Em notícias sobre política monetária, é comum nos depararmos com os termos postura hawkish e dovish de bancos centrais.
Embora não tenham tradução literal, estes termos são adotados universalmente por economistas para descrever as tendências de taxas básicas de juros, como a Selic.
Falando de forma simplificada, uma postura hawkish indica uma tendência de cortes na taxa básica de juros, enquanto uma postura dovish representa uma tendência de elevação.
Como as taxas de juros desempenham papel central em qualquer economia, é fundamental acompanhar estes movimentos e suas repercussões para o mercado financeiro.
Quer entender em detalhes como isso funciona?
Neste artigo, vamos explicar tudo que você precisa saber sobre “dovish” e “hawkish” e como elas se relacionam com a política econômica do Brasil e de outros países.
Confira!
Indice
Em economia, a postura hawkish ou dovish de uma autoridade monetária corresponde, respectivamente, à tendência de cortes ou elevações da taxa básica de juros.
Os termos em inglês são adjetivos derivados das palavras hawk (falcão) e dove (pomba).
As nomenclaturas são uma analogia ao comportamento destas aves.
O falcão é uma ave de caça com hábitos predatórios, enquanto a pomba é geralmente associada à paz.
Basicamente, uma postura “hawkish” significa que o banco central de um país defende juros mais altos e um maior controle fiscal e inflacionário, enquanto a “dovish” sinaliza uma tendência a juros mais baixos e política de expansão monetária.
As alterações na taxa de juros afetam diretamente os rendimentos de ativos da renda fixa e influenciam a disponibilidade de crédito, a inflação, o consumo e a renda variável.
Grosso modo, a taxa Selic corresponde aos juros praticados entre o Banco Central e as instituições financeiras do país.
Quando a taxa básica de juros cai, o custo de captação dos bancos diminui e os empréstimos à população tendem a ficar mais baratos.
A consequência disso é uma maior circulação de moeda, que estimula o consumo, mas também impulsiona a inflação.
Esse direcionamento é chamado de política monetária expansionista — dovish.
Pela mesma lógica, uma elevação da taxa Selic encarece os empréstimos junto aos bancos, o que reduz a demanda e “esfria” a economia.
Essa política monetária é conhecida como contracionista — hawkish.
As mudanças na taxa de juros também podem gerar efeitos colaterais sobre a renda variável, como o mercado de ações.
Por exemplo: se a Selic estiver alta, investidores mais conservadores podem priorizar os rendimentos menos arriscados da renda fixa.
Já uma Selic baixa costuma incentivar a busca por retornos maiores na bolsa de valores.
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Como explicamos acima, um corte da taxa de juros geralmente leva a uma alta do consumo pelas famílias e, consequentemente, da inflação.
À medida que os preços sobem, os trabalhadores começam a exigir salários mais altos para arcar com o maior custo de vida.
Se o nível de ocupação estiver muito alto — a demanda por mão de obra crescer mais que a oferta —, a tendência é que as empresas elevem os salários dos funcionários.
Como os salários mais altos encarecem a produção, os bens e serviços ficam mais caros, o que resulta em novas exigências por maiores salários, acelerando ainda mais a inflação.
Por outro lado, se o nível de consumo cai, os salários tendem a desacelerar junto com os preços, já que o custo de vida cresce mais lentamente.
Nesse caso, a menor demanda pode levar empresas a reduzir a produção e cortar funcionários, ou os próprios trabalhadores podem sair em busca de salários melhores, o que gera uma alta da taxa de desemprego.
Assim, podemos afirmar que existe uma relação inversa entre inflação e desemprego no curto prazo. Quando uma taxa sobe, a outra tende a cair.
Esta relação é chamada de curva de Phillips, e é um dos principais fatores considerados pelos formuladores de política monetária ao considerar a postura hawkish e dovish.
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Podemos dizer que uma autoridade monetária adota uma postura dovish quando há um consenso por manter a taxa básica de juros relativamente mais baixa do que o usual.
Seguindo o raciocínio da curva de Phillips, a postura dovish resulta em alta da inflação, ao mesmo tempo que mantém o desemprego em patamares mais baixos.
A postura dovish costuma ser adotada em períodos de recessão econômica, quando o desemprego está em alta e o nível de consumo em baixa.
Em outras palavras, a postura dovish é frequentemente adotada quando o Banco Central avalia que a economia precisa de estímulo monetário (ou “aquecimento”).
Nesse cenário, o cálculo feito pelo Banco Central é de que a necessidade de gerar empregos compensa a aceleração dos preços no curto prazo.
Além disso, os juros baixos funcionam como um atrativo para a iniciativa privada, já que incentivam a exposição a risco.
Outra justificativa para a postura dovish diz respeito ao equilíbrio fiscal.
Quando o governo emite títulos para financiar investimentos, os juros mais baixos ajudam a controlar o crescimento da dívida pública.
Mais além, a redução dos juros favorece a prática do carry trade, que ocorre quando investidores estrangeiros tomam empréstimos a juros baixos em um país para aplicar em outro com retornos mais altos.
Pela mesma lógica, diz-se que um banco central tem uma postura hawkish quando os diretores defendem elevar a taxa de juros no curto prazo.
De acordo com a curva de Phillips, a postura hawkish tem como resultados a desaceleração da inflação e a alta da taxa de desemprego.
O principal argumento a favor da postura hawkish é o controle inflacionário.
Quando os juros sobem, o consumo e os salários tendem a cair, pressionando os preços para baixo.
Assim, as medidas de caráter hawkish são implementadas quando o governo decide priorizar o combate à inflação, em detrimento de uma menor oferta de empregos.
No contexto do mercado internacional, os juros mais altos também podem ser um atrativo a investidores estrangeiros, dependendo da comparação entre os juros de outros países.
Quando isso ocorre, a postura hawkish acaba por fortalecer a moeda nacional, à medida que cresce a entrada de moedas fortes como dólar e euro no país.
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No Brasil, a taxa básica de juros (taxa Selic) encontra-se hoje em um dos níveis mais baixos da história, a 2,75% ao ano.
Nos últimos dez anos, a Selic despencou quase 10 pontos percentuais, chegando a atingir 2% ao ano em 2020.
Porém, isso não significa que a postura do Banco Central do Brasil tenha sido constantemente dovish por dez anos.
O gráfico a seguir representa a variação da Selic nos últimos três governos brasileiros.
Em 2011, início do governo de Dilma Rousseff, a taxa de juros brasileira era de 11,25%.
No mesmo ano, o economista Alexandre Tombini assumiu o Banco Central com a missão de controlar a inflação que avançava rapidamente diante do aquecimento da economia.
Naquele ano, o BC adotou uma postura moderadamente hawkish no primeiro semestre, chegando a 12,50% em julho.
Contudo, diante da crise global iniciada em 2011 nos EUA, o BC assumiu um viés dovish buscando aquecer a economia, chegando a juros de 7,25% ao ano em 2012 — então o menor patamar histórico para a Selic.
A partir de 2013, novas preocupações inflacionárias levaram o Brasil a adotar uma diretriz fortemente hawkish, e a Selic mais que dobrou em dois anos, chegando a 14,75% ao ano.
Porém, a situação fiscal precária se aprofundou a partir de 2014 e culminou no impeachment de Dilma em 2016, acusada de usar pedaladas fiscais para maquiar a crise.
A partir daí, a agenda de ajuste fiscal implementada por Michel Temer e mantida por Jair Bolsonaro marcou o início de uma tendência dovish profunda.
Ao longo de quatro anos, o Banco Central cortou a Selic em mais de 12 pontos percentuais e a taxa chegou à mínima histórica de 2,0% a. a. em agosto de 2020.
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O impacto da pandemia da Covid-19 no Brasil agravou ainda mais o quadro já problemático de recessão econômica, déficit fiscal e desvalorização do real.
Em 2021, o BC deu início à atual postura hawkish com a elevação de 0,75 pontos percentuais da Selic, chegando a 2,75% ao ano.
A previsão do mercado financeiro é de que o viés hawkish se mantenha e que a taxa básica de juros encerre o ano atual em 4,5%, e que atinja 5,5% até o final de 2022.
Atualmente, o maior desafio do governo brasileiro é simultaneamente combater o desemprego e a inflação puxada pela alta do dólar, sem perder de vista o equilíbrio das contas públicas.
Embora a postura hawkish do Banco Central contribua para conter a inflação e a alta do dólar, existe a preocupação de um cenário de dominância fiscal no Brasil, em que a Selic perca eficácia como instrumento de política monetária diante da crise das contas públicas.
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