Nas redes sociais, existe uma profunda apologia à vantagem das empresas pagadoras de dividendos. Assim, é fácil para os milhares de novos investidores na bolsa acreditar que, sim, dividendo é ótimo.
Entre grandes nomes, no entanto, há divisão de opiniões. Nosso Warren Buffett tupiniquim, o mega investidor Luiz Barsi, um dos maiores investidores do Brasil, é adepto das empresas boas pagadoras de dividendos. O Warren original, por sua vez, é contrário a esse tipo de pagamento.
Peço licença a você, leitor, para escrever apenas um parágrafo de referências – uma nostalgia acadêmica. Como adepto das Finanças Modernas, considero a Teoria da Irrelevância dos Dividendos (Miller; Modigliani, 1961) superior à Teoria da Relevância dos Dividendos (Durand, 1959; Lintner, 1956), também conhecida como Teoria do Pássaro na Mão.
Revisando a enorme literatura de pesquisas empíricas sobre o tema, tendo a considerar que as evidências são fortes em favor do primeiro postulado, porém posso estar influenciado pelo viés da confirmação, tão bem estudado pelas Finanças Comportamentais.
Vamos a um exemplo. Imagine que você é o presidente de uma empresa que teve um ano excelente, e a assembleia geral vai decidir o destino de lucro do ano. Algumas opções são apresentadas:
Existe uma corrente, da qual Warren Buffett é um expoente, que considera pagar dividendos um fracasso da gestão da empresa, pois a obrigação dos gestores é buscar novos destinos lucrativos para o dinheiro do acionista – que, se quiser dinheiro líquido, pode vender algumas ações.
Durante seus 70 anos como empresa de capital aberto, a Souza Cruz foi uma das grandes pagadoras de dividendos do mercado de capitais brasileiro. Infelizmente, em outubro de 2015, a controladora British American Tobacco (BAT) fechou o capital da companhia. Como atuava em um mercado maduro e tinha uma capacidade produtiva em modernas plantas, suficiente para atender plenamente o mercado, preferia distribuir até 100% do lucro como dividendos.
Durante muitos anos, frequentei as reuniões com acionistas, e raramente não havia algum reclamando que a empresa deveria encontrar novos negócios. A frase típica era: “Se com um produto tão prejudicial à saúde a empresa ganha dinheiro, por que não encontrar outros mercados para investir?”.
A diretoria sempre era firme em dizer que a empresa não entraria em outros mercados, mas que o acionista poderia pegar seus dividendos e escolher outras empresas para investir.
A Microsoft, fundada em 1975, só pagou seu primeiro dividendo em 18 de fevereiro de 2003. Foram pagos US$ 850 milhões correspondentes a US$ 0,08 por ação; Bill Gates colocou no bolso US$ 96 milhões após 28 anos de trabalho duro.
Se Bill tivesse reinvestido o valor nos papéis da própria empresa, hoje seria US$ 1 bilhão mais rico. Provavelmente aquele dinheiro teve um impacto maior na vida dele em 2003 do que esse bilhão teria hoje.
Já um jovem que na época tivesse 40 ações, cerca de US$ 1 mil, poderia ter tomado uma cerveja para comemorar o dividendo ou, caso tivesse reinvestido todos os dividendos subsequentes, teria hoje cerca de US$ 14 mil.
Eu prefiro que a empresa recompre suas ações, compre concorrentes, reinvista no seu próprio negócio e, em alguns casos, reduza seu endividamento – e se eu quiser dinheiro vou ao mercado e vendo algumas ações.
Os defensores da corrente do pássaro na mão – mais vale um pássaro na mão hoje do que dois pássaros na mão amanhã – estão falando mais alto e influenciando um número grande de novos investidores a buscar pagadoras de dividendos.
Não sei qual sua preferência e o que é melhor para você, caro leitor, só espero que não embarque na certeza cega de alguns influenciadores que parecem desconhecer a longa e não conclusa batalha entre os defensores e os detratores dos dividendos.
Finalmente, lembre-se de que os dois defensores da teoria da irrelevância dos dividendos foram honrados com o Nobel de Economia – Franco Modigliani, em 1985, e Merton Miller, em 1990.
Se você gostou deste texto do Jurandir, talvez também se interesse por: