Máximo de eficiência com o mínimo de esforço.
Esse é o significado de Seiryoku Zen’Yo, princípio fundamental do judô, que destaca a importância do uso inteligente da força para realizar um objetivo.
A filosofia do esporte é valiosa para entendermos e combatermos um dos principais inimigos do bem-estar financeiro: o cansaço causado por uma rotina em que o trabalho é sempre prioridade.
Nas artes marciais, a criatura iniciante costuma gastar mais energia e se cansar muito mais do que alguém mais experiente por conta da força aplicada em ângulos e momentos equivocados e do excesso de movimentos.
O resultado desse esforço mal empregado é um desgaste significativo para um desempenho ruim, que pode comprometer severamente a motivação de quem está começando.
Entre a faixa branca e a faixa preta, o caminho passa pelo uso mais eficiente da força, evitando o desperdício de energia e preservando o corpo para o esforço que é realmente necessário.
A importância da eficiência vale tanto para os tatames quanto para a vida profissional, mas existe um detalhe que torna a relação com a carreira muito mais complicada.
Ao contrário das artes marciais, que pregam a importância de evitar o gasto exagerado de energia, o discurso sobre trabalho na cultura ocidental valoriza o esforço, o cansaço e a correria.
Uma agenda cheia de compromissos e o discurso de que a vida anda muito corrida são entendidos como sinais de virtude e sucesso.
Já o tempo disponível para o lazer, descanso e autocuidado é visto como sintoma de preguiça, comodismo e fracasso.
É como se estar ocupado o tempo inteiro fosse a própria finalidade do trabalho, gerando um estranho incentivo para que as tarefas nunca sejam concluídas, já que se desocupar significa perder o status de pessoa dedicada e virtuosa.
Segundo essa lógica, que opera de forma inconsciente na grande maioria das vezes, os resultados de toda essa dedicação não importam, assim como a qualidade dos processos; importante mesmo é permanecer com a agenda ocupada.
Para afastar a culpa pelo tempo livre e garantir a satisfação de dizer que a vida anda corrida, reuniões desnecessárias são marcadas, projetos inúteis são implementados e rotinas exaustivas são vividas.
Em vez de máximo de eficiência com o mínimo de esforço, o lema, nesse caso, é máximo de esforço — e só.
A grande contradição do sistema é glamourizar essa dedicação constante e irrefletida ao trabalho e premiar apenas os resultados alcançados, que dependem do uso eficiente do tempo, energia e demais recursos para garantir uma boa produtividade.
De forma sutil, o que se espera é que a garra desenfreada da faixa branca e a sabedoria paciente da faixa preta sejam características da mesma pessoa.
Não precisa ser especialista em artes marciais ou gestão de pessoas para entender que essa demanda simultânea por muito esforço e muita eficiência é inconciliável.
O conflito, então, é instaurado.
É melhor priorizar a otimização das tarefas e lidar diariamente com a culpa, ansiedade e angústia de não ter uma agenda lotada de atividades ou seguir o lema do suposto trabalho duro e prejudicar o crescimento financeiro e profissional por conta dos impactos na saúde mental de uma rotina exaustiva e pouco produtiva?
Em suma, um perde-perde para quem não consegue transcender essa lógica, que tem gerado cada vez mais desmotivação e adoecimento na população, além de problemas financeiros decorrentes das compras por impulso, típicas da busca por alívio do sofrimento.
Superar essa cultura introjetada de culto ao esforço é um desafio, e o primeiro passo para superá-la é tomar consciência de que ela existe e dos impactos na rotina e na saúde que pode causar.
Reflita sobre a influência que o discurso de familiares, colegas de trabalho e mídia exerce na sua relação com o trabalho. Observe se existe uma pressão implícita para que você rejeite o tempo livre e permaneça trabalhando o tempo inteiro, mesmo que seja em atividades irrelevantes ou pouco produtivas.
Para um mesmo objetivo, o caminho mais eficiente deve ser priorizado e não o mais trabalhoso ou demorado.
Deveria ser óbvio, mas toda essa pressão por ocupação do tempo demanda que o óbvio seja relembrado.
Seiryoku Zen’Yo sempre!
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