Em 1994, o Brasil era tetracampeão da Copa do Mundo, Itamar Franco era o presidente, Pulp Fiction e Forrest Gump estreavam nos cinemas e uma nota de um real era capaz de comprar dez pães franceses ou um quilo de frango.
Parece que foi ontem: Zezé Di Camargo e Luciano dominavam as mais tocadas nas rádios pelo Brasil e o país acompanha a novela Fera Ferida. Mas lá se vão 27 anos desde a criação do real, a nona moeda da nossa história.
Embora ele tenha cumprido com louvor o objetivo de extinguir a hiperinflação, é impossível negar que o seu poder de compra foi corroído nesse período.
Você nota isso quando vai às compras e quando abastece o carro, mas principalmente quando analisa panfletos de supermercados daquele período.
Mas você sabe quais são os mecanismos que o Brasil possui para conter a inflação? Você entende quais são as suas causas e consequências?
Neste artigo, vamos descomplicar a relação entre a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, com a inflação.
O assunto parece complexo, mas a lógica é simples de entender, como você verá a seguir.
Partiu descomplicar esse assunto de uma vez por todas? Reunimos tudo que você precisa saber nas próximas linhas.
Boa leitura!
Indice
Você provavelmente tem a resposta para essa pergunta, mas é obrigatório se debruçar sobre a definição de inflação antes de avançarmos.
A inflação é o nome dado ao fenômeno de aumento contínuo no nível de preços dos produtos e serviços.
Ela é medida em percentual e indica a média de crescimento dos preços e serviços dentro de um determinado período.
No Brasil, a inflação é medida pelo IBGE através do IPCA, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo.
Na prática, o que o IBGE faz, todos os meses, é simular o custo de vida das famílias brasileiras e anotar esses preços, comparando sempre ao mês anterior.
Quando o IBGE diz que o IPCA de determinado mês foi 1%, isso significa que os produtos e serviços ficaram, em média, 1% mais caros.
O que no mês anterior você comprava com R$ 100, agora custa R$ 101.
E assim a inflação de cada dia, semana e mês vai lentamente se acumulando e corroendo o poder de compra do seu dinheiro.
Desde sua criação, em julho de 1994, o real viu uma inflação de 569,5% em 27 anos.
Isso significa que, para ter o poder de compra de R$ 1 em 1994, hoje seriam necessários R$ 6,70.
Olhando em uma perspectiva diferente, aquele R$ 1 de 1994 equivale a apenas R$ 0,15 atualmente.
Por mais que essa comparação seja assustadora, vale lembrar o cenário em que o real surgiu: naquela época, a vilã era a hiperinflação.
No fim dos anos 1980 e início dos anos 1990, a inflação chegou a passar de 2.000% em um único ano.
Nesse gráfico elaborado pelo G1 com dados do IBGE, é possível notar a como o surgimento do real freou a inflação:
Os preços subiam a ritmo alucinante, com remarcações diárias nos supermercados.
Quem tinha dinheiro parado na mão (ou na conta bancária) via o poder de compra ser corroído em questão de dias.
Estudiosos apontam, inclusive, que a falta de educação financeira e a ausência do hábito de poupar dos brasileiros podem estar relacionadas a esse período de hiperinflação.
Afinal, os consumidores se viam compelidos a comprar qualquer coisa, menos ficar com dinheiro parado.
Desde a metade do ano passado, a inflação voltou a chamar atenção e já ligou um sinal de alerta para a população, o mercado financeiro e o Banco Central.
O IPCA acumulado dos últimos doze meses foi de 8,99%, número bem acima do projetado pelo Banco Central na meta anual. Desde o início do ano, a alta já é de 4,76%.
Mas você sabe exatamente o que motiva a inflação? Vamos entender um pouco melhor:
Segundo o Banco Central, a inflação pode ter várias causas, que são agrupadas em quatro grupos:
A pressão de demanda ocorre quando a procura e o interesse pelos produtos e serviços é maior do que a oferta no mercado.
Como o volume de dinheiro disponível é maior do que a oferta de bens e serviços, os consumidores aceitam pagar mais pelos produtos, e o preço sobe.
A pressão de custos atinge as empresas que produzem os produtos e prestam os serviços.
Se os custos dessas companhias crescem, seja pela elevação da carga tributária ou pelo encarecimento dos financiamentos, os preços ao consumidor final são afetados, porque as empresas tendem a repassar esses custos.
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A inércia inflacionária se manifesta quando os agentes do mercado, como empresas e trabalhadores, esperam que haverá inflação.
Diante dessa expectativa, as empresas aumentam os preços, para não desperdiçar ganhos, e os trabalhadores reivindicam um salário maior para manter o poder de compra.
As expectativas de inflação afetam de formas diferentes os agentes econômicos, mas aqui também entra a situação fiscal do governo.
Quando ele gasta mais do que arrecada, acaba sendo forçado a aumentar impostos para cobrir despesas, ou a “imprimir” mais dinheiro para quitar as dívidas.
Com mais dinheiro em circulação, a oferta de bens e serviços não acompanha, e os preços sobem.
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A inflação é uma vilã do crescimento econômico, porque desestimula o investimento das empresas e prejudica o consumo.
Além disso, quando os preços ficam distorcidos, você sente dificuldade para avaliar se algo está caro ou barato, o que provoca ineficiências na economia.
Tudo isso é verdade e afeta o país de forma generalizada, mas os efeitos da inflação são sentidos principalmente pelas classes menos favorecidas da população.
Isso porque são os mais pobres que possuem menos acesso a aplicações financeiras para se proteger da inflação
Além disso, as classes mais baixas acabam usando a maior parte da sua renda para consumo, e sentem a inflação no dia a dia, mais do que os ricos.
O gráfico abaixo mostra isso na prática.
Agora que já descomplicamos o que é a inflação, por que ela surge e quem é mais afetado por ela, chegou o momento de avançar para o tema central do artigo: as alternativas para combater a inflação.
É aqui que precisamos falar sobre a política monetária do Banco Central.
Apesar do nome difícil, essa política monetária tem um objetivo simples: preservar o poder de compra da moeda brasileira.
Portanto, o grande objetivo, aqui, é justamente controlar a inflação.
Como vimos, o nível de consumo das empresas e da população exerce influência sobre a inflação.
Quando esse consumo cresce acima do que a oferta é capaz de entregar, os preços sobem.
O Banco Central, através do seu Comitê de Política Monetária (Copom), tem uma meta para a inflação e busca perseguir essa meta com a política monetária.
E você sabe qual é o principal instrumento da política monetária?
Sim, a taxa básica de juros da economia, a Selic.
A Selic é definida a cada 45 dias pelo Copom e serve como parâmetro para todas as outras taxas de juros da economia.
Dos juros do seu cartão de crédito ao financiamento imobiliário, tudo leva a Selic como referência.
Portanto, ao manipular a Selic, o governo consegue estimular ou frear o consumo — com efeitos sobre a inflação.
No melhor cenário, o Brasil terá crescimento econômico com inflação controlada. O que o Copom faz, então, é monitorar a inflação e ajustar a Selic para a direção que faça mais sentido no momento.
Diminuindo ou aumentando a oferta de crédito na economia, é possível frear ou estimular o consumo.
De maneira geral, é possível colocar assim:
Fácil de entender, né?
Após começar o ano em 2%, a Selic já está em 5,25%, justamente porque a inflação registrada nos últimos meses superou as expectativas do Banco Central.
Agora que você entendeu como a Selic é utilizada para controlar a inflação, vamos entender, de forma resumida, por que ela afeta os seus investimentos.
Ao servir como referência para todas as taxas de juros da economia, a Selic também afeta de forma decisiva os investimentos.
Na renda fixa, quando o rendimento da aplicação é conhecido no momento de contratação, os investimentos em geral são indexados ao CDI, cujo valor é muito próximo da Selic.
Assim, é fácil de entender que, com a Selic aumentando, os rendimentos da renda fixa também sobem, o que tende a deixar esse tipo de aplicação mais atraente aos investidores.
Mas sempre vale lembrar que o principal interesse dos investidores é o juro real. Ou seja: o rendimento descontado da inflação.
Se uma aplicação rendeu 4% ao ano, mas a inflação foi de 6% no período, o juro real foi negativo em -2%.
Portanto, de nada adianta observar apenas a taxa Selic para afirmar que o investimento em renda fixa está sendo vantajoso. É preciso também observar a inflação do período.
Do outro lado da balança, quando a Selic cai, a renda fixa tende a deixar de ser interessante para os investidores, que começam a observar com mais atenção outras opções mais arriscadas.
Sim, estamos falando da renda variável.
Com a Selic em baixa, a renda fixa rende pouco e é preciso tomar risco na renda variável para obter ganhos reais.
Esse foi um dos principais motivos que levou a Bolsa de Valores ao número recorde de investidores pessoa física nos últimos meses, superando a casa dos 3 milhões de CPFs.
Agora, o mercado financeiro está de olho na evolução da inflação e qual será a taxa Selic nos próximos meses, à medida que o Banco Central tenta frear a inflação.
No mais recente relatório Focus, que reúne as expectativas do mercado, a previsão para a inflação ao fim de 2021 foi de 7,05%, enquanto a Selic está projetada em 7,5%.
Enquanto aguardamos as próximas reuniões do Banco Central, vale ficar de olho na evolução da inflação e buscar investimentos diversificados, que combinem renda fixa e renda variável para entregar um juro real.
Ao criar uma carteira na Warren, você tem essa diversificação adequada ao seu perfil de investidor e aos seus objetivos de curto, médio e longo prazo.
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Esperamos que o artigo tenha sido útil para você! Se você gostou, talvez também se interesse por: