Valor Presente Líquido: como usar para avaliar investimentos  

Se você tem conhecimentos em gestão financeira empresarial, já deve ter ouvido falar no Valor Presente Líquido (VPL). O indicador mostra se determinado investimento é viável para o negócio e trará um bom retorno.

Nesse momento, você deve estar pensando: “ok, e o que eu tenho a ver com isso?”. A questão-chave é que esse índice também é muito usado nas aplicações financeiras para tomar decisões acertadas.

Afinal, como você já sabe, investir é diferente de apostar. Por isso, qualquer ação precisa ser embasada em dados, e nunca no achismo. Então, como usar o VPL a seu favor? É o que vamos mostrar neste artigo. Acompanhe!

O que é Valor Presente Líquido?

O que é valor presente líquido, ilustração

Também conhecido como Valor Líquido Atual ou método do valor atual, esse indicador mostra a viabilidade de determinado projeto de investimento. Para isso, ele traz os fluxos de caixa à data zero e soma ao capital inicial usando a Taxa Mínima de Atratividade (TMA) como desconto.

Espera, esse conceito é muito complicado, certo? Mas tem como deixar mais claro e fácil de entender. Basicamente, o que o VPL faz é calcular o verdadeiro valor de uma aplicação financeira para aumentar a chance dela trazer ganhos reais no futuro.

Para que serve o VPL?

No mundo contábil, o método do valor atual sinaliza se a empresa deve realizar determinado projeto. Para chegar à conclusão, são considerados o investimento inicial, o prazo da iniciativa, o fluxo de caixa e o retorno esperado para o período.

No ambiente financeiro, a ideia é a mesma. No entanto, o tempo tem um peso ainda maior. O motivo é a inflação, que leva à perda do poder de compra. Por sua vez, os juros existem para corrigir a distorção e oferecer um ganho real.

Dentro desse contexto, o VPL é útil, porque analisa a TMA. Esse indicador mostra o retorno mínimo que determinado investimento deve oferecer. Caso contrário, é pouco recomendado.

Qual a relação entre VPL e inflação?

Entenda a relação do VPL e a inflação, ilustração

É importante lembrarmos de que o governo sempre divulga o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação no País. Por exemplo, em 2020, a projeção é de 1,55%, segundo o Relatório de Mercado Focus, divulgado pelo Banco Central.

Para 2021, a estimativa é de 3,1%. O que isso significa, na prática? De modo direto, podemos dizer que determinado montante em janeiro valia 1,55% a mais do que a mesma quantia de dezembro.

O motivo para essa conclusão é simples: os preços aumentam e o dinheiro perde seu poder de compra. Quer ver como isso acontece? Tente lembrar do que você comprava com R$ 100 em 2000.

É provável que fosse ao supermercado e adquirisse muito mais produtos do que hoje. Essa situação é gerada pela inflação. Quem viveu nos anos 1980 e começo dos anos 1990 também lembra bem o que o descontrole desse indicador pode fazer.

Em um mesmo dia, os preços eram remarcados várias vezes. Por isso, as famílias recebiam o salário e precisavam já ir ao mercado fazer o rancho do mês, a fim de garantir o rendimento máximo da quantia.

Hoje, a realidade é bem diferente, mas a inflação ainda interfere nos investimentos. Entenda melhor.

A importância do cálculo do VPL

É aqui que o VPL entra. Para explicar melhor, vamos usar um investimento de renda fixa com remuneração atrelada à Selic.

No começo de maio de 2020, o Comitê de Política Monetária (Copom) cortou a Selic de 3,75% para 3% ao ano. Isso significa que as aplicações financeiras desse tipo passaram a render menos. Até aqui, ótimo. A oscilação faz parte do mercado financeiro.

Mas você já pensou quanto ganharia de fato em um investimento desse? Nesse caso, precisa considerar a inflação. Sem descontá-la do rendimento, você verá apenas a remuneração, mas não o chamado ganho real.

Isso significa que um investimento pode ter remuneração negativa. Bizarro, certo? No entanto, é exatamente isso o que alguns analistas indicam para a renda fixa a partir da próxima reunião do Copom, que acontece nos dias 16 e 17 de junho de 2020.

Além do mais, alguns ativos já registraram retorno abaixo do ganho real. Como nem compensaram a inflação, a remuneração foi negativa. Inclusive, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) destacou que, de 16 fundos de renda fixa, 9 chegaram a esse patamar em março de 2020.

Com o Valor Presente Líquido, isso não precisa acontecer, porque você adquire inteligência financeira. A partir de dados bem estruturados, fica mais fácil saber quais alternativas compensam e tomar decisões certas, que protegerão seu investimento.

Quando usar o Valor Presente Líquido?

Quando devo usar o valor presente líquido, ilustração

A maioria dos investidores não utiliza esse conceito. E é bem provável que você também não — mas se já adota o método, está de parabéns, viu? A questão é que esse cenário precisa ser mudado, porque considerar o custo de oportunidade é fundamental para tomar decisões acertadas.

Então, quando usar o Valor Presente Líquido? Se você quer fazer seu dinheiro multiplicar, deve adotar o método. Simples assim. Essa regra vale para qualquer situação, inclusive para quem tem perfil conservador e aplica em Tesouro Direto e Certificado de Depósito Bancário (CDB).

Afinal, o grande benefício dessa metodologia é considerar o TMA e a variação do dinheiro ao longo do tempo. Esse é o segredo para saber se o ganho obtido será real.

Em cenários de crise econômica, o VPL se torna ainda mais importante. Se deixar ao “sabor dos ventos”, pode encarar uma rentabilidade negativa — e nem perceber que isso aconteceu.

Assim, o VPL mostra que o investimento viável é aquele com uma remuneração financeira maior do que aquela obtida se o montante estivesse aplicado em um ativo seguro. Aqui, reside a inteligência financeira.

O processo de tomadas de decisão

A melhor forma de entender por que você precisa usar o VPL é compreender como o cérebro funciona em relação às tomadas de decisão. É bem verdade que a ciência ainda não desvendou totalmente esse processo, mas já consegue ter uma boa ideia de como funciona.

Para entender, vamos ver um estudo feito pelos pesquisadores Alison Lenton e Marco Francesconi, das Universidades de Lenton e Essex, respectivamente. Eles analisaram as escolhas feitas pelas pessoas em 84 speed-dates.

Nesses eventos, são realizados vários miniencontros com desconhecidos e, ao final, a pessoa seleciona aqueles de que mais gostou. No entanto, o resultado mostrou que quanto mais opções existiam, menor era o número de propostas. Em outras palavras, a quantidade prejudica a qualidade da escolha.

Voltando esse cenário para o mundo dos investimentos, quanto mais possibilidades você visualizar no home broker, menos vai saber qual é a certa para você. Nesse momento, seu cérebro pode atuar. Porém, ele nem sempre vai optar pelo que é certo.

Por quê? Porque a maioria das nossas decisões são automáticas. Isso significa que elas são derivadas de um processamento inconsciente. Isso é um verdadeiro problema, certo? Afinal, para definir o melhor ativo, é preciso analisar diferentes variáveis e todas as situações de risco requerem racionalização.

Esse é o momento em que o sistema nervoso avalia as alternativas com o objetivo de maximizar os ganhos e reduzir as perdas. No entanto, esse processo envolve cognição, atenção, emoção e memória. Por isso, a decisão pode ser difícil, porque ao escolher algo, você abre mão de outra coisa. 

O alcance da inteligência financeira

A explicação de como o cérebro funciona com um exemplo. Digamos que você recebeu uma criação baseada na proteção do dinheiro. Nesse caso, é bem provável que não tenha tolerância a perdas. 

Por isso, dificilmente você vai selecionar a renda variável, simplesmente pelo fato de ter internalizado de que o que está seguro é bom. Assim, ignora qualquer potencial de ganhos mais elevados.

Mais do que isso, existem vários fatores que afetam as tomadas de decisão. Um dos principais é o estresse. Ele prejudica diversas funções cognitivas e leva a decisões impulsivas ou perseverativas. Ainda limita a busca por soluções. Outros aspectos que interferem nos resultados são:

  • Situações de coerção, insanidade, ignorância, intoxicação involuntária e ausência de controle;
  • Excesso de opções;
  • Ausência de tempo para decidir;
  • Falta de atenção;
  • Existência de distrações;
  • Excesso de racionalização;
  • Vieses emocionais;
  • Apelos por decisões impulsivas.

Em outras palavras, fica claro que vários eventos rotineiros podem atrapalhar uma decisão consciente e inteligente. No entanto, existem algumas práticas que ajudam a melhorar o cenário. Veja quais são as principais:

  • Ser capaz de prever eventos, a fim de preparar reações e melhorar as próximas escolhas;
  • Raciocinar sobre suas próprias decisões;
  • Aumentar a introspecção para identificar objetivos e valores de curto e longo prazo;
  • Construir critérios a respeito de motivações e necessidades.

Perceba que todas essas medidas levam a ter subsídios para tomar as decisões. É aqui que entra o VPL — sim, chegamos lá! Ele fornece os dados necessários para decidir o que é melhor em cada momento, ou seja, qual investimento é mais adequado para alcançar os seus objetivos e qual é mais viável.

Como usar esse recurso a seu favor? É o que vamos mostrar em seguida. Que tal ver como esse indicador funciona de maneira prática?

Como usar o Valor Presente Líquido?

No mercado financeiro, o VPL foca os investimentos de longo prazo. Como ele serve para calcular o valor futuro do dinheiro, faria pouco sentido utilizá-lo em uma estratégia de trading, certo?

No entanto, até mesmo quem atua como trader deve ser um holder. É aquela velha — e tão necessária! — regrinha da diversificação. Assim, você minimiza os riscos e aumenta o potencial de retorno.

Nesse momento, a dúvida é: como calcular o resultado do Valor Presente Líquido? A fórmula é um pouco complicada. Veja:

Fórmula do Valor presente liquido, ilustração.

Se você levou um susto ao olhar essa fórmula, calma! Existem formas de usar o Excel, uma calculadora financeira ou até mesmo sistemas online para chegar ao resultado. Para entender melhor a fórmula, veja o que fatores representam:

  • VPL: consiste na soma dos fluxos de caixa estimados no investimento. É o resultado que determina se a iniciativa é válida;
  • FC0: é o investimento inicial. O valor deve ser inserido como um sinal negativa, pois é uma saída de caixa;
  • FCn: é o valor do fluxo de caixa no último período, que pode ser após meses ou anos;
  • TMA: é a taxa de desconto usada para representar o valor mínimo da aplicação financeira.

Exemplo A

Para ficar mais claro, veja o seguinte exemplo: imagine que você pretende aplicar R$ 15.000 como quantia inicial em um investimento. Você quer saber se vale a pena fazer o investimento com uma remuneração de 0,7% ao mês por 2 anos.

Primeiro, você deve verificar o fluxo de entradas e saídas de dinheiro. Separando por meses, temos:

  • Mês 0: – R$ 15.000;
  • Mês 1: R$ 105 = R$ 15.000 x 0,7%;
  • Mês 2: R$ 105 e assim por diante, até o mês 23;
  • Mês 24: R$ 5.105 = R$ 15.000 x 0,7% + R$ 15.000.

Em seguida, verifique a taxa de desconto. Nesse exemplo, imagine que é de 12,1% ao ano. Então, calcule o valor presente:

  • Mês 0: – R$ 15.000;
  • Mês 1: R$ 104,01 = R$ 105/[(1+12,1%)^(1/12)];
  • Mês 2: R$ 103,02 = R$ 105/[(1+12,1%)^(2/12)] e assim por diante, até o mês 23;
  • Mês 24: R$ 12.020,14 = R$ 105/[(1+12,1%)^(24/12)]

Por fim, some os valores. Nesse caso, o VPL seria de – R$ 821,24.

Exemplo B

Por sua vez, imagine agora uma aplicação financeira com investimento inicial de R$ 10.000 e com rendimento de 12% ao ano. Há pagamento de juros semestrais, o prazo é de 2 anos e é feita a devolução de R$ 10.000 ao final do período. Executando todas as etapas, vamos à primeira:

  • Mês 0: – R$ 10.000;
  • Mês 6: R$ 600 = {R$ 10.000 x [(1+12%)/12]x6};
  • Mês 12: R$ 600 = {R$ 10.000 x [(1+12%)/12]x6};
  • Mês 18: R$ 600 = {R$ 10.000 x [(1+12%)/12]x6};
  • Mês 24: R$ 10.600 = {R$10.000 x [(1+12%)/12]x6} + R$ 10.000.

Nesse caso, considere a TMA a 11% ao ano:

  • Mês 0: – R$ 10.000;
  • Mês 6: R$ 569,49 = R$ 600/[(1+11%)^(6/12)];
  • Mês 12: R$ 540,54 =  R$ 600/[(1+11%)^(12/12)];
  • Mês 18: R$ 513,06 =  R$ 600/[(1+11%)^(18/12)];
  • Mês 24: R$ 8.603,20 = R$ 10.060/[(1+11%)^(24/12)].

Ao somar todos os valores, percebe-se que o VPL dessa aplicação financeira é de R$ 226,29. Portanto, vale a pena.

Como interpretar o resultado do VPL?

Sempre que o índice for positivo, o investimento vale a pena. Se for negativo, é inviável. Caso compare duas aplicações financeiras e ambas forem positivas, é preciso considerar a que tem o maior Valor Presente Líquido.

Perceba que o resultado do indicador depende da TMA. Esses dois índices são inversamente proporcionais. Ou seja, quanto maior for a TMA, menos interessante será o investimento.

Uma dica para verificar essa questão e analisar a curva futura de juros. Ela representa exatamente a relação inversa de TMA e VPL. Por isso, sinaliza o que você deve fazer.

Se a curva estiver em alta, a crença de investidores e outros players é de que haverá aumento dos juros. Portanto, o preço dos ativos tem tendência de queda. O inverso também é válido.

Quais são as vantagens e as desvantagens de usar o método do valor atual?

Vantagens de usar o valor presente liquido, ilustração

O principal benefício, claro, é saber se determinado investimento é financeiramente válido. Em outras palavras, se ele é rentável e se tem tendência de reduzir os lucros. Assim, com a análise do VPL ao longo do tempo, você tem uma visão holística interessante.

Outro ponto importante é o uso da estimativa de quando a aplicação financeira começará a oferecer uma remuneração. Esse aspecto é necessário ao comparar mais de um investimento. Desse modo, é possível saber como cada alternativa se comportará com o passar dos meses. Outras vantagens são:

  • Consideração do valor do dinheiro no tempo;
  • Análise do custo de capital, representado pela TMA;
  • Aplicável a qualquer fluxo de caixa;
  • Pressupõe a reinversão dos fluxos de caixa à TMA.

Por outro lado, a fórmula requer conhecimento de taxa de desconto, fluxo de caixa e prazo. Essas informações nem sempre são facilmente acessíveis, o que pode dificultar o cálculo.

Outro fator negativo é que o VPL nem sempre é suficiente para uma decisão realmente acertada. Analisar a Taxa Interna de Retorno (TIR) também é relevante.

Por isso, vale a pena estudar diferentes ferramentas de análise de projeto para, então, usar o VPL. Ainda há outras desvantagens:

  • Definição em termos absolutos, em vez de relativos;
  • Desconsideração do prazo de duração;
  • Tendência de apresentar VPL superior para projetos maiores, ainda que nem sempre sejam melhores em termos relativos.

Como você pôde perceber, o Valor Presente Líquido é um assunto técnico e que se torna difícil de explicar sem citar suas particularidades. No entanto, para quem deseja se tornar um investidor profissional, é fundamental conhecer esse indicador e usá-lo a seu favor. Ao fazer isso, fica mais fácil decidir a melhor aplicação financeira e determinar a escolha mais acertada.

E agora, você quer saber mais sobre a escolha de aplicações financeiras? Veja quais são os investimentos seguros e as melhores opções para proteger seu patrimônio.