O mito do mês atípico  

Quando o assunto é finanças pessoais, uma das queixas mais frequentes se refere ao rombo no orçamento causado por gastos excepcionais.

Existe até uma expressão para descrever esses momentos em que os gastos fogem da esperada normalidade: mês atípico.

O tal do mês atípico geralmente é associado a situações que demandam um gasto maior de dinheiro com itens que não fazem parte da rotina, como consultas, viagens, eventos e aniversários.

Um detalhe curioso nessa história do mês atípico é que, ao longo do ano, o discurso de atribuir o custo de vida elevado a alguma excepcionalidade que não ocorrerá novamente costuma aparecer várias e várias vezes.

De tanto ouvir as pessoas comentando sobre meses atípicos, um questionamento passou a me inquietar: como algo que é supostamente atípico acontece com tanta frequência? 

Ao notar que a dita exceção era uma regra, a minha conclusão foi de que o famoso mês atípico, na verdade, não existe.  

O mito do mês atípico supõe que todos os outros meses seguem uma regularidade. Se essa premissa fosse verdadeira, o custo de vida seria razoavelmente constante, mas a realidade é bem diferente desse padrão imaginário.

Os gastos mensais com moradia, transporte, alimentação, lazer e demais itens da rotina compõem boa parte do orçamento, mas existem outros gastos que também precisam ser considerados nessa conta, mesmo não sendo recorrentes.

Nosso custo de vida oscila significativamente ao longo do ano por conta de celebrações, datas comemorativas, férias, procedimentos médicos e demais gastos que podem ser chamados de eventuais, sazonais ou esporádicos.

Se as despesas eventuais são desconsideradas, o próprio custo de vida é subestimado. Com essa percepção distorcida sobre a proporção dos gastos, o risco de assumir compromissos financeiros inviáveis é altíssimo, o que pode gerar dívidas e comprometer o bem-estar financeiro e a capacidade de poupar.

Quando sugiro que seja feita uma lista dos gastos eventuais para cada mês do ano, as pessoas costumam sentir dificuldade em lembrar destas possíveis despesas, justamente por não terem o hábito do planejamento.

Para facilitar esse exercício, compartilho aqui uma lista dos gastos eventuais que você não pode esquecer de incluir no seu orçamento.

Aniversários: o seu e os de pessoas queridas às quais você costuma dar presentes ou comparecer nas festas. Lembre também do aniversário de namoro/casamento, se for o caso.

Datas comemorativas: Carnaval, Páscoa, Dia das Mães, Festa Junina, Dia dos Namorados, Dia dos Pais, Dia das Crianças, Black Friday, Natal e Reveillon.

Consultas: dentista, nutricionista, psiquiatra e demais profissionais particulares com frequência periódica.

Carro: IPVA, licenciamento, seguro e revisão.

Estética: corte de cabelo e demais procedimentos estéticos.

Feriados: viagens e passeios.

Vestuário: compras sazonais, como no início de cada estação ou antes do Natal, por exemplo.

Eventos: shows, congressos e exposições.

Escola: matrícula, material escolar e uniforme.

Como você notou, a lista é longa e, olhando para ela, é possível constatar o quão ilusória é a ideia de que o custo de vida se resume aos gastos rotineiros.

Cada mês tem uma dinâmica de gastos diferente — e o seu planejamento financeiro precisa considerar as despesas específicas de cada época do ano para evitar sustos com esses gastos que parecem imprevistos, mas já têm data e hora marcada para acontecer.

Não existe mês atípico porque não existe mês típico.

Até o próximo texto!


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