Mercado de capitais: uma análise sobre sua evolução e perspectivas para 2023  

Escrever torna nossos pensamentos, crenças e visões em algo tangível, que pode ser absorvido e transmitido de leitor para leitor ao longo do tempo. 

Quem escreve deve ter o compromisso de trazer retóricas fidedignas, o que torna a prática da escrita bastante desafiadora no contexto de hoje. 

Escrever sobre a indústria financeira é ainda mais complexo

Além dos desafios da própria escrita (a forma como comunicamos é decisiva para o entendimento), também existe a complexidade dos temas abordados. 

Falamos sobre um ambiente de mudanças rápidas, evoluções e aprimoramentos, diversas siglas e regulações

Com o disclaimer acima, saliento o meu esforço em trazer informações fiéis sobre a indústria de mercado de capitais

No conteúdo de hoje, faço um apanhado dos últimos anos do setor, bem como as perspectivas para crédito, transações de M&A, capital de risco e alguns outros tópicos que circundam esses temas e que podem movimentar o mercado em 2023.

É só continuar a leitura!

De onde viemos, para onde vamos?

Foi necessário o susto de algumas turbulências para que o ambiente apresentasse uma mudança nos últimos anos.

Tanto por parte dos participantes desse mercado — os investidores, que se tornaram mais exigentes — quanto do ponto de vista da instrumentalização do setor. Tudo evoluiu muito!

Tivemos alguns eventos relevantes, como o Plano Real, a reconstrução do Sistema Financeiro Nacional, além de fusões, aquisições e liquidações entre a década de 90 e 2002 que forçaram o aprimoramento do mercado. 

Segundo um relatório da Anbima, entre 1994 e 2001, foram extintas 51 instituições bancárias, sendo 37 SCTVM (Sociedades Corretoras de Títulos e Valores Mobiliários) e 23 SDDTVMs (Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários). 

De 1997 até 2020, passamos por uma redução de 2.793 instituições financeiras para 1.631.

Segundo esse mesmo relatório, no início de seu mapeamento, em 1997, haviam 92 instituições que realizaram R$ 19,3 bilhões em operações de mercado de capitais.

Somente de janeiro a outubro de 2022, as emissões de mercado de capitais somaram R$ 365,5 bilhões, considerando instrumentos de renda variável, renda fixa e híbridos.

Ao longo dessa jornada, é interessante destacarmos o papel vanguardista que o regulador vem ocupando ao incorporar novas ferramentas de captação para esse mercado.

Basicamente, em 1997, existiam 04 instrumentos: Ações, Debêntures, Fundos Imobiliários e Notas Promissórias

Atualmente, esse quadro cresceu muito, possuindo diversas possibilidades, como BDRs, CEPACs, CRIs, CRAs, ETFs, FIDCs, Notas Comerciais, Crowdfunding e até emissões digitais (tokens, blockchain, NFTs etc).

Todas essas inovações contribuem para que o tomador de recursos e para que o investidor acessem um cardápio cada vez mais robusto e eficiente de possibilidades

Reparem no impacto que uma inovação regulatória dada como um incentivo à indústria agro e imobiliária, como a isenção de Imposto de Renda para Pessoa Física que investem em CRIs e CRAs, pode trazer ao tomador de crédito e ao investidor.

Esse tipo de movimento é extremamente benéfico, pois aumenta a competitividade e mais eficiência para o mercado financeiro.

Vindo mais para a atualidade, vemos alguns movimentos que merecem certa atenção.

Desde 2016, uma nova agenda vem sendo traçada pelo Banco Central e o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), que adotaram um posicionamento que vem impactando a capacidade dessas instituições de absorver as demandas de capital. 

Como consequência, a indústria de mercado de capitais vem tentando absorver parte desse mercado. 

Segundo o Valor Econômico, em 2022, 79% do saldo total de dívidas das companhias estavam alocados em operações de dívidas e crédito com recursos livres corporativos, ante 61% no final de 2016.

Esse movimento, somado às inovações regulatórias, refletem um novo padrão de financiamento das empresas no Brasil, que pode ser melhor destacado na imagem abaixo:

Fonte: Valor Econômico

Outros movimentos importantes podem ser destacados, como a evolução do acesso ao capital via fundos de capital de risco (Venture Capital, Private Equity e Venture Debt) e Crowdfunding que, apesar dos desafios de 2022, tiveram uma importante participação na concessão de capital ao empresário. 

Considere:

VC = Venture Capital

PE = Private Equity

Fonte: Intralinks Pitchbook Latam
Fonte: Intralinks Pitchbook Latam

Foram vários os setores beneficiados pela atividade deste fundos nos últimos anos, como consta no gráfico abaixo: 

Fonte: Intralinks Pitchbook Latam
Fonte: Intralinks Pitchbook Latam

Para M&As, 2022 também foi um ano de retrações

Segundo o relatório do IDeals, tivemos uma queda de 15% no volume de negócios quando comparamos com 2021, e uma queda de 40% no valor dos negócios realizados quando comparados a essa mesma data. 

Vários fatores contribuíram para esse movimento, como instabilidade política, elevação da taxa de juros, a inflação e o câmbio. 

Segundo o relatório da TTR, os setores de Tecnologia, Financeiro e de Seguros foram os que lideraram as transações em 2022.

Fonte: M&A Community Brasil.
Fonte: M&A Community Brasil.

Perspectivas para 2023

Com a maior estabilidade interna, a tendência é que tenhamos uma perspectiva mais favorável para transações de M&A em 2023, mas que ainda assim devem continuar acontecendo a passos cautelosos. Um fator importantíssimo é a confiança do empresário em relação ao ambiente político, inflação e crescimento do país.

Tudo leva a crer que o ambiente de juros altos favorece mais o acesso ao capital via emissão de dívida dentre as alternativas de acesso a capital.

Um fator que pode favorecer o investidor é o novo patamar de juros, que beneficia as aplicações em renda fixa e que, portanto, podem impulsionar o mercado de crédito. 

Mas ainda estamos dentro de uma janela com incertezas que podem afetar o cenário macro e que faz com que tanto o tomador quanto o investidor possam postergar o processo de decision making causando um mais um hiato na indústria.

Por outro lado, existe uma agenda inovativa por parte do regulador (Banco Central e CVM) que poderá trazer algum tipo de compensação ao mercado. 

Dentro dessa agenda, temos novas regulações que revisam a estrutura dos fundos de investimentos, revisam o formato de ofertas públicas, crowdfunding, FIDCs e outros tópicos que beneficiam a indústria de mercado de capitais. 

Ainda não é uma agenda 100% madura e seus efeitos demoram para ser capturados pelo mercado, mas com certeza trarão uma série de benefícios de médio e longo prazo.

Através da busca pelo conhecimento, prática e melhoria contínua nos tornaremos cada vez mais capazes de capturar oportunidades e nos proteger das adversidades. 

O mais importante é obtermos um campo de visão amplo que nos permita acertar mais do que errar. 

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