Como a inflação impacta as empresas da bolsa?  

Aqui no Brasil, temos um histórico nada agradável quando o tema é inflação.

Até meados da década de 1990, era comum receber o salário e ir direto ao supermercado fazer as compras do mês, com medo do dinheiro perder valor da noite para o dia e não ser suficiente para comprar a mesma quantidade de produtos ao amanhecer.

Afortunadamente, depois da estabilização do real e da criação do regime de Metas de Inflação, não sofremos com nenhum outro episódio inflacionário dramático.

No entanto, conforme observado no gráfico a seguir, flertamos diversas vezes ao longo da história recente com taxas de inflação acima de dois dígitos.

IPCA, 12 meses - Gráfico

Neste artigo, não vou me estender muito sobre os componentes da inflação no Brasil e tampouco vou entrar em detalhes sobre os núcleos e tendências. 

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O foco desta coluna será avaliar o impacto inflacionário para as principais empresas listadas na bolsa de valores brasileira, identificando setores que conseguem se proteger e outros que acabam sofrendo mais do que a média.

Como a inflação afeta a economia?

A inflação é um fenômeno que afeta a economia de forma geral e reduz o poder de compra da população, impactando principalmente os mais pobres.

Dado que as empresas são relutantes em conceder aumentos para os funcionários, existe uma rigidez natural nos salários, que não costumam acompanhar tão rapidamente o ritmo de alta de preços da economia.

Um gráfico que impressiona é a variação dos salários reais no Brasil. Comparando o primeiro trimestre de 2022 com o mesmo período de 2021, estamos cerca de 7% mais pobres.

Salários reais no Brasil, gráfico

Se as pessoas, em geral, estão mais pobres, existe uma menor propensão ao consumo. 

A consequência natural para as famílias é revisitar orçamentos e cortar gastos, principalmente aqueles considerados como supérfluos.

Os indivíduos passam a priorizar produtos essenciais, em detrimento de outros menos necessários.

Em paralelo, as empresas também sofrem com custos mais elevados e nem sempre conseguem repassar preços para os consumidores.

O setor, nicho de atuação e outras vantagens competitivas associadas à marca e ao patrimônio intangível de cada companhia vão determinar a capacidade de resiliência diante de um cenário de inflação alta.

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Quais os setores que mais perdem?

Setores mais afetados por variáveis macroeconômicas como inflação, crescimento do PIB e taxa de juros são denominados cíclicos.

Empresas cíclicas podem ser boas opções de investimento em momentos de crescimento econômico, quando a receita e as margens são ampliadas consideravelmente.

Normalmente, em momentos de “bull market”, os resultados positivos nos balanços dessas empresas são absorvidos nas ações listadas em bolsa.

Por outro lado, quando o ciclo é desfavorável, elas tendem a ser mais penalizadas do que a média e isso pode comprometer boa parte do capital investido.

Um dos setores mais dependentes do cenário macroeconômico é o varejo.

No caso do Brasil, o efeito é ainda mais alarmante, dado que mais de 60% do nosso PIB vem do consumo das famílias.

O gráfico a seguir está dividido em dois painéis e mostra justamente essa relação. 

O painel superior apresenta a relação entre as vendas do varejo e a atividade econômica, enquanto o painel inferior ilustra a importância do consumo para o PIB.

PIB, Vendas do Varejo, Consumo / PIB, Gráfico

Não há dúvidas de que o setor de consumo é impactado mais severamente pela inflação e nível de atividade econômica, mas será que só vale a pena investir em empresas de varejo quando a economia está crescendo?

Não necessariamente…

Existem basicamente duas grandes classificações para empresas de consumo: básico ou discricionário.

O termo “consumo básico” representa o conjunto de produtos essenciais utilizados por consumidores, tais como alimentos e bebidas, bens domésticos, produtos de higiene, medicamentos, álcool e tabaco. 

Estes itens são menos suscetíveis a cortes por conta de restrições orçamentárias, independentemente da situação financeira dos indivíduos.

Os produtos de consumo básicos são considerados não cíclicos, o que significa que são sempre procurados, independentemente do estado da economia.

Por outro lado, “consumo discricionário” é um termo utilizado para classificar bens e serviços que são considerados não essenciais pelos consumidores, mas desejáveis se a renda disponível for suficiente para adquiri-los.

Exemplos de produtos discricionários de consumo podem incluir bens duráveis como automóveis e eletrônicos, roupas, calçados, serviços e atividades de entretenimento.               

As companhias que oferecem estes tipos de produtos são classificadas como empresas de consumo cíclico.

O gráfico abaixo mostra a diferença de performance entre dois índices calculados pela Refinitiv que representam empresas de consumo básico (não-cíclico) e discricionário (cíclico) listadas na B3, comparativamente ao Ibovespa.

Índices de Consumo, Gráfico

O gráfico mostra claramente que o setor de consumo discricionário apresenta oscilações mais agressivas, dependendo do ciclo econômico.

O efeito renda

Outro ponto importante para se levar em consideração é a sensibilidade dos produtos e serviços da empresa ou setor analisado em relação à renda das famílias.

Companhias cujo público alvo pertence majoritariamente aos segmentos A e B tendem a ser menos impactadas do que seus concorrentes inseridos em nichos de menor renda.

Empresas como Arezzo e Grupo Soma, por exemplo, apesar de estarem inseridas no segmento de varejo de roupas e acessórios, atendem um público de maior renda, menos impactado pela inflação, e acabam sendo impactadas de forma mais branda.

ARZZ3, SOMA3, ICON, Inflação, Gráfico

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Quais os setores menos impactados?

Bom, já vimos como a inflação impacta nas decisões de consumo dos indivíduos e consequentemente no resultado das empresas de varejo listadas na bolsa de valores.

Da mesma forma, vale ressaltar que alguns outros setores como imobiliário e tecnologia também acabam sendo bastante impactados pelo cenário macroeconômico, em maior ou menor grau, dependendo do tipo de atividade fim de cada empresa.

No final das contas, a verdade é que todos somos impactados pela alta dos preços e ninguém gosta de inflação.

No entanto, existem alguns setores menos sensíveis à altas de preços.

O setor elétrico, por exemplo, acaba sendo menos prejudicado por conta de sua perenidade e perspectiva de repasses ao consumidor final via ajustes tarifários.

Empresas de energia elétrica costumam ter contratos de longo prazo com governos que são reajustados automaticamente por indicadores de inflação.

Outro exemplo é o setor de saúde. Independentemente da inflação dos últimos meses, as pessoas adoecem da mesma forma e compram os remédios e medicamentos necessários quando precisam.

Por último, empresas produtoras de commodities agrícolas, metálicas e energéticas podem até mesmo se beneficiar de um ambiente inflacionário, caso a elevação de preços seja motivada por uma alta das matérias primas.

Empresas de commodities definem seus preços de venda de acordo com os mercados internacionais e conseguem repassar facilmente as cotações de mercado para o consumidor final caso não haja nenhuma restrição por parte de órgãos reguladores.

O último gráfico deste artigo mostra justamente esse movimento capturado através dos principais índices setoriais da bolsa de valores brasileira ajustados para uma data base anterior a pandemia de Covid-19.

Índices da B3, Gráfico

Naturalmente, o índice IMAT, composto por empresas ligadas aos setores de commodities, foi o que melhor performou no período. 

Em seguida vem o setor elétrico, representado pelo índice IEE, que oferece uma opção de investimento mais perene e resiliente, composto por empresas que conseguem repassar a inflação nos reajustes tarifários. 

Por outro lado, índices mais suscetíveis à atividade econômica, como o ICON e IMOB, foram aqueles que mais sofreram no período.

Como aproveitar o conteúdo desse artigo para aplicar o seu dinheiro?

Bom, agora que discriminamos o impacto da inflação para as empresas listadas na bolsa de valores, imagino que você esteja pensando em como poderia dominar os ciclos econômicos e decidir em quais empresas investir o seu dinheiro.

Acontece que essa não é uma tarefa fácil, exige tempo e dedicação.

A boa notícia é que isso é exatamente o que analisamos com muita dedicação aqui na Warren, todo santo dia.

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Para finalizar, espero que tenha gostado do artigo, e aproveito para avisar que estou totalmente aberto para dúvidas e sugestões, que costumo responder no meu perfil pessoal do Instagram (@fredpnobre).

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