Não é novidade pra ninguém que a Bolsa de Valores brasileira vem acumulando fortes quedas em 2021.
Olhando para o gráfico abaixo, fica bem clara a nossa posição de vulnerabilidade diante de outros mercados em termos de retornos.
A bolsa brasileira está na “lanterninha”.
O Ibovespa, nosso principal índice de ações, desempenha abaixo de pares internacionais, tanto em relação a países desenvolvidos, como os Estados Unidos e Europa, como também contra os mercados emergentes.
Índice | Rentabilidade em 2021 |
Ibovespa | -10,8% |
S&P 500 | 27% |
CSI 300 | -7% |
Stoxx 600 | 19,9% |
EM | -3,1% |
Mas será que essa disparidade de retornos em relação ao resto do mundo é justificável, ou estamos diante de uma oportunidade de aumentar o percentual de alocação em empresas brasileiras?
Em outras palavras, será que a Bolsa brasileira está barata?
É justamente isso que vamos tentar responder ao longo deste artigo.
Boa leitura!
Indice
O movimento de virada na Bolsa brasileira começou em junho de 2021, com o aumento da percepção de risco local relacionado principalmente à deterioração nas contas públicas e desancoragem das expectativas de inflação.
Do lado fiscal, algumas indefinições trazem preocupação, como o tema dos precatórios (que ainda não foi votado) e a possível expansão de benefícios sociais que não estavam no cenário base de orçamento da União para 2022.
Do lado da inflação, não é novidade pra ninguém que os preços dos bens e serviços estão mais caros. Sentimos isso diretamente no nosso bolso.
O IPCA, indicador oficial de inflação do Brasil, acumula alta de 8,24% de janeiro até outubro deste ano e 10,67% no acumulado de 12 meses, enquanto a meta de inflação para 2021 era de 3,75%.
Warren descomplica: o que é CDS?
CDS significa Credit Default Swap. Trata-se de um direito de crédito contra o calote da dívida de um emissor.
Quando o emissor da dívida é o governo, o CDS funciona para medir o risco país ou risco soberano.
O gráfico mostra que a percepção de risco dos títulos da dívida brasileira aumentou consideravelmente esse ano.
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Reunimos, abaixo, os principais pontos de atenção para o mercado de ações brasileiro neste momento:
As empresas vêm reportando custos mais elevados e nem sempre conseguirão repassar preços para os consumidores.
O cenário é bastante desafiador e o Brasil enfrenta um problema de inflação interna, ao mesmo tempo em que também importa inflação de outros países.
Os questionamentos acerca da trajetória das contas públicas à frente relacionam-se intimamente com a visão de quanto o Brasil pode crescer estruturalmente.
O mercado entende que o Brasil precisa fazer um esforço fiscal, sendo muito importante indicar algum corte de gastos.
A expectativa é de mais um aumento de juros de 1,5% na próxima reunião do COPOM. Isso significa a taxa Selic a 9,25% até o final de 2021.
Juros mais altos elevam o custo de capital das empresas e contribuem negativamente para o fluxo de alocação em ações.
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O início da redução na compra de títulos por parte do FED, chamado de “tapering” pode ser um catalisador negativo para a bolsa brasileira, bem como um possível aumento de juros por parte do governo norte-americano no futuro.
Agora que você conheceu alguns detalhes do cenário fiscal que não sai da pauta dos investidores, vamos olhar para as empresas listadas na Bolsa para entender como estão os fundamentos dessas companhias.
Uma forma de avaliar o preço das ações em relação aos seus lucros é através do indicador P/E (do inglês “price to earnings”), conhecido no Brasil como P/L (preço/lucro).
Este indicador pode ser calculado com base em lucros passados (últimos 12 meses) ou projetados (12 meses futuros).
Em resumo: a relação P/E mostra quanto o mercado está disposto a pagar hoje por uma ação com base em seus lucros passados ou futuros.
Olhando para os gráficos abaixo, fica fácil de observar que a relação P/E do índice Ibovespa encontra-se em patamares mínimos, abaixo do segundo desvio padrão da série histórica de 10 anos, tanto na base de lucros passados como projetados.
Em análise preliminar, isso nos leva a crer que a bolsa brasileira está sendo negociada em patamares muito atrativos.
Mas até que ponto podemos concluir que o IBOV está realmente “barato”? Vamos aprofundar um pouco mais.
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Ao analisar a Bolsa brasileira, é comum a utilização do índice Ibovespa como parâmetro, afinal este é o principal benchmark para as ações listadas aqui no Brasil.
No entanto, aproximadamente 60% da composição do Ibov é formada por empresas financeiras e de commodities (materiais básicos e energia).
Portanto, é muito importante tomar cuidado com essa generalização de que a bolsa está barata apenas por conta dos múltiplos do Ibovespa.
Olhar apenas para os números agregados pode trazer distorções e conclusões equivocadas.
O que será que acontece quando excluímos as empresas de commodities e financeiras da conta de múltiplos do Ibovespa?
O resultado pode ser observado no gráfico abaixo, que mostra um comportamento bem diferente daqueles outros dois gráficos vistos anteriormente.
Quando excluímos estes dois setores da conta, pode-se concluir que a relação Preço/Lucro das demais empresas da bolsa brasileira está em linha com a média histórica dos últimos dez anos.
O cenário agora é bem diferente daquele que observamos em abril de 2020, no auge da pandemia de COVID 19, quando a Bolsa realmente estava em liquidação.
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A utilização de múltiplos para avaliar empresas é uma prática que deve ser coerente, no sentido de respeitar critérios de comparação razoáveis.
Olhando para o gráfico abaixo, fica claro que historicamente setores como saúde, consumo cíclico e não-cíclico se posicionam bem acima do Ibovespa na relação Preço/Lucro.
Do outro lado, as empresas do segmento de energia e materiais básicos puxam a relação Preço/Lucro do Ibov pra baixo, justamente como estão fazendo neste momento.
De qualquer forma, é a intensidade desses movimentos que merece mais atenção por parte dos investidores.
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Para responder esta pergunta de maneira descomplicada, criamos um indicador de sentimento (mostraremos a seguir), que mede o nível da relação preço/lucro setorial, de acordo com os dados históricos disponíveis.
Quando a relação Preço/Lucro de um determinado setor afasta-se de suas médias históricas, o indicador de sentimento sai da zona de neutralidade e passa a indicar que as ações estão baratas ou caras.
A partir desta análise, podemos concluir que os setores mais descontados da bolsa atualmente são energia e materiais básicos, seguidos do setor imobiliário e financeiro.
Por outro lado, os setores de consumo cíclico, indústria e tecnologia apresentam viés neutro, enquanto o setor de saúde encontra-se mais caro do que em outros momentos.
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No longo prazo, os preços seguem os resultados das empresas.
Mas o que podemos dizer sobre a temporada de balanços até aqui?
Agora que todas as empresas já divulgaram os números do terceiro trimestre, podemos afirmar que de forma geral os resultados vieram levemente acima do esperado pelo mercado.
Os balanços mais fortes foram de empresas de utilidades públicas e companhias com exposição ao cenário internacional.
Do outro lado, as companhias com maior exposição ao mercado doméstico tiveram mais desafios durante esse período.
Criamos outro indicador de sentimento para medir a diferença entre os resultados esperados e divulgados, considerando os dados de receita, lucro operacional e lucro líquido.
Os scores setoriais podem ser visualizados no painel a seguir.
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Na última pesquisa institucional que realizamos no início de novembro, reunindo os principais gestores de fundos de ações e multimercados do país, ficou claro que o consenso do “buy side” é de que a bolsa está em patamares atrativos.
Depois da queda de 6,7% do Ibovespa no mês de outubro, 45% dos gestores de fundos de ações e multimercados entendem que a bolsa está “muito barata”, contra apenas 9% na pesquisa do mês anterior.
Em geral, a estratégia adotada pelos gestores que participaram da pesquisa é de manter ou aumentar a exposição atual em empresas listadas na bolsa brasileira.
O EWZ (iShares MSCI Brazil) é o maior ETF brasileiro negociado nas bolsas norte americanas e tem como objetivo refletir as variações de preços das principais ações listadas na B3 em dólares.
A trajetória de desvalorização cambial do real frente ao dólar na última década colocou as ações brasileiras em patamares ainda mais atrativos para o investidor estrangeiro.
De acordo com os dados de fluxo mensal da B3, de janeiro até o final do mês de outubro deste ano, os investidores estrangeiros aportaram R$ 54,7 bilhões na bolsa brasileira.
Quando consideramos as ofertas públicas (IPO’s e Follow Ons), o saldo positivo passa para R$ 85,6 bilhões.
Enquanto o investidor pessoa física começa a se assustar e migrar para a renda fixa, os gringos e investidores institucionais seguem comprando bolsa.
Acreditamos que sim, a bolsa de uma forma geral está barata e estamos em um bom momento para aumentar a exposição em empresas listadas aqui no Brasil.
Entretanto, é preciso ter cautela, pois não estamos diante de uma grande liquidação, como ocorreu em maio e abril de 2020, no auge da pandemia de COVID-19.
Conforme observamos, não são todas as empresas ou setores que estão sendo negociadas em patamares atrativos.
O cenário agora é bem diferente e precisamos ser mais seletivos na alocação de patrimônio.
Seguimos monitorando atentamente o cenário macro e os fundamentos das empresas. No longo prazo, os preços tendem a seguir a trajetória de resultados.
Esse texto foi feito em conjunto com o time de Análise da Warren.
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