Como analisar uma ação: passo a passo para descobrir se vale a pena investir  

Muita gente pensa que, para saber como analisar uma ação, é preciso ter anos de experiência no mercado financeiro, graduação em Economia e um olhar aguçado em relação a números e gráficos.

Claro que há uma certa complexidade no modo como a bolsa de valores funciona, mas também é verdade que há premissas muito simples e fáceis de entender.

Depois de dar esse primeiro passo e compreender as bases da análise de ações, é natural que o investidor se aprofunde gradualmente, qualificando cada vez mais sua tomada de decisão e percebendo que o mercado de ações não é um bicho de sete cabeças.

Neste artigo, queremos ajudar você a dar esse primeiro passo rumo a uma análise fundamentalista qualificada. 

O que apresentamos neste artigo é um guia simplificado com as informações mais relevantes que você precisa conhecer no momento de analisar uma empresa.

Tudo pronto para iniciar a sua jornada na bolsa de valores? Boa leitura!

Como analisar uma ação

Como analisar uma ação, ilustração

Na busca para entender como analisar uma ação, é preciso esquecer a ideia de que ações são apenas números, elementos inventados, que não têm materialidade.

É verdade que o preço de uma ação varia conforme a oscilação da demanda pelo ativo. Se mais gente se interessa em comprá-la, seu preço sobe.

O que algumas pessoas se esquecem é que há algo bastante real por trás dessa procura: a empresa.

O mercado de ações não existe por conta própria, ele só faz sentido porque existe uma economia produtiva e companhias que geram um valor para o público consumidor, na forma de produtos ou serviços.

Quando essas organizações abrem capital, ou seja, começam a negociar ações na bolsa, o fazem como uma estratégia para financiar seu crescimento.

Já os investidores compram as ações esperando que a empresa seja lucrativa, o que pode se converter em gordos dividendos e valorização dos papéis.

O que queremos dizer com isso tudo é que o desempenho de uma ação não deve ser dissociado do desempenho da companhia que a emitiu.

Isso significa que não há como analisar uma ação sem analisar uma empresa.

Se ela tem bons produtos e serviços, boa gestão e governança, é comandada por líderes com grande visão estratégica e está bem posicionada em um mercado promissor, provavelmente suas ações vão se valorizar com o tempo.

A seguir, apresentamos alguns dos principais aspectos a serem levados em conta na análise de ações.

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Descubra como a empresa ganha dinheiro

Como acabamos de explicar, a ação representa algo bem real: a participação em um negócio que fabrica e/ou vende produtos ou presta serviços.

Quais são esses produtos e serviços? Qual o público que atende? Que tipo de valor a companhia cria? Qual seu modelo de negócio, isto é, de que maneira mobiliza seus recursos para gerar esse valor?

Se você pensa em comprar ações da Camil (CAML3), por exemplo, precisa saber que sua especialidade é o beneficiamento de arroz e feijão, itens que são a base da alimentação do brasileiro.

Essa análise, bem básica e preliminar, já pode servir como um filtro. 

Você pode concluir que determinado segmento está em queda ou evitar o investimento em no setor por algum outro motivo.

Entender como a empresa ganha dinheiro também ajuda a identificar os concorrentes (outro item de análise, que detalharemos adiante), a participação no mercado, a distribuição nos pontos de venda e a força da marca perante o público.

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Analise a estrutura societária

Estrutura societária é como as ações da empresa estão distribuídas. Quem são os principais acionistas e controladores? Qual percentual do total de ações eles detêm?

Consultando a estrutura societária, entendemos quem são as pessoas (físicas ou jurídicas) que comandam a organização.

É diferente ter a maior parte das ações controladas por membros de uma mesma família ou por um grupo cujas principais empresas têm pouca relação com a companhia em questão.

A estrutura societária pode ser um indicativo de risco: enquanto uma empresa familiar costuma prezar pela sustentabilidade e planejamento a longo prazo, uma organização com pouca ligação com o core do negócio pode ter mais chances de vender sua participação.

Já uma empresa sem uma figura centralizadora como controlador, que tenha diversos acionistas com posições relevantes e governança compartilhada, pode indicar que ninguém colocará seus interesses pessoais acima dos da empresa.

Vale lembrar, porém, que esse tipo de conclusão não deve ser tomada sem uma análise mais aprofundada do perfil, histórico e estratégia dos controladores.

Junto com o free float, a estrutura societária também ajuda a avaliar o risco da empresa fechar o capital.

A informação está disponível nos sites de relações com investidores (RI) das empresas listadas na bolsa.

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Avalie a governança

Governança corporativa é um conjunto de práticas e políticas que garantem uma administração profissional, focada no crescimento e manutenção do negócio.

Além disso, como explicou nosso colunista Jurandir Sell em artigo aqui na Magazine: “é quando uma empresa respeita seus acionistas, de modo que o menor e o maior deles têm tratamento idêntico”.

Quer conferir a opinião do Jurandir? Leia o artigo completo: Como demorei tanto tempo para perceber o óbvio? 

Assim como a estrutura societária, as informações referentes à governança são divulgadas pelas empresas listadas em seus sites de RI.

A governança tem como pilares a transparência, equidade, responsabilidade corporativa e prestação de contas.

Uma organização com bom nível de governança corporativa tende a apresentar bons resultados no longo prazo, o que leva à valorização de suas ações.

A não ser que você tenha bastante tempo e seja um especialista no assunto, a melhor maneira de avaliar a governança de uma companhia não é lendo seus estatutos, códigos e regimentos internos e comparando-os com as informações de concorrentes.

Em vez disso, você pode utilizar como filtro os níveis de governança da B3

Do maior para o menor, são eles: Novo Mercado, Nível 1, Nível 2, Bovespa Mais e Bovespa Mais Nível 2. 

Veja mais informações sobre esses níveis no site da bolsa.

Você também pode acompanhar quatro índices (carteiras de ações teóricas) criados pela B3 que reúnem ações diferenciadas neste quesito:

IGC B3 (Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada)

Inclui empresas listadas no Novo Mercado ou nos níveis 1 ou 2.

ITAG B3 (Índice de Ações com Tag Along Diferenciado)

Inclui empresas que oferecem melhores condições aos acionistas minoritários no caso de alienação do controle (tag along).

IGCT B3 (Índice de Governança Trade)

Inclui ações com maior negociabilidade e governança, excluindo BDRs e papéis de empresas em situação especial de listagem, como recuperação judicial ou regime especial de administração temporária.

IGC-NM B3 (Índice de Governança Corporativa – Novo Mercado)

Índice composto exclusivamente por ações listadas no Novo Mercado, aquelas com os melhores níveis de governança corporativa.

Descubra se a ação tem liquidez

Liquidez é a rapidez e facilidade com que se consegue vender uma ação, característica que está diretamente relacionada com o volume de negociações do papel. 

Quanto mais ela é negociada, maior a sua liquidez, ou seja, mais rápido o investidor consegue vendê-la.

A importância da liquidez em uma carteira de investimento varia de acordo com os objetivos do investidor — quanto menor o prazo no qual ele pretende resgatar o dinheiro, maior precisa ser a liquidez.

Quando a liquidez é muito baixa, existe um risco considerável mesmo para quem pratica o buy and hold — segura suas ações por um longo período.

Afinal, mesmo que o objetivo não seja fazer stock picking e atualizar a carteira o tempo todo, ter flexibilidade para mudar de estratégia quando há transformações fortes nas circunstâncias do mercado é sempre positivo.

Você pode descobrir qual a liquidez de uma ação em portais de análise fundamentalista. 

A informação pode estar apresentada como “volume médio de negociações”, “liquidez média diária” ou algo semelhante.

Observe os principais fundamentos

Fundamentos são informações usadas na análise fundamentalista por investidores que procuram ações com bom potencial de valorização. 

Se você quer descobrir como analisar uma ação, não pode ignorá-los.

Eles ajudam a identificar se a empresa tem saúde financeira e é bem administrada, fatores que colaboram para que o preço de suas ações cresça no decorrer dos anos.

Um dos fundamentos é a governança corporativa, que abordamos em um tópico anterior.

A seguir, apresentamos outros — as informações de cada empresa podem ser obtidas nos sites de RI ou no site da B3.

Formulário de referência

Formulário de referência é um documento que contém um apanhado de informações relevantes sobre a empresa, como sua estrutura acionária, patrimônio, atividade que desempenha, produtos que comercializa, histórico na bolsa, política de destinação de resultados, endividamento, fatores de risco, etc.

Balanço patrimonial

O balanço patrimonial é um relatório que contém informações sobre a situação financeira e patrimonial de uma companhia. É publicado trimestralmente pelas empresas listadas na bolsa.

Ajuda a obter detalhes sobre passivos (quais as dívidas e obrigações da companhia?) e ativos (eles têm liquidez? Sofrem depreciação?).

Fluxo de caixa

Divulgado no Demonstrativo de Fluxo de Caixa (DFC), é um fundamento que permite ao investidor checar se a relação entre despesas e receitas está equilibrada e organizada ou se há risco de aumentar o endividamento.

Ebitda

Ebitda quer dizer Lucro antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização. É um número que representa a capacidade que a empresa tem de gerar lucro a partir da própria atividade operacional, sem considerar custos financeiros, tributos e desvalorização dos bens.

Lucro líquido

É o que sobra ao subtrair todos os custos das receitas. A evolução do lucro líquido com o passar dos anos é o grande objetivo de qualquer empresa.

Analise o endividamento

Empresas de capital aberto têm a meta de estar em constante crescimento, por isso é comum que contraiam dívidas para financiar ampliação no parque fabril, compra de subsidiárias, contratações, atualização do maquinário e outros tipos de investimento.

O problema é quando esses compromissos fogem do controle e há o risco de a empresa chegar a uma situação de insolvência, em que não há recursos para quitar as dúvidas.

Para analisar a situação do endividamento da companhia, há indicadores como:

  • Endividamento: divisão da dívida líquida pelo patrimônio líquido
  • Dívida líquida/Ebitda: mostra a capacidade da empresa de pagar sua dívida com os resultados operacionais
  • Índice de cobertura de juros: divisão do Ebitda pelas despesas com juros
  • Índice de endividamento geral: divisão do capital de terceiros pelos ativos totais (multiplica-se o resultado por 100 para ter o percentual)

Descubra o atual momento da empresa

Analisando a participação da empresa no mercado (market share), a evolução de suas receitas, despesas e patrimônio ao longo do tempo e notícias e informativos sobre seu planejamento estratégico, você pode identificar em que estágio ela se encontra.

Uma organização que recém abriu capital está em um momento de crescimento, e os recursos adquiridos com o IPO servem para financiar ações que aceleram essa evolução.

Algumas companhias, por outro lado, alcançam a fase da maturidade, em que é mais difícil crescer de forma orgânica, pois sua participação no mercado já bateu no teto.

No segundo caso, é comum um pagamento maior e mais constante de dividendos como forma de atrair novos investidores, enquanto ações de empresas em crescimento tendem a se valorizar por conta da evolução de seus resultados.

Mas não tome isso como regra, e sim como um exemplo de como o momento da empresa pode impactar na diversificação do seu portfólio.

Observe os múltiplos

Observe os múltiplos, ilustração

Múltiplos são indicadores calculados a partir de duas variáveis distintas de uma ação.

Eles são utilizados para filtrar a análise de ações e comparar diferentes papéis, sempre com o objetivo de qualificar a tomada de decisão do investidor.

Sempre é bom lembrar que a decisão de compra ou venda não deve ser tomada apenas com base em um indicador, mas sim depois de uma análise fundamentalista completa.

A seguir, listamos alguns dos principais múltiplos (os números de cada empresa podem ser encontrados em portais de análise fundamentalista).

Preço sobre Lucro (P/L)

Dividindo o preço da ação pelo lucro líquido por ação (LPA), temos uma pista sobre quanto o mercado está disposto a pagar pelos resultados da companhia, se os investidores estão otimistas ou desconfiados em relação ao ativo.

Preço sobre Valor Patrimonial (P/VPA)

O P/VPA é semelhante ao P/L, mas relaciona o preço da ação com o Valor Patrimonial por Ação (VPA).

Analisamos este indicador partindo da premissa de que a expectativa e atratividade de uma ação acompanham, em certa medida, a dimensão do patrimônio da empresa.

Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE)

O ROE (Return on Equity) é calculado com a divisão do lucro líquido pelo patrimônio líquido. Ajuda a avaliar a eficiência da gestão da empresa (os resultados que ela gera a partir de seu patrimônio).

EV/Ebitda

Relaciona o valor de firma (valor de mercado + dívida líquida – dinheiro em caixa) com o Ebitda. Ajuda a entender se o valor da companhia está coerente com os resultados que ela apresenta.

Dividend Yield (DY)

Indicador calculado com a divisão dos dividendos pagos nos últimos 12 meses pelo preço da ação. 

Quanto maior o dividend yield, maior a distribuição de dividendos em relação ao valor pago pelo papel.

Compare a empresa com os concorrentes

A última dica, mas não menos importante, é comparar todas as informações sobre as quais falamos aqui com os dados de empresas do mesmo segmento de mercado, consideradas concorrentes.

Sem esse passo, como seria possível avaliar se determinado ROE, por exemplo, está em um patamar aceitável? 

O indicador só é alto ou baixo se houver uma referência para compararmos.

Não cometa o erro de colocar lado a lado números de empresas que atuam em áreas distintas e não têm o mesmo modelo de negócio.

Uma siderúrgica, por exemplo, mobiliza um universo de recursos e gera produtos que pouco têm a ver com os de uma empresa que desenvolve software.

As relações entre patrimônio, lucro e preço das ações, portanto, obedecem a padrões completamente diferentes dependendo da área analisada.

LEIA TAMBÉM | Empresas de tecnologia na Bolsa: descubra quais são e como investir 

Foque no longo prazo e na diversificação

Foque no longo prazo e na diversificação, ilustração

Como ressaltamos no início deste artigo, não há como desconectar uma ação da empresa que a emitiu. Então, para avaliar o papel, temos que avaliar a companhia.

Grandes organizações, como é o caso das que negociam ações na bolsa, têm uma vida longa e administradores que planejam seu futuro no longo prazo. Não é da noite para o dia, portanto, que uma empresa se torna uma potência.

Este preâmbulo serve para convencer você da importância de investir em ações com a mentalidade de sócio, apostando no crescimento gradual no decorrer dos anos.

Não recomendamos que você utilize as dicas que apresentamos neste artigo para especular no curto prazo.

A análise dos fundamentos serve para identificar empresas com gestão sólida, transparente, boa governança e, portanto, um futuro promissor pela frente. 

E não para encontrar oportunidades para lucrar em poucas semanas ou meses.

Isso até pode acontecer eventualmente, mas a esmagadora maioria dos investidores que compram e vendem ações no curto prazo não consegue ter uma rentabilidade consistente.

Além de mirar no longo prazo, não esqueça de diversificar, aplicando em ações de empresas de diversos setores e em outras classes de ativos para diluir o risco.

LEIA MAIS | Investir em ações no curto prazo: é possível ganhar dinheiro?

Como investir em ações na Warren

A Warren é uma corretora que permite investir com eficiência, simplicidade e custo baixo.

Depois de abrir sua conta, você consegue comprar e vender ações e investir em fundos de renda variável com total agilidade.

Faça o login pelo site ou aplicativo e acesse a aba Bolsa, um espaço de negociação simples e direto. 

Basta clicar em “Buscar ativos” e digitar o código da ação ou nome da empresa.

Conclusão

Se você quer saber como analisar uma ação, a primeira coisa a ter em mente é que não existe fórmula mágica.

Há diversos números, indicadores, métodos e técnicas de análise, mas sempre haverá um grau de subjetividade e interpretação.

Estudando com calma os fundamentos das empresas, montando uma carteira diversificada e mirando no longo prazo, porém, você terá grandes chances de obter uma ótima rentabilidade.

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