A taxa Selic está em 15% ao ano, conforme decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) tomada em 17 e 18 de setembro de 2025. A próxima reunião, marcada para 30 e 31 de outubro, deve manter o tom de cautela diante de um cenário global ainda pressionado por juros altos e inflação persistente.
Mais do que um número que aparece no noticiário, a Selic é o termômetro dos juros no Brasil. Ela define quanto custa pegar dinheiro emprestado, quanto rendem os investimentos mais seguros e, de forma indireta, influencia o preço de quase tudo o que consumimos.
Entender a Selic é entender como o Banco Central conduz a economia.
Neste artigo, você vai ver o que é essa taxa, como ela é definida, por que é tão importante e de que forma ela afeta o seu dinheiro — no crédito, nas aplicações e nas decisões do dia a dia.
Indice
A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira, referência para todas as outras taxas cobradas ou pagas no país. O nome vem do Sistema Especial de Liquidação e Custódia, plataforma do Banco Central que registra e liquida operações com títulos públicos federais.
Esses títulos funcionam como uma espécie de empréstimo que o governo faz com o mercado. Quando o Tesouro Nacional vende um título, ele promete recomprá-lo no futuro por um valor maior. A diferença entre esses valores é o juro, e é daí que nasce a Selic.
Em resumo, a Selic representa o custo do dinheiro. Quando ela sobe, pegar crédito e investir fica mais caro. Quando cai, o crédito se torna mais acessível e o consumo tende a crescer. Por isso, é conhecida como a “taxa-mãe” dos juros brasileiros: todas as demais taxas — de empréstimos, financiamentos e aplicações — partem dela.
A Selic é definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), formado pelo presidente e diretores do Banco Central do Brasil. O grupo é quem decide se a taxa deve subir, cair ou permanecer no mesmo nível, de acordo com o cenário econômico.
O objetivo é manter a inflação dentro da meta sem comprometer o crescimento da economia. Quando os preços sobem demais, o Banco Central aumenta a Selic para conter o consumo. Quando a atividade enfraquece, pode reduzir os juros para estimular o crédito e o investimento.
As decisões do Copom são sempre públicas. Logo após cada reunião, o Banco Central divulga um comunicado oficial com a nova taxa e, alguns dias depois, publica a Ata do Copom, que explica os motivos da decisão e as perspectivas para os próximos meses. Essa transparência é o que dá previsibilidade às decisões e ajuda o mercado — e a sociedade — a ajustar suas expectativas.
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A agenda do Copom é definida com antecedência pelo Banco Central e serve como um guia para o mercado. Essas datas ajudam analistas, investidores e empresas a antecipar cenários e planejar decisões de crédito, investimento e precificação.
Cada reunião dura dois dias. No primeiro, a equipe técnica apresenta os dados mais recentes sobre inflação, câmbio, atividade econômica e cenário internacional. No segundo, os diretores do Banco Central deliberam e votam o novo patamar da Selic.
| Reunião | Datas | Decisão | Taxa Selic (a.a.) | 
| 1ª | 30–31 jan | Aumento de 1,0 pp | 13,25% | 
| 2ª | 18–19 mar | Aumento de 1,0 pp | 14,25% | 
| 3ª | 7–8 mai | Aumento de 0,5 pp | 14,75% | 
| 4ª | 18–19 jun | Aumento de 0,25 pp | 15,00% | 
| 5ª | 30–31 jul | Manutenção | 15,00% | 
| 6ª | 17–18 set | Manutenção | 15,00% | 
| 7ª | 30–31 out | Próxima reunião | — | 
| 8ª | 10–11 dez | — | — | 
O calendário de 2025 mantém o intervalo tradicional de 45 dias entre as reuniões, o que dá previsibilidade à política monetária e tempo suficiente para observar os efeitos das decisões anteriores na economia.
Veja a seguir, o histórico de decisões do Copom de 2023 a 2025:
| Ano | Mês | Taxa Selic (a.a.) | Decisão | 
| 2025 | Set | 15,00% | Mantida | 
| Jul | 15,00% | Mantida | |
| Jun | 15,00% | +0,25 pp | |
| Mai | 14,75% | +0,50 pp | |
| Mar | 14,25% | +1,00 pp | |
| Jan | 13,25% | +1,00 pp | |
| 2024 | Dez | 12,25% | +0,50 pp | 
| Out | 11,75% | +0,50 pp | |
| Ago | 11,25% | +0,50 pp | |
| Jun | 10,75% | +0,50 pp | |
| Abr | 10,25% | +0,25 pp | |
| Fev | 10,00% | — | |
| 2023 | Dez | 9,75% | — | 
| Out | 9,50% | — | |
| Ago | 9,25% | — | |
| Jun | 9,25% | — | |
| Mar | 9,50% | — | 
O ciclo de alta iniciado em 2024 reflete uma resposta à elevação da inflação global e à recomposição do prêmio de risco interno. Já a manutenção em 15% no segundo semestre de 2025 indica um período de estabilidade, com o Banco Central observando os efeitos acumulados das decisões anteriores.
A Selic mensal é a variação acumulada da taxa no período, usada para calcular rendimentos de investimentos indexados à Selic.
| Mês | Variação acumulada (%) | 
| Janeiro | 1,08 | 
| Fevereiro | 1,10 | 
| Março | 1,18 | 
| Abril | 1,21 | 
| Maio | 1,23 | 
| Junho | 1,25 | 
| Julho | 1,22 | 
| Agosto | 1,20 | 
| Setembro | 1,24 | 
Embora o termo “Selic” seja usado de forma genérica, na prática ele se divide em duas versões: Selic Meta e Selic Over (ou efetiva).
Essas transações acontecem todos os dias no mercado interbancário e refletem o custo real do dinheiro em circulação. O Banco Central atua continuamente comprando ou vendendo títulos públicos para fazer a Selic Over convergir à meta definida.
Na prática, a diferença entre as duas é pequena — geralmente de centésimos de ponto percentual —, mas o funcionamento conjunto delas é o que mantém a estabilidade e a previsibilidade dos juros no país. Enquanto a Selic Meta orienta as decisões, a Selic Over mostra o que de fato acontece no mercado.
O cálculo da Selic efetiva (ou Selic Over) é feito diariamente pelo Banco Central, com base nas taxas de juros cobradas nas operações de empréstimo entre instituições financeiras que usam títulos públicos como garantia.
Essas operações têm prazo de um dia útil — o que explica o termo ‘overnight’.” Ao final de cada sessão, o Banco Central calcula a média ponderada das taxas aplicadas e divulga o resultado que representa o custo efetivo do dinheiro no sistema financeiro.
Já a Selic Meta é definida nas reuniões do Copom, com base em uma ampla análise de dados: inflação, câmbio, atividade econômica, mercado de trabalho e cenário internacional. É uma decisão que equilibra dois objetivos: estimular o crescimento econômico e manter a inflação sob controle.
Para que a taxa de mercado (Selic Over) se mantenha próxima da meta, o Banco Central realiza operações de mercado aberto. Essas intervenções consistem em comprar ou vender títulos públicos:
Esse mecanismo mantém o equilíbrio entre oferta e demanda de moeda, garante previsibilidade e faz com que a Selic funcione como uma âncora para toda a estrutura de juros da economia.
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A Selic é o principal instrumento usado pelo Banco Central para controlar a inflação e regular o ritmo da economia. Quando o Comitê de Política Monetária (Copom) ajusta a taxa, ele sinaliza como enxerga o equilíbrio entre crescimento e estabilidade de preços.
Se a inflação está alta, o Banco Central eleva os juros para frear o consumo e conter os preços. Se a economia desacelera, reduz a taxa para estimular o crédito e o investimento.
A Selic também influencia:
Por isso, ela é considerada uma referência de credibilidade econômica.
Mudanças na Selic são acompanhadas de perto por bancos, empresas e investidores, porque refletem as expectativas do mercado sobre o futuro da economia brasileira.
A Selic tem impacto direto nas suas finanças, mesmo que você não perceba de imediato. Ela define quanto você paga em juros e quanto pode ganhar em aplicações financeiras.
Com a Selic em alta, o custo do crédito sobe. Empréstimos, parcelamentos e financiamentos ficam mais caros, o que reduz o consumo e ajuda a controlar a inflação. Quando a taxa cai, o crédito fica mais acessível e a economia tende a girar mais rápido.
A Selic é o parâmetro para o rendimento de títulos públicos e privados. Com juros elevados, aplicações como Tesouro Selic, CDBs, LCIs e LCAs oferecem variação mais alta, tornando-se mais atrativas para quem busca segurança.
Em períodos de queda, esses investimentos rendem menos, e investidores costumam olhar para a renda variável em busca de melhores oportunidades.
A poupança tem sua remuneração atrelada à Selic. Quando a taxa básica está igual ou abaixo de 8,5% ao ano, o rendimento é de 70% da Selic + TR (Taxa Referencial). Com a Selic acima desse nível, como em 2025, o ganho é de 0,5% ao mês + TR — o que a torna menos competitiva em comparação à renda fixa atrelada à Selic ou ao CDI.
Com a Selic elevada, investidores preferem aplicações seguras, e as empresas veem seu custo de crédito aumentar. Quando a taxa cai, o movimento se inverte: a renda variável ganha força, e setores ligados ao consumo e à construção tendem a se valorizar.
A Selic e o CDI (Certificado de Depósito Interbancário) andam praticamente juntos, mas não são a mesma coisa. Enquanto a Selic reflete o custo do dinheiro nas operações com títulos públicos, o CDI mostra o custo das operações entre bancos.
Na prática, o CDI costuma ficar ligeiramente abaixo da Selic, com diferença média de 0,1 a 0,2 ponto percentual. Por isso, ele é usado como referência para a remuneração de investimentos privados, como CDBs e fundos DI.
A lógica é simples:
Essa correlação torna o CDI um espelho da política monetária. Para o investidor, entender essa relação é essencial para comparar rendimentos e escolher onde aplicar de forma mais eficiente.
A Selic também está diretamente ligada à inflação, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). É o IPCA que serve de base para a meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e perseguida pelo Banco Central.
Quando o IPCA sobe além do previsto, o Banco Central aumenta a Selic para conter o consumo e segurar os preços. Quando o índice recua, há espaço para reduzir os juros e estimular a atividade econômica.
A meta de inflação para 2025 é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o Banco Central busca manter a variação de preços entre 1,5% e 4,5% ao ano.
A relação entre Selic e IPCA é de equilíbrio: a taxa de juros precisa ser alta o bastante para conter a inflação, mas não tanto a ponto de travar o crescimento. É esse balanço que guia as decisões do Copom e molda o cenário econômico do país.
Entender a Selic é entender como ela afeta:
A Selic vai muito além de um número divulgado a cada reunião do Copom. Ela é o ponto de partida de todas as taxas de juros do país — o centro em torno do qual giram o crédito, o investimento e o controle da inflação.
Quando o Banco Central ajusta a Selic, está, na prática, regulando o ritmo da economia: estimulando o crescimento ou freando o consumo para conter os preços. Essas decisões afetam diretamente a vida de quem toma empréstimos, investe, faz compras parceladas ou tenta planejar o orçamento com mais previsibilidade.
Acompanhar a Selic é acompanhar o pulso da economia brasileira. Mesmo que pareça distante, ela influencia o rendimento da renda fixa, o custo de um financiamento e até as perspectivas de emprego e consumo. Entender suas variações é uma forma de tomar decisões financeiras mais conscientes — saber quando investir, quando esperar e como proteger o seu dinheiro.
No fim, observar a Selic é entender o próprio país. Ela traduz o humor da economia, as expectativas sobre inflação e o caminho que o Brasil busca seguir entre estabilidade e crescimento.