Daniel Kahneman é um psicólogo israelense que venceu o Prêmio Nobel de Economia em 2002, ao apresentar descobertas que desafiaram a ideia da racionalidade humana na tomada de decisões.
Com seus parceiros de pesquisa, Kahneman deu origem ao que seria entendido como a economia comportamental. Foi a partir desses estudos que os vieses cognitivos passaram a se tornar conhecidos.
Entre suas obras, a mais conhecida é “Rápido e Devagar”, um dos livros mais recomendados para os investidores — mesmo que o foco não seja exatamente o mercado financeiro.
Mas, afinal, quais são as lições de Daniel Kahneman para os investidores?
Neste artigo, reunimos a trajetória e os principais ensinamentos de Kahneman, para você se inspirar — e investir melhor.
Vamos juntos? Boa leitura!
Indice
Daniel Kahneman é um psicólogo, professor universitário, escritor e pesquisador nascido em Israel. Kahneman é conhecido por seus trabalhos sobre a psicologia das tomadas de decisões. Ele é um dos fundadores da economia comportamental, nicho de pesquisa que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Economia em 2002.
Apesar do Nobel de ciências econômicas, Kahneman é um psicólogo que, em suas próprias palavras, nunca fez um curso de economia.
Mesmo assim, sua abordagem psicológica sobre a teoria dos prospectos, um modelo comportamental que mostra como as pessoas decidem entre alternativas que envolvem risco, foi de grande relevância para a ciência econômica.
Em 2011 ele lançou o best seller “Thinking, Fast and Slow”, traduzido em português como “Rápido e devagar”, livro de muito prestígio em ambientes empresariais e entre pessoas que lidam com inteligência emocional, liderança e tomada de decisões.
Professor de psicologia e assuntos públicos da Universidade de Princeton, Kahneman desenvolveu estudos que beneficiaram diversos nichos da sociedade, incluindo o mercado financeiro.
Antes de explorar algumas lições, porém, vamos entender a trajetória de Daniel Kahneman.
Daniel Kahneman nasceu em Tel Aviv em 1934, quando sua mãe estava de passagem na cidade para visitar alguns parentes. Cresceu em Paris, filho de pais lituaneses e judeus.
Sua infância em Paris coincidiu com a ocupação nazista no país no ano de 1940, e foi de grande importância para sua formação profissional.
Kahneman conta que em um dos episódios vividos em decorrência da ocupação nazista e da perseguição os judeus, ele sedimentou a ideia de que queria aprender mais sobre psicologia, se inspirando na frase de sua mãe de que “seres humanos são infinitamente complicados e interessantes”.
Neste simbólico episódio, o psicólogo estava voltando para casa após o horário do toque de recolher imposto aos judeus.
Ele tinha escondido a estrela de Davi que os judeus eram obrigados a usar, de modo a evitar atrair a atenção dos nazistas. No caminho, porém, ele se deparou com um dos membros da tropa de proteção do exército nazista, conhecida como “SS”.
A SS – Schutzstaffel foi a principal tropa de “segurança” e disseminação de terror na ocupação da França.
Desnecessário dizer que Kahneman ficou aterrorizado com a perspectiva de cruzar com o soldado.
Porém, o oficial se aproximou, o abraçou, mostrou uma foto de uma criança e se afastou. Em decorrência desse episódio, o jovem Daniel decidiu estudar psicologia.
Em 1954, Kahneman formou-se em psicologia na Universidade Hebraica de Jerusalém.
Ele prestou serviços para o departamento de psicologia do exército de Israel até 1958, quando foi aos Estados Unidos para fazer seu PhD na Universidade da Califórnia.
Por lá, estudou psicologia cognitiva e deu aulas entre 1961 e 1967, focando seus estudos em percepção visual e atenção.
Posteriormente, iniciou seus estudos sobre julgamento e tomada de decisão, em parceria com Amos Tvesky, que culminou em sua teoria de prospecto em 1979.
Esse foi o estudo que lhe rendeu o Nobel em 2002.
Os estudos da dupla foram de grande relevância para desenvolver a noção dos vieses cognitivos e como eles influenciam a tomada de decisão das pessoas, embora sejam ignorados pela maioria delas.
As implicações desta teoria para a ciência econômica foram notáveis, porque mudaram a forma de pensar a economia e os investimentos.
Foi em razão disso que Richard Thaler, um jovem economista na época que conheceu Daniel Kahneman, e Amos Tversky se interessaram no tema.
Os três estudiosos começaram a se inteirar dos objetos de estudo de seus pares e influenciar cada vez mais na forma com que cada um pensava.
Isto culminou na obra “Toward a Positive Theory of Consumer Choice”, posteriormente reconhecida como o texto primordial de economia comportamental.
Aos poucos, Kahneman foi mudando o foco de seus estudos da psicologia comportamental para a psicologia hedonística e o estudo sobre a felicidade.
Neste contexto, o autor desenvolveu a famosa tese que um americano médio não precisa de um salário maior do que 70 mil dólares anuais para ser feliz, levando em consideração suas necessidades fundamentais.
O psicólogo ainda concentra seus estudos na questão da felicidade, tendo definido a felicidade como “a experiência que eu tenho aqui e agora”, enquanto satisfação de vida tem a ver com a satisfação de metas pessoais em diversas áreas da vida, como carreira, relacionamento, família etc.
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Ganhar um prêmio Nobel não impediu Daniel Kahneman de ter seu nome envolvido em polêmicas.
Defender o argumento, antes tão negado, de que a economia para seres humanos não funciona de forma puramente racional não é nada simples.
Ele vai totalmente contra o senso comum que acha que tomamos decisões totalmente de forma estratégica, racional e calculada.
A ideia de que que fazemos otimização de tempo e recursos, que pensamos e agimos de forma utilitarista.
Essa linha de pensamento é a base de diversos preceitos econômicos a respeito de como as decisões são tomadas.
Isso também reflete na forma com que ele explica e interpreta toda a economia mundial, trazendo à tona as falsas sensações de segurança que muitos têm em relação ao mercado financeiro.
Ele explica que nossa aversão a perder dinheiro é muito maior do que o prazer que sentimos ao ganhá-lo, daí a nossa resistência em vender ativos.
Isso pode fazer com que você fique ancorado em investimentos ruins, sem perceber, racionalmente, que o momento de vender já chegou e talvez tenha passado, porque você está preso a um viés.
Vamos entender mais lições que Kahneman deixa para os investidores?
Listamos aqui alguns aprendizados relacionados aos estudos de Daniel Kahneman e que podem ser úteis na sua vida como investidor. Acompanhe:
Não é nossa intuição ou algum tipo de sexto sentido que diz como o mercado irá agir.
Por mais que você possa achar isso absurdo, diversos investidores, principalmente os mais inexperientes, ainda se pautam pela intuição na hora de alocar seus recursos.
Saber o momento de comprar ou vender, agir ou esperar é fruto de muito estudo, conhecimento, pesquisa e, mesmo assim, não há como se ter certeza, de forma antecipada, do rumo do mercado.
O melhor a se fazer, em todos os casos, é respeitar o seu perfil de risco e montar uma carteira de investimento dentro do seu perfil de investidor.
É o mercado quem demonstra, na prática, quem errou ou acertou.
Então, não adianta agir por impulso ou apenas querer estar certo porque você teve um feeling.
Isso se conecta diretamente com o fato anterior, de distinguir intuição e razão.
Mas, aqui, o ponto é reconhecer o erro e remediar. No anterior, o objetivo era prevenir que o erro fosse cometido.
Por mais estranho que pareça, alguns investidores mais experientes sabem que a melhor hora de pular de um barco furado é antes que ele se afunde cada vez mais.
Evitar que um erro contamine os demais é o maior ganho de manter o otimismo.
Ele não tem a ver com alguma crença cega, mas sim com apontamentos reais e factíveis a respeito de um tema.
O otimismo permite ver o lado bom de uma situação, apesar de algum erro ou problema que tenha ocorrido. Assim, você enxerga quando algo, apesar das dificuldades, pode prosperar.
A questão aqui é não se deixar ancorar por uma experiência, e sim continuar tomando decisões embasadas na maior racionalidade possível.
Empresas e setores têm fases, e elas mudam de acordo com diversos aspectos. É essencial se manter atento e ativo para investir de forma consciente e encontrar boas oportunidades.
Em suas pesquisas, Kahneman notou diversos aspectos do comportamento humano na tomada de decisões, incluindo a influência de nossos sentimentos nesse processo.
A partir daí, ele pode registar que tal influência era regra e não exceção em todos os processos decisórios.
Entre as pesquisas, havia questões como essa:
1. Você tem R$ 1 mil e conta com duas opções:
Você prefere a alternativa A ou B?
Depois da resposta, ele seguia para a próxima pergunta
2. Agora, você tem R$ 2 mil na conta e continua com duas opções:
Qual alternativa você prefere aqui?
Ao notar a recorrência de respostas B para a primeira pergunta e A para a segunda, ele notou que temos mais chances de aceitarmos o risco quando ele está associado a evitar uma perda.
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Na prática, não há diferença entre ganhar R$ 600,00 e perder R$ 300,00, e ganhar apenas R$ 300,00. Correto?
Mas, na nossa percepção, essas situações são vistas de forma muito distintas. Isso porque a dor da perda é maior do que a que está associada ao ganho.
Mesmo vivendo situações com resultados idênticos, nossa percepção da situação muda, pela forma com que sentimos e vivenciamos cada uma delas.
Por isso, é importante ter em mente o que é percepção do que é resultado de fato.
No mercado financeiro, essa diferenciação é essencial para que não tenhamos impressões erradas a respeito de bons investimentos, que atingem boa valorização mesmo com altos e baixos. Afinal, nenhum resultado na renda variável é linear.
Você precisa ter em mente as influências das suas emoções e dos sentimentos na hora de investir, para que as escolhas sejam embasadas em decisões racionais, minimizando os riscos.
Gostou da história e das lições de Daniel Kahneman? Talvez você também se interesse por outros conteúdos de vieses cognitivos que publicamos aqui na Warren Magazine, com o auxílio do professor Jurandir Sell Macedo, um dos primeiros a estudar Daniel Kahneman no Brasil.