Homo economicus: a origem, o significado e o que está por trás do conceito  

Homo economicus é o nome dado a um conceito teórico segundo o qual os homens são completamente racionais e sempre tomam decisões financeiras com base na razão. Nessa teoria, o indivíduo busca atingir metas específicas com foco no seu bem-estar, ao menor custo possível.

Mas você sabe qual a origem desse conceito? E será que ele pode ser aplicado à realidade? 

Neste artigo, vamos entender tudo que está por trás do conceito e da definição de homo economicus.

Afinal, para que serve o estudo da economia? Será que somos Homo sapiens ou Homo economicus como prega essa forte corrente teórica?

Conceito de Homo economicus

Conceito de Homo economicus, ilustração

O conceito de Homo economicus diz que os humanos são sempre completamente racionais em suas decisões econômicas e financeiras, optando por aquilo que traz o melhor custo-benefício em todas as escolhas.

Faz sentido para você?

É muito difícil que esse conceito seja aplicado à vida real, e esse é o motivo pelo qual tantos estudiosos criticam essa teoria. Mas, como veremos ao longo do artigo, esse conceito de Homo economicus é utilizado também em outros campos do conhecimento, como a tecnologia.

Para você não ficar confuso, vale a pena retroceder e entender esse conceito desde sua origem, a teoria da utilidade.

Vamos lá?

O Homo economicus começa com o conceito de utilidade

Em seus primórdios, a economia trabalhava com a ideia de que sua função era melhorar a vida das pessoas

Em um sentido amplo, sua função era maximizar a felicidade. Portanto, ela estava preocupada com os sapiens de carne e osso.

O pai da economia, Adam Smith, no livro “Teoria dos sentimentos morais”, afirmou que os indivíduos simpatizam com o bem-estar dos outros. 

Em sua obra mais famosa, “A riqueza das nações”, ele passou a considerar que o egoísmo era o que movia os agentes econômicos. 

“Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas de sua consideração pelos próprios interesses”.

Um pouco antes, no século 19, John Stuart Mill defendia a ideia de que “as ações são corretas na medida em que tendem a promover a felicidade, erradas na medida em que tendem a promover o reverso da felicidade”. 

Posteriormente se viu que era muito difícil definir felicidade

Para contornar esse problema, adotou-se a ideia de utilidade, que foi definida como os fatores que melhoram o bem-estar das pessoas (feel good factor).

LEIA TAMBÉM | Vieses cognitivos: conheça os 10 que mais afetam os investidores 

Como funciona a teoria da utilidade?

Como funciona a teoria da utilidade, ilustração

Segundo a teoria da utilidade, os agentes econômicos são racionais e tomam decisões econômicas de forma preponderantemente racional e deliberativa. 

Sendo assim, sempre pensam antes de decidir, analisam todos os fatores envolvidos e escolhem o que aumenta seu bem-estar.

A ideia da maximização da utilidade encontrava abrigo na psicologia behaviorista, particularmente nos trabalhos de John B. Watson, para quem o comportamento poderia ser explicado por estímulos externos (prêmio ou punição), tanto em ratos como em humanos. 

Os humanos seriam, portanto, naturalmente induzidos a tomar decisões que aumentam seu bem-estar, pois quando decidem pelo que não maximiza a utilidade são punidos, o que desestimularia esse comportamento.

LEIA MAIS | Contabilidade mental: entenda como funciona esse viés e veja como se proteger dele 

Mas o que gera bem-estar nas pessoas?

Definir o que gera bem-estar nas pessoas também é algo difícil. Por isso, destacou-se a hipótese de que ele era sempre resultado do aumento do consumo. 

Os economistas sabiam que essa relação não era de todo verdadeira, mas a consideravam suficientemente boa para a grande maioria das situações.

Dessa forma, a economia clássica passou a considerar que os agentes econômicos tomam decisões racionais e deliberadas

Para facilitar a utilização de modelos matemáticos, a economia e, posteriormente, as finanças viraram as costas aos seres humanos reais e se voltaram a um universo de agentes racionais, egoístas e maximizadores de utilidade. 

Nascia assim o modelo que tomou o lugar do Homo sapiens na economia.

LEIA TAMBÉM | Efeito dotação: entenda o viés que faz você supervalorizar o que possui e rejeitar mudanças 

Como surgiu o conceito de Homo economicus?

Como surgiu o conceito de Homo economicus, ilustração

O Homo economicus foi adotado por muitos economistas, especialmente os adeptos da econometria, que é a aplicação de métodos estatísticos a dados econômicos, ou seja, a análise quantitativa dos fenômenos econômicos. 

Esse modelo de ser plenamente racional, totalmente desprovido de emoções, que age apenas movido por egoísmo e ganância, é o Homo economicus. 

Seu comportamento é definido pela constante busca de seu próprio bem-estar, conforme definido pela função de utilidade, dadas as oportunidades percebidas. 

Ou seja, o indivíduo busca atingir metas muito específicas e predeterminadas, na medida do possível, com o menor custo possível.

VEJA TAMBÉM | Excesso de confiança: como se proteger contra esse perigoso viés cognitivo 

As críticas ao conceito de Homo economicus

Desde sua origem, esse modelo recebeu muitas críticas. 

Economistas famosos como Thorstein Veblen, John Maynard Keynes e Herbert A. Simon, entre tantos outros, criticam o Homo economicus. 

Para eles, os agentes econômicos precisariam de um conhecimento muito grande de macroeconomia e previsão econômica para tomar decisões racionais. 

Os agentes não conseguem avaliar riscos e incertezas e têm racionalidade limitada na tomada de decisões.

Em contrapartida, os defensores do Homo economicus afirmam que os agentes econômicos não precisam ser totalmente racionais, basta que sejam racionais na maior parte do tempo para que os modelos baseados no pressuposto de racionalidade funcionem.

Mesmo sob pesadas críticas, o homem racional foi adotado pelas escolas de negócios, pelas finanças, pela ciência da decisão e até mesmo pela política. 

A ideia de delegar as decisões a algoritmos chegou ao auge na Guerra do Vietnã, quando Robert McNamara acreditava que os computadores poderiam tomar melhores decisões que os generais. 

Como sabemos, o resultado da guerra não foi muito favorável a McNamara.

Mas aquele revés não desanimou os defensores dos algoritmos como uma ferramenta para fazer sugestões, previsões e tomada de decisões calculadas a partir de dados. 

LEIA MAIS | Efeito de disposição: por que suportar perdas é mais fácil do que ganhos? 

Os algoritmos de decisão e o conceito de Homo economicus

Os computadores cada vez mais velozes, os computadores quânticos e as montanhas de dados que se acumulam possibilitam a formulação de algoritmos de decisão cada vez mais precisos. 

A aprendizagem de máquina – machine learning – tem enchido de esperança aqueles que acreditam que muito em breve nós, Homo sapiens, seremos suplantados pelo Homo economicus ou pelo Homo deus, conforme pregado pelo professor Yuval Harari.

No mercado financeiro, os robôs investidores ou robô traders têm ganhado popularidade. Em outras áreas, não é diferente. 

A capacidade das máquinas de analisar exames e dar diagnósticos médicos cada vez mais precisos indica que em breve poderão suplantar médicos bem formados. 

Nós, humanos, já fomos superados de forma insuspeita no jogo de xadrez e no extremamente complexo jogo de Go, popular na China.

Vamos além das provocadoras perguntas do início deste artigo: será que em breve teremos moedas digitais totalmente rastreáveis, com grandes computadores executando dinâmica e automaticamente a política fiscal e econômica de forma mais eficiente que os economistas humanos? 

Será que no futuro os Homo sapiens incorporarão em seu dia a dia mecanismos de decisão que vão eliminar nossas idiossincrasias, nossos medos, nossas paixões e nossas limitações ao analisar todos os dados disponíveis na hora de tomar decisões e que nos tornarão mais parecidos com o Sr. Spock de Star Trek – estritamente lógico, centrado em um objetivo claramente definido e livre das influências instáveis de emoção ou irracionalidade

Sinceramente, espero que mais uma vez os ultrarracionalistas estejam errados.

Se você gostou desse artigo, talvez também se interesse por: