Commodities são materiais em estado bruto, como petróleo, minério de ferro, celulose ou soja, que compõem uma parte extremamente relevante da indústria brasileira, principalmente no cenário de exportação.
Recentemente, elas voltaram a ser assunto do mercado financeiro. Isso porque, um ano após o surto inicial da Covid-19, a economia internacional começa a dar indícios de recuperação.
O tombo de 4,3% do PIB global em 2020 pode ser sucedido pelo crescimento de até 4% em 2021, segundo uma estimativa recente do Banco Mundial.
Em meio ao avanço da vacinação e às medidas de estímulo fiscal aprovadas por governos, lojas e fábricas reabrem as portas e o setor produtivo global retorna gradualmente aos níveis de atividade pré-pandemia.
Um dos resultados deste processo é a forte valorização das commodities no mercado internacional.
Alguns especialistas do mercado já preveem o início de um novo “superciclo das commodities”, como foi observado ao longo dos anos 2000.
Mas o que são exatamente as commodities?
Como o Brasil se beneficia desta alta e quais oportunidades de investimentos que isso gera?
Vamos responder a essas e outras dúvidas sobre o tema neste artigo da Warren.
Confira!
Indice
Tipicamente, as commodities são materiais em estado bruto ou primário produzidos pelas indústrias de base. Estes bens são considerados essenciais para virtualmente todo o setor produtivo e, por isso, têm alta demanda e peso na economia global.
Elas costumam ser divididas em duas grandes categorias:
Mas o que estes produtos têm em comum?
Por definição, o termo “commodity” refere-se a um bem que pode ser produzido em larga escala com pouca variação de qualidade, independente de sua origem.
Esta característica facilita a padronização dos preços de uma commodity no mercado internacional.
Isso significa, por exemplo, que o preço global de uma saca de soja brasileira é o mesmo da soja produzida nos EUA, Argentina, China ou Índia.
Esta padronização das commodities pode ser limitada por alguns critérios.
O petróleo bruto, por exemplo, utiliza dois tipos de petróleo como referências: o WTI, produzido pelos EUA, e o Brent, extraído do Mar do Norte europeu.
Existe ainda a classe das commodities financeiras, que incluem moedas e títulos públicos.
Estes ativos não são insumos industriais, mas têm alta liquidez e demanda global.
Neste artigo, vamos focar nas commodities físicas.
Para saber mais sobre as commodities financeiras, você encontra guias de investimentos em dólar e títulos públicos aqui no blog da Warren.
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Historicamente, o Brasil é um dos maiores exportadores globais de commodities.
Ao longo dos séculos, o crescimento econômico brasileiro esteve profundamente ligado à produção de matérias-primas e bens agropecuários de valor internacional.
Cerca de 65% das exportações brasileiras são commodities, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O país lidera as exportações mundiais nos mercados de soja, café, açúcar, laranja e carne bovina.
O agronegócio, principal exportador de commodities no Brasil, encerrou o ano passado com saldo positivo de US$ 100,81 bilhões, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Em termos de valor exportado, as três principais commodities brasileiras são a soja, o minério de ferro e o petróleo.
Em 2020, a receita total gerada por estes bens ultrapassou US$ 83 bilhões, de acordo com o Comex Stat do Ministério do Desenvolvimento.
A seguir, vamos listar as principais commodities produzidas pelo Brasil, classificados de acordo com o valor exportado em 2020:
Nos últimos três anos, o Brasil manteve a liderança mundial em exportação de soja. Quase metade de toda a soja consumida no planeta hoje é de origem brasileira.
A soja em grãos serve como matéria-prima para a indústria alimentícia, e também como insumo para a produção de biodiesel.
Já o farelo de soja é utilizado na alimentação de aves e suínos, tendo papel essencial na indústria de carnes.
Dos US$ 35 bilhões que o Brasil exportou em soja no ano passado, cerca de 60% (US$ 20,9 bilhões) foram comprados pela China.
Um dos elementos mais comuns da crosta terrestre, o ferro é o metal mais utilizado em todas as indústrias.
Cerca de 95% do ferro extraído no planeta é destinado à produção de aço.
Além de ter a segunda maior reserva global de ferro, o Brasil é também o segundo maior exportador do mineral bruto.
A indústria brasileira ocupava a liderança global até 2020, mas perdeu a posição para a Austrália em meio ao impacto da pandemia sobre a produção.
Assim como a soja, a maior parte do minério de ferro brasileiro é comprada pela China, responsável por 71% (US$ 18,5 bilhões) das importações.
A terceira maior exportação brasileira é o petróleo bruto. Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), o Brasil produziu média de 2,94 milhões de barris por dia em 2020, ocupando o 10º lugar entre os maiores produtores mundiais de petróleo.
A commodity energética tem papel central na economia brasileira.
A Petrobras (PETR3/PETR4), uma das maiores empresas brasileiras, atingiu recorde de produção diária no ano passado e é a segunda maior corporação do mundo em operações no oceano.
Novamente, a China figura como a maior importadora de petróleo do Brasil.
Em 2020, o país asiático teve participação de 57% (US$ 11,34 bilhões) nas vendas brasileiras da commodity.
Analisar a história da economia brasileira sem falar em açúcar é uma tarefa virtualmente impossível.
Desde o período colonial, o país tem grande participação no mercado global do produto, e é hoje o maior produtor e exportador mundial da commodity.
Considerando todo o complexo sucroalcooleiro — que inclui açúcar, cana e álcool —, as exportações brasileiras no setor chegaram a quase US$ 10 bilhões em 2020.
No ano passado, o setor sucroalcooleiro representou a quarta principal commodity agrícola brasileira, responsável por 9,9% das exportações do agronegócio.
A carne de boi do Brasil é a mais consumida do mundo.
Em 2020, o volume de carne bovina exportado pelo país atingiu o recorde de 2,016 milhões de toneladas, e a receita chegou a US$ 8,4 bilhões.
A indústria brasileira também tem alta participação nos mercados de carne suína e de aves.
No total, o saldo das exportações de carne do Brasil somou US$ 17,16 bilhões no ano passado.
Além de ser a matéria-prima para a fabricação de papel, a celulose tem papel na produção de tecidos, aditivos alimentares e comprimidos.
Os principais compradores da celulose brasileira em 2020 foram China (US$ 2,8 bilhões), EUA (US$ 944 milhões) e Itália (US$ 487 milhões).
Embora o milho seja um ingrediente básico da culinária em muitos países, seu principal uso é na alimentação animal.
De acordo com a Embrapa, esta é a finalidade de cerca de 70% do milho consumido no mundo.
Considerando todo o mercado de cereais, farinhas e preparações, o saldo das exportações brasileiras foi positivo em US$ 6,89 bilhões em 2020.
Devido ao grande peso que têm sobre a economia, as produtoras e exportadoras de commodities figuram com frequência entre as maiores empresas listadas na Bolsa.
Na lista a seguir, classificamos as exportadoras brasileiras segundo o seu valor de mercado estimado em 2021 e o peso no índice Ibovespa:
Empresa | Código | Setor | Valor de mercado |
Vale | VALE3 | Mineração | R$ 508,26 bilhões |
Petrobras | PETR3/PETR4 | Energia | R$ 300,51 bilhões |
Suzano | SUZB3 | Papel e celulose | R$ 102,42 bilhões |
JBS | JBSS3 | Alimentação | R$ 72,72 bilhões |
Klabin | KLBN11 | Papel e celulose | R$ 31,98 bilhões |
No contexto do mercado internacional, fala-se em “superciclo” quando é observado um período de crescimento acentuado da demanda por determinados ativos.
No caso das commodities, que são bens intrinsecamente ligados à atividade industrial, os superciclos costumam ocorrer quando grandes economias industriais implementam políticas de incentivo à produção.
Mais que um movimento pontual do mercado, estes ciclos podem durar mais de uma década e são caracterizados por um período de alta constante até a chegada de um pico, seguido por anos de baixa gradual da demanda.
A indústria de commodities envolve uma logística complexa de produção e transporte, e a expansão da oferta exige um planejamento a longo prazo.
Por isso, os ciclos de commodities geralmente têm fases mais longas do que a maioria dos bens de consumo.
O último superciclo global de commodities foi desencadeado pela intensa industrialização e abertura de mercado da China no início do século.
Entre a maioria dos especialistas, há um consenso de que o ciclo começou por volta de 2002 e atingiu seu ápice em 2008.
Neste período, o Brasil estreitou relações comerciais com o país e aumentou ainda mais sua participação global como exportador de commodities.
Este superciclo é frequentemente citado como um dos motores do forte crescimento brasileiro durante os anos 2000.
Diversos outros superciclos de commodities foram observados ao longo do último século.
Alguns exemplos ocorreram durante a industrialização dos EUA nos anos 1900, a corrida armamentista nos anos 1930 e a reconstrução da Europa e do Japão pós-Segunda Guerra.
Após a profunda recessão causada pela pandemia, especialistas do mercado começam a ventilar a hipótese de um novo superciclo de commodities em meio ao processo de retomada do crescimento global.
Para analistas do Goldman Sachs e do J. P. Morgan, a combinação de pacotes massivos de incentivo fiscal, políticas de estímulo monetário e aquecimento do consumo cria um cenário propício à aceleração da demanda por matérias-primas industriais.
Nos últimos meses, o mercado global vem apresentando alguns indícios de que um novo superciclo pode estar à vista.
Um destes sinais pode ser observado no desempenho do S&P 500 GSCI, o principal índice de commodities do mercado global.
O GSCI vem subindo rapidamente desde novembro e já acumula alta de 64,85% em 12 meses.
Em fevereiro, o petróleo voltou ao nível de preços pré-pandemia após disparar quase 60% em quatro meses.
O setor petrolífero foi um dos mais atingidos pela crise, e o barril chegou a registrar valor negativo em 2020 pela primeira vez na história.
Parte desta alta foi impulsionada pelo inverno rigoroso nos EUA, quando o petróleo chegou a congelar em meio às baixas temperaturas e a demanda pelo combustível disparou.
Ainda assim, a escalada do preço já era antecipada pelo mercado antes do fator sazonal.
Outra commodity que vem registrando sucessivas altas é o cobre, que serve de termômetro para outros metais industriais e da atividade produtiva mundial.
Para gestores e analistas de Wall Street, a tonelada do cobre pode superar US$ 10 mil e atingir valor recorde em 2021.
Uma possível justificativa para a disparada do cobre é o avanço de pautas ambientais entre governos e investidores.
Gigantes do mercado como a BlackRock já veem sustentabilidade e combate às mudanças climáticas como tendências fortíssimas no mercado financeiro.
Já as commodities agrícolas têm se beneficiado principalmente das massivas importações chinesas.
Em 2020, a China foi a maior compradora de soja, carnes, açúcar, celulose e algodão brasileiros.
De modo geral, o consenso do mercado é que ainda é cedo para afirmar a existência de um novo superciclo de commodities.
Há previsões de que a preocupação ambiental continue favorecendo o cobre, mas pressione a demanda a longo prazo por petróleo, ferro e carvão.
Por outro lado, o comércio exterior brasileiro tem se beneficiado da demanda chinesa e já apresenta tendências semelhantes às observadas durante o último superciclo das commodities.
Uma análise da FGV constatou que os termos de troca — a relação entre valor exportado e valor importado — do Brasil atingiram em fevereiro os maiores níveis desde 2011, na fase de baixa do superciclo anterior.
Para os analistas da FGV, isto não significa que há um novo superciclo das commodities, mas a expansão contínua da China e dos EUA deve continuar sustentando a demanda em 2021.
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Assim como as ações e títulos, as commodities podem ser negociadas mundialmente como ativos em bolsas de valores.
Uma característica bastante peculiar das commodities é que, ao contrário de outros ativos, elas costumam se beneficiar do avanço da inflação.
Se a pressão inflacionária for causada por um aumento geral no consumo, a indústria tende a elevar o nível de produção, o que resulta na maior demanda por matéria-prima e consequente valorização das commodities.
Existem diversas formas de investir no mercado de commodities. Vamos apresentar algumas delas:
Os contratos futuros são contratos derivativos com lastro em commodities. Em termos simples, eles correspondem a uma promessa de compra de uma commodity no futuro.
No vencimento do contrato, o comprador é obrigado a adquirir as commodities do vendedor por um preço pré-estabelecido.
O valor da compra é negociado ao fechar o contrato e não muda com as oscilações do mercado.
O objetivo do contrato futuro é permitir que um comprador de matéria-prima se proteja contra uma alta da commodity no curto prazo.
Da mesma forma, o fornecedor pode usar este contrato para não perder dinheiro com uma rápida desvalorização do bem.
Isso não significa que o investidor de contratos futuros precisa ter um imenso armazém para estocar petróleo ou minério de ferro.
Como os títulos, os contratos podem ser revendidos e a obrigação de compra do bem recai sobre o portador do papel na data de vencimento.
Desta forma, os contratos futuros acabam servindo como um instrumento de especulação sobre as tendências de preços de uma commodity.
Por exemplo: se o valor de um contrato futuro de soja começa a subir muito, é um sinal de que o mercado prevê um encarecimento da soja no mês seguinte, e que os importadores da commodity estão buscando proteção contra o preço mais alto.
Particularmente no caso do petróleo, ferro e cobre, os contratos futuros servem como um termômetro global da atividade industrial, refletindo as projeções do mercado para a demanda por estas commodities no curto prazo.
Quando um investidor quer aplicar no varejo, na construção civil ou em tecnologia, ele pode comprar ações de empresas relacionadas ao setor. O mesmo raciocínio vale para empresas produtoras e exportadoras de commodities.
Como mencionamos antes, as principais empresas brasileiras de commodities por valor de mercado são Vale, Petrobras, Suzano, JBS e Klabin.
Além destas, a B3 oferece um amplo leque de opções de exportadoras nacionais e internacionais. Alguns exemplos além do já mencionados:
Empresa | Código | Setor |
Gerdau | GGBR4 | Aço |
Usiminas | USIM3 | Aço |
CSN | CSNA3 | Aço |
SLC Agrícola | SLCE3 | Algodão e soja |
Minerva | BEEF3 | Proteína animal |
Marfrig | MRFG3 | Proteína animal |
BRF | BRFS3 | Proteína animal |
Braskem | BRKM5 | Petroquímico |
A bolsa brasileira conta ainda com o Índice de Commodities Brasil (ICB), que reflete o retorno de commodities como açúcar, café, milho, ouro e soja.
Não é possível investir diretamente no ICB, mas o índice serve como benchmark para agentes do mercado.
Outra possibilidade de investir em commodities é comprar cotas de fundos de índice (ETFs) de commodities.
Estes fundos espelham o desempenho de índices globais de matérias-primas e bens agropecuários.
O principal índice de commodities do mundo é o S&P GSCI, mas ele ainda não tem ETFs listados no Brasil.
Por outro lado, a bolsa brasileira lista o It Now IMAT (MATB11), um ETF que rastreia o desempenho do índice de Materiais Básicos da B3.
Na composição do IMAT estão as principais exportadoras brasileiras de commodities.
Outra opção é aplicar nos BDRs de ETFs de commodities específicas estrangeiros.
A lista inclui o iShares Gold Trust (BIAU39), que acompanha o preço internacional do ouro, e o iShares Silver Trust (BSLV39), que reflete as variações globais da prata.
Recentemente, também foi incluído o ETF GOLD11 na B3, um ETF de ouro brasileiro.
Vale lembrar que os BDRs (Brazilian Depositary Receipts) não equivalem a cotas do fundo original, e sim a um ativo brasileiro lastreado nestes fundos.
Portanto, eles espelham os retornos dos ETFs estrangeiros, mas cobram uma taxa extra pela instituição depositária.
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