De criança prodígio a gênio incompreendido: conheça a história de Alan Turing  

Se hoje temos acesso a computadores e às inovações da inteligência artificial, um dos grandes responsáveis por isso é o cientista e matemático britânico Alan Turing.

Apesar de sua importância ser inegável para o mundo, seu nome era pouco conhecido pelo grande público antes do lançamento do filme biográfico “O Jogo da Imitação”, de 2015, estrelado por Benedict Cumberbatch e Keira Knightley. 

Considerado uma das mentes mais brilhantes do século passado, Alan Turing desenvolveu a base da computação moderna e ajudou os aliados a vencerem a 2ª Guerra Mundial desvendando o Enigma da inteligência nazista.

Mas a confidencialidade de seu trabalho e a perseguição contra homossexuais na Inglaterra fizeram com que pouco de seu trabalho fosse reconhecido em vida.

Apesar de suas contribuições significativas à sociedade, Turing foi condenado por indecência e sofreu castração química aos 39 anos. O motivo? Ele mantinha relações com outro homem, e a prática da homossexualidade era considerada um crime na Inglaterra — e só deixou de ser ilegal em 1967. 

Mesmo considerando os avanços conquistados pela luta por direitos LGBTQIA+, segundo o jornal The Guardian, a polícia do Reino Unido relatou que os crimes de homofobia quase dobraram durante a pandemia do coronavírus.

Somado a isso, dados da fundação Stonewall mostram que mais de ⅓ das pessoas LGBTQIA+ ainda escondem sua identidade no ambiente de trabalho por medo de discriminação. 

No artigo de hoje, vamos conhecer um pouco mais sobre a história do cientista Alan Turing e os impactos que suas ideias tiveram na sociedade atual

Vamos lá? 

Quem foi Alan Turing

Nascido em Londres em 1912, Alan Turing apresentou sinais de sua genialidade ainda na infância.

Aos 15 anos, já resolvia problemas matemáticos complexos sem nunca ter estudado cálculo e questionava a elaboração das teorias da relatividade de Albert Einstein.

Aos 24, desenvolveu um modelo computacional teórico, chamado hoje de Máquina de Turing, que contribuiu para os fundamentos da computação moderna.

Em 1939, no início da 2ª Guerra Mundial, Turing trabalhou em Bletchley Park, uma organização secreta britânica de quebra de códigos. Na época, mensagens de rádio eram interceptadas e utilizadas para descobrir coordenadas secretas com frequência, porém a Enigma, máquina de código utilizada pelos nazistas, tornava as mensagens praticamente impossíveis de serem traduzidas. 

Foi nesse período que Turing desenvolveu o projeto de sua Bombe, uma máquina eletromecânica que permitiria ler as mensagens da Enigma mais rápido do que qualquer outra pessoa ou aparelho.

Sua criação tornaria-se a principal ferramenta para decodificar mensagens, uma arma valiosa que auxiliou os aliados na vitória contra as tropas de Hitler na Alemanha. 

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“Poderia uma máquina pensar?”: Turing e os debates sobre inteligência artificial

A interação com a inteligência artificial rodeia nossas vidas de inúmeras maneiras, seja na internet ou fora dela, e os algoritmos são responsáveis por personalizar nossa experiência nessa esfera: influenciam nossos hábitos de compras, o uso de redes sociais e até mesmo nossas escolhas de entretenimento.

É difícil imaginar uma vida sem essas interações, mas nada disso teria se concretizado sem os estudos iniciais de Alan Turing sobre computação. 

Em um artigo publicado em 1950, o matemático questiona: “poderia uma máquina pensar?” Dessa pergunta inicial seria desenvolvido o Teste de Turing, uma das formas de mensurar a capacidade de inteligência de uma máquina.

Piloto do ACE (sigla em inglês para Sistema de Computação Automática), que viria a ser o primeiro computador eletrônico.

O sistema era tão avançado que poderia calcular cenários matemáticos completos, e não apenas equações individuais. O primeiro ACE seria o primeiro computador eletrônico e um dos primeiros computadores com software construídos na Inglaterra. Ele era o computador mais rápido do mundo na época, com 1 MH

Nele, uma pessoa e um computador respondem a perguntas de outra pessoa, que ao final deve distinguir quem é quem. Se o computador consegue confundir o humano, ele vence esse jogo de imitação.

A brincadeira é considerada uma forma simples de entender até que ponto computadores podem aprender sobre a natureza humana, nossa lógica e capacidades linguísticas. 

É por isso que até hoje os questionamentos de Turing seguem sendo sendo contribuições significativas para o debate filosófico sobre inteligência artificial. 

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Um gênio incompreendido, um símbolo de esperança

Embora Turing tenha se tornado uma espécie de herói anônimo devido à sua contribuição para a vitória dos aliados durante a 2ª Guerra, isso não o deixou ileso de sofrer preconceito por sua sexualidade.

Abertamente gay, em 1952 o cientista foi condenado por indecência grosseira por atos homossexuais e teve de optar entre a prisão e a castração química. Cerca de dois anos depois, ele foi encontrado morto, com a causa de morte sendo intoxicação por cianeto. 

As investigações não concluíram se a morte foi acidental ou proposital, mas isso não tornou seu final menos trágico, especialmente considerando todos os seus feitos à sociedade. 

Em 2009, quase 60 anos após sua morte, milhares de pessoas se uniram para buscar justiça para o cientista, assinando petições para reverter sua condenação na justiça britânica.

Com isso, ele se tornou um símbolo moderno de luta entre a comunidade LGBTQIA+. 

Em 2013, a Rainha Elizabeth concedeu a Alan Turing o perdão real póstumo, ato realizado apenas três outras vezes desde o final da 2ª Guerra Mundial.

Em seguida, em  2017, uma nova lei do estado britânico anulou a condenação de quase 70 mil cidadãos perseguidos por suas orientações sexuais. Informalmente, a lei ficou conhecida como “Lei Alan Turing”.

No ano passado, Turing foi escolhido para estampar as notas de 50 libras esterlinas, moeda do Reino Unido, como um símbolo de sua importância e forma de ampliar sua visibilidade.

Além do rosto de Turing, a nota de 50 libras apresenta fórmulas matemáticas e desenhos técnicos feitos por ele.

Jeremy Fleming, diretor de comunicações do governo, afirmou a importância da decisão: “Seu legado é um lembrete da importância de incluirmos todos os aspectos da diversidade, assim como tudo que ainda precisamos fazer para sermos verdadeiramente inclusivos”. 

É triste que a importância do trabalho de Turing tenha sido celebrada apenas tantas décadas depois de sua morte, e pior ainda que o preconceito e a homofobia tenham sido causas de seu apagamento na história, mas isso não torna seus feitos ou a relevância de sua representatividade menos significativos.

O cientista foi uma figura de valor imensurável para a sociedade moderna, e ainda seguiremos nos beneficiando das ideias geniais e da coragem de Turing por muitos anos.

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