De todos os fatores que influenciam a economia global, o preço do petróleo é, sem dúvida, um dos mais importantes.
Uma das commodities mais valiosas do mundo, o petróleo é um insumo imprescindível para a economia moderna e seu valor afeta virtualmente todas as cadeias de produção mundiais.
Dada a sua importância estratégica, o petróleo é alvo de interesse de todos os países do planeta e seu preço está sujeito a uma série de variáveis geopolíticas e econômicas.
Quer entender por que a gasolina, por exemplo, está custando tão caro no Brasil? Quais são as causas que levam a um aumento do preço do petróleo?
Neste artigo, você vai conhecer melhor o peso do petróleo na economia mundial e quais são as principais forças que movem o preço do petróleo.
Boa leitura!
Indice
A definição do preço do petróleo no mercado internacional pode ser resumida de uma forma muito objetiva: a boa e velha lei da oferta e da demanda.
Como o petróleo é uma commodity — ou seja, um bem pouco industrializado com pouca variação de características —, ele é negociado a preços padronizados em todo o planeta.
No entanto, não existe apenas um tipo de petróleo bruto extraído no mundo.
Para fins de padronização, o mercado global adota duas referências (benchmarks):
O barril de petróleo padrão no mercado global corresponde a 42 galões americanos, o equivalente a aproximadamente 159 litros.
Devido aos avanços na tecnologia de extração nos EUA, o barril do petróleo WTI tem menor custo de produção e costuma ser mais barato do que o Brent.
O valor do Brent também sofre forte influência dos interesses da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que controla boa parte de sua produção.
Como a commodity é precificada em dólares, a oscilação da moeda americana também afeta o preço do petróleo no mercado internacional.
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Como a distribuição geográfica das reservas de petróleo no planeta é desigual, alguns países tendem a concentrar muito mais bacias e jazidas do que outros.
As maiores reservas de petróleo comprovadas do mundo estão concentradas na Venezuela, Arábia Saudita e Canadá, que juntos correspondem a mais de 40% das reservas globais.
Vale ressaltar que as reservas comprovadas dependem da capacidade de exploração de cada país e que as estimativas variam conforme a fonte das estatísticas.
Dessa maneira, alguns dos agentes com maior influência sobre o preço do petróleo são:
A Opep (ou OPEC, na sigla em inglês) é um grupo composto por 13 dos principais países exportadores de petróleo em todo o mundo.
Os atuais membros da Opep são:
Fundada em 1960, a Opep surgiu com o objetivo de coordenar a produção de petróleo entre nações para exercer maior influência sobre o preço do petróleo global.
Sob a liderança efetiva da Arábia Saudita, a Opep atua orientando seus membros a cortar ou elevar a produção para controlar a oferta e manter os preços estáveis.
Em 2016, um grupo formado por dez outros países relevantes no setor de petróleo colabora extraoficialmente com as estratégias da Opep, embora não sejam membros da organização.
Este bloco, chamado informalmente de Opep+, é liderado pela Rússia e inclui México, Sudão, Sudão do Sul, Azerbaijão, Malásia, Omã, Brunei, Cazaquistão e Bahrein.
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Os EUA ocupam hoje o posto de maior exportador global de petróleo, tendo ultrapassado a Arábia Saudita em 2019.
Eles são também os maiores produtores da commodity no planeta.
Com forte influência sobre o preço do petróleo WTI, o país é sede de algumas das maiores petrolíferas do mundo. Entre as principais, podemos citar:
Entre as chamadas “Sete Irmãs”, as sete petrolíferas que controlavam 85% das reservas globais de petróleo até a década de 1970, cinco eram de origem norte-americana.
Além disso, os EUA exercem uma forte influência sobre os países produtores de petróleo do Oriente Médio, consolidada através da atuação militar na região.
A dolarização do petróleo ainda dá aos EUA um enorme poder de barganha sobre economias dependentes da exportação da commodity, como Canadá e Arábia Saudita.
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Apesar do declínio da produção russa nos últimos anos, a Rússia ainda é a terceiro maior produtora de petróleo do mundo e está entre as dez nações com as maiores reservas.
O setor de energia da Rússia se desenvolveu rapidamente durante a Guerra Fria. A indústria foi privatizada após o fim da União Soviética, mas voltou ao controle estatal.
Muito do papel estratégico da Rússia no mercado global vem da forte dependência dos países europeus dos combustíveis russos.
Em 2019, a Rússia representou mais de 26% das importações de petróleo bruto dentro da União Europeia, grande parte por países eslavos ou ex-ocupações soviéticas.
Agora que você conhece os principais agentes que interferem na precificação do petróleo, vamos entender o que leva o preço do petróleo a subir — e também a cair.
Acompanhe!
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Como explicamos acima, o petróleo é precificado a partir da oferta e da demanda, e seu valor está sujeito a eventos que influenciam a produção ou consumo.
Alguns exemplos são:
Um dos mecanismos mais eficientes usados pela Opep para estabilizar o preço do petróleo é fazer acordos para reduzir sua produção total, visando à escassez de oferta.
Como os países-membros da Opep são profundamente dependentes da exportação de petróleo, eles compartilham o interesse de que o preço esteja sempre relativamente alto.
No entanto, as orientações da Opep não têm poder vinculante, ou seja: os países não são obrigados a cumpri-las e podem até competir entre si pelas importações globais.
Para assegurar que o nível geral de produção se adeque às decisões do bloco, a Arábia Saudita utiliza de seu imenso poder bélico e diplomático e também de sua forte relação com os EUA como cartas de negociação entre os países vizinhos.
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Grande parte da oferta global de petróleo vem do Oriente Médio, uma região marcada por conflitos étnico-religiosos internos e sujeita a interferências de potências globais.
As delicadas relações de poder entre países árabes, a questão da Palestina e as constantes tensões envolvendo EUA, Israel, Irã, Arábia Saudita e Turquia estão entre os principais fatores que ameaçam as exportações e impulsionam o preço do petróleo.
A Guerra da Síria e a atuação de grupos como Al-Qaeda, Estado Islâmico e os Houthis também são frequentes fatores de risco para a produção e exportação da commodity.
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As questões geopolíticas no Oriente Médio foram responsáveis por duas das piores crises energéticas da história mundial: os choques do petróleo de 1973 e 1979.
O primeiro choque ocorreu durante a Guerra do Yom Kippur, quando os árabes impuseram um embargo às exportações de petróleo para nações aliadas de Israel.
Em cinco meses de embargo, o preço do petróleo Brent chegou a disparar 300% no mercado internacional, impactando boa parte dos países ocidentais.
Esta crise, inclusive, foi o principal incentivo para que os EUA investissem na própria indústria petrolífera para reduzir a dependência das importações da Opep.
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Já o segundo choque foi resultado da Revolução Iraniana de 1979, que depôs o Xá Reza Pahlavi e instituiu a República do Irã sob a liderança do Aiatolá Khomeini.
A instabilidade interna que se seguiu à revolução, marcada por violentas revoltas, impactou profundamente a produção de petróleo do Irã e pressionou a oferta global do combustível.
No ano seguinte, teve início a guerra entre Irã e Iraque, que prejudicou a indústria petrolífera de ambos os países e afetou ainda mais as exportações da região.
Este evento teve menor impacto do que o primeiro choque, já que as nações ocidentais já se preparavam para uma possível redução da oferta árabe de petróleo.
Contudo, a memória do primeiro choque ainda era recente e o conflito causou um certo pânico entre os americanos, desencadeando uma “corrida aos postos” que impulsionou o preço do combustível em boa parte do país.
Quando a taxa de câmbio de qualquer moeda sofre desvalorização em relação ao dólar, o custo da importação do petróleo cresce para empresas de outros países, que precisam comprar mais dólares para pagar pela commodity.
Mas isso não significa que os EUA não são afetados por variações no câmbio.
Sendo os próprios EUA líderes globais em exportação de petróleo, um dólar muito forte pode hipervalorizar o barril do WTI e reduzir a sua demanda, prejudicando a balança comercial do país.
Agora que já analisamos os principais motivos que costumam levar a uma elevação do preço do petróleo, vamos analisar as razões que podem levar à redução:
Pela mesma lógica que causa a alta do preço do petróleo quando há escassez de oferta, o excesso de produção é o principal fator que pressiona o valor da commodity.
Isto ocorre, basicamente, porque a produção acima da demanda aumenta a competição entre as petrolíferas exportadoras, que precisam ajustar seus preços às expectativas dos importadores.
Em 20 de abril de 2020, poucas semanas após o início da pandemia, o preço do petróleo chegou a atingir território negativo, com o barril do WTI precificado a US$ -37.
Este fenômeno ocorreu, primeiro, devido às incertezas sobre a demanda, já que diversos setores da economia estavam interrompendo atividades e grande parte da população estava em isolamento.
Mas o principal fator que “enterrou” o preço foi logístico: como o petróleo é negociado no mercado futuro, a produção já estava em andamento antes do choque de demanda.
O resultado foi que os barris se acumularam nos portos e não havia mais espaço para estocá-los. Assim, os agentes estavam literalmente pagando para se livrar da produção.
Novamente, o mesmo processo que causa alta dos preços para outros países quando o dólar se fortalece demais torna o petróleo mais barato quando o dólar cai.
A indústria petrolífera envolve uma logística complexa e o uso de tecnologia altamente sofisticada, desde a prospecção até a extração, refino e transporte.
Assim, os avanços na tecnologia e na infraestrutura geral permitem a descoberta e exploração de novas reservas, bem como a redução do custo de produção e transporte.
O efeito mais imediato do preço do petróleo é sobre os transportes: os combustíveis são essenciais para virtualmente todas as cadeias de produção globais.
Assim, uma alta do barril de petróleo encarece a produção de basicamente todos os bens, e também eleva o custo de vida da população em geral.
Porém, o petróleo não é utilizado somente para produzir combustíveis.
Uma imensa gama de produtos em diversas indústrias depende da commodity como matéria-prima.
Além dos combustíveis, alguns bens derivados do petróleo são:
Todas essas cadeias de produção e de consumo são afetadas de forma direta ou indireta pelo preço do petróleo.
O preço do petróleo é uma das variáveis mais monitoradas por investidores e especialistas para prever movimentos do mercado financeiro.
No entanto, estudos recentes sugerem que o impacto do petróleo sobre as bolsas não é resultado direto dos custos de produção, e sim da percepção dos agentes econômicos.
Um estudo conduzido em 2020 pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) constatou que há pouca relação direta entre a oscilação do preço do petróleo e o desempenho geral das bolsas de Nova York.
Em termos simples, as variações do petróleo costumam ser diluídas por outros custos da indústria, mas afetam as expectativas de investidores e servem como um termômetro geral da economia global.
A exceção parece ser o setor de transportes, que sofre o impacto mais direto das flutuações do petróleo devido aos preços da gasolina, óleo diesel, combustíveis de aeronaves etc.
Como o petróleo é negociado nas bolsas através de contratos futuros, o principal fator que influencia o mercado financeiro é a especulação dos investidores.
Assim, a alta do preço do petróleo gera a impressão de que os insumos vão encarecer em geral e prejudicar a receita das empresas, levando investidores a ajustar suas previsões de lucro.
Da mesma forma, uma baixa do petróleo causa a percepção de que os custos de produção vão cair, favorecendo as indústrias mais dependentes da commodity.
No caso dos EUA, onde o setor petrolífero tem grande peso na economia, as variações do preço do petróleo são frequentemente associadas à performance da indústria nacional como um todo.
Em resumo, a correlação entre petróleo e mercado financeiro não é necessariamente uma causalidade, e as projeções com base no preço commodity nem sempre são exatas.
Ainda assim, o preço do petróleo é visto pelos agentes como um indicador importante do desempenho econômico e sua variação influencia fortemente o apetite por risco ou a cautela dos investidores.
Não necessariamente.
O petróleo é uma commodity com forte influência sobre a economia global, mas não é o único fator que determina a rentabilidade dos investimentos.
Para fins pessoais, é sempre válido acompanhar o preço do petróleo como indicativo da direção que os preços de combustíveis e de bens em geral tendem a seguir.
Por outro lado, como investidor, o fundamental não é “se agarrar” ao preço do petróleo, e sim ter uma carteira de investimentos diversificada e adequada ao seu perfil.
O portfólio de investimentos ideal para cada investidor varia de acordo com objetivos e disposição ao risco, mas em geral, é uma boa ideia ter uma parcela do capital alocado em ativos mais seguros, como a renda fixa, outra parcela investida em ativos de renda variável e uma parte relativamente pequena destinada a ativos de maior risco.
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