Taxa Selic sobe de novo e vai a 13,75%: entenda a decisão  

Em reunião finalizada nesta quarta-feira, o Banco Central do Brasil decidiu aumentar a taxa Selic em 0,5 pontos percentuais, a 13,75%.

Este é o décimo segundo aumento consecutivo da taxa básica de juros da economia brasileira, em um ciclo de alta que se iniciou ainda em março do ano passado, quando a Selic ainda estava em 2%, o seu menor patamar histórico.

A mudança coloca a Selic no seu maior valor desde setembro de 2016, quando a taxa de juros era de 14,25%.

Mas por que o Banco Central segue elevando a taxa básica de juros da economia, e como isso impacta os seus investimentos? 

Entenda os detalhes da decisão a seguir.

O que explica a Selic em 13,75%?

A decisão do Banco Central era amplamente aguardada pelo mercado, que precificava cerca de 93% de chances de alta de 0,5 pontos percentuais na taxa Selic antes do comunicado oficial, de acordo com a ferramenta BCBWATCH da Refinitiv.

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Em sua última decisão de política monetária, no dia 15 de junho, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros em 0,5 pontos percentuais, a 13,25% ao ano.

Na busca pelo controle da inflação, o Banco Central vem apertando a política monetária, mas as incertezas seguem dominando o cenário macroeconômico, que do lado da atividade está sendo apertado por juros mais altos, menor liquidez, lockdowns na China e desaceleração no crescimento. Inclusive, nas últimas semanas, a narrativa de recessão global vem ganhando cada vez mais força, principalmente depois dos dados de PIB dos EUA, que já indicaram recessão técnica (dois trimestres consecutivos de crescimento negativo). 

Ao mesmo tempo, a inflação segue galopante no mundo todo e as commodities, apesar do arrefecimento recente, continuam em patamares elevados em relação às médias históricas. Vale lembrar que a guerra entre Rússia e Ucrânia ainda não acabou e o conflito impacta diretamente os preços de commodities energéticas e agrícolas. 

Em paralelo, recentemente vimos uma elevação no risco fiscal, diante da proximidade das eleições e aprovação de projetos que podem elevar as despesas públicas.

Em seu comunicado, o Copom reforçou cada um dos riscos percebidos para a taxa básica de juros. “O Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2023 e, em grau menor, o de 2024.”

Para onde vai a Selic?

No comunicado da reunião, o comitê indicou que este talvez não seja o último aumento da taxa Selic, embora o consenso de mercado, de acordo com avaliação semanal do boletim Focus publicada pelo Banco Central, tenha mantido nas últimas semanas as estimativas para 2022 em 13,75%.

“O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista. O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião.”, afirma o comitê.

Antes do comunicado, os participantes do mercado estavam bem divididos entre a possibilidade de continuidade do ciclo de aperto monetário, com um sentimento misto entre a sinalização de outro ajuste de menor magnitude, com algum risco de interrupção e o encerramento das elevações de juros, com possibilidade de ajuste residual de menor magnitude.

Em outras palavras, as atenções do mercado estavam todas direcionadas para o comunicado da autoridade monetária, diante das incertezas relacionadas à continuidade ou não do ciclo de alta de juros.

Como a inflação vem se comportando recentemente no Brasil?

O IPCA do mês de junho subiu 0,67% e ficou abaixo da mediana das estimativas do mercado (0,70%), com alívio nos preços da gasolina, em deflação. 

As medidas fiscais de isenção de tributos anularam a alta da gasolina do dia 18/06. O repasse parece ter funcionado e a velocidade da queda foi muito alta.

Com o resultado, a inflação oficial acumulada de 12 meses é de 11,89%, abaixo do pico de 12,13% atingidos na leitura do mês de abril.  

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Fonte: Refinitiv Datastream / IBGE

O setor de serviços, em todas as suas desagregações (serviços subjacentes, intensivos em trabalho) segue acelerando na margem. Por outro lado, os bens industriais vêm arrefecendo continuamente, reflexo da queda no câmbio dos últimos 2 trimestres.

Inflação menos disseminada

O índice de difusão, que mede o percentual de itens que subiram de preço, atingiu 66,58%, patamar ainda bastante alto, mas abaixo da leitura anterior, quando atingiu 72,41%.

Trata-se do menor resultado para o índice de difusão desde novembro de 2021.

Em paralelo, o IPCA-15, divulgado na semana passada, também veio abaixo da expectativa do mercado (0,13% realizado vs 0,17% do consenso) e atingiu a menor variação em dois anos, graças ao impacto da redução das alíquotas de ICMS sobre os preços de combustíveis e energia.

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Fonte: Refinitiv Datastream / Banco Central. Elaboração: Warren Análise


No entanto, apesar dos dados abaixo do esperado e da Selic mais alta, o qualitativo permanece ruim: a média dos núcleos subiu novamente no acumulado de 12 meses, na casa de 9,97%, contra 9,61% da leitura de abril. 

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Fonte: Banco Central. Elaboração: Warren Análise

O que esperar daqui para frente?

Diante da persistência das pressões inflacionárias globais, incertezas no arcabouço fiscal doméstico e perspectivas de recessão global, o cenário de curto prazo permanece bastante nebuloso.

As próximas decisões de política monetária dependerão principalmente de três fatores:

  • A trajetória das commodities e do dólar
  • As próximas leituras do IPCA
  • Cenário fiscal doméstico

Como vimos, o cenário exposto pelo Copom permanece nebuloso, mas entendemos como mais provável a manutenção da taxa Selic no patamar atual de 13,75%

Para finalizar, espero que você tenha gostado do artigo, e aproveito para avisar que estou totalmente aberto a dúvidas e sugestões. Costumo responder perguntas todos os dias no meu perfil pessoal do Instagram (@fredpnobre).

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Aproveite para assistir ao vídeo que gravei para o nosso canal da Warren, explicando um pouco mais sobre a Selic:

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