justiça.
Em contraste à tragédia da Oi, o Magalu conseguiu se recuperar após um período de forte crise entre 2015 e 2016, período de recessão financeira que impactou o varejo no Brasil.
Mais que isso, o Magazine Luiza superou uma fase conturbada para se tornar uma das empresas mais sólidas e lucrativas do mercado brasileiro.
Em quatro anos de reestruturação, as ações da gigante do varejo viveram uma imensa valorização e dispararam de R$ 2 para cerca de R$ 190 por papel.
O ponto de virada para o Magazine Luiza foi a decisão de investir pesado não apenas no site da loja, mas em todo um setor de inovação e soluções digitais em e-commerce.
Um exemplo foi a criação do LuizaLabs, laboratório da marca que trabalha com foco na digitalização do varejo brasileiro e desenvolvimento de apps e sistemas online.
Com o sucesso da iniciativa, surgiu a identidade visual “Magalu” e a persona digital “Lu”, que hoje têm suas próprias equipes dentro da loja e são referência para os consumidores.
Neste período de turnaround, a empresa também direcionou vastos recursos à logística de distribuição, integração virtual das lojas físicas, relacionamento com o cliente e aquisição de startups de e-commerce.
Recentemente, o Magazine Luiza anunciou a compra do Jovem Nerd, um dos mais antigos portais de cultura pop e gamer do Brasil, e o investimento em uma plataforma própria de pagamentos digitais.
O resultado desse processo foi a transformação total do Magazine Luiza em marketplace digital com pontos físicos.
Atualmente, o app Magalu tem mais de 30 milhões de usuários ativos e gera lucros bilionários à rede.
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Maior conglomerado de varejo do Brasil, a Via Varejo também vem investindo pesadamente na reestruturação das operações e renovação para acompanhar as transformações digitais.
Em 2019, no cenário de alta competitividade entre varejistas e lenta recuperação econômica do país, a Via Varejo chegou a sofrer prejuízo de R$ 1,4 bilhão.
Parte da crise havia sido causada por práticas ilícitas dos próprios executivos da empresa, descobertas após uma longa investigação e auditoria contábil.
O processo de turnaround da controladora de Casas Bahia, Ponto Frio, Bartira e o e-commerce do Extra começou ainda em 2019, quando Roberto Fulcherberguer assumiu o cargo de CEO com a missão de reerguer a companhia.
Assim como o Magazine Luiza, a Via Varejo começou a destinar altos volumes de capital para a digitalização e renovação da companhia.
O grupo adquiriu startups de e-commerce e logística, investiu em ecossistemas de inovação e comprou o banco digital banQi, hoje operado pelas Casas Bahia para pagamentos online.
Também em 2019, foi concluída a compra da participação do Grupo Pão de Açúcar pelos demais sócios, restaurando o controle do grupo à família Klein, fundadora das Casas Bahia.
O resultado foi verificado já no ano seguinte: mesmo em meio à crise econômica da pandemia, a Via Varejo cresceu mais que o esperado e lucrou R$ 1 bilhão em 2020, zerando boa parte dos prejuízos do ano anterior.
Como parte do processo de turnaround, a empresa anunciou em 2021 a mudança do nome para apenas “Via”, sinalizando a intenção de investir em negócios além do varejo.
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O termo “turnaround” é bem amplo e a classificação pode variar entre analistas. Alguns têm critérios mais rígidos para separar investimentos em inovação de uma reformulação total.
Ainda assim, há algumas empresas listadas na B3 que são comumente citadas como em processo de turnaround, esteja ele ainda em andamento ou não.
Alguns exemplos são:
Como explicamos acima, as empresas implementam medidas de turnaround quando há indícios claros de uma crise.
Nestes casos, é comum que as ações destas empresas sofram o impacto da repercussão negativa e percam muito valor em um período relativamente curto.
Pela lógica do mercado, o potencial de retorno de um investimento está intrinsecamente atrelado aos riscos que ele apresenta.
Em outras palavras, ativos mais arriscados costumam oferecer chances mais altas de lucro.
Quando uma grande player do mercado passa por uma crise e sofre desvalorização, muitos investidores aproveitam o momento para incluí-la no portfólio e aguardar sua recuperação.
Porém, vale destacar que a recuperação não é garantida e depende de uma ampla gama de fatores, muitos dos quais nem sempre estão sob controle dos executivos.
Assim, as empresas em turnaround podem se tornar opções interessantes para investidores mais arrojados que desejam diversificar sua carteira, mas é importante saber limitar o valor dos investimentos e monitorar de perto os resultados da reestruturação.
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Via de regra, uma companhia em turnaround está em situação precária que exige ações drásticas para se restabelecer e voltar a gerar lucro.
Explicamos neste artigo os casos de Magazine Luiza e Via Varejo, que souberam como redirecionar suas operações e manter a confiança dos investidores na recuperação.
Por outro lado, o caso da Oi mostra como uma série de negligências e decisões equivocadas de investimento podem levar uma gigante à tragédia total.
Como o risco de aplicar em turnarounds é extremamente elevado, o investimento nestas ações não é uma boa alternativa para investidores inexperientes ou de perfil conservador.
Ao avaliar esta forma de investimento, uma pergunta essencial é: a empresa tem condições de cumprir o que promete?
Em outras palavras, é crucial que a empresa em recuperação adote medidas claras e transparentes de comprometimento com a sua reestruturação.
A Oi, por exemplo, falhou ao seguir estes critérios, pois continuou assumindo dívidas e buscando a expansão, mesmo quando a empresa estava incapaz de gerir suas próprias perdas.
De forma geral, vale a regra de ouro do mercado financeiro: não coloque todos os seus ovos na mesma cesta — isto é, não invista todo o seu capital em uma única oportunidade.
Tratando-se de um investimento arriscado, uma turnaround pode oferecer retornos bem acima da média do mercado; porém, o fracasso na recuperação significa perdas muito maiores do que as aplicações em empresas mais saudáveis financeiramente.
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