BDR: o que é, como funciona e como investir em ações internacionais sem sair do Brasil  

Você já pensou em investir na Apple, Tesla, Microsoft ou Amazon sem precisar abrir conta fora do país?

Os BDRs — sigla para Brazilian Depositary Receipts — permitem que investidores brasileiros acessem o mercado internacional de forma prática, em reais, pela Bolsa de Valores do Brasil.

Nos últimos anos, esse tipo de investimento cresceu rápido. O número de investidores em BDRs passou de algumas centenas de milhares para quase um milhão, mostrando o interesse crescente por diversificação global.

Neste artigo, você vai entender o que é BDR, como funciona, as diferenças em relação às ações, quem emite, quais são os tipos e níveis existentes, além de conhecer vantagens, riscos, custos, tributação e como investir.

O que é BDR?

BDR é a sigla para Brazilian Depositary Receipt, que significa Certificado de Depósito de Valores Mobiliários. Na prática, é um recibo negociado na Bolsa brasileira (B3) que representa uma ação ou ativo emitido por uma empresa estrangeira.

Quando você compra um BDR, não está adquirindo a ação original da empresa, mas sim um título que reflete o desempenho dessa ação — tanto a sua cotação lá fora quanto a variação do câmbio entre o real e o dólar.

Em outras palavras, o BDR funciona como um “espelho” da ação estrangeira: se o papel sobe ou desce no exterior, o valor do BDR segue a mesma direção, ajustado pela variação cambial.

Essa estrutura permite que o investidor brasileiro invista em empresas globais sem sair do país, sem precisar fazer câmbio, transferir recursos ou lidar com regras de outros mercados. Tudo é feito na B3, em reais.

Como o BDR funciona?

O funcionamento dos BDRs é simples, mas envolve algumas etapas importantes.

Tudo começa com uma instituição depositária, que normalmente é um banco ou corretora. Essa instituição compra ações de uma empresa listada em uma bolsa estrangeira — como a Nasdaq, em Nova York — e as mantém sob custódia.

Com essas ações guardadas, ela emite os BDRs no Brasil, registrando o programa na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Esses recibos passam a representar, aqui, as ações originais mantidas lá fora.

Os investidores brasileiros podem, então, comprar e vender esses BDRs na B3, em reais, como fariam com qualquer ação brasileira.

A instituição depositária é responsável por:

  • Garantir o lastro entre as ações originais e os BDRs emitidos
  • Distribuir dividendos e outros proventos aos investidores
  • Divulgar informações das empresas estrangeiras ao mercado brasileiro, mantendo transparência

O valor do BDR varia conforme:

  1. O preço da ação estrangeira
  2. A cotação do dólar em relação ao real.


Ou seja, ao investir em BDR, você está exposto não só à empresa, mas também à moeda estrangeira. Essa combinação pode aumentar ganhos em alguns cenários — ou gerar perdas quando o câmbio se move na direção oposta.

LEIA MAIS | CVM: entenda tudo sobre a Comissão de Valores Mobiliários

Diferença entre ações e BDR

As ações e os BDRs têm semelhanças — ambos são ativos de renda variável, negociados na Bolsa —, mas há diferenças importantes.

Quando você compra ações brasileiras, se torna acionista direto da empresa. Tem direito a voto em assembleias, participa de decisões societárias e recebe dividendos diretamente da companhia.

No caso dos BDRs, você não é acionista da empresa estrangeira. Você compra um certificado que representa a ação.

Por isso:

  • Você não tem direito de voto nas assembleias
  • Recebe dividendos e proventos de forma indireta, repassados pela instituição depositária
  • E está sujeito à variação cambial, o que pode aumentar ou reduzir o retorno.

Em resumo: o BDR dá acesso econômico ao desempenho de uma empresa global, mas não confere participação direta na sua estrutura societária.

Quem emite os BDRs?

Os BDRs são emitidos por instituições financeiras autorizadas pela CVM, conhecidas como instituições depositárias. Essas instituições fazem a ponte entre o mercado internacional e o investidor brasileiro.

Existem duas formas de emissão:

  1. Com patrocínio da empresa estrangeira, quando há um acordo formal entre a companhia e a instituição brasileira
  2. Sem patrocínio, quando a iniciativa parte apenas da instituição financeira, sem envolvimento direto da empresa.


Essa diferença é o que define os dois principais tipos de BDRs.

Tipos de BDRs

Os BDRs podem ser classificados de acordo com o nível de envolvimento da empresa estrangeira e o grau de exigência regulatória no Brasil. Essa distinção ajuda a entender quem está por trás da emissão dos recibos e quais obrigações cada modelo tem perante a CVM e a B3.

De forma simples, há duas grandes categorias: os BDRs patrocinados e os BDRs não patrocinados. A diferença principal está em quem toma a iniciativa de trazer as ações estrangeiras para o mercado brasileiro — a própria empresa emissora ou uma instituição financeira local.

BDR patrocinado

É aquele em que a própria empresa estrangeira autoriza a emissão dos recibos no Brasil. Ela contrata uma instituição depositária local, que fica responsável por representar suas ações e facilitar a negociação na B3. Esse modelo mostra que a empresa tem interesse ativo em se aproximar do investidor brasileiro, trazendo mais transparência e presença no mercado local.

Os BDRs patrocinados são divididos em três níveis, conforme o grau de exigência regulatória e de divulgação de informações.

Nível I

  • Negociado em mercados de balcão organizados, fora do pregão tradicional da B3.
  • A empresa não precisa se registrar na CVM, o que reduz a burocracia.
  • Voltado a investidores que buscam acesso simples a ações internacionais, com menos exigências formais.
  • Tem limites de publicidade e de informações, por isso é voltado a investidores qualificados.

Nível II

  • Exige registro da empresa estrangeira na CVM, o que amplia a transparência.
  • Os BDRs passam a ser negociados diretamente na B3, com as mesmas regras das ações brasileiras.
  • A empresa deve seguir padrões de governança e divulgação semelhantes aos das companhias listadas no Brasil.
  • Esse nível é indicado para quem quer investir com maior segurança regulatória.

Nível III

É o nível mais completo de integração entre o mercado brasileiro e o estrangeiro. Exige registro integral na CVM e permite ofertas públicas no Brasil, inclusive de novas emissões. As ações originais e os BDRs podem ser negociados simultaneamente em diferentes países. Na prática, é como se a empresa estivesse listada tanto no exterior quanto no Brasil.

Os BDRs patrocinados são menos comuns, mas representam companhias com alto grau de transparência e presença global.

São ideais para investidores que valorizam a proximidade da empresa com o mercado brasileiro.

BDR não patrocinado

Nos BDRs não patrocinados, a empresa estrangeira não participa do processo. A emissão é feita por iniciativa de uma instituição depositária, que identifica oportunidades e traz para o Brasil empresas globais de grande porte — como Apple, Microsoft, Tesla, Amazon e outras.

Esse formato é mais simples e flexível, pois não depende da autorização da companhia emissora. Por isso, ele representa a maioria dos BDRs disponíveis na B3.

Esses recibos são sempre de Nível I e têm como público tanto investidores individuais quanto institucionais.

A instituição emissora é quem se compromete a manter as informações atualizadas, divulgar fatos relevantes e repassar dividendos e outros proventos aos titulares dos BDRs.

Em resumo: o BDR não patrocinado oferece acesso mais amplo e variedade de opções, enquanto o patrocinado traz mais integração e transparência regulatória. Ambos cumprem o mesmo papel de aproximar o investidor brasileiro do mercado global, cada um à sua maneira.

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Códigos de negociação

Cada BDR tem um código (ou ticker), composto por quatro letras que identificam a empresa e dois números que indicam o tipo de recibo.

Veja como funciona:

Tipo de BDRTerminação do códigoExemplo
Patrocinado Nível II32ABCD32
Patrocinado Nível III33EFGH33
Não Patrocinado34 ou 35AAPL34 (Apple), TSLA34 (Tesla)

Esses códigos seguem um padrão internacional para facilitar a identificação. Na prática, ao buscar o ativo no home broker, basta digitar o código — como faria com ações da B3.

BDR de ETF

Além de ações, existem também os BDRs de ETFs (Exchange Traded Funds), que são  fundos de índice que replicam o desempenho de mercados globais.

Os BDRs de ETFs permitem investir em carteiras diversificadas compostas por dezenas ou centenas de ações internacionais, como:

  • empresas americanas listadas no S&P 500
  • companhias japonesas do MSCI Japan
  • fundos de infraestrutura ou commodities, como ouro e prata.

Esses produtos são ideais para quem busca diversificação automática e gestão profissional, sem precisar comprar BDRs individuais de várias empresas.

Vantagens de investir em BDR

Investir em BDR é uma maneira inteligente de ampliar horizontes e reduzir a dependência do mercado local. Ele permite que você diversifique sua carteira, exponha parte do patrimônio a moedas fortes e acompanhe o desempenho de empresas que moldam a economia global — tudo sem sair da B3.

Para quem quer começar a investir no exterior com segurança e praticidade, os BDRs são uma porta de entrada acessível e regulada pela CVM. A seguir, veja as principais vantagens desse tipo de investimento.

1. Acesso a empresas globais

Os BDRs permitem que qualquer investidor brasileiro participe dos resultados das maiores companhias do mundo. É uma forma de diversificar a carteira e aproveitar oportunidades de crescimento em setores que não existem no Brasil — como tecnologia, biotecnologia ou veículos elétricos.

2. Diversificação internacional

Investir fora do Brasil ajuda a reduzir riscos locais e proteger o patrimônio contra oscilações políticas e econômicas internas. Com os BDRs, isso é possível de forma prática, sem câmbio e com total segurança regulatória.

3. Exposição ao dólar

A variação cambial pode ser aliada do investidor. Quando o dólar se valoriza em relação ao real, e o preço da ação estrangeira se mantém igual, o BDR se valoriza. Por outro lado, se o dólar cai, o movimento pode reduzir os ganhos.

Entender essa dinâmica é essencial para equilibrar a carteira e definir o percentual ideal de exposição internacional.

4. Facilidade de acesso

Tudo acontece dentro da Bolsa brasileira, com liquidação em reais e sem a necessidade de abrir conta fora do país. O processo é o mesmo usado para negociar ações, fundos imobiliários ou ETFs.

5. Tributação simplificada

Os BDRs seguem a mesma regra das ações brasileiras: 15% de imposto sobre o lucro em operações comuns e 20% em day trade. O cálculo é simples e pode ser feito pelo próprio investidor.

Riscos e desvantagens

Como qualquer investimento em renda variável, os BDRs também têm riscos e limitações que precisam ser conhecidos antes da aplicação. Compreender esses fatores é o que permite usar o produto de forma estratégica — dentro do seu perfil e com uma visão de longo prazo.

Os principais riscos estão ligados à variação cambial, à liquidez, aos custos envolvidos e à ausência de direitos societários diretos. Nenhum deles impede o investimento, mas todos exigem atenção para evitar surpresas.

1. Exposição cambial

A flutuação do dólar impacta diretamente o retorno dos BDRs. Por isso, eles são indicados para quem busca diversificação e pode tolerar variações de curto prazo.

2. Menor liquidez

Mesmo com o aumento no número de investidores, os BDRs ainda têm volume de negociação menor do que as ações brasileiras. Isso significa que pode ser mais difícil comprar ou vender grandes quantidades rapidamente.

3. Custos e taxas

As instituições depositárias podem reter parte dos dividendos (geralmente até 5%) para cobrir custos administrativos. Também podem existir taxas operacionais cobradas pelas corretoras.

4. Sem direito societário

O investidor em BDR tem direito econômico, mas não direito político. Ou seja, não participa de assembleias nem vota em decisões da empresa.

Custos e tributação

O imposto sobre ganhos com BDRs é igual ao das ações brasileiras:

  • 15% sobre lucro líquido em operações comuns (swing trade)
  • 20% em day trade
  • Sem isenção para vendas abaixo de R$ 20 mil por mês.

Os dividendos recebidos também podem sofrer retenção no exterior, de acordo com as leis do país de origem. Depois disso, são repassados ao investidor já líquidos.

É importante declarar corretamente todos os valores no Imposto de Renda. O processo é simples e segue as mesmas etapas de qualquer ativo da B3.

Como investir em BDR?

Investir em BDR é simples e pode ser feito em poucos passos:

  1. Abra conta em uma corretora habilitada a operar na B3.
  2. Acesse o home broker e digite o código (ticker) do BDR desejado.
  3. Defina a quantidade que quer comprar. Hoje, é possível adquirir apenas uma unidade.
  4. Confirme a ordem e acompanhe o desempenho.

Assim como nas ações, você pode vender o BDR a qualquer momento. O ideal é planejar o investimento de longo prazo, para aproveitar melhor as oscilações de preço e de câmbio.

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Como escolher BDRs?

Escolher BDRs é uma decisão que deve estar alinhada à estratégia da sua carteira e ao seu perfil de risco. Mesmo sendo um investimento simples de acessar, cada BDR carrega características diferentes — ligadas ao país de origem, ao setor da empresa e à volatilidade da moeda.

Antes de investir, avalie:

  • perfil de risco do investidor
  • histórico da empresa ou do ETF
  • setor de atuação (tecnologia, consumo, energia etc.)
  • estabilidade da moeda estrangeira
  • estratégia de diversificação

Investidores iniciantes podem começar com fundos ou carteiras que já incluem BDRs, administrados por gestores profissionais que monitoram o mercado internacional. Com o tempo, é possível evoluir para uma seleção própria, escolhendo as empresas com as quais você mais se identifica e confia no potencial de crescimento.

Com os BDRs, você investe em empresas globais direto da Bolsa brasileira, em reais, com praticidade e regulação da CVM. É uma forma simples de proteger o patrimônio, aproveitar novas oportunidades e dar um passo além do mercado local. Foto: Freepik

Quanto vale um BDR?

O preço de um BDR é resultado direto da combinação entre o valor da ação estrangeira, a relação de conversão entre os papéis e a cotação do dólar no momento da negociação.

Em outras palavras, o BDR funciona como um reflexo financeiro da empresa no exterior — ajustado ao câmbio. Por exemplo:

  • Se uma ação da Apple vale US$ 200 e o dólar está a R$ 5, o equivalente em reais seria R$ 1.000.
  • Mas, se o programa de BDR representa 1/10 da ação, o preço do BDR (AAPL34) será próximo de R$ 100.

Essa proporção é definida no momento da emissão e pode variar conforme o programa. Alguns BDRs representam uma fração da ação, enquanto outros equivalem a múltiplos.

Além disso, mudanças no câmbio e nas ações originais afetam o valor em reais — o que explica por que os preços podem oscilar mesmo quando o mercado brasileiro está estável.

Entender essa dinâmica ajuda o investidor a não se guiar apenas pelo preço nominal, mas a olhar o que está por trás do ativo: a qualidade da empresa, o desempenho no exterior e a relação entre risco e retorno.

FAQ

Depois de entender o que é um BDR, como ele funciona e quais são suas vantagens e riscos, é normal que ainda fiquem algumas dúvidas.

A seguir, reunimos as perguntas mais comuns sobre o tema, com respostas diretas e simples para ajudar você a investir com mais segurança e clareza.

O que significa a sigla BDR?

BDR vem de Brazilian Depositary Receipt, ou recibo de depósito brasileiro. É um título emitido no Brasil que representa ações ou outros ativos de empresas estrangeiras.

Vale a pena investir em BDR?

Para quem busca diversificação e acesso a empresas globais, sim. Mas é importante lembrar que os BDRs estão sujeitos à variação cambial e à volatilidade da renda variável.

BDR paga dividendos?

Sim. O investidor recebe os dividendos das ações estrangeiras por meio da instituição depositária, já com eventuais taxas e tributos aplicados.

Qual a liquidez do mercado de BDR?

A liquidez dos BDRs vem crescendo com o aumento do interesse dos investidores. Ainda assim, é menor do que a das ações brasileiras, o que pode limitar operações de curto prazo.

BDR: um passo simples para investir no mundo

Os BDRs tornaram o investimento internacional mais acessível para quem vive no Brasil. Eles permitem que você acompanhe o desempenho de grandes empresas globais, amplie sua diversificação e tenha parte da carteira protegida pela variação cambial — tudo isso negociando em reais, pela B3.

Mas é importante lembrar: BDR é renda variável. O preço muda conforme o mercado lá fora e o câmbio aqui dentro. Por isso, o ideal é pensar nesse investimento como parte de uma estratégia de longo prazo — aquela que equilibra risco e oportunidade, Brasil e mundo.

Entender o que é um BDR, como funciona e onde ele se encaixa na sua carteira é o primeiro passo para investir de forma mais completa. Diversificar é sobre ter opções — e, agora, elas cabem no seu portfólio sem precisar sair do país.