A dissonância cognitiva é o nome dado a um viés cognitivo que leva as pessoas a procurarem algum tipo de coerência em suas crenças e ideologias, embora a realidade as desminta com fatos.
Muito comum em diversos segmentos da sociedade, a dissonância cognitiva também faz vítimas diariamente no mercado financeiro.
É por isso que, se você quiser investir melhor e se livrar desse viés cognitivo, precisa aprender a identificá-lo, além de entender como combatê-lo na prática.
Neste artigo, vamos tratar exatamente disso.
Boa leitura!
Indice
A dissonância cognitiva é um viés cognitivo que ocorre quando as pessoas precisam dar coerência às suas crenças quando estas são desmentidas pelos fatos. O termo foi criado pelo psicólogo social americano Leon Festinger e também afeta os investidores.
Segundo Festinger, a existência de dissonância — ou inconsistência — é o resultado de um desconforto emocional que ocorre quando fatos ou evidências contrariam as crenças ou cognições de uma pessoa ou grupo de pessoas.
É um estado de tensão ou impulso semelhante ao da fome que motiva a pessoa a tentar reduzir a dissonância e alcançar a consonância — ou consistência.
Quando a dissonância se apresenta, além de tentar reduzi-la, a pessoa evita ativamente situações e informações que provavelmente aumentariam a dissonância.
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“When Prophecy Fails”, publicado em 1956, é um texto clássico em psicologia social escrito por Leon Festinger, Henry Riecken e Stanley Schachter.
Os autores narram um estudo que fizeram sobre uma seita apocalíptica de Chicago liderada por Dorothy Martin.
A “visionária” dizia ter recebido mensagens de um grupo de seres superiores de outro planeta chamado “Clarion”.
A mensagem era a de que o mundo seria destruído por uma enchente no dia 21 de dezembro de 1954. Mas os verdadeiros fiéis seriam salvos por discos voadores, à meia-noite do dia do início da inundação.
Seguindo a Sra. Dorothy, muitos crentes abandonaram seus empregos, venderam seus bens para dar dinheiro para a seita, abandonaram seus estudos e terminaram relacionamentos com não crentes.
Os seguidores acreditavam que iriam ser resgatados por discos voadores de “Clarion” e salvos do dilúvio.
Como o dilúvio não veio e muito menos os discos voadores, a Sra. Dorothy teoricamente deveria ter sido desmascarada.
Diferente disso, todos foram tomados de júbilo e se tornaram ainda mais fiéis porque ela afirmou que o mundo foi poupado como prêmio pela confiança deles.
Segundo Festinger, a dor emocional de admitir o erro seria tão elevada para aqueles que tinham alterado de forma tão substancial suas vidas que seria menos oneroso emocionalmente continuar acreditando nos princípios errados daquela seita.
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Daniel Paz, cartunista argentino, conseguiu explicar em uma charge de forma brilhante a Dissonância Cognitiva.
Nela aparece uma filha dizendo ao pai que aquilo que ele vê no computador é uma notícia falsa. Então, o pai refuta a filha: “Mas como pode ser notícia falsa se diz exatamente o que eu penso?”.
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No mercado financeiro, a dissonância cognitiva também pode causar estragos.
Antes mesmo do termo ter sido criado, o mercado financeiro dos Estados Unidos foi tomado pela crença de que todos os americanos poderiam ficar ricos se investissem no mercado financeiro.
A década de 1920 ficou conhecida como roaring twenties, ou “anos loucos”, porque foi marcada por um forte mercado altista: o índice Dow Jones subiu 427% entre setembro de 1921 e outubro de 1929.
Na esteira desta alta no preço das ações, os americanos se lançaram em uma impressionante ciranda financeira, temperada por operações alavancadas, fraudes bancárias e um absurdo sistema de consórcios de investimentos que multiplicava o risco de forma totalmente fictícia.
O economista Roger Babson começou a alertar os americanos comuns que aquela alta no preço das ações era insustentável e que eles deveriam deixar de tomar empréstimos para aumentar suas posições em investimentos alavancados na bolsa.
Porém, Babson foi acusado de impatriótico e passou a ser publicamente desacreditado por outro famoso economista, Irving Fischer, professor da Universidade de Yale.
Fischer afirmou, pouco antes da queda que marcou o início da maior recessão mundial: “Estou totalmente convicto de que as ações atingiram um patamar que se manterá permanentemente elevado”.
Também, em um artigo publicado em 15 de outubro de 1929, Fischer desdenhou Babson e afirmou que o preço das ações estaria muito mais elevado nos próximos meses.
Como era de se esperar, os americanos se recusavam a escutar o pessimista Roger Babson e sorviam com enorme alegria as previsões totalmente desconectadas da realidade de Fischer.
Afinal, acalentavam a crença de que “todos os americanos poderiam ser riscos investindo no mercado financeiro”.
Como sabemos hoje, em menos de 3 anos o índice Dow Jones caiu 88%, espalhando miséria não só entre os investidores americanos, mas em todo o mundo.
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A dissonância cognitiva é o motor das inúmeras pirâmides financeiras, sempre utilizando métodos semelhantes aos criados por Charles Ponzi na década de 1920.
Mesmo racionalmente sabendo que é impossível obter os rendimentos que os investimentos fraudulentos prometem, emocionalmente as pessoas se aferram ao sonho de ficar muito ricas, sem trabalho e sem riscos.
Ainda hoje, milhares de pessoas passam seus dias em frente a terminais tentando ganhar a vida na atividade de day traders e se recusam a aceitar todas as pesquisas que demonstram que suas chances de ganhar muito, de forma rápida é fácil, é totalmente improvável.
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Também é muito comum que investidores passem a ter uma relação emocional com alguns investimentos.
Eles passam a acreditar que irão ganhar muito dinheiro com aquele papel e se recusam a aceitar fatos que contrariam sua crença.
O mercado financeiro não é um local para se ter crenças — ele costuma tratar muito mal todos aqueles que não estão abertos para reformular sua visão baseada em fatos.
E você, já foi afetado de alguma forma pela dissonância cognitiva?
É impossível negar que é muito difícil evitar o sentimento de desconforto causado pelas evidências que contrariam as nossas crenças. Porém, seguramente o desconforto será maior se nos recusarmos a considerar os fatos.
Por isso, busque sempre tomar suas decisões de investimento com base apenas em fatos, e nunca nas suas emoções — principalmente quando houver muito risco envolvido.
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