NYSE: conheça a história da Bolsa de Valores de Nova York  

Em Nova York, no distrito de Lower Manhattan, a esquina entre as ruas Wall Street e Broad Street abriga o edifício mais valioso do planeta. Dentro deste prédio, os sistemas gerenciam uma imensa lista de ativos cujo valor atual ultrapassa US$ 26 trilhões.

Sim, estamos falando da NYSE.

Representando mais de 30% da capitalização do mercado global, a maior bolsa de valores do mundo negociou uma média diária de 10,9 bilhões de papéis em 2020.

Fundada há mais de 200 anos, a NYSE é uma das bolsas mais antigas do mundo e está intrinsecamente ligada à história do mercado financeiro e da economia global nos últimos séculos.

Neste artigo, vamos passar pela trajetória do pregão que norteia as operações do mercado mundial e entender sobre seus índices e principais empresas listadas.

O que é a NYSE

A sigla NYSE significa “New York Stock Exchange” – literalmente, “Bolsa de Valores de Nova York”. Mas ela também é “carinhosamente” chamada de “The Big Board”.

A NYSE é um pregão, assim como a B3 no Brasil e a LSE no Reino Unido, onde estão listadas muitas das maiores empresas do mundo. A grande maioria das transações ocorre de forma eletrônica, mas a NYSE ainda oferece a possibilidade do pregão presencial.

Entre as maiores companhias negociadas na NYSE (por capitalização de mercado) estão Walmart, Disney, Coca-Cola, Mastercard, ExxonMobil, J.P. Morgan, Boeing e Alibaba Group.

A NYSE também é responsável por dois dos índices mais relevantes de todo o mercado global: o S&P 500 (SPX) e o Dow Jones Industrial Average (DJIA), que rastreiam o desempenho de mais de 500 empresas de altíssimo valor de mercado.

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História da NYSE

Século XVIII: os primórdios da bolsa

As raízes da primeira bolsa de valores dos EUA foram formalizadas em 1792. Em 17 de maio daquele ano, 24 corretores do mercado assinaram um documento conhecido como Acordo de Buttonwood.

O nome do acordo vem de uma espécie da árvore Platanus occidentalis (chamada popularmente em inglês de “Buttonwood”), sob a qual o documento teria sido assinado.

As diretrizes do Acordo de Buttonwood definiram que as negociações de ativos nos EUA deveriam ocorrer diretamente entre corretores, dispensando o intermédio dos leiloeiros de commodities, como era o costume no país até então.

Outro ponto estipulado pelo acordo era a taxa mínima de 0,25% de comissão que seria cobrada sobre o valor dos ativos negociados.

As primeiras transações da bolsa aconteciam no Tontine Coffee House, em Manhattan, construído por agentes do mercado em 1793. O próprio estabelecimento era financiado por corretores através de uma tontina, um tipo de fundo de pensão coletivo comum na época.

Pintura do anglo-americano Francis Guy (1797), retratando o Tontine Coffee House à esquerda e Wall Street à direita.

Em pouco tempo, o Tontine tornou-se um movimentado centro comercial e financeiro. Além de ações, seus salões hospedavam leilões e bailes e também atividades menos ortodoxas, como apostas e comércio de escravos.

O debate político também era parte fundamental da atmosfera do café. Há registros de manifestações e até confrontos físicos entre simpatizantes e críticos da Revolução Francesa, e também entre conservadores e liberais britânicos da época.

Século XIX: a criação da NYSE

Após mais de duas décadas em funcionamento, a bolsa começou a crescer além da capacidade do Tontine.

Em 1817, foi oficialmente criada a New York Stock and Exchange Board (NYSEB), sediada em um prédio alugado no nº 40 de Wall Street.

Pelos 48 anos seguintes, a NYSEB funcionou em 11 endereços até se estabelecer no lugar atual em 1865, entre as ruas Wall Street, Broad Street, Exchange Place e New Street. Dois anos antes, em 1863, a sigla fora encurtada para NYSE.

Em 1867, a bolsa adotou os stock tickers, máquinas operadas por telégrafo que registravam as oscilações de preços de cada ação ao longo do dia. Em 1878, foram instalados os primeiros telefones, seguidos por luzes elétricas em 1883.

Século XX: expansão, crash e recuperação

Nas décadas seguintes, a NYSE construiu novos prédios para comportar o rápido aumento nas negociações. Em 1903, a bolsa adotou o sino de latão para anunciar a abertura e fechamento do mercado, e em 1915, todos os preços tornaram-se expressados em dólar.

Já em 1929, o dia 25 de outubro seria eternamente lembrado pela história como “Black Friday”, o dia seguinte ao imenso volume de vendas que quebrou a NYSE e deu início à Grande Depressão.

Fonte: Wikimedia Commons

A recessão econômica que sucedeu a Black Friday durou até 1941. Somente em 1953, o índice Dow Jones voltaria ao nível recorde que registrou antes da quebra em 1929.

Um grande divisor de águas ocorreu em 1943, quando a NYSE liberou a participação de mulheres nos pregões.

A decisão foi tomada no contexto da Segunda Guerra Mundial, quando um grande contingente de homens estava em serviço militar.

Falando em equidade, em 1967, a empresária Muriel Siebert tornou-se a primeira mulher com participação societária na NYSE. Três anos depois, em 1970, o advogado Joseph L. Searles III seria o primeiro negro a alcançar a mesma posição.

Século XXI: abertura de capital, expansão e novos recordes

Já ostentando o título de maior bolsa do planeta, o século XXI trouxe novas transformações para a NYSE, que consolidaram a posição de destaque que ela ocupa hoje.

Em 2005, a entidade lançou o NYSE Hybrid Market, que mesclava o pregão presencial à modalidade eletrônica.

Em 2006, a NYSE comprou a bolsa rival Archipelago Exchange e formou a NYSE Group. A operação também levou à abertura de capital (o famoso IPO) da empresa, transformando as participações dos sócios em ações sob o marcador NYX.

No ano seguinte, a NYSE Group se fundiu à bolsa europeia Euronext, criando a NYSE Euronext, o pregão transatlântico do mundo. 

Já em 2008, a NYSE Euronext comprou a bolsa American Stock Exchange e a reestruturou como NYSE American.

Em 2020, o Dow Jones Industrial Average registrou, no mesmo mês, a maior alta e a maior baixa diárias da história em um único dia (em pontos): o índice caiu 2.997 pontos em 16 de março e subiu 2.113 pontos oito dias depois, em 24 de março.

Em 20 de janeiro de 2021, o DJIA registrou seu nível mais alto, atingindo a marca de 31.188 pontos no fechamento do pregão.

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Diferenças entre NYSE e Nasdaq

Embora a NYSE seja a maior e mais antiga bolsa de valores dos EUA, é impossível falar sobre a história recente do mercado financeiro americano sem mencionar a Nasdaq.

A Nasdaq foi fundada em 1971 como o primeiro pregão eletrônico do mundo. É a segunda maior bolsa global por capitalização de mercado, superando US$ 18 trilhões em listagens.

A capitalização de mercado de uma empresa corresponde ao total de ações disponíveis no mercado multiplicado pelo valor de cada ação. Sendo assim, é um número que varia com o tempo e não corresponde ao valor real da empresa, representado pelo patrimônio líquido.

Enquanto a NYSE lista muitas das empresas tradicionais de setores como indústria e finanças, a composição da Nasdaq é majoritariamente formada por companhias de tecnologia e segmentos focados em crescimento.

Entre as empresas mais valiosas listadas pela Nasdaq estão Microsoft, Apple, Amazon e Facebook. Em contraste, o pregão da NYSE oferece ações como Boeing, 3M, ExxonMobil, Visa, General Electric e Citigroup.

Desta forma, as ações listadas pela Nasdaq costumam apresentar volatilidade mais alta que as da NYSE – isto é, seus preços oscilam mais e com maior frequência.

Outra grande diferença entre as bolsas é a forma de negociação.

Na NYSE, as transações ocorrem no formato de leilão, ou seja, os participantes negociam ações diretamente entre si. Já na Nasdaq, há o intermédio de corretores – conhecidos como “market makers” – que combinam vendedores e compradores eletronicamente.

Principais índices dos EUA

No mercado financeiro, um índice é um indicador do desempenho médio de um grupo de ativos importantes. Normalmente, os índices rastreiam ações de grandes empresas ou fundos.

Os três principais índices dos EUA são o Dow Jones Industrial Average, o S&P 500 e o Nasdaq Composite.

Os dois primeiros rastreiam ações em ambas as bolsas, enquanto o terceiro é restrito a companhias listadas pela Nasdaq.

Outros índices de destaque incluem o NYSE Composite e o Nasdaq 100. O foco destes índices costuma ser em blue chips, um termo que se refere às ações mais valiosas do mercado por estabilidade e capitalização.

Confira na tabela abaixo os principais índices do mercado americano e suas características.

NomeBolsas rastreadasAno de criaçãoComposição
Dow Jones Industrial Average (DJIA)NYSE; Nasdaq1885 30 blue chips determinadas por especialistas
S&P 500 (SPX)NYSE; Nasdaq1957500 empresas de alta capitalização de mercado
Nasdaq Composite (COMP)Nasdaq1971Todas as ações listadas na Nasdaq (cerca de 2.500 companhias)
Nasdaq 100 (NDX)Nasdaq1985100 empresas de diversos setores, exceto finanças
NYSE Composite (NYA)NYSE1966Todas as ações listadas pela NYSE (mais de 2 mil empresas), incluindo companhias estrangeiras e subsidiárias
Russell 3000 (RUA)NYSE; Nasdaq19843 mil maiores companhias em todo o mercado dos EUA
Russell 1000 (RUI)NYSE; Nasdaq19841 mil maiores companhias na lista do Russell 3000
Russell 2000 (RUT)NYSE; Nasdaq19842 mil menores companhias na lista do Russell 3000

O índice mais acompanhado de todo o mercado global é o S&P 500. Ele é considerado um termômetro da economia americana, uma vez que rastreia um alto número das maiores companhias do país (muitas entre as maiores do planeta).

Já o Dow Jones, embora mais antigo, não é visto por analistas como um retrato tão preciso do mercado financeiro. Isso ocorre porque rastreia menos empresas e usa uma metodologia que favorece ações mais caras, e não necessariamente de maior capitalização.

Por sua vez, os índices Russell foram criados para refletir o desempenho de um número bem maior de empresas, incluindo as chamadas mid-caps e small-caps, que não estão entre as líderes globais, mas também movimentam um grande volume de negociações.

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Principais empresas listadas na NYSE

A seguir, listamos as 15 maiores empresas listadas na NYSE por capitalização de mercado. Os valores são referentes a janeiro de 2021.

Nome da empresaSetorCapitalização (market cap)
Alibaba (BABA)TecnologiaUS$ 686,8 bilhões
Berkshire Hathaway (BRKA)ConglomeradoUS$ 535,8 bilhões
Johnson & Johnson (JNJ)FarmacêuticoUS$ 429,4 bilhões
Walmart (WMT)VarejoUS$ 397,5 bilhões
JPMorgan Chase (JPM)FinançasUS$ 392,2 bilhões
Visa (V)FinançasUS$ 327,7 bilhões
UnitedHealth (UNH)SaúdeUS$ 316,5 bilhões
Procter & Gamble (PG)Bens de consumoUS$ 315,7 bilhões
Mastercard (MA)FinançasUS$ 315,3 bilhões
Disney (DIS)EntretenimentoUS$ 305,1 bilhões
Home Depot (HD)Bens de consumoUS$ 291,6 bilhões
Bank of America (BAC)FinançasUS$ 256,5 bilhões
Verizon (VZ)TelecomunicaçõesUS$ 226,6 bilhões
Abbott Laboratories (ABT)FarmacêuticoUS$ 219 bilhões
Nike (NKE)VestuárioUS$ 210,6 bilhões
Coca-Cola (KO)AlimentosUS$ 206,9 bilhões
Salesforce (CRM)ComputaçãoUS$ 206,5 bilhões
Novartis AG (NVS)FarmacêuticoUS$ 204,2 bilhões
AT&T (T)TelecomunicaçõesUS$ 204 bilhões
Thermo Fisher (TMO)Equipamentos científicosUS$ 202 bilhões

Como investir na NYSE?

Existem algumas opções para que o investidor brasileiro invista em ações na NYSE, ou em qualquer outra bolsa dos EUA.

A forma mais prática de investir na NYSE é através de ETFs Internacionais (Exchange Traded Funds), que são fundos de investimentos negociados no Brasil que rastreiam índices norte-americanos.

Atualmente, a bolsa brasileira lista duas oportunidades de ETFs relacionados à NYSE: o IVVB11 e o SPXI11. Ambos os fundos buscam reproduzir o desempenho do índice S&P 500, com pequenas diferenças relacionadas à gestão, estratégia e taxas.

Outra alternativa é aplicar em BDRs (Brazilian Depositary Receipts), uma espécie de ativos brasileiros que simulam ações de outro país. A B3 oferece mais de 550 BDRs de empresas dos EUA, contra cerca de 430 ações brasileiras.

A vantagem de investir em BDRs é poder aplicar em papéis estrangeiros diretamente no Brasil e em reais; contudo, vale lembrar que eles não são literalmente ações das empresas, e as instituições emissoras cobram taxas sobre o investimento.

Além disso, a Warren possui um fundo de ações americanas, que diversifica o patrimônio do investidor nas maiores empresas americanas.

O principal objetivo do Warren Ações USA é entregar uma performance semelhante ao S&P 500, o maior índice do mercado americano. A aplicação é feita em bolsa e moeda local, a fim de neutralizar a variação do dólar.

Por fim, é possível investir diretamente na NYSE através de uma corretora americana. Este método dá maior liberdade e opções ao investidor, mas é também o mais caro e burocrático, pois exige permissão para operar nos EUA e conversão do real em dólares.

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