Apesar de ser um país autossuficiente na produção de petróleo, o Brasil não possui plena capacidade de refino e precisa importar derivados como gasolina e diesel.
Essa condição deve permanecer nos próximos anos, mesmo considerando um cenário de eventual abertura gradual do mercado de refino.
Por outro lado, até o final desta década, o Brasil deverá ampliar sua condição atual de exportador líquido de petróleo, muito por conta das reservas do pré-sal.
Projeta-se que, em 2030, as exportações brasileiras alcançarão 3,4 milhões barris/dia, cerca de 65% da produção nacional no ano.
Esse volume expressivo poderá colocar o Brasil como um dos cinco maiores exportadores do mundo, o que elevaria a importância e relevância do país no quadro geopolítico da indústria mundial do petróleo.
Além disso, o “lifting cost” (custo de extração de petróleo) reduzido e a qualidade do óleo brasileiro nos colocam em uma posição estratégica no segmento para os próximos anos.
Com esse cenário em vista, fica a pergunta: será que vale a pena investir nas companhias relacionadas a este setor?
Na minha opinião, estamos diante de uma oportunidade de investimento em ações de empresas brasileiras do segmento de upstream, ou seja, exploração e produção de petróleo.
Abaixo, trago um panorama breve das empresas envolvidas e das motivações por trás desta minha análise.
Aproveito e ressalto: antes de qualquer investimento, faça questão de respeitar o seu perfil de risco e os seus objetivos de longo prazo.
Dado o recado, vamos lá!
Indice
É impossível analisar o setor de óleo e gás no Brasil sem mencionar a participação da Petrobras, que representa mais de 80% da produção de petróleo do Brasil.
A estatal está presente não apenas no segmento de exploração e produção (E&P), como também no refino e distribuição.
Trata-se de uma empresa integrada, com atuação no upstream (E&P), midstream (refino) e downstream (distribuição).
Outras grandes empresas produtoras globais de petróleo, conhecidas na indústria pelo termo “Global Majors” (Shell, Chevron, Exxon e BP), também possuem participações em campos no Brasil, embora estes campos representem parcelas pouco significativas em suas receitas.
Por último, existem ainda outras produtoras independentes de petróleo atuando no Brasil, algumas delas listadas em bolsa, como PetroRio (PRIO3), 3R Petróleo (RRPR3), Petro Reconcavo (RECV3), Enauta (ENAT3) e Dommo Energia (DMMO3).
Toda empresa lucrativa deve optar por reinvestir ou distribuir seus lucros aos acionistas.
Empresas de crescimento são aquelas que podem aumentar consideravelmente de tamanho, seja através de fusões e aquisições ou organicamente.
São companhias que não costumam pagar dividendos, justamente por conta das diversas oportunidades de alocação de capital disponíveis para novos projetos.
Por outro lado, as “vacas leiteiras”, como são apelidadas as boas pagadoras de dividendos, costumam ser empresas mais maduras, que já não conseguem dobrar ou triplicar de tamanho.
Olhando para o setor de óleo e gás no Brasil fica clara essa diferença:
A Petrobras não consegue dobrar sua produção de 2,8 milhões de barris/dia, mas pode pagar dividendos acima de 10% ao ano.
A PetroRio, a maior independente, tem totais condições de triplicar os seus 32 mil barris/dia ao adquirir e explorar novos campos nos próximos 3 a 5 anos, mas não paga dividendos. A mesma coisa vale para quase todas as outras independentes.
Com a colocação acima, fica claro que, para chegar a uma resposta, precisamos comparar bananas com bananas e maçãs com maçãs.
Esse é o princípio básico do efeito da análise comparativa no processo de valuation.
Neste caso específico, fica fácil de discernir que a estrutura da Petrobras é muito diferente das produtoras independentes.
Enquanto a Petrobras é proprietária de refinarias e estruturas de logística e transporte de combustíveis, todas as outras produtoras independentes estão focadas única e exclusivamente na produção e comercialização de petróleo bruto.
A PetroRio, que é a maior empresa independente de exploração e produção de petróleo no Brasil, possui cerca de 1,3% do tamanho da Petrobras.
Por serem empresas posicionadas apenas no segmento de exploração e produção, o resultado das produtoras independentes depende basicamente de dois fatores: custos de produção e preços do petróleo no mercado internacional.
A Petrobras, por outro lado, por estar presente na cadeia completa, do poço até a bomba, depende também de outros fatores domésticos e pode sofrer interferência política do governo, o maior acionista da companhia.
No entanto, acredito que esse risco adicional já esteja precificado atualmente, considerando o nível de desconto atual entre a estatal e as produtoras independentes quando comparamos o valor destas empresas em relação aos lucros esperados.
Aqui cabe um parêntesis: o grande ponto de atenção ao investir em empresas de commodities é que os preços de venda de seus produtos podem variar drasticamente, deixando as companhias com pouco controle sobre essa situação.
A vantagem das produtoras brasileiras independentes é justamente conseguir operar com custos extremamente competitivos.
A Petrobras, por sua vez, vem apresentando melhoras significativas na dívida, realizando desinvestimentos, focando mais em ativos do segmento de upstream com maior rentabilidade e pagando dividendos generosos para os seus acionistas.
A estatal está se desfazendo de vários ativos para focar na sua estratégia de E&P e sobretudo no pré-sal, vendendo até mesmo alguns campos cujo volume não justifica os esforços exploratórios, mas que são prato cheio para as independentes: um ganha-ganha para as empresas do setor.
Em resumo, são teses diferentes: enquanto a estatal pode melhorar sua alocação de capital e pagar bons proventos, as independentes estão em franco crescimento, adquirindo novos campos exploratórios e focadas em aumentar a produção.
A Petrobras não vai dobrar de tamanho, mas pode pagar bons dividendos.
As produtoras independentes não vão remunerar o acionista, mas podem crescer consideravelmente.
Vejo a alocação em empresas do setor de óleo e gás no Brasil muito mais como uma tese “top down” do que “bottom up” e acredito que o setor como um todo deve performar acima da média de mercado nos próximos 3 a 5 anos.
Dada a natureza da tese, a Petrobras precisa fazer parte da estratégia.
No entanto, acredito também que existem duas empresas produtoras independentes de menor porte que notoriamente possuem capacidade para se destacar mais do que as outras: PRIO3 e RECV3.
O foco da PetroRio (PRIO3) é adquirir campos maduros e atuar para reduzir seus custos e gerar melhores resultados. Desde 2015, a empresa vem adquirindo campos maduros em alta velocidade e elevando a produção, sem perder eficiência.
A principal vantagem da PetroRio é justamente a capacidade de operar a custos muito mais baixos.
Atualmente, o custo de extração de petróleo da PetroRio está em torno de US$ 12/barril, o que torna a empresa uma verdadeira máquina de gerar caixa, resiliente a praticamente qualquer cenário de preços de petróleo.
A Petroreconcavo (RECV3) possui um modelo similar, mas atua apenas em campos onshore (em terra).
A grande oportunidade para a RECV3 está no mercado de gás natural, no qual a empresa está posicionada entre as três principais produtoras independentes brasileiras.
A Petroreconcavo já está se beneficiando da abertura do mercado de gás no Brasil, assinando novos contratos com distribuidoras a preços mais altos e expandindo suas margens.
O mesmo pode acontecer com o óleo produzido pela companhia no futuro, já que hoje a produção é vendida diretamente para a Petrobras, com desconto em relação ao valor de mercado da commodity.
Para finalizar, se o setor de petróleo e gás no Brasil realmente crescer nos próximos anos, existem algumas poucas empresas que prestam serviços para a cadeia que poderiam acompanhar esse ritmo, ou eventualmente crescer ainda mais que as produtoras.
Estou falando especificamente de duas microcaps… mas isso é papo para um dos meus próximos artigos.
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