Recebi uma herança, e agora? O planejador financeiro Jurandir Sell explica o que fazer  

Herança é, sem dúvida, um dos assuntos mais controversos em finanças pessoais. As conversas sobre esse tema costumam despertar discussões com posições diametralmente opostas, mesmo entre os especialistas.

A herança, muitas vezes, é o ponto de partida para desentendimentos familiares e, por isso, frequentemente é tema de romances, peças de teatro e novelas. 

São incontáveis as famílias que rompem os laços de fraternidade na discussão da divisão do patrimônio deixado. Porém, também é inegável que a herança pode ser o elo entre gerações de uma família.

Para que a herança se torne uma alavanca no futuro familiar, é desejável que aqueles que planejam deixar um patrimônio se preparem desde muito cedo.

Um bom planejamento sucessório pode evitar que a herança adquira o indesejável destino de ser um ponto de ruptura das famílias.

O planejamento sucessório mexe com um dos sentimentos mais profundos e assustadores com que o ser humano precisa lidar durante a vida: a certeza da sua finitude. 

Assim, contar com a ajuda de especialistas facilita muito essa difícil tarefa. Quanto mais cedo alguém começa a preparar o destino da sua herança, mais fácil e eficaz se torna esse encargo

Porém, muitas vezes, os herdeiros recebem uma herança sem qualquer planejamento prévio. Isso pode ocorrer pelo falecimento precoce ou pela falta de planejamento prévio dos genitores.

No imaginário popular, os herdeiros são uma categoria de pessoas que apenas estão preocupadas em aproveitar os louros de patrimônios duramente conquistados pelos seus genitores. Vem daí aquela famosa frase: pais ricos, filhos nobres e netos pobres.

Felizmente, isso é muito menos comum do que se imagina. Como planejador financeiro, trabalhei com muitas pessoas que receberam grandes heranças. Herdeiros que, ainda hoje, trabalham duro e conseguem multiplicar o patrimônio recebido.

Outra opinião em desfavor dos herdeiros é de que a herança é apenas um enorme privilégio.

Porém, geralmente, a herança vem como uma carga a ser carregada por toda a vida de quem a recebe. Assim sendo, entre os herdeiros, é comum a vontade de passar o que receberam para as gerações futuras.

Segundo a teoria da utilidade esperada, base das finanças modernas, os investidores não têm qualquer apego “emocional” por seu portfólio de investimentos atual. 

De acordo com esta teoria, ao receber uma herança o herdeiro poderia realocar seus investimentos de acordo com sua própria vontade. Não teria, assim, qualquer dificuldade para vender ativos recebidos e comprar outros que julgue mais apropriados ao seu perfil ou ao momento econômico que esteja vivendo.

Ao contrário da teoria da utilidade esperada, as finanças comportamentais, em especial os trabalhos de Daniel Kahneman, Jack Knetsch e Richard Thaler, consideram que os investidores tendem a apresentar um forte apego a um dado status quo ou a um dado portfólio recebido como, por exemplo, por meio de uma herança. Esse efeito é chamado na literatura de efeito dotação (endowment effect) ou viés do status quo (Status Quo Bias).

Na minha tese de doutoramento eu pude comprovar que mesmo um portfólio recebido por meio de um processo aleatório tem forte influência na alocação dos ativos.

Assim, quando alguém herda um imóvel, terá muito mais dificuldade em vender esse imóvel do que se tivesse comprado o mesmo imóvel.

Lembro de um cliente que atendi há muitos anos e que recebeu uma grande fazenda de herança. Ele é médico e mora a centenas de quilômetros distante do imóvel, não se sente nem um pouco atraído pela vida agropecuária e, assim, mantém a propriedade alugada para terceiros.

Aconselhei que vendesse o imóvel e investisse em aplicações que lhe renderiam muito mais do que o aluguel que recebia, utilizando a linguagem normal neste tipo de transação, o arrendamento. 

Porém, ele se negava a fazer essa mudança. Recentemente, encontrei-me com ele e, passados mais de 20 anos, ele permanece com o bem herdado. 

Falei que atualmente existem empresas de capital aberto que, na prática, são grandes fazendas administradas profissionalmente e, assim, poderia permanecer investindo no mesmo setor, só que com uma gestão profissional. Mesmo assim, ele não pareceu muito animado em fazer a mudança.

Um dos motivos para o efeito dotação é o medo de que no futuro o bem recebido como herança venha a valorizar muito mais do que os novos investimentos e, desse modo, gerar um enorme sentimento de culpa.

Já, se o bem recebido como herança não valorizar, como poderiam valorizar os novos investimentos, não gera qualquer sentimento de culpa.

Alguns empresários profissionalizam a gestão ou abrem o capital de uma empresa para permitir que seus herdeiros possam escolher se querem continuar na empresa ou se desejam fazer algo diferente em suas vidas.

Uma herança deve ser algo que melhore a vida do herdeiro e não uma prisão a um ideal que não é dele. Isso é bastante simples em teoria, mas na prática não é nem um pouco fácil de fazer.

Contar com a assistência de bons profissionais pode ajudar muito na tarefa de gerir uma herança. 

Na Warren, contamos com profissionais que podem ajudar àqueles que recebem uma herança a refletir com calma e tranquilidade como realocar o que receberam, sem apego excessivo ao passado.

E se você é aquele que está construindo um legado e quer planejar sua sucessão, a Warren tem profissionais qualificados que podem te ajudar nesse caminho.

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