Não é novidade para ninguém que os preços da gasolina e do diesel subiram consideravelmente em 2021 — e a tendência é de manutenção destes patamares, ou até mesmo de novos reajustes em 2022, dependendo do preço do petróleo e da variação cambial.
A alta dos combustíveis foi o principal componente da inflação brasileira no ano passado, impactando diretamente o nosso bolso como consumidores.
De janeiro até dezembro de 2021, o preço médio da gasolina no Brasil subiu 44,3%, enquanto o diesel teve alta similar, de 44,7%.
Nesse contexto, muita gente pensa que acaba não sendo impactada por não ter um carro ou moto, mas isso não necessariamente é verdade.
Na coluna de hoje, vamos entender como são formados os preços dos combustíveis no Brasil e de que forma os reajustes impactam os demais bens e serviços da economia brasileira.
Indice
Os combustíveis que utilizamos todos os dias são produtos finais de uma longa cadeia produtiva, que começa na extração de petróleo e depende de grandes investimentos, além da capacidade técnica de profissionais do setor e do uso de tecnologias de última geração.
Ao chegar nas refinarias, o petróleo passa por uma série de processos químicos e físicos. As moléculas pesadas são purificadas e quebradas em partes menores, dando origem a diversos produtos, como gasolina, óleo diesel e gás liquefeito de petróleo (GLP).
Depois disso tudo, os combustíveis são vendidos para distribuidoras, que irão vendê-los aos consumidores nos postos de distribuição.
Atualmente, a Petrobras responde por cerca de 80% dos combustíveis oferecidos no Brasil.
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Desde 2016, a Petrobras segue a cotação internacional do preço do barril de petróleo do tipo Brent, que é calculada em dólares, para reajustar os preços dos combustíveis no Brasil, na chamada Política de Preços de Paridade de Importação.
Com o preço do petróleo mais alto e a desvalorização do real em relação ao dólar em 2021, podemos imaginar o impacto no bolso do consumidor brasileiro.
Mas por que seguimos o preço do petróleo em dólares se vivemos no Brasil e ganhamos em reais?
O ponto principal é que, apesar de autossuficientes na produção de petróleo, precisamos importar cerca de 20% do diesel e 16% da gasolina que são consumidos por aqui.
Isso explica, em partes, a lógica da política de preços de paridade de importação.
Além disso, os combustíveis derivados de petróleo são commodities e têm seus preços atrelados aos mercados internacionais, cujas cotações variam diariamente, para cima e para baixo.
Essa lógica também se aplica a outros tipos de commodities nas economias abertas, onde é possível importar e exportar como, por exemplo, açúcar, trigo, café, metais, entre outros.
Caso a Petrobras reduzisse artificialmente os preços dos combustíveis, seria um desincentivo aos refinadores privados e importadores de combustíveis, que não conseguiriam competir com a estatal, nem expandir sua capacidade de produção e poderiam até mesmo quebrar, ou gerar problemas de escassez no mercado doméstico.
Fora isso, o impacto nas contas públicas e nos resultados da Petrobras seriam enormes, sem resolver o problema dos preços.
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É importante entender que a Petrobras não controla o preço nos postos e é apenas um dos agentes envolvidos na produção e comercialização de combustíveis no Brasil.
A composição dos preços de gasolina e diesel pagos pelo consumidor final não está apenas sob a gestão da Petrobras e depende de 4 principais fatores:
1. Preços do produtor ou importador;
2. Carga tributária;
3. Custo do etanol (atendendo à legislação brasileira, a gasolina vendida nos postos deve ser misturada com etanol) ou do biodiesel (diesel vendido nos postos é misturado com biodiesel);
4. Margens de distribuição e revenda;
Abaixo, confira a composição do preço da gasolina no Brasil:
E confira a composição do preço do diesel no Brasil:
A parcela da Petrobras é referente ao preço do combustível nas refinarias.
A carga tributária, por sua vez, responde por parte relevante do preço final e os demais agentes da cadeia de comercialização, como importadores, distribuidores, revendedores e produtores de biocombustíveis, também exercem influência na formação de preços.
No caso da gasolina, por exemplo, a Petrobras é responsável por cerca de 40% do valor pago pelo consumidor.
É claro que o impacto na alta dos combustíveis é latente e sentimos diretamente no nosso bolso como consumidores no momento em que abastecemos o carro, a moto ou até mesmo na alta dos preços de transportes públicos ou de aplicativos de mobilidade urbana.
No entanto, mesmo para quem não utiliza diretamente nenhum destes serviços, a alta nos preços de combustíveis ainda traz como consequência alguns efeitos nocivos.
Isso porque os preços da gasolina e do diesel acabam afetando indiretamente o preço dos demais bens e serviços da economia por distintos canais.
Uma forma de medir a disseminação da inflação é através do índice de difusão, que mostra o percentual de bens e serviços da cesta que compõem o IPCA e que subiram de preço em um determinado período.
No gráfico abaixo é possível observar claramente a tendência de propagação da inflação desde o ano de 2021, justamente quando os preços de combustíveis começaram a subir.
Conforme mencionado anteriormente, a alta no preço do petróleo (e consequentemente dos produtos refinados) acaba fluindo por outros canais e afetando a economia como todo. Alguns desses canais são:
A indústria depende de matérias primas importadas e energia para os processos produtivos. Com o preço do barril de petróleo mais alto, fica mais caro importar mercadorias, já que um dos principais componentes do frete marítimo é o combustível do tipo “Bunker”, um derivado do petróleo que abastece os navios.
O frete encarece diretamente os custos de logística e o orçamento do produtor rural. Considerando especificamente o caso brasileiro, que depende muito da malha rodoviária, o impacto é ainda mais dramático e o repasse para o consumidor final é inevitável.
O óleo diesel e os fretes são componentes importantes dos custos de construção e a alta nos preços impacta diretamente outros produtos como cimento, brita e areia.
A alta no preço do barril de petróleo afeta a gasolina, diesel e combustível de aviação, que são componentes importantíssimos dos custos de passagens aéreas e rodoviárias.
Bom, agora que discriminamos o impacto da alta nos preços de combustíveis para a economia brasileira, imagino que tenha ficado um pouco mais clara a relevância do tema.
E a verdade é que a lógica dos preços de combustíveis não é algo simples de entender, e justamente por impactar diretamente o nosso bolso, essa discussão acaba virando briga de torcida, com opiniões sem embasamento e até mesmo discussões agressivas por parte dos envolvidos.
Espero que este artigo tenha ajudado na compreensão do tema, que é bem mais complexo do que parece e envolve a Petrobras, agentes privados, governo federal, estadual e outros participantes do mercado.
Para finalizar, espero que você tenha gostado do artigo, e aproveito para avisar que estou aberto a dúvidas e sugestões. Costumo responder perguntas todos os dias no meu perfil pessoal do Instagram (@fredpnobre).
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