Custo de oportunidade: o que é e como ele se aplica aos investimentos  

Se você já tomou decisões difíceis, provavelmente se deparou com o conceito de custo de oportunidade — mesmo sem saber o que ele significa.

O custo de oportunidade aborda aquilo que você perde ao fazer escolhas.

Como você pode imaginar, ele também está presente nos investimentos. 

Afinal, ninguém consegue investir em tudo, não é mesmo? 

Por melhor que seja o seu planejamento financeiro e a estratégia da sua carteira de investimentos, todas as estratégias implicam a necessidade de fazer escolhas.

Neste artigo, você vai entender como o custo de oportunidade funciona na prática, como calculá-lo e como lidar com ele no mundo dos investimentos. 

Partiu descomplicar esse conceito de uma vez por todas? 

Boa leitura!

O que é custo de oportunidade?

O que é custo de oportunidade, ilustração

O custo de oportunidade, também conhecido como trade-off, é o que custa, para você, escolher uma coisa em detrimento de outra. Em outras palavras, é a perda de um potencial benefício decorrente de uma escolha.

A própria palavra “decisão” tem um significado relacionado ao custo de oportunidade. Porque “de” é um prefixo que indica “eliminar” e “cidir” vem de “cortar”

Fica implícito que, ao tomar uma decisão, você está realmente cortando uma possibilidade para ficar com a outra. 

Anote aí: são as vantagens daquela possibilidade rejeitada que representam o custo de oportunidade.

O custo de oportunidade está tão presente na nossa vida, que começa a surgir logo na infância. 

Quer um exemplo?

Quando criança, é provável que o seu custo de oportunidade tenha sido, por exemplo, o balde de pipoca do cinema — que você não comeu porque teve que escolher entre ele ou uma sobremesa depois do filme.

Mas, neste caso, pode ser difícil mensurar a diferença entre os ganhos de comer a sobremesa, e não a pipoca, concorda? 

Isso porque muitas vezes o trade-off é subjetivo, mesmo

Vamos a alguns exemplos para entender na prática?

Custo de oportunidade: exemplos

Custo de oportunidade: exemplos, ilustração

Imagine um domingo de faxina na sua casa. Você leva 20 minutos para passar o aspirador de pó no chão de um cômodo e 40 minutos para faxinar um dos banheiros.

Se você escolher faxinar um banheiro primeiro, significa dizer que vai deixar dois cômodos com poeira naquele momento. 

  • 40 minutos: 1 banheiro
  • 20 minutos: 1 cômodo da casa 

O custo de oportunidade, assim, pode ser analisado como 40 / 20 = 2. 

Ou seja, o trade-off de faxinar um dos banheiros de casa é o de limpar dois outros cômodos.

No dia a dia, um custo de oportunidade como esse parece irrelevante. 

Mas, caso você tenha um compromisso próximo e precise arrumar a casa com pressa, provavelmente aplicar esse conceito ajudaria bastante.

Na prática, você faz isso todos os dias, de forma intuitiva. Mas entender esse conceito é importante porque ele se aplica em diversos aspectos da nossa vida — incluindo os investimentos.

Trade-off na economia 

Um economista dos anos 1950 criou uma análise entre o desemprego e a inflação, que ficou conhecida como Curva de Phillips.

Fonte: The Phillips Curve

A ideia é a seguinte: se a inflação está alta, haverá um alto índice de desemprego. 

A falta de emprego, por sua vez, faz o poder de consumo diminuir. 

Assim, com uma menor demanda por produtos, os preços também reduzem e, surpreendentemente, a inflação passa a ser controlada.

Agora vamos incluir o trade-off no jogo. 

Se as pessoas estão consumindo pouco (por causa do desemprego), as políticas deveriam incentivar o consumo, certo? 

O problema é que medidas como essas, de acordo com a curva, vão aumentar a inflação.

Portanto, o custo de oportunidade de aumentar o consumo e de gerar empregos é a alta da inflação.

Por isso, vale a pena entender o custo de oportunidade para saber que dificilmente um governante conseguiria gerar equilíbrio em todos os aspectos da nossa vida em sociedade.

Vale pontuar que essa curva hoje é considerada simplista demais para o mundo em que vivemos — globalizado e acelerado. Ela até pode ser aplicada, mas apenas em curto prazo.

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Como funciona o custo de oportunidade nos investimentos

Como funciona o custo de oportunidade nos investimentos, ilustração

Como mencionamos, o trade-off também se manifesta na jornada dos investimentos.

Na renda fixa mas, principalmente, na renda variável, há pontos que merecem a sua atenção. 

Você precisa ficar atento em especial quando há expectativas de vantagens mesmo nos cenários negativos da economia.

Achou confuso? A gente descomplica.

Exemplos de custos de oportunidade nos investimentos

O conceito de custo de oportunidade aparece com frequência nos investimentos

Afinal, são diferentes ativos à disposição, com uma infinidade de prazos e riscos, além de rentabilidade, é claro.

Na renda fixa, quando você tiver dois investimentos muito parecidos à disposição, a taxa Selic e o CDI (Certificado de Depósito Interbancário) são os indicadores que costumam guiar o custo de oportunidade.

Já na renda variável, vai depender do ativo. Para as ações, utilize o Ibovespa. Para fundos de investimento, o IFIX. E assim por diante.

Lembre-se de que você consegue a rentabilidade do Ibovespa ao investir em ETFs que replicam o índice a um custo muito baixo. Por isso, precisa colocar isso na balança ao decidir se expor ao risco de investir em ativos isolados.

Além disso, o custo de oportunidade pode ser observado, aqui, numa comparação da renda fixa com a renda variável.

Não é novidade para ninguém que a renda variável implica um risco muito maior que a renda fixa. Agora que a taxa Selic superou os 10% e você consegue essa rentabilidade em investimentos extremamente seguros, vinculados ao Tesouro Direto, como o Tesouro Selic, o trade-off para investir em ações aumentou.

Será que vale a pena se expor à renda variável e a todos riscos que ela oferece para obter uma rentabilidade de, por exemplo, 12% ao ano?

Essa resposta cabe a você, mas, com essa pergunta, você consegue ter uma ideia da importância do conceito de custo de oportunidade nos investimentos.

Outra aplicação prática do custo de oportunidade tem relação com as promessas irreais.

“Aplique no investimento X e tenha lucro no cenário positivo. Mas, não se preocupe, você não perde nada no cenário negativo!”

Já ouviu algo parecido?

Então, essa promessa não se sustenta. Sempre há um trade-off. 

Em alguns casos, é puramente a inflação — o que não deixa de influenciar no custo de oportunidade.

Outro exemplo de investimento pouco indicado é aquela ação que vem se desvalorizando por diversos problemas nos seus fundamentos — como risco de falência da organização. 

Mas, ainda assim, há investidores que compram continuamente na baixa, sonhando com uma alta, para realizar a venda e obter lucro.

O que eles não consideram é o custo da oportunidade de investir em outras ações mais promissoras. 

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Risco ou custo de oportunidade?

Negócios arriscados ou com alto custo de oportunidade? Esses dois conceitos também podem se confundir.

O risco, na verdade, é a possibilidade de que o retorno de um investimento seja diferente do esperado e o investidor perca parte do dinheiro.

Enquanto isso, o custo de oportunidade é a possibilidade do retorno de um investimento ser menor do que o retorno do investimento não realizado.

Explicando de outra forma: o risco compara o retorno projetado com o real, de um investimento por vez. 

Já o custo de oportunidade compara retorno de investimentos distintos.

Só que você pode incluir o custo de oportunidade na sua avaliação de risco. Uma coisa pode fazer parte da outra, a depender da sua análise.

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O que o trading tem a ver com custo de oportunidade?

O que o trading tem a ver com custo de oportunidade, ilustração

Toda essa questão de análise das oportunidades e dificuldade com as decisões, levou também à criação da Teoria da Perspectiva, do Nobel de Economia Daniel Kahneman.

Ele fala que a atitude das pessoas — dos investidores, no caso — depende do seu estado no momento da escolha.

Um trader normalmente lida com oscilações mais bruscas nos investimentos. 

Quando está em loss, ou perda, ele fica mais propenso a tomar mais riscos para recuperar essas perdas. Mesmo que isso signifique uma exposição maior ainda ao prejuízo.

Em resumo, a intensidade da aversão ao risco varia com a situação em que o investidor se encontra.

É por isso que, diferente da Contabilidade, o custo de oportunidade não é tão objetivo assim nos investimentos.

Esse fato também chama a atenção para a importância de conhecer o seu perfil de investidor

Se você não tolera muito bem os riscos, a chance de tomar muito prejuízo pode ser maior. 

Como calcular o custo de oportunidade

É possível apresentar o custo de oportunidade por meio de uma fórmula:

  • CO = RR – RE

Onde:

  • CO = Custo de oportunidade
  • RR = Retorno da opção recusada
  • RE = Retorno da opção escolhida

A rigor, o cálculo se trata apenas da diferença entre os benefícios das escolhas. Por isso, tantas pessoas levam o custo de oportunidade como uma métrica subjetiva.

De qualquer forma, vamos ver como a fórmula funciona?

Suponha que você se depare com duas opções: comprar 100 ações da companhia ABC ou ajudar o seu irmão na empresa dele, de camisetas, com um equipamento promissor que promete maior produtividade.

Com algumas pesquisas, você percebe que, para o próximo ano, o retorno esperado, caso invista nessas ações, será de 15%.

Para o mesmo período, a estimativa é que o negócio da família gere um retorno de 11%.

Assim, o custo de oportunidade de ajudar o seu irmão — em vez de comprar as ações — será de 4%.

E se não houvesse empresa nenhuma para ajudar? E você apenas comprasse as 100 ações? 

Bem, nesse caso o valor investido pode ser considerado custo irrecuperável, não custo de oportunidade.

Porque as ações foram compradas e só seria possível recuperar o dinheiro vendendo os ativos pelo mesmo preço ou acima.

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Existe custo de oportunidade zero?

Lembra do nosso exemplo da faxina?

Se você não tivesse nada para fazer no domingo, aquele custo de oportunidade que era 4 poderia cair para zero. 

Partimos do pressuposto de que não seria um benefício faxinar uma parte ou outra da casa, já que você teria tempo à vontade para fazer as duas coisas.

Então, quando uma opção não apresentar benefício em relação à outra, o custo de oportunidade será zero.

É como correr na chuva. Se você está na rua desprotegido e começa a chover, andar ou correr não vai fazer diferença, entende? 

Não há custo de oportunidade entre as opções andar ou correr.

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Analisar os custos de oportunidade é valorizar as escolhas

Independente do cálculo do trade-off que você utilizar de agora em diante — divisão, subtração ou mesmo análise subjetiva — vale a pena incluí-lo nas suas decisões. 

Sempre que houver uma escolha, desde que o custo de oportunidade não seja zero, você terá o privilégio de ir pelo melhor caminho. 

Isso é particularmente importante nos investimentos, por isso valorize cada aplicação financeira e tente agir com racionalidade.

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